O que é o processo de envelhecimento de acordo com os aspectos biológicos psicológicos e sociais?

Processo de envelhecimento

    O indiv�duo durante o processo de envelhecimento, tanto em uma esfera psicol�gica, quanto em uma esfera biol�gica e social, vai apresentar o seu percurso de vida particular. Mas independente das causas que levam ao envelhecimento e � individualidade do fen�meno no que se refere �s varia��es individuais, o ser humano que se encontra em uma idade mais avan�ada vai apresentar algumas caracter�sticas marcantes.

    Neri (2001) afirma que se deve observar o envelhecimento em aspectos distintos, introduzindo os conceitos de idade biol�gica, idade social e idade psicol�gica. A idade biol�gica refere-se ao tempo que ainda resta ao organismo para viver, representando um potencial de cada indiv�duo continuar vivo. A idade social se refere ao grau de adequa��o do indiv�duo ao desempenho dos pap�is esperados para as pessoas de sua mesma faixa et�ria. Este envelhecimento pode implicar em distanciamento e tamb�m leva em conta a expectativa das pessoas mais jovens em rela��o �s atitudes que deveriam ser cumpridas pelas pessoas de idade avan�ada. J� a idade psicol�gica apresenta rela��o com a forma que cada indiv�duo avalia em si os marcadores biol�gicos, sociais e psicol�gicos do envelhecimento, baseados em compara��es sociais.

    Considerando os aspectos f�sicos do processo de envelhecimento, � ineg�vel que o mesmo vai ocasionar perdas no desempenho das realiza��es das atividades de vida di�ria, na medida em que ocorrem redu��es no metabolismo. Segundo McArdle, Katch e Katch (1985) o peso corporal diminui a partir dos 60 anos, devido � diminui��o da massa muscular e �ssea e o aumento do percentual de gordura corporal. Os autores afirmam, tamb�m, que a capacidade cardiopulmonar de fornecer sangue aos m�sculos pode diminuir cerca de 1% a cada ano de vida ap�s os vinte anos em indiv�duos sedent�rios. Com isto diminui a capacidade dos m�sculos de utilizarem o oxig�nio. Spirduso (1995) confirma estes dados colaborando com a afirma��o de que o decl�nio da capacidade aer�bica se mostra duas vezes maior em indiv�duos sedent�rios quando comparados com os ativos, influenciando em sua capacidade de equil�brio, agilidade e tempo de rea��o.

    A grande maioria dos estudiosos sobre o envelhecimento f�sico considera relevante, e isto parece muito evidente, as perdas naturais de qualquer organismo vivo decorrente de uma longa vida, que biologicamente falando, se constitui e um grande caminho no decorrer do qual o organismo sofre um estresse cont�nuo para manter-se vivo. Mesmo tendo em vista este n�mero de perdas quando se refere aos aspectos f�sicos, o processo de envelhecimento pode atingir, tamb�m, o ac�mulo de conhecimentos f�sicos, que podem ser atingidos com a pr�tica de atividades f�sicas. Estes tendem a melhorar o potencial individual e se mostram ben�ficas �s pessoas. O grau de independ�ncia da vida est�, ent�o, fortemente ligado � menor ou maior atividade f�sica, sendo que os investimentos na sa�de f�sica podem produzir grandes resultados na sa�de da popula��o idosa, com reflexo sobre a redu��o da morbidade e mortalidade (LE�O, 2003).

    As caracter�sticas psicol�gicas s�o, assim como as f�sicas, influenciadas pela hereditariedade, hist�ria e atitude de cada indiv�duo. As pessoas mais saud�veis e otimistas t�m mais chance de se adaptarem �s transforma��es causadas pelo envelhecimento.

    A estimula��o psicol�gica � considerada de suma import�ncia para um envelhecimento bem-sucedido, e � vista em atividades que proporcionam afeto, auto-estima, sentimento de identidade, conduta, pensamento, ju�zo cr�tico, mem�ria, aten��o, percep��o, discernimento, capacidade de tomar decis�es e a capacidade de adapta��o a novas situa��es. Em rela��o aos aspectos psicol�gicos como intelig�ncia e mem�ria em idosos, Yassuda (2002) afirma existirem perdas nas mem�rias operacional, epis�dica e expl�cita, mas que, embora com o passar dos anos, as pessoas podem aprender a lidar melhor com estas situa��es.

    Quando se refere aos aspectos psicol�gicos do processo de envelhecimento, logo s�o referenciadas as perdas j� esperadas que chegam com a idade. Por�m, deve-se sempre levar em considera��o, como de acordo com as teorias psicol�gicas sobre o envelhecer, como a teoria do lifespan, que o mais importante � como o idoso consegue lidar com as perdas relacionadas � idade avan�ada. Este aspecto � fortemente ligado � forma como o indiv�duo idoso percebe sua vida e com as caracter�sticas subjetivas referentes a um envelhecimento com qualidade de vida, sendo que, dentro destas, considera-se como elementos-chave, a satisfa��o com a vida e o bem-estar subjetivo (LE�O, 2005).

    No que cabe aos aspectos sociais, os idosos sofrem modifica��o no status e no relacionamento com outras pessoas, sendo que a forma de se minimizar estas perdas seria um trabalho para que sejam ajustadas as rela��es sociais dos idosos com filhos, netos, colegas e amigos. Portanto, identifica-se que os grupos de terceira idade podem ser usados como forma de se atingir estes objetivos. Para Zimerman (2000) a estimula��o social para uma um melhor envelhecimento, deve ter como base a comunica��o, interc�mbio afetivo, conviv�ncia e o sentimento de pertencer em seus grupos. A autora tamb�m da grande valor ao trabalho com os grupos s�cio-ter�picos como uma forma de trabalhar a estimula��o de todas estas vari�veis envolvidas.

    Para Neri (1995) na sociedade brasileira, o conceito de envelhecimento sofre grande influ�ncia devido �s vis�es estereotipadas, que se baseiam em generaliza��es inadequadas da compet�ncia de comportamento dos idosos, da sa�de e do envolvimento social. Frente a este fato, a partir dos 40 e 50 anos, os adultos s�o discriminados e relegados ao afastamento social precoce, ao desprest�gio e � perda de poder e de posi��o pessoal, em muitos contextos de trabalho.

    Saad (1991), em importante pesquisa sobre o intercambio entre as gera��es, percebe que quanto mais rico o idoso, maior a ajuda material oferecida aos filhos e, quanto mais pobre o idoso, menor a ajuda aos filhos, sendo que as mulheres idosas ajudam mais os filhos do que os homens. O autor tamb�m observou que o idoso mais velho tende a receber mais ajuda quando comparado com o idoso mais novo. Considerou, tamb�m, que quanto menor o n�vel educacional do idoso, mais baixo � o apoio instrumental por ele recebido e que a co-resid�ncia est� associada ao aumento da probabilidade de receber ajuda para um eventual manejo de incapacidades funcionais.

    Neri (2001) tamb�m se refere ao suporte social como um importante apoio para se evitar o estresse causador da diminui��o do bem-estar da pessoa idosa. Afirma que redes de suporte social se caracterizam por uma rede de pessoas que mant�m entre si la�os t�picos das rela��es de dar e receber.

S�ndrome da fragilidade

    Fragilidade � um termo cada vez mais freq�ente entre os profissionais que tratam do envelhecimento, no sentido de indicar uma s�ndrome cl�nica que torna os idosos vulner�veis �s perdas na capacidade funcional, �s comorbidades, �s quedas e � redu��o da expectativa de vida. Por�m, devido � diversidade de defini��es sobre o tema na literatura cient�fica, existe uma dificuldade sobre a demarca��o de um consenso para a defini��o e o uso do termo (TEIXEIRA, 2010).

    Para Fried et al (2001) estabelecer um conceito de fragilidade tem sido uma dificuldade para estudos espec�ficos sobre esta doen�a, embora a s�ndrome seja altamente prevalente nas idades avan�adas e possa conferir altos riscos de quedas, incapacidade, hospitaliza��o e mortalidade nos indiv�duos idosos. Esta s�ndrome tem sido considerada sin�nimo de incapacidade, comorbidade, entre outros, mas pode ter uma base biol�gica espec�fica e ser uma s�ndrome cl�nica distinta, embora uma defini��o padronizada ainda n�o tenha sido estabelecida na literatura. Nash et al. (2005) afirmam que a fragilidade surge como um conceito cada vez mais importante na compreens�o e cuidado ao idoso, embora n�o exista ainda um consenso na literatura referenciando um quadro te�rico ou defini��o operacional.

    Importante salientar que, embora a defini��o da s�ndrome da fragilidade n�o seja clara e organizada, esta doen�a est� presente na popula��o mundial e afeta diretamente a qualidade de vida e a sa�de do idoso. Fried et al. (2001) encontraram uma preval�ncia da fragilidade em 6,9% dos idosos que vivem em comunidade nos Estados Unidos e, no Brasil, estudos est�o em andamento para se estabelecer esta incid�ncia em territ�rio nacional. Ent�o, por se tratar de uma s�ndrome multifatorial, a fragilidade vai influenciar negativamente tanto os aspectos psicol�gicos, como f�sicos e socais da vida da pessoa idosa.

    Hekman (2006) entende que, embora ainda existam dificuldades em se estabelecer uma defini��o espec�fica, a fragilidade tem sido descrita como uma s�ndrome biol�gica onde ocorre a diminui��o da capacidade homeost�tica do organismo, acarretando em perda na capacidade de resist�ncia aos estressores ambientais, que, por sua vez, causam decl�nio em diversos sistemas fisiol�gicos, possibilitando aumento na vulnerabilidade a diversas doen�as. Como a maioria destes sinais ocorre de forma natural com o envelhecimento, existe uma dificuldade em se estabelecer uma diferencia��o segura entre o idoso fr�gil e o idoso que segue seu curso normal de envelhecimento. A despeito disto, o autor ainda indica que com o envelhecer ocorrem alguns decl�nios f�sicos relevantes como na depura��o de creatinina, volume expirat�rio for�ado, massa muscular, for�a, volume de oxig�nio m�ximo e velocidade de condu��o dos nervos. Todos estes fatores atuando juntos poderiam indicar a s�ndrome, por�m, a doen�a em si estaria mais relacionada em como o organismo pode responder e se adaptar a estas perdas, em conjunto com os estressores, como extremos de temperatura e doen�as agudas, por exemplo, do que com os decl�nios em si.

    Rockwood e colaboradores (1994) propuseram um modelo din�mico da fragilidade e a definiram como uma complexa intera��o de problemas m�dicos e sociais, resultando na diminui��o da capacidade de responder ao estresse associado ao decl�nio no desempenho funcional. Este modelo leva em conta fatores positivos como sa�de, pr�ticas saud�veis, recursos financeiros, suporte familiar e fatores negativos como doen�as, incapacidades f�sicas e mentais, depend�ncias de terceiros e sobrecarga dos cuidadores. Uma vez que os aspectos positivos excedessem os aspectos negativos, os idosos seriam saud�veis. Se os aspectos negativos sobrepusessem aos positivos, os idosos seriam classificados como fr�geis.

    Para Fried e colaboradores (2001) os sintomas que se manifestam com a s�ndrome da fragilidade s�o: perda de peso, fraqueza, fadiga, inatividade e diminui��o na ingest�o alimentar. J� os sinais mais comuns seriam anormalidades no equil�brio e na marcha, sarcopenia, diminui��o da massa �ssea e perda do condicionamento f�sico. Com base nisto, esta autora prop�s, juntamente com seu grupo de pesquisa, um fen�tipo da fragilidade, onde o idoso deveria apresentar ao menos tr�s entre os seguintes componentes para ser considerado como fr�gil: perda de peso n�o intencional; diminui��o da for�a de preens�o manual da m�o dominante de acordo com o sexo e o �ndice de massa corporal; exaust�o avaliada por autorrelato de fadiga atrav�s de duas quest�es da Center for Epidemiological Studies � Depression (CES -D); lentid�o ao percorrer uma dist�ncia de 4,6 metros de acordo com sexo e altura; e baixo �ndice de atividade f�sica tendo por base o Minnesota Leisure Time Activities Questionnarie. Al�m disto, a autora refor�a a import�ncia em se estabelecer condi��es expl�citas para a caracteriza��o da fragilidade por parte dos profissionais da sa�de possibilitando organizar as interven��es necess�rias para se minimizar os efeitos da s�ndrome sobre a sa�de do idoso. Estes crit�rios est�o hoje largamente difundidos, sendo refer�ncia para muitos estudos sobre o idoso fr�gil e tem se demonstrado como um importante ponto de partida no sentido de unificar os conceitos desta s�ndrome de valor t�o relevante.

    Fabr�cio e Rodrigues (2008) realizaram um estudo te�rico com o objetivo de discorrer sobre o envelhecimento e sua rela��o com a fragilidade, por meio de uma revis�o bibliogr�fica, buscando estabelecer a trajet�ria hist�rica do conceito de fragilidade e as suas implica��es sobre o indiv�duo que envelhece. Constatam que o termo fragilidade, atualmente, se afasta do conceito de velhice e passa a ser tratado como um fator que, quando tratado precocemente, pode garantir autonomia e independ�ncia da pessoa que envelhece, evitando incapacidades, defici�ncias e desvantagens, muitas vezes associadas e/ou causadas pelo grau de fragilidade que o idoso possa apresentar. Os autores alertam para a import�ncia de mais estudos sobre instrumentos de medida para detectar a fragilidade em idosos, de maneira a possibilitar a identifica��o precoce de um idoso fr�gil ou suscet�vel a estar nesta condi��o, proporcionando a elabora��o de estrat�gias de interven��es preventivas.

    Ainda nesta linha, Rockwood et al. (2011), afirmam que a preval�ncia da fragilidade aumenta com a idade em adultos mais velhos, por�m, a mesma associa��o � pouco relatada em rela��o aos adultos mais jovens, onde o risco associado n�o � t�o claro. Al�m disso, pouco se sabe sobre como a fragilidade muda ao longo do tempo sobre os adultos mais jovens. Os autores ent�o estimaram a fragilidade de acordo com o ac�mulo de d�ficits ao longo da vida do indiv�duo. Os mesmos autores, ao analisar o banco de dados do estudo National Population Health Survey com uma amostra de 14713 indiv�duos com idades entre 15 e 102 anos constataram que o uso mais freq�ente de servi�os de sa�de, mudan�a no estado de sa�de e morte se mostraram bom preditores da fragilidade nesta amostra, sendo que em todas as idades, um maior �ndice de fragilidade foi associado com a mortalidade e maior uso de servi�os de sa�de. Em idades mais jovens, a recupera��o do estado de sa�de era relativamente mais comum, mas a chance de recupera��o completa diminuiu com a idade.

    Atualmente, ent�o, a fragilidade � vista como um continuum multidimensional do curso de vida, sendo referida como um processo de intera��o complexa de fatores de cunho biol�gicos, psicol�gicos e sociais durante o curso de vida. Sendo assim, a Fragilidade pode gerar efeitos irrevers�veis para o envelhecimento atrav�s de uma seq��ncia que envolve o decl�nio da capacidade funcional, depend�ncia com as atividades de vida di�ria e �bito (TEIXEIRA, 2010). Para Bergman et al. (2004) a hist�ria de vida influencia a ocorr�ncia da fragilidade na velhice e esta trajet�ria pode ser modificada por fatores biol�gicos, psicol�gicos e sociais. A s�ndrome evoluiria de uma fase subcl�nica, denominada pr� fragilidade, para manifesta��es cl�nicas em um per�odo de tempo imprevis�vel, sendo que a ocorr�ncia da s�ndrome dependeria de m�ltiplos fatores. Durante a fase de pr� fragilidade, a possibilidade de preven��o da s�ndrome seria maior, enquanto que nas fases subseq�entes, o foco do tratamento seria minimizar os riscos e efeitos. Os autores ainda salientam que as m�ltiplas defini��es do conceito de fragilidade podem ser classificadas nas seguintes categorias: bases fisiol�gicas, s�ndrome complexa, modelo de equil�brio com elementos sociais e s�ndrome geri�trica.

    Rockwood et al. (1994) quanto �s aplica��es pr�ticas do conceitos e modelos para a s�ndrome da fragilidade, afirmam que uma boa diferencia��o entre idosos saud�veis e idosos fr�geis pode ajudar na elabora��o de pol�ticas p�blicas voltadas para o idoso, uma vez que tal pol�tica poderia reconhecer e, at� certo ponto legitimar as necessidades espec�ficas das pessoas idosas fr�geis e promover melhor atendimento visando atender a essas necessidades. Nash et al. (2005) discorrem ainda sobre a import�ncia em se utilizar uma terminologia comum entre os diferentes profissionais da sa�de e entre estes e seus pacientes para uma melhor comunica��o, al�m de se poder facilitar a organiza��o para o atendimento de idosos nos programas de sa�de, criando-se indicadores de fragilidade.

Envelhecimento populacional brasileiro

    A combina��o de menores taxas de mortalidade e elevadas taxas de fecundidade determinou o aumento do crescimento vegetativo e a popula��o brasileira saltou de 41 para 93 milh�es de pessoas entre 1940 e 1970, crescendo em m�dia 2,8% ao ano. A estrutura et�ria da popula��o, no entanto, n�o se alterou, pois a redu��o da mortalidade deveu-se, principalmente, � queda das taxas de mortalidade espec�ficas da inf�ncia. Sendo "preservadas" mais crian�as, o efeito sobre a distribui��o et�ria foi semelhante ao aumento da fecundidade, levando a um "rejuvenescimento" da popula��o. Somente a partir de 1960, com o decl�nio da fecundidade em algumas regi�es mais desenvolvidas do Brasil, iniciou-se o processo de envelhecimento populacional. As PNAD's da d�cada de 70 passaram a demonstrar que o fen�meno se estendia paulatinamente �s demais regi�es brasileiras, tanto nas �reas urbanas quanto rurais, e a todas as classes sociais (CARVALHO, 1993).

    Segundo dados censit�rios do IBGE (2010), a propor��o de idosos do Brasil, entre 1998 e 2010, aumentou de 8,8% para 12,32%. O Rio Grande do Sul (15,53 %) e Rio de Janeiro (14,92%) s�o os estados com maior propor��o de idosos. Em 1998, eram, junto com a Para�ba, os �nicos estados onde os idosos representavam mais de 10,0% da popula��o. Atualmente, todos os estados do Sudeste e Sul, assim como a maioria do Nordeste, j� alcan�aram esta propor��o.

    Em pa�ses industrializados a queda das taxas de mortalidade e fecundidade iniciadas no s�culo passado, acompanhou a amplia��o da cobertura dos sistemas de prote��o social e melhorias das condi��es de habita��o, alimenta��o, trabalho e do saneamento b�sico. No Brasil, por outro lado, o decl�nio da mortalidade que deu in�cio � transi��o demogr�fica foi determinado mais pela a��o m�dico-sanit�ria do Estado que por transforma��es estruturais que pudessem se traduzir em melhoria da qualidade de vida da popula��o: nas primeiras d�cadas do s�culo XX, atrav�s de pol�ticas urbanas de sa�de p�blica como a vacina��o, higiene p�blica e outras campanhas sanit�rias, e a partir da d�cada de 40 pela amplia��o e desenvolvimento tecnol�gico da aten��o m�dica na rede p�blica. A desigualdade com que se processa a queda da mortalidade em diferentes regi�es e classes sociais no Brasil comprova a import�ncia desta din�mica de interven��o do Estado, em detrimento da real conquista de direitos sociais pela popula��o (CHAIMOWICZ, 1997).

    Para Carstensen e Hartel (2006) a maior expectativa de vida da popula��o pode ser algo positivo ou negativo para a sociedade, dependendo da natureza do envelhecimento dos indiv�duos. Na medida em que as pessoas atingem a velhice bem adaptadas f�sica e psicologicamente e podem vir a desempenhar um papel integral em suas fam�lias e comundade, a sociedade ser� refor�ada. Mas no momento em que as pessoas mais velhas apresentarem-se enfermas, isoladas, ou dependentes, este n�mero crescente de pessoas idosas tende a aumentar a carga sobre uma popula��o mais jovem. Ent�o, � medida que as pessoas mais velhas s�o saud�veis e envolvidas, eles provavelmente ir�o contribuir muito mais � sociedade. No entanto, Fried et al (2001) encontraram em seus estudos um crescente n�mero de idosos em fragilidade, o que indica para uma parcela populacional do escopo mais envelhecido, com um processo comprometido, o que pode a vir prejudicar a participa��o deste escopo populacional de forma positiva na sociedade.

Participa��o dos idosos nos movimentos sociais, alteridade �tica e Direitos Humanos

    Paz (2004) faz uma leitura sobre as origens e conquistas da participa��o dos idosos nos movimentos sociais desde a d�cada de 60 at� a cria��o do estatuto do idoso, nos anos 2000. Para ele, a luta pelos direitos das pessoas idosas tem in�cio nos anos 60 com a luta dos trabalhadores aposentados buscando seus benef�cios junto das chamadas Caixa de Pec�lios (CAPs) e dos Institutos de Previd�ncia Social (IAPs). A capacidade de organiza��o e mobiliza��o destes trabalhadores foi surpreendente em tamanho e for�a, sendo que hoje s�o in�meras as associa��es de trabalhadores aposentados em todo o pa�s, decorrentes deste movimento. Nos anos 80 o j� institu�do Instituto Nacional de Previd�ncia Social (INSS) passou a ser o alvo das a��es deste grupo. A participa��o dos idosos nos movimentos sociais, a partir da d�cada de 80 contribuiu muito para o desenvolvimento de pol�ticas nacionais voltadas para esta parcela da popula��o no Brasil. Especialmente nos anos 90, quando aparecem ressaltados dados demogr�ficos que indicam um grande n�mero de velhos � que surgem as primeiras mat�rias e manchetes sobre a velhice expostas pela m�dia. A partir de ent�o tanto a velhice come�a a ser caracterizada como os idosos come�am a ficar mais presentes e mais vis�veis. Os anos 90 foram tamb�m um per�odo de maior organiza��o social dos idosos, com maiores mobiliza��es que culminaram na cria��o dos F�runs da Pol�tica Nacional do Idoso e nos Conselhos dos Idosos. Foi tamb�m na d�cada de 90 que se observa uma maior presen�a dos idosos, com a cria��o dos espa�os de debates ou/e de defini��o de pol�ticas (f�runs e conselhos). No entanto, isto n�o garantiu aos idosos uma participa��o social real para este grupo. As conquistas destes movimentos somente come�am a se concretizar a partir do ano de 1999, quando s�o criadas medidas governamentais atrav�s do Minist�rio da Previd�ncia e Assist�ncia social, pelo Minist�rio da Educa��o e pelo minist�rio da Sa�de. Tamb�m em outubro de 2003, surge como decorr�ncia da participa��o efetiva das representa��es do movimento social do idoso o estatuto do idoso. Por fim, o autor indica que a for�a do movimento do idoso faz acreditar que o mesmo depende de sua maior presen�a como ator social, de sua organiza��o social, de um fortalecimento do segmento organizado para uma maior amplitude das articula��es e alian�as para a defesa de seus direitos e de novas conquistas sociais.

    O estatuto do idoso menciona que s�o assegurados os direitos e deveres da pessoa com mais de 60 anos. Devendo ser o estado garantir aos idosos prote��o � sa�de e � vida, atrav�s de pol�ticas sociais p�blicas que permitam um envelhecimento saud�vel (BRASIL, 2003). Segundo o Minist�rio da Sa�de (2006) o idoso tem direito � promo��o do envelhecimento saud�vel e ativo; a aten��o integral e integrada � sa�de; implanta��o de servi�os de aten��o domiciliar e acolhimento nas institui��es; recursos que sejam capazes de assegurar qualidade no atendimento � sa�de; participa��o social, forma��o e educa��o permanente para profissionais da sa�de gestores e usu�rios do SUS; Promo��o da coopera��o nacional e internacional de experi�ncia de aten��o � sa�de e o desenvolvimento de pesquisa.

    Segato (2006), buscando um entendimento entre lei, moral e �tica, passa por quest�es hist�ricas importantes no que dizem respeito � lista de direitos das pessoas em determinada �poca. Neste sentido, a moral de uma determinada �poca ou de um determinado povo e a lei s�o sistemas que interagem e cruzam influ�ncias, sendo que as leis v�o representar um sistema moral que se torna vigente ou leg�timo e que v�o representar uma lista de mandamentos estabelecidos tanto pela tradi��o e pelos costumes, quanto pelo contrato moderno em si. Por�m, para se superar o aspecto estanque que sempre viria a sobrepor uma moral dominante � outra deve-se inserir um terceiro elemento que pode vir a mudar no tempo os direitos humanos, que seria a �tica. O impulso �tico vai permitir abordar criticamente a lei e a moral. A puls�o �tica pode possibilitar contestar e modificar as leis que regulam o contrato impositivo da lei, al�m de possibilitar um distanciamento do meio cultural local e um posicionamento que vise a transform�-lo no tempo. � este fator, segundo a autora, que vai fazer com que os direitos humanos possam ser uma entidade mutante no tempo, portanto din�mica e ao mesmo tempo universal.

    Por�m, conforme Sottili e Zylbersztajn (2013) os direitos humanos s�o constru�dos historicamente e fazem parte de um processo em constante desenvolvimento, agregando conceitos conforme o desenvolvimento social das comunidades, bastando ser pessoa para ser portador destes direitos. Mas, mesmo sendo os direitos humanos devidos � todos, � necess�rio esfor�o positivo para a sua garantia e realiza��o.

Considera��es finais

    O envelhecimento populacional brasileiro registrado nas ultimas d�cadas vem sendo desencadeado por uma s�rie de fatores datados do inicio dos anos 60, que marcaram o aparecimento da parcela idosa e, conseq�entemente, pelo inicio da luta desta popula��o por direitos � dignidade. Esta popula��o apresenta caracter�sticas especificas e passa por grandes dificuldades, pois, estando no final da vida, o envelhecimento biol�gico se caracteriza por grande n�mero de perdas. Somado a isto, estudos indicam que a s�ndrome da fragilidade acomete grande parcela desta popula��o envelhecida, causando desde comorbidades, passando por quedas e at� a morte. Frente a isto, o entendimento de que os direitos humanos s�o ligados � alteridade e � �tica, e s�o constru�dos historicamente, pode-se desenhar uma nova luta da popula��o idosa frente a melhores atendimentos e atendimentos mais especializados para a fragilidade, prevenindo o que pode ser uma grande perda da qualidade de vida desta popula��o.

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EFDeportes.com, Revista Digital � A�o 19 � N� 194 | Buenos Aires,Julio de 2014  
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O que é envelhecimento psicológico e social?

O envelhecimento é um fenómeno biológico, psicológico e social que atinge o ser humano na plenitude de sua existência, modifica a sua relação com o tempo, o seu relacionamento com o mundo e com sua própria história.

Quais são os aspectos sociais psicológicos e fisiológicos do processo de envelhecimento?

O isolamento familiar; as alterações na imagem; a perda de entes queridos e até mesmo o pensamento na morte; o afastamento do trabalho e da vida produtiva, que o fazem se sentir inútil; a ausência de paciência com suas limitações (esquecimento, lentidão etc.); dentre outros fatores acabam propiciando o desenvolvimento ...

Quais são os aspectos biológicos do envelhecimento?

Evidências têm sido obtidas de que o envelhecimento biológico abrange diversos parâmetros intimamente relacionados, como: taxa metabólica, ingestão calórica, genética, estilo de vida e fatores ambientais (SHONEICH, 1999). aumento cronológico de idade ou com a passagem do ciclo da vida”.

Quais são os aspectos psicológicos do envelhecimento?

Psicologicamente, vemos também mudanças no funcionamento psíquico: existe uma tendência a desinteressar-se pelas coisas e pelos outros, com atitude de isolamento, dificuldade em lidar com frustração, diminuição da libido, comportamentos obsessivos ou compulsivos e atitude de recusa diante de das coisas.

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