Como melhorar o ensino de língua portuguesa?

Por Teresa Silva e Silva

Há dias, isto é, no dia 09 de Julho de 2014, fui convidada a participar nas terceiras jornadas científicas e pedagógicas do Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED), subordinada ao tema: Como melhorar o ensino-aprendizagem da língua portuguesa. No período da tarde, eu e outros professores, fomos convidados a participar na Mesa-Redonda que abordava o mesmo tema alucinante e curioso, pois, houve até uma colega que indagou se o ISCED ambicionava encontrar a receita para melhorar o ensino!…

Convenhamos que precisamos de falar de temas como esses e nessa mesma perspectiva, porque estaremos a analisar o ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa em Angola: o ensino de uma língua oficial, veicular, de unidade nacional e social, uma abordagem na perspectiva da Socilinguística. Por um lado temos uma nação, a nação angolana, onde Constituição assim a estatui; e estaremos a pensar na dicotomia ensino-aprendizagem de como nos comunicar como seres deste espaço social e, por via de regra nos consentraremos em analisar um sintagma que abrange toda a nação e que devia cobrir todos as outras ciências, para que através da língua, eduquemos a nação angolana.

Por outro lado, é uma grande responsabilidade estudar os aspectos resultantes da relação entre a língua portuguesa e a sociedade angolana. Mas então perguntamos, Qual é a importância da língua na sociedade? E, se possível, temos que nos concentrar, não na comunicação só para trocar ideias, mas naquela que busque, principalmente, o entendimento entre os sujeitos falantes, numa cadeia de comunicação harmoniosa.

Assim, a abordagem da língua deve partir de uma análise cuidadosa do mapa sociológico da nossa comunidade, uma vez que, quanto mais complexo for o seu tecido social, mais heterogénio (de outro género, diferente) o uso que essa comunidade faz da língua. Estamos a falar de ensino-aprendizagem de uma língua em Angola, cujas vicissitudes de um passado muito recente, obrigou a que existissem muitas consequências da variação linguística (o assimilacionismo – que rompeu com o nosso mosaico cultural e a nossa identidade de raça, as guerras e situação política – que proporcionou vários desequilíbrios políticos e sociais), que afectam maioritariamente os planos fonético-fonológico e morfológico das línguas.

Todavia, somos professores, somos linguistas e literatos e devemos, sempre e acima de tudo, repensar nas nossas responsabilidades como formadores e, por isso mesmo, buscar usar a linguagem, na sala de aulas para reproduzir o falar da classe social mais culta que deve procurar inferir aos estudantes o que representa o idioma da norma padrão desta sociedade (não só por assumí-la como o nosso idioma oficial, mas também porque temos uma norma linear e coesa, a seguir).

Mas nunca devemos nos esquecer, que se aprende a língua portuguesa pelo estudo do texto, por isso seria bom incentivar o gosto pela leitura de obras integrais e sairmos do estudo gramatical do texto para condimentá-lo com a leitura exploratória que busque a análise textual mais viva e rica baseada na análise das estruturas externa e interna, que deixe evidenciar surpriendentemente a beleza estilística da lingua num ambiente de literariedade.

Essas obras integrais ou fragmentadas seriam, primeiro, aquelas que representem o nosso cânone. Entretanto muitos poderão perguntar se existe um cânone em Angola, mas isso pode ser ultrapassado se os manuais de ensino passarem a sistematizar e referenciar os autores de leitura obrigatória nas aulas de Língua Portuguesa a diversos níveis. É claro que a exemplo dos países ocidentais, primeiros taxaremos os autores angolanos, seguidos dos de expressão portuguesa, mas não devemos parar por aqui e sim referir os escritores cujas obras são universais e de referência obrigatória, como um Miguel Cervantes, William Shakespeare, Victor Hugo, Geovanni Bocaccio, entre outros.

Estamos sim a sugerir o incentivo pela leitura de textos e reforçar que os estudantes não devem continuar a ser leitores passivos, quer dizer, o aluno estéril, que não reproduz; porque o texto é um lugar onde escritor e leitor se entendem. O escritor tem em mente algo a dizer, mas espera que o leitor o entenda; para isso, o leitor deve ter certos conhecimentos, sem os quais não conseguirá captar as informações que os enunciados transmitem.

Então, podemos dizer que o leitor tem que ser um sujeito crítico: precisa antecipar factos – se possível, a partir do título; posicionar-se diante dos argumentos; reconhecer as informações explícitas ou não; perceber e entender metáforas; notar expressões que têm referências fora do texto, etc., só assim é que o estudante vai reproduzir as suas próprias ideias, concordando ou discordando com o próprio texto e abstrair daí o que Aristóteles chamou de “catarsis”. Esse também será um dos mecanismos para que cada um, individualmente, consiga combater a cábula e o plágio.

A linguista Kock estabelece três grandes sistemas de conhecimentos necessários para o processo de leitura, que são o conhecimento linguístico, o conhecimento de mundo e o conhecimento interactivo.

No primeiro – o leitor terá os conhecimentos gramaticais e lexicais suficientes para entender as frases, o encadeamento delas, o significado dos termos, enfim, pôr em prática o seu conhecimento sobre a língua. No segundo – terá toda a experiência de vida enquanto leitor, tudo o que já viu, já leu, já ouviu, enfim, tudo que é empírico. Muitas vezes o texto traz referências de coisas ou factos ocorridos há muito tempo, ou factos históricos, mitos, crendices, folclore, coisas que o escritor, na verdade, pretende dialogar com o leitor, ou, trazer à lembrança do leitor. E no último – engloba-se a interacção entre o escritor e o leitor. Algumas vezes, o escritor dialoga directamente com o leitor ou no preâmbulo do livro, ou mesmo no decorrer do texto. Outras vezes, há um trocadilho com uma mensagem implícita esperando o riso do leitor. Da parte do escritor há de haver também a preocupação com objectividade daquilo que pretende informar, a adequação dos elementos, coerência, etc. Palavras grifadas, entre aspas, parênteses, são recursos gráficos que o escritor usa para chamar a atenção do leitor. Entende-se, portanto, que no conhecimento interactivo, leitor e escritor caminhem juntos.

Todavia, ensinar a língua é socializar e entenda-se aqui, esse termo, como a assimilação de hábitos característicos de um grupo social ou o processo através do qual um indivíduo se torna membro funcional de uma comunidade, assimilando a cultura que lhe é própria. Logo, a missão do professor é um processo contínuo e inacabado, realizado por intermédio da comunicação, que inicia pela “imitação” para depois se tornar mais sociável. Por exemplo, na Idade Pré-Cristã, aprendiam-se os escritos sagrados pela memorização – o pai dava um excerto de texto para que a criança decorasse, depois faziam-se perguntas. A frequência de respostas certas sem o auxílio do texto, dava-lhes o sinal de que o filho tinha gravado na mente e no coração, aquele trecho sagrado. Só para dizer, que o ensino da língua começa no berço através, primeiramente, da família e seguidamente de outros agentes próximos ou sociáveis – a igreja, a escola, os meios de comunicação de massas e os grupos de referência ou os nossos grupos favoritos (um professor que tenha tocado o nosso íntimo, actores, atletas, políticos de destaque, escritores, jornalistas e outros heróis).

Nunca devemos[1] nos esquecer, que a socialização é um processo através do qual o indivíduo se integra no grupo em que nasceu adquirindo os seus hábitos e valores característicos, permitindo, assim, desenvolver a sua personalidade e ser admitido na sociedade. Isso vai permitir não só integrar o indivíduo no grupo, mas também a sua continuidade nos sistemas sociais. Esse processo de integração permitir-lhe-á apropriar-se de comportamentos, atitudes e valores que se vão modelando em crenças e normas de cultura evoluindo gradativamente a escala global.

Isso é o que formalmente devia acontecer, mas, em Angola isso pode ser diferente, devido àquela heterogenidade que citamos antes. Então, a adequação exige outra acção social, que é a interacção que vai provocar uma modificação de comportamento nos indivíduos envolvidos, como resultado do contacto e da comunicação que se estabelece entre eles.

Desse modo, fica claro que o simples contacto não é suficiente para que haja interacção. Será necessário um outro elemento que é a Empatia. Por exemplo, se um professor entra na sala de aulas e vai “vomitando” a matéria, sem se preocupar com algumas das necessidades e sinais humanos dos estudantes, não está havendo interacção social (embora a presença de alguns estudantes exemplares possa influenciar, um pouco, o comportamento social de outros). É necessário identificar as necessidades dos alunos no que toca a aprendizagem e buscar os incentivos para superá-las. Por exemplo, num passado não tão remoto, havia o sistema de encaminhamento e o aluno tinha que se superar na turma para satisfazer os requisitos para o encaminhamento, mas esse pode ser só, um dos métodos…

A interacção assume formas diferentes e essas formas assumidas pela interação social chama-se relação social. Um professor dando aula tem um tipo de relação com seus alunos, que é a relação pedagógica, que passa pela relação didática, pragmática e metodológica e que, por isso, exige a influência recíproca entre os ensinantes e aprendentes. É neste tipo de interacção, que o professor na qualidade de socializador vai influenciar os estudantes. Entretanto, essa interacção social pode ocorrer entre professores e alunos, aluno e aluno ou entre grupos dentro da sala de aula, baseadas na hierarquia, respeito e outros meios culturais pautados pelo civismo.

Essa hierarquização dará lugar às marcas linguísticas na relação Professor/Aluno dentro da sala de aulas, espaço em que tanto o professor como os alunos trabalham na construção do sentido discursivo, segundo a prática de um comportamento pedagógico, que deve ser voltado para o aluno, enquanto centro das actividades acadêmicas, bem como para a sua socialização, realizando actividades do grupo.

Uma análise de carácter discursivo-interactivo considera o discurso como espaço de negociação e constituição dos sujeitos que se propõem a essa negociação, já que são influenciados pelas determinantes sociais: o silencio dos alunos as respostas, as repetições, a duração da aula do professor ou o respeito pelo cumprimento do seu tempo e outras que são identificadas como marcas que fortificam a interacção entre professor e alunos em momentos específicos das aulas.

Diz-se que quem ensina uma língua, deve ser humilde ensina ética e civismo, mexe com as estruturas intelectuais e sensitivas do ser humano e com isso, educa uma nação.

Apesar do professor saber que a sala de aula é um lugar de actividades interactivas, muitas vezes essa interactividade não ocorre, por motivos relacionados com a própria formação do professor e de determinados alunos “pivot’s”, embora se saiba que o contexto académico já se configura como um espaço de hierarquização, contribuindo assim, para que alguns professores reproduzam a prática do ensino autoritário. Devemos sempre combater e anular as marcas linguísticas que promovem e evidenciam o uso do autoritarismo do professor. E o ponto central dessa interacção deve ser observado em situações como: o professor (aquele que ensina); o aluno (aquele que deve aprender); o tópico (o assunto transmitido pelo professor); e o método ( maneira como o professor passa o conhecimento) partindo do pressuposto de que ser educador é acima de tudo uma condição de humildade e respeito para a harmonia das relações humanas e a transmissão de bons exemplos.

Assim, o discurso na aula de língua portuguesa deve ser simétrico, considerando a tentativa dos professores de solicitarem a participação dos alunos na efectivação desse discurso. Caso isso não seja tido em conta, o aluno não consegue expressar verbalmente as suas representações mentais e quando isso acontece esporadicamente estará submetido a obediência passiva que é observada através da não-participação quanto ao que é requerido pelo professor, ou a participação livre e forçada na interlocução através da contrapalavra.

Ao ensino superior cabe a responsabilidade de gerar o saber, um saber interligado no contexto social, considerando os condicionalismos da nossa sociedade, primando sempre pela qualidade do ensino. Pois, a profissão de professor é uma prática educativa, uma forma de intervir na realidade social, através da educação e, assim sendo, ela é uma prática social.

A tarefa do aluno é também uma prática social que exige respeito pela hierarquia e muito esforço no sentido do orgulho próprio e o brio, que exigirá disciplina e métodicismo académino; primado pela sede de leitura, combate a letargia e buscando sempre, o autododatismo, nem que seja só para provocar o debate na sala de aulas.

A obra literária, O Monge e o Executivo: uma história sobre a essência da liderança de James C. Hunter é um livro que conquistou muitos leitores pelo mundo. O autor apropria-se da ficção que, além de muito fascinante e envolvente, possibilita aos leitores, terem uma visão humanista de como deve ser um relacionamento verdadeiramente pessoal e em grupo, nas organizações, sejam elas familiares, empresariais, governamentais, estudantis, etc.

No capítulo um, intitulado «As Definições», o autor, tendo como principal foco, descreve o que muitos não sabem: o verdadeiro significado de liderança.

Deixa bem claro que liderança não pode ser confundida com poder; ao passo que poder “é a faculdade de forçar ou coagir alguém a fazer a sua vontade, por influência da posição social ou força, mesmo que a pessoa preferisse não o fazer”, e liderança, em palavras simples, “é a habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente visando atingir objectivos comuns, inspirados na confiança ou por meio da força do carácter”.

Enfatizou que o líder se utiliza da autoridade para que as pessoas, independente de estarem ou não sobre a sua subordinação, dêem o melhor de si no que estão a fazer.

Assim, corroborando com Hunter, ensinar deve ter sempre uma função humanista e progressista, visando à construção de um cidadão autónomo e seguro a ponto de reconhecer o seu espaço na sociedade com os seus direitos e deveres para uma cidadania melhor e na esperança de construirmos juntos, uma boa relação professor-aluno ou ensino-aprendizagem académica em geral.

Pergunta: Como melhorar o ensino-aprendizagem da língua portuguesa em Angola

Resposta: Com uma relação saudável onde os principais ingredientes serão: amor pela missão, sentido de dever, respeito pelas partes e responsabilidades conscientes para cada uma dessas partes envolvidas. Se cada um fizer a sua parte, teremos um melhor ensino da Língua Portuguesa. Mas, não é tudo!…

[1] Usamos o plural no espírito da dicitomia ensino-aprendizagem.

O que fazer para melhorar as aulas de Língua Portuguesa?

Tenha melhores resultados em língua portuguesa.
Revise com frequência as novas matérias que aprendeu..
Leia muito, não há português correto sem leitura..
Preste atenção na forma como as pessoas a sua volta se expressam..
Pratique a escrita sempre que possível..
Busque ajuda de um professor particular de português..

Qual a alternativa para o ensino mais significativo de Língua Portuguesa?

Apenas em I · Pergunta 4 1 em 1 pontos Qual a alternativa para um ensino mais significativo de Língua Portuguesa? Resposta Selecionada: e. Trabalhar com as variedades da língua portuguesa e desconstruir mitos que levam ao preconceito linguístico.

Como ensinar Língua Portuguesa de forma divertida?

Ideias divertidas para os pequenos:.
Bingo com nomes e figuras. Uma ideia divertida e simples para que as crianças aprendam a escrever os nomes básicos de coisas (ex: frutas, animais, cores), é realizar uma espécie de “bingo”. ... .
Jogo das Vogais. ... .
Caça-Palavras. ... .
Pote das Letrinhas. ... .
Soletrando. ... .
Desenhos especiais..

Quais são as práticas de ensino em Língua Portuguesa?

Todas essas políticas têm em comum a necessidade de se contemplar os quatro eixos para o ensino de língua portuguesa: leitura, produção textual, oralidade, análise linguística, considerando-se diversos gêneros textuais, com a finalidade de proporcionar práticas letradas para a formação social.