Se não eu, quem vai fazer você feliz pdf

Um dos maiores �cones do rock nacional, Alexandre Magno Abr�o, o Chor�o, conquistou o Brasil sobretudo pela sua entrega na hora de compor e cantar. Essa mesma intensidade marcou a hist�ria de amor �mpar vivida com Graziela Gon�alves, que conta neste livro como o relacionamento de quase vinte anos dos dois a transformou para sempre.
Ela conheceu o cantor antes de sua banda estourar e se tornar uma das mais populares do pa�s. Com suas ideias e seu apoio, Grazi teve participa��o importante na constru��o do sucesso do Charlie Brown Jr. Foi a grande musa de Chor�o, que escreveu in�meras letras inspirado nela. Como companheira de Alexandre, passou com ele os melhores e os piores momentos, e o ajudou a enfrentar a depend�ncia qu�mica, que o levou, tragicamente, � morte em 2013.
"Se n�o eu, quem vai fazer voc� feliz?" n�o vai tocar apenas os f�s de Chor�o. Mesmo sem conhecer sua m�sica, � imposs�vel n�o se emocionar com a for�a desse amor que sobreviveu � fama, �s crises e at� � morte � e que � homenageado neste livro.

Biografia, Autobiografia, Mem�rias / M�sica / Romance

Percebi que o Alê olhava para mim de longe, e, quando nos aproximamos na passagem estreita de entrada e saída, ele me abordou com um pedaço de papel na mão: “Oi. Poxa, já tá indo embora? Então, vou tocar aqui com a minha banda amanhã. Eu gostaria muito que você viesse”.

“Você merece muito mais, Grazon. Te amo muito! Você é o amor da minha vida, a minha musa inspiradora.” (...) Sem me dar conta, eu havia me tornado a musa do meu amor e inspirava os versos: “Se não eu, quem vai fazer você feliz?”.

Senti uma mudança interior, agora tínhamos nos tornado marido e mulher oficialmente perante o mundo. (...) Éramos os mesmos, mas algo maior tinha acontecido. Não havia dúvidas, não existiam mais problemas, o que não servia ficou para trás. Nossa felicidade era maior que tudo, nos sentíamos leves e prontos para seguir em frente.

“Nossa, quanta história, né, Gra? Quanta batalha pra chegar até aqui…” Uma sombra passou pelo seu olhar de repente, e ele continuou: “Se um dia acontecer algo comigo, conta a minha história pra essa molecada, Grazi”.

Se não eu, quem vai fazer você feliz pdf
Título: Se não eu, quem vai fazer você feliz?: Minha história de amor com Chorão

Еscritor: Graziela Gonçalves

ISBN: B07FSYPYMV

Classificação Temática: 📜 Biografias e Memórias

Baixar

Descrição do livro «Se não eu, quem vai fazer você feliz?: Minha história de amor com Chorão» Graziela Gonçalves

Em seu emocionante livro de memórias, a viúva de Chorão narra a história de amor dos dois.

Um dos maiores ícones do rock nacional, Alexandre Magno Abrão, o Chorão, conquistou o Brasil sobretudo pela sua entrega na hora de compor e cantar. Essa mesma intensidade marcou a história de amor ímpar vivida com Graziela Gonçalves, que conta neste livro como o relacionamento de quase vinte anos dos dois a transformou para sempre.
Ela conheceu o cantor antes de sua banda estourar e se tornar uma das mais populares do país. Com suas ideias e seu apoio, Grazi teve participação importante na construção do sucesso do Charlie Brown Jr. Foi a grande musa de Chorão, que escreveu inúmeras letras inspirado nela. Como companheira de Alexandre, passou com ele os melhores e os piores momentos, e o ajudou a enfrentar a dependência química, que o levou, tragicamente, à morte em 2013.
Se não eu, quem vai fazer você feliz? não vai tocar apenas os fãs de Chorão. Mesmo sem conhecer sua música, é impossível não se emocionar com a força desse amor que sobreviveu à fama, às crises e até à morte — e que é homenageado neste livro.


Em nossa biblioteca online você encontrará livros, romances, contos de fadas e obras de outros gêneros de autores famosos de todo o mundo – modernos e aqueles que nos deixaram um tesouro de suas melhores criações no passado.

Você pode baixar (download) a versão completa do livro «Se não eu, quem vai fazer você feliz?: Minha história de amor com Chorão» Graziela Gonçalves gratuitamente, sem cadastro e sms (sms), escolhendo o formato adequado txt, mobi, epub, pdf, em português em um e-book, em um Android telefone (android), iPhone, PC (computador), iPad.

Antes de baixar, você pode ler resenhas e anotações, além de resenhas de quem já leu o livro.
 

Baixar (Download) livro grátis «Se não eu, quem vai fazer você feliz?: Minha história de amor com Chorão» Graziela Gonçalves

Comprar Livro

Documento: pdf (172 páginas) 4.5 MB

Publicado em: 2019-04-26

Se não eu, quem vai fazer você feliz pdf
Um dos maiores ícones do rock nacional, Alexandre Magno Abrão, o Chorão,
conquistou o Brasil sobretudo pela sua entrega na hora de compor e cantar.
Essa mesma intensidade marcou a história de amor ímpar vivida com
Graziela Gonçalves, que conta neste livro como o relacionamento de quase
vinte anos dos dois a transformou para sempre.
Ela conheceu o cantor antes de sua banda estourar e se tornar uma das
mais populares do país. Com suas ideias e seu apoio, Grazi teve participação
importante na construção do sucesso do Charlie Brown Jr. Foi a grande
musa de Chorão, que escreveu inúmeras letras inspirado nela. Como
companheira de Alexandre, passou com ele os melhores e os piores
momentos, e o ajudou a enfrentar a dependência química, que o levou,
tragicamente, à morte em 2013.
Se não eu, quem vai fazer você feliz? não vai tocar apenas os fãs de Chorão.
Mesmo sem conhecer sua música, é impossível não se emocionar com a
força desse amor que sobreviveu à fama, às crises e até à morte — e que é
homenageado neste livro.
urante a infância, muitos meninos sonham
em se tornar bombeiros. Não sei se é pelo
prestígio do uniforme ou pela vontade de
enfrentar o perigo e bancar o herói, mas
essa profissão sempre fascinou a molecada. E certo dia
de 2012, o Alexandre, com 42 anos, saiu de casa decidido a se tornar
bombeiro, apesar de nunca ter pensado nisso quando criança.
“Gra, eu já volto.”
Ouvi a porta da frente da nossa casa bater. Eu já sabia para onde o Alê —
como eu o chamava na maioria das vezes — estava indo, mas fiquei
receosa de qualquer maneira. Nos últimos dois anos, a preocupação com o
humor dele já tinha se tornado uma constante na minha vida. Apesar do
retorno recente e bem-sucedido da formação antiga do Charlie Brown Jr.
(depois de uma briga que se tornou pública), com uma agenda cheia de
shows para cumprir, o estado de espírito dele era de insatisfação
permanente.
“Vou largar tudo, Tiri. Preciso encontrar outro sentido pra minha vida.
Quero fazer alguma coisa que me preencha, alguma coisa que faça eu me
sentir vivo de novo”, ele tinha me dito poucos dias antes, me chamando
por um apelido que a gente curtia usar um com o outro.
Com essa ideia na cabeça, o Alê saiu naquela tarde e foi até o Corpo de
Bombeiros, perto do prédio onde morávamos em Santos. Estava decidido:
ia tentar se tornar bombeiro. Queria se sentir útil, salvar pessoas, ter
contato direto com a vida real, que ele não sabia mais como era. Alguns
minutos antes, quando o Alê me contou o que pretendia fazer, apesar da
surpresa, eu o apoiei. Para mim, valia qualquer coisa para vê-lo feliz de
novo depois de meses que foram um verdadeiro inferno, causado, entre
outras razões, pela dependência química.
Porém, nada é tão simples assim no mundo real. Ele voltou para casa
depois de algum tempo, com o rosto molhado das lágrimas que ainda
caíam. O Alê descobriu que existe uma série de procedimentos e
exigências para ser bombeiro. Uma delas é a idade, que ele já tinha
ultrapassado.
Ele me abraçou chorando, desolado, e pude sentir a intensidade do
desespero dele. Ficamos abraçados no hall de entrada da nossa casa por
um longo tempo, enquanto eu buscava alguma palavra de consolo. Meu
abraço era tudo o que eu podia oferecer naquele instante. O Alê — que o
Brasil todo conhecia como Chorão — tinha alcançado tudo o que um dia
sonhara para a sua vida. No entanto, nunca havia se sentido tão infeliz.
Naquele dia não havia dinheiro, sucesso ou qualquer coisa que fosse
suficiente para preencher o vazio dentro dele. O Alê estava disposto a
trocar tudo por uma vida mais simples. Infelizmente não achou resposta
para toda aquela dor e, passado pouco mais de um ano, partiu, deixando a
mim e a todo o Brasil desolados. No entanto, muito antes disso a minha
vida havia sido transformada para sempre por ele. Uma história única,
bela e triste, que passo a contar agora.
Eu, de bandeirante, com dez anos, na porta de casa: uma infância muito feliz.
mesa farta enchia os olhos dos convidados
para o almoço de aniversário da vó Maria.
Lá estavam os irmãos dela com esposas,
maridos e filhos. A família toda tinha se
reunido para comemorar a data especial. E estava
sendo especial mesmo. Depois de dias de céu cinza e garoa fina
ininterrupta, o sol resolveu dar o ar da sua graça e brilhava feliz naquela quinta-
feira de inverno santista do dia 29 de julho de 1971. A aniversariante, dona
Maria Aparecida, minha avó materna, era uma referência para toda a família. De
origem simples, com o seu jeito carinhoso porém firme, seus quitutes de dar
água na boca e suas toalhas de crochê impecáveis, fazia da casa dela o lugar
perfeito para todos se reunirem. O almoço teve parabéns e bolo de chocolate, e
se estendeu até o cafezinho da tarde.
Quando a maioria dos parentes já tinha ido embora, à noite, minha mãe
começou a sentir um leve desconforto, achando que havia comido demais.
Desconforto que nada: era eu que estava querendo nascer! Algumas horas
depois, vim ao mundo de parto normal. Uma bola ruiva com mais de quatro
quilos, naquele mesmo dia 29. Foi um presente para minha avó ver sua primeira
neta nascer bem no dia do seu aniversário. Cheguei a este plano num ano
governado por Vênus, planeta do amor e das artes; no dia da semana cujo
padroeiro é Júpiter, planeta da sorte, expansão, aventuras e exageros; e sob o
signo de Leão, que tem o Sol como regente. Para muitas pessoas isso tudo não
faz a menor diferença, mas para mim explica em grande parte a maneira como
fiz minhas escolhas e conduzi meu caminho.
Passei a infância e parte da adolescência na segunda quadra da rua Vahia de
Abreu, entre a avenida Francisco Glicério, onde hoje passa o VLT (um trem
urbano que corta a cidade), e a rua Alexandre Herculano, no bairro do
Boqueirão, em Santos. Nossa casa era bem pequena, tinha um quintalzinho em L
que contornava uma lateral e os fundos da casa e, na frente, um jardim onde
meu irmão e eu plantamos uma árvore: a minha era uma pitangueira e a dele,
um abacateiro, que aparecia na letra de “Refazenda”, uma das nossas músicas
preferidas do disco homônimo do Gilberto Gil que não saía da nossa vitrola.
A Vahia de Abreu era uma rua pacata, na qual passavam poucos carros. O
lugar ideal para um bando de crianças que morava nas redondezas se divertir
com muita liberdade. Algumas pessoas consideravam a região um pouco barra-
pesada, graças à chamada Turma da Vahia, uma das muitas gangues santistas da
época, famosa pelos confrontos com outros grupos na saída das domingueiras
da cidade. Alguns deles podiam até ser da malandragem, mas a verdade é que,
para quem morava ali, isso nunca representou perigo. Então, embora
estivéssemos próximo desse cenário, cresci de maneira muito tranquila e
saudável.
Vivia na rua brincando com a criançada, era mandona, me sentia a própria
Mônica dos quadrinhos, sem coelho e numa versão praiana. Se mexessem com
meu irmão, Beto, que é dois anos mais novo que eu, não pensava duas vezes e
partia para cima de quem fosse para defendê-lo. A verdade é que eu era uma
grande moleca: sempre descalça, de shorts e blusa frente única, brincando de
esconde-esconde, queimada, jogando detetive ou fazendo campinhos para jogar
taco, uma espécie de beisebol de rua, no meio do asfalto.
Definitivamente vestidinho cor-de-rosa e sapatinhos de boneca não serviam
para mim. Tive uma infância muito feliz.
Uma fase da qual me lembro com muito carinho foi quando entrei para o
grupo das bandeirantes — uma versão dos escoteiros só com garotas —, com
nove anos. Quem me levou foi a tia Cristina, que na época era namorada do
irmão da minha mãe, o tio Sérgio. Eu era fadinha, que é como as meninas mais
novas são chamadas no movimento, e usava uma gravatinha amarela; tínhamos
um boletim e eu sempre ganhava broches em formato de corujinhas, que eram
como medalhas de boa conduta. Eu amava tudo aquilo. Aprendi muitas coisas
nas reuniões e acampamentos: fazer fogo, construir um forno de barro e, acima
de tudo, respeitar a natureza. Mas é claro que nem tudo são flores. Quando
entrei na adolescência, passei por aquela fase terrível em que me sentia meio
patinho feio: o nariz cresce, o cabelo fica rebelde, a gente se acha toda errada.
Estava naquele período da vida em que você toma consciência de muitas coisas
e entra na viagem de se comparar com os outros. Sempre tem a menina que é a
mais bonita do mundo e por quem todos os meninos se apaixonam.
Eu não era a mais bonita nem a que tinha peito e muito menos a rica. Mas
ainda era inocente demais para sacar que essas características não têm a menor
importância. Para piorar, lá pelos onze, doze anos, minha mãe decidiu cortar o
meu cabelo no estilo “Joãozinho”, supercurto. Ou seja, não me restava mais nem
o cabelão que eu amava. Odiei! Acho que a intenção era facilitar a minha vida (e
a dela), já que eu não tinha muita paciência para me pentear. A minha mãe
também usava cabelo curtinho, estilo Elis Regina — elas, aliás, eram muito
parecidas naquela época. Esse episódio do corte de cabelo foi um dos maiores
traumas da minha existência até aquele momento. Fiquei tímida, retraída, por
um bom tempo. Cabelo, para mim, era uma espécie de escudo, um adereço que
me protegia e trazia segurança. Até hoje, quando vou ao salão de beleza, sou
daquelas que falam “corta só um dedinho!”. Tenho pânico de cortar cabelo.
Até os doze anos, meus pais se empenharam para que eu estudasse num
colégio particular, de bacana — o Marza. Lá, tive de conviver com grandes
diferenças, era um desses colégios em que todo mundo da sala já tinha ido para
a Disney, menos eu. Os amigos eram legais, mas viviam uma realidade muito
distante da minha. E eu sabia bem o sacrifício que meus pais faziam para que eu
pudesse estudar lá, então não tinha drama.
Ao mesmo tempo que eu convivia com o pessoal mais fino do colégio, adorava
chegar logo em casa, tirar o uniforme e ir para a rua me encontrar com a
molecada. Eu gostava desse contraste. Já meu pai tinha verdadeiro horror ao
meu lado rueiro, que para ele se traduzia em más influências, mas eu nem
ligava. Minha família era simples, mas nossa vida era confortável.
Nessa época, minha mãe tinha um bom emprego na Refinaria Presidente
Bernardes e meu pai trabalhava na Companhia Docas, até que, numa daquelas
reviravoltas da vida, os dois perderam o emprego, e passamos a viver de forma
bem mais apertada. Meu pai começou então a fazer serviços de transporte para
a empresa de um amigo dele com um pequeno caminhão, e minha mãe se
tornou funcionária pública, trabalhando como bibliotecária num colégio da rede
municipal chamado Cidade de Santos.
Foi nesse período de dificuldade financeira que meus pais me disseram que
não conseguiriam mais pagar as mensalidades da escola, e então fui estudar
onde minha mãe trabalhava. Eu estava na sexta série, e tive que lidar com o fato
de que não ia me formar com a turma com quem eu estudava desde pequena.
Foi complicado aceitar, mas eu não tinha escolha, e no fim das contas acabei
fazendo amizades inesquecíveis no Cidade.
Santos é uma cidade plana e relativamente pequena, tudo é perto e a praia é o
lugar onde todo mundo se encontra. Ela é cortada de ponta a ponta por canais,
numerados de 1 a 7, que, além de serem bem bonitos, servem como referência
de localização para todos. Eu me lembro de sair com a galera da rua e descobrir
a riqueza de uma cultura praiana de música, surfe e malandragem. Elementos
que, juntos, criavam uma atmosfera de eterno playground juvenil, numa Santos
pacata, sem a violência dos dias de hoje. Ainda havia aquele clima de cidade
pequena, de interior, em que nas noites de verão os vizinhos armavam suas
cadeiras de praia na rua, em frente de casa, para conversar e sentir a brisa.
Seria nesse cenário que mais tarde eu encontraria o amor da minha vida. Ir
aos shows de rock que aconteciam no Caiçara Clube nos fins de semana era a
balada obrigatória para qualquer um com mais de quinze anos (mesmo que
para isso fosse necessário falsificar o RG, já que só se permitia a entrada dos
maiores de dezoito). Era a época mágica do nascimento do pop rock nacional
dos anos 1980: Titãs, Kid Abelha, Paralamas do Sucesso, RPM, Barão Vermelho
(com Cazuza), Lobão, Ultraje a Rigor, Camisa de Vênus, Legião Urbana e tantos
outros. Aliás, num desses shows, uma amiga conseguiu me levar ao camarim da
Legião, e eu, apesar da timidez, peguei um autógrafo do Renato Russo, que
tenho até hoje enquadrado com muito carinho entre duas lâminas de vidro.
Nunca fui de fazer isso, mas, pô, era o Renato Russo, o cara foi um dos meus
ídolos da adolescência.
Eu, com dois anos, na praia de São Sebastião, no litoral paulista: versão praiana
da Mônica dos quadrinhos.
As matinês de domingo também eram imperdíveis e aconteciam em três
clubes: o Atlético, perto de casa, no Canal 3; o Sírio Libanês, o que eu mais
frequentei; e o Internacional de Regatas, na Ponta da Praia, onde os
playboyzinhos da cidade se reuniam. Eu me divertia muito, todo mundo
dançava fazendo passinhos ao som da Madonna ou ao som do Herbert Vianna
cantando “Se as meninas do Leblon não olham mais pra mim” e se esgoelava na
hora do refrão, quando o DJ abaixava o volume e deixava a galera cantar.
Minha relação com esses clubes foi assim: quando eu era mais nova, ia à
balada do Inter, a dos arrumadinhos, que terminava mais cedo e era bem
caretinha; à do Atlético acho que fui só uma vez e não curti muito; um pouco
mais velha, meu point era o Sírio, com uma galera mais descolada e mais rock ‘n’
roll. Era o momento das descobertas, das primeiras paixõezinhas, daquelas
amizades que a gente acha que vão durar até o fim da vida e de perceber como
era bom paquerar e beijar na boca. Ah, se aquela pista falasse…
Lembro que todo domingo era a mesma batalha: eu pedia permissão para sair
e meu pai não deixava, então eu usava aquele argumento (fraco) de
adolescente: “Mas todo mundo vai!”. Eu já acordava tensa por não saber se ele
me deixaria ir — ou, caso deixasse, se me daria algum dinheiro.
Se ele não dava, eu apelava para o meu anjo da guarda, minha avozinha
Maria, que morava no primeiro andar do prédio ao lado da nossa casa. A janela
do apartamento dela dava para o nosso quintal; bastava eu assoviar e chamar
“vóóó!” que ela, já sabendo de como as coisas funcionavam em casa, aparecia,
me jogava alguns trocados e repetia com aquela voz doce e carinhosa: “Vai,
filhinha, vai balançar o esqueleto. Se o seu pai falar que não tem dinheiro pra te
dar, você diz que não precisa”.
Mas a verdade é que, apesar de toda a cisma do meu pai, eu nunca fiz nada de
errado, não me metia em confusão, não bebia, sempre fui a mais sossegada da
turma. Beijar, por exemplo, aconteceu só quando eu estava com dezesseis anos,
quase dezessete. Foi voltando de uma dessas matinês, andando na rua com a
galera, quando de repente um moleque me agarrou e rolou um beijo. Achei
horrível, não tinha a menor ideia de como fazer aquilo e ao mesmo tempo
morria de vergonha de que o menino pensasse que eu não sabia beijar. Mas no
fim das contas acabei pegando o jeito. Ah, como adolescente sofre!
Nesse meio-tempo, tive o meu primeiro contato com a morte: perdi o meu
avô Xavier, pai da minha mãe. Toda a família ficou abalada e preocupada com a
minha avó. Percebíamos o quanto estava abatida. Mas ela era uma pessoa de
força exemplar e viveu sua tristeza de forma reservada. A família sentiu muito a
morte do meu avô, tudo sempre acontecia na casa deles, Natal, Páscoa etc. Dali
para a frente, ficariam apenas a saudade e as lembranças.
Meu avô era uma figura que eu amava e que encantou a minha infância
contando histórias fascinantes sobre a Antiguidade. Ele costumava dizer que eu
era descendente de várias figuras históricas, da marquesa de Santos a Gêngis
Khan. Falava que eu era bonita como a nobre e brava como o guerreiro. Ele me
ensinou a tomar gosto pela leitura, me fez sonhar em ir à Grécia ver os templos,
conhecer o berço do raciocínio lógico, saber mais sobre filosofia, visitar as
tumbas do Egito, sonhos que ainda tenho. Certo dia, quando eu voltava da casa
de uma amiga, soube que ele havia tido uma parada cardíaca. Foi assim, de
repente, algo difícil de aceitar e uma perda que me impactou para o resto da
vida.
O meu primeiro emprego veio aos quinze anos. Queria comprar uma prancha
de bodyboard e, como meus pais não tinham dinheiro para isso, aproveitei a
época de Natal para trabalhar como vendedora temporária numa loja de surfe
na galeria AD Moreira. Dali em diante, não parei mais. Todo fim de ano eu dava
um jeito de arranjar alguma vaga temporária e, tomando gosto por conquistar o
meu dinheiro, passei por vários empregos: trabalhei em outras lojas, fui
assistente de astróloga (ficava encarregada de desenhar os mapas astrais e, de
quebra, aprendia muito, absorvendo tudo o que escutava ali), secretária numa
empresa de transportes e até assistente de gerente num banco.
Chegou a época de escolher uma faculdade. Depois de cursar administração
por três meses, percebi que aquela não era a área certa para mim, então prestei
vestibular de novo e consegui entrar no curso de publicidade e propaganda da
Universidade Católica de Santos. Foi nessa época que descolei um dos empregos
mais legais do mundo, na Rádio Enseada, como locutora. Era uma daquelas
emissoras que faziam uma linha mais cool, tocando artistas como Sade e Sting.
No começo foi meio complicado, eu não sabia o que fazer com tantos botões
diante de mim. Além de ser a locutora, eu também tinha que operar a mesa de
som, colocar CD, vinil e MD (minidisc, um formato de mídia digital rudimentar
que nem existe mais). Tive também que aprender a falar com um tom de voz
suave, típico das FMs dos anos 1980. Eu adorava tudo aquilo. Apesar de ser
escalada em alguns fins de semana, os horários eram flexíveis e, afinal, eu estava
trabalhando com música, algo que sempre tinha feito parte da minha vida.
Tive a sorte de ter uma educação musical muito rica e bem eclética. Minha
mãe cantava e tocava violão, e na minha casa ouvíamos os discos da nata da MPB
o tempo todo; artistas como Elis Regina, Gilberto Gil, Tom Jobim, Vinicius de
Moraes, Caetano Veloso não saíam da nossa vitrola. Minha tia Beth e meu tio
Sérgio também me ensinaram muito sobre música. Eles moravam com a minha
avó, e eu me lembro de ir até lá, entrar no quarto da minha tia beatlemaníaca,
ver todos aqueles pôsteres de bandas na parede e passar um tempo ouvindo
Beatles e Rolling Stones. Além disso, ela também curtia Mutantes e Secos &
Molhados. Meu tio gostava de algumas coisas mais pesadas. Eu pedia a ele que
tocasse “Time” (faixa do clássico Dark Side of the Moon), do Pink Floyd, que eu
chamava de “música do pico-pico” por conta do tique-taque de um relógio que
aparece no início da música. Eu também adorava brincar com o Physical Graffiti,
disco do Led Zeppelin cuja capa tem a foto da fachada de um prédio com várias
janelinhas recortadas.
Meu irmão, Beto; minha irmã, Mariela; e eu, com o cabelo curto: o penteado
novo foi um trauma.
Já minha tia mais velha, a Regina, tinha um gosto variado. Com ela eu curtia as
músicas do Elvis, da Rita Lee, da Mercedes Sosa e tudo mais que tocava nas
discotecas. Cresci aprendendo, ouvindo meus tios falarem com paixão sobre
aquelas bandas e cantores, dizendo quem tocava bem, quais artistas eram
importantes. Toda essa informação fez com que meus irmãos e eu criássemos
uma forte ligação com essa arte que influenciaria nossa vida bem mais do que a
gente podia imaginar: meu irmão acabou se tornando guitarrista e minha irmã,
Mariela, se formou jornalista e trabalhou por um tempo como assessora de
imprensa do CBJr.
E eu? Bom, para falar a verdade, nem nos meus sonhos mais loucos pensei
que me tornaria algo que eu tanto admirava: musa inspiradora. Mas num tempo
ainda muito distante de tudo isso acontecer, além de música, minha paixão era a
moda. Cresci vendo minha avó e minha mãe costurando as próprias roupas,
cercadas por revistas de moldes, e acabei aprendendo a costurar também, sem
pensar que isso poderia ser uma profissão no futuro.
Tenho orgulho de t...

mostrar mais »AmorminhaQuemFelizFazerGRAZIELA

Comentários para: Se Não Eu Quem Vai Fazer Você Feliz - A Minha História de Amor Com Chorão - Graziela Gonçalves