Quem falou clássico é clássico e Vice

04/28/2011 por Fábio Marques

Quem falou clássico é clássico e Vice

Após semana maravilhosa num hotel de uma rede espanhola na Bahia fiquei com vontade de vir ao blog falar de futebol. Lá tive o prazer de assistir dois clássicos: Real Madrid x Barcelona, e Real Madrid x Barcelona. O primeiro um empate em 1 a 1 pelo campeonato espanhol, o segundo uma vitória do Real Mardid por 1 a 0 na prorrogação pelo título da Copa Do Rei.

Jardel, ex-atacante do Grêmio e da seleção brasileira disse uma vez “Clássico é clássico e vice-versa!”, e quem sou eu para discordar? O campeonato paulista desse ano conta com os 4 grandes do estado reunidos nas semi-finais, jogos duros para todos, como dizia o ex-presidente corinthiano Vicente Matheus “O difícil, vocês sabem, não é fácil…”.

Fica para nós, espectadores, a promessa de bons jogos, disputados dentro de campo pelos jogadores e fora pelos treinadores, todos os times com craques em campo, possivelmente jogos mais duros, dada a rivalidade entre as equipes. Mas predomina a esperança de um bom espetáculo!

Publicado em Reflexões de mesa de bar | Etiquetado Barcelona, Futebol, Paulista, Real Madrid | Deixe um comentário

O Museu do Futebol inaugurou, no dia de seu aniversário de 10 anos, uma exposição temporária que traz um dos temas mais afetos aos entusiastas do futebol: Clássicos! E, como este é um assunto que rende muito (e como rende!), a equipe do Centro de Referência preparou uma série de artigos, escritos por si e por convidados, que serão publicados ao longo dos meses em que a exposição ficará em cartaz. Este artigo que inaugura a série é de autoria de um dos convidados, o Alexandre Andolpho.

Foto: acervo Museu do Futebol.

Uma das 16 definições da palavra clássico no Dicionário Houaiss menciona que se trata de “(…) partida disputada entre dois clubes ou equipes importantes”. Mas os apaixonados pelo futebol — sejam os que presenciaram uma dessas partidas no estádio, que a viram pela TV ou simplesmente a acompanharam pelo rádio — têm a certeza absoluta de que um clássico é muito mais que uma simples partida.

No Brasil, temos uma das ofertas mais ricas de clássicos do mundo. São disputados por equipes de uma mesma cidade, de uma região e de um estado. Muitos são conhecidos mundo afora por nomes próprios (como Dérbi, Choque-Rei e Clássico das Emoções, entre tantos) ou abreviações (Fla-Flu, Gre-Nal e Ba-Vi, por exemplo). Alguns possuem nomes que caíram no esquecimento ou que acabaram perdendo a força nos últimos tempos (como o Clássico dos Ingleses, o Clássico Bisavô e o Clássico das Colônias). Outros acabam por pegar denominações emprestadas (casos dos Dérbis Campineiro e Mineiro ou do Clássico dos Milhões, nome compartilhado por Flamengo x Vasco (no Rio de Janeiro) e Mixto x Operário (em Mato Grosso).

Quando o assunto é rivalidade, o consenso é difícil, senão impossível. Qual o clássico de maior rivalidade do Brasil? Qual o maior clássico de cada estado? O fato é que as rivalidades esfriam e esquentam ao longo do tempo. Assim como os tabus favoráveis a um clube são enaltecidos pelos seus torcedores, enquanto os desfavoráveis são prontamente esquecidos.

Foto: acervo Museu do Futebol.

Muitos clássicos ficam eternizados na memória do torcedor. Alguns entram de sobremaneira no imaginário que até ganham alcunha própria, como o Fla-Flu da Lagoa (1941) ou o Gre-Nal do Século (1988). Aliás, para reforçar o caráter único deste encontro dos rivais gaúchos, eles são até numerados. O mais recente foi o Gre-Nal número 417, em setembro de 2018.

Normalmente os clássicos são esmiuçados e analisados com zelo pelos jornalistas, pesquisadores e historiadores. Diversos livros e periódicos já abordaram a história e as histórias dessas partidas. A relação de jogos disputados, e por consequência quem é o maior vencedor, leva a discussões e debates intermináveis. Em alguns clássicos, cada clube possui uma contagem distinta de jogos e a defende com unhas e dentes: Atlético-MG x Cruzeiro e Ponte Preta x Guarani são exemplos em que os clubes apresentam estatísticas diferentes.

Os lances e gols decisivos que acontecem nos clássicos são aqueles que atravessam gerações: o gol no último minuto que trouxe o título (como o de Assis no último minuto da final do Campeonato Carioca de 1983, onde o Fluminense venceu o Flamengo por 1 x 0), a defesa impossível que garantiu a vitória (como as de Dida em dois pênaltis cobrados por Raí, na semifinal do Campeonato Brasileiro de 1999, em que o Corinthians ganhou do São Paulo por 3 x 2) ou a goleada que é motivo de chacota do rival por anos ou décadas (como o Palmeiras 8 x 0 Corinthians do Campeonato Paulista de 1933 ou o Botafogo 6 x 0 Flamengo do Campeonato Brasileiro de 1972).

Jornal O Estado de S. Paulo, 5 de dezembro de 1992.

Enfim, é difícil explicar um clássico. Mais importante é senti-lo e vivenciá-lo, tanto na alegria quanto na tristeza. Assisti a diversos clássicos que me marcaram positiva e negativamente: como não esquecer do primeiro jogo da final do Campeonato Brasileiro de 1994 (em que o Palmeiras ganhou do Corinthians por 3 x 1 no Pacaembu) ou do primeiro jogo da final do Campeonato Paulista de 1992 (onde o São Paulo venceu o Palmeiras por 4 x 2 no Morumbi)?

Por mais folclórica e confusa, talvez a melhor definição de um clássico é a que dá nome a esta exposição: “Clássico é clássico e vice-versa”.

AUTORIA

Alexandre Andolpho é futebólogo, palmeirense e um dos fundadores do Memofut — Grupo de Literatura e Memória, do qual foi coordenador entre 2016 e 2018. O grupo realiza seus encontros mensais no Museu do Futebol desde 2009.