A concentração de CO2 é a mais alta em milhões de anos, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
[EcoDebate] A concentração de CO2 na atmosfera está chegando ao nível equivalente ao que existia há 15 milhões de anos e continua crescendo de maneira sem precedentes, a despeito da covid-19 e da recessão econômica ocorrida em 2020.A desaceleração industrial devido à pandemia não reduziu os níveis recordes de gases de efeito estufa que estão prendendo o calor na atmosfera, aumentando as temperaturas, elevando o clima aos extremos, derretimento do gelo, aumento do nível do mar e acidificação dos oceanos, de acordo com a NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA). O aumento em 2020 foi de 2,31 partes por milhão (ppm), atingindo o valor de 414,24 ppm em 2020, ou seja, em cada um milhão de moléculas de ar no planeta, havia 414,24 do principal gás de efeito estufa. O nível minimamente seguro, para evitar um colapso climático de grandes proporções, é de 350 ppm. Nos 800 mil anos antes da revolução industrial, a concentração de CO2 na atmosfera ficou abaixo de 280 ppm. As medições com base no estudo do gelo, mostram que em 1860 a concentração atingiu 290 ppm. Em 1900 estava em 295 ppm. Chegou a 300 ppm em 1920 e atingiu 310 ppm em 1950. A partir do início do Antropoceno (1950), o efeito estufa se acelerou. Em 1958, Charles Keeling, instalou no alto do vulcão Mauna Loa o primeiro equipamento para medir as concentrações de CO2 na atmosfera. Isto possibilitou que a partir de uma série histórica de dados houvesse a possibilidade de acompanhar a poluição recente. A série de Keeling mostra que a concentração de CO2 na atmosfera, na média mensal, chegou a 399,76 partes por milhão (ppm) em maio de 2013 e só ultrapassou a barreira de 400 ppm no ano seguinte. E continua crescendo. A previsão de aumento do dióxido de carbono para 2021 da NOAA (Mauna Loa) é de 2,29 (mais ou menos 0,55) ppm, o que implica uma concentração de 419,3 (+ ou – 0,6) ppm, o que significa que o CO2 atmosférico atingirá níveis 50% maiores do que as concentrações pré-industriais em 2021, conforme o gráfico abaixo. Desta forma, o dióxido de carbono continuará a se acumular na atmosfera em 2021 devido às emissões contínuas da queima de combustível fóssil, mudança no uso da terra e produção de cimento. Prevê-se que o aumento anual deste ano seja menor do que nos anos mais recentes, devido a um fortalecimento temporário do sumidouro de carbono da terra associado às atuais condições do La Niña. Artigo de Ayesha Tandon, no Carbon Brief (08/03/2021), mostra que os “sistemas alimentares” foram responsáveis por 34% de todas as emissões de gases de efeito estufa causadas pelo ser humano em 2015, de acordo com uma nova pesquisa. O estudo, publicado na revista Nature Food, desenvolve o primeiro banco de dados a decompor as emissões de cada etapa da cadeia alimentar para todos os anos de 1990 a 2015. O banco de dados também descompacta as emissões por setor, gás de efeito estufa e país. De acordo com o estudo, 71% das emissões de alimentos em 2015 vieram da agricultura e “uso do solo associado e atividades de mudança no uso do solo”. O restante foi proveniente de varejo, transporte, consumo, produção de combustível, gestão de resíduos, processos industriais e embalagem. O estudo constata que o CO2 é responsável por cerca de metade das emissões relacionadas com alimentos, enquanto o metano (CH4) representa 35% – principalmente da produção animal, agricultura e tratamento de resíduos. As emissões do setor de varejo estão aumentando, conclui o estudo, e aumentaram 3 a 4 vezes na Europa e nos EUA entre 1990 e 2015. O documento “World Scientists’ Warning of a Climate Emergency” (BioScience, 05/11/2019) afirma que: “O crescimento econômico e populacional está entre os mais importantes fatores do aumento das emissões de CO2 em decorrência da combustão de combustíveis fósseis”. Em consequência, diz o seguinte sobre a questão demográfica: “Ainda crescendo em torno de 80 milhões pessoas por ano, ou mais de 200.000 por dia, a população mundial precisa ser estabilizada – e, idealmente, reduzida gradualmente – dentro de uma estrutura que garante a integridade social” (Bongaarts e O’Neill 2018)”. Portanto, o mundo está percorrendo uma rota perigosa. O aumento da concentração de CO2 na atmosfera contribuiu para o fato de termos 7 anos seguidos (2014 a 2020) de recordes de temperatura. O efeito estufa trará custos enormes e as sociedades podem não estar preparadas para pagar o alto preço de limpar no futuro a sujeira feita no passado e no presente. O mais grave é que nem as metas modestas do Acordo de Paris, de dezembro de 2015, estão sendo respeitadas. As emissões de gases de efeito estufa (GEE) deveriam estar diminuindo, mas, ao contrário, o mundo continua emitindo grande quantidade de GEE. Assim, o mundo pode caminhar para uma situação de “Terra Estufa” e várias partes do Planeta podem ficar inabitáveis. José Eustáquio Diniz
Alves Referências: ALVES, JED. Cientistas alertam para a emergência climática e o crescimento populacional, Ecodebate, 15/11/2019 ALVES, JED. A vida na Terra tem duas ameaças vitais: mudanças climáticas e ecocídio, Ecodebate, 19/06/2019 ALVES, JED. A dinâmica demográfica global em uma “Terra inabitável”, Revista Latinoamericana de Población, Vol. 14 Núm. 26, dezembro
de 2019 AHMED, Nafeez. New Report Suggests ‘High Likelihood of Human Civilization Coming to an End’ Starting in 2050, Motherboard. Jun 3 2019 AYESHA TANDON. “Food systems” were responsible for 34% of all human-caused greenhouse gas emissions in 2015, according to new research, Carbon Brief, 08/03/2021 STEFFEN, W. et al. Planetary boundaries: Guiding human development on a changing planet, V. 347, I. 6223, Science, 13/02/2015 BONGAARTS J, O’NEILL BC. Global warming policy: Is population left out in the cold? Science 361: 650–652,17/08/2019 WILLIAM J R, et. al. World Scientists’ Warning of a Climate Emergency, BioScience, 05/11/19 in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 17/03/2021 A manutenção da revista eletrônica EcoDebate é possível graças ao apoio técnico e hospedagem da Porto Fácil.Nota: Para receber atualizações pelo grupo de notícias do EcoDebate no WhatsApp, adicione o telefone 21 98682-4779 e, em seguida, envie uma mensagem com o texto ADICIONAR.[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate com link e, se for o caso, à fonte primária da informação ]Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário da revista eletrônica EcoDebate, ISSN 2446-9394, Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta enviar um email para newsletter_ecodebate+ . O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição. O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros. Remoção da lista de distribuição do Boletim Diário da revista eletrônica EcoDebate Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para newsletter_ecodebate+un ou . O seu e-mail será removido e você receberá uma mensagem confirmando a remoção. Observe que a remoção é automática mas não é instantânea. O que contribui para o aumento de CO2?CO2 – Responsável por cerca de 60% do efeito-estufa, cuja permanência na atmosfera é de pelo menos centena de anos, o dióxido de carbono é proveniente da queima de combustíveis fósseis (carvão mineral, petróleo, gás natural, turfa), queimadas e desmatamentos, que destroem reservatórios naturais e sumidouros, que tem a ...
O que produz mais CO2 no mundo?Cerca de 86% das emissões de dióxido de carbono do mundo vêm da queima de combustíveis fósseis para a produção de energia e materiais. As primeiras eras da industrialização foram dominadas pela queima de carvão vegetal. Só no final do século 19 começam a aumentar as emissões por petróleo e gás natural.
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