Qual a importância dos movimentos sociais na luta pela dignidade humana?

1. Introdução

O presente trabalho tem o escopo precípuo de discorrer sobre a importância dos movimentos sociais, as suas batalhas e suas conquistas e como se dá a formação de um movimento, que de repente se organiza e vai às ruas, para reivindicar algo, de acordo com a insatisfação da sociedade.

Quem são estas pessoas que sozinhas em suas casas, aos poucos vão se agrupando, e quando menos se espera se têm grupamentos coesos e lutando pelo mesmo ideal?

A história dos movimentos sociais se confunde com a história do Brasil, que de certo modo acontece para que a sociedade angarie subsídios para suas conquistas e sobrevivência.

As raízes dos conflitos, dos movimentos são encontradas em mentes que vislumbram uma sociedade mais dinâmica, que se baliza no bem-estar de todos, numa situação similar.

Por que os movimentos sociais existem e quais as suas vertentes? Vários são os motivos e distintas são as pessoas que formam os grupos, mas todos estão ali em busca de um bem comum.

Mas, a questão principal que se busca conhecer na presente pesquisa é o como os movimentos sociais se formam, uma vez que as pessoas estão no recôndito das suas vidas e rapidamente vêm às ruas se expondo aos perigos, mas conscientes das suas necessidades. E as redes sociais virtuais? Como se dá uma organização de um movimento social através das redes sociais virtuais, mesmo sabendo que desta forma se torna talvez mais fácil, pois as pessoas estão conectadas diuturnamente seja pelo Facebook, Twitter, Whatsapp, Instagram e Youtube?

Para quem os movimentos despendem as suas energias, pois são pessoas de diferentes contextos que muitas vezes estão agrupadas pela luta uníssona de um bem precioso: seja a vida; a liberdade; a democracia; a cidadania, etc. São estas confluências que serão estudadas neste artigo, pois carece de uma resposta às perguntas que aparecem como dúvidas da formação dos movimentos sociais, seja por meio das redes sociais virtuais ou, como no passado, de forma comunicacional, com recursos ínfimos, mas que aconteciam, sabe-se de que jeito e que situações foram arquitetadas, para que as pessoas entendessem as suas necessidades e se sentissem fazendo parte daqueles momentos de inovação de ideais e lutas pelo insigne momento de liberdade.

A sociedade sempre foi muito dinâmica e com o avanço tecnológico, através da internet, vem redesenhando a sua participação, através de redes sociais virtuais, este novo formato, que insere aqueles que propugnam por mais justiça social, democracia nas atitudes do Poder Público, cidadania e respeito às minorias.

Os movimentos sociais se moldam às novas configurações da globalização e do avanço tecnológico e em sistema de redes, se compõem de maneira rápida, objetiva, e recrudescem em situações ontológicas e incipientes.

De acordo com Scherer-Warren (2006, p. 113).

Finalmente, como resultado de todo esse processo articulatório vai se constituindo o que denominamos, enquanto conceito teórico, de rede de movimento social. Esta pressupõe a identificação de sujeitos coletivos em torno de valores, objetivos ou projetos em comum, os quais definem os atores ou situações sistêmicas antagônicas que devem ser combatidas e transformadas.

Em outras palavras, o Movimento Social, em sentido mais amplo, se constitui em torno de uma identidade ou identificação, da definição de adversários ou opositores e de um projeto ou utopia, num contínuo processo em construção e resulta das múltiplas articulações acima mencionadas. A ideia de rede de movimento social é, portanto, um conceito de referência que busca apreender o porvir ou o rumo das ações de movimento, transcendendo as experiências empíricas, concretas, datadas, localizadas dos sujeitos/atores coletivos.

Este trabalho será feito através de pesquisa bibliográfica e artigos referentes ao assunto, com capítulos que discorrerão sobre as questões sociais mais urgentes e a precariedade das condições de vida das populações, que buscam melhorias nas suas articulações, com contextos indissolúveis, porém datados de épocas divergentes e díspares, pois se encontram em consonância e atributos legíveis e com legados de momentos plasmados em lutas e políticas grotescas e irretocáveis, mas que deram a certidão aos eloquentes e habilidosos lutadores, insertos num processo social dinâmico e excludente.

Serão investigados os processos de alcunha das lutas sociais, em que os nomes verdadeiros serão prodigalizados para melhor compreensão das formas como os instrumentos sociais se agregam e tomam formas ascendentes e descendentes em panoramas divergentes e ao mesmo tempo análogos na sociedade brasileira.

Quem são os atores sociais que enveredam nas lutas, que são os chamarizes e que se revelam mártires e heróis? Quais as demandas e necessidades neste processo de inserção social? Como as redes sociais virtuais ajudam na formação de movimentos que ora aparecem como insuficientes e que ganham notoriedade ao passo que as pessoas ganham a rua? Como os movimentos sociais do passado foram formados, num contexto em que as ferramentas midiáticas ainda eram precárias e não conseguiam alcançar todos os cidadãos? De que forma a identidade dos sujeitos que buscam cidadania, dignidade e tratamento humano serão reveladas neste contexto? Todas essas questões serão abordadas de maneira incisiva, porém com certo recrudescimento, para que haja entendimento de como todo o processo de formação dos movimentos seja notório às pautas das políticas de inserção de governos nada assertivos, mas que poderão lançar propostas pertinentes ao momento social em pauta. O que se busca no presente trabalho é a legitimação dos movimentos sociais e como estes se formam através de povos diferentes, mas com demandas iguais e urgentes, decorrentes de processos históricos e culturais que os excluíram nessa marcha da democracia, direitos e cidadania.

O trabalho será um artigo científico delineado em poucos capítulos e será usada a metodologia da pesquisa científica baseada em referências bibliográficas e materiais colhidos na internet e afins.

2. O que são movimentos sociais – a rota da história.

Encontrar um conceito para movimentos sociais parece algo inverídico, pois se busca ressuscitar teorias de outros conceitos, visto que o tecido emblemático que exterioriza a referida definição parece plasmática demais para algo subjacente de outras teorias inquiridoras do mítico desenvolvimento nas origens do próprio nome.

Como um mecanismo de lutas, de aquisição de poder e uma suposta ferramenta de inserção social, pode ser conceituado? Para Bem (2006), os movimentos sociais são, acima de tudo, uma bússola para a ação social, impulsionando o campo social para formas superiores de organização e buscando a institucionalização jurídico-legal das conquistas.

Neste diapasão, a legitimação das conquistas sociais é a grande aba que se abre e ressignifica o poder das classes sociais, que mesmo “inferiores” socialmente têm força para questionar, inquirir e averiguar quais são os seus plenos poderes e os direitos amealhados ao longo da vida. Sinistramente, as lutas vão se desenhando e tomando formato, chegando às ruas, com os seus objetivos intrínsecos e, mormente à solidão de cada um, no afã de se encontrarem pelo bem comum. Cada conquista vem legitimar o compromisso que a sociedade quer dos seus governantes, na referência de suas demandas e no intento de soluções viáveis para os problemas sejam eles sociais ou políticos e que venham viabilizar a inserção daqueles que ora se encontram desestabilizados na pirâmide social. De acordo com Wiese e Santos (2011, p. 4)

No campo da Sociologia, o estudo dos movimentos sociais é recente. Ele surge nos anos de 1960, com Anthony Oberschall (sociólogo) e Charles Tilly (historiador), ambos americanos, quando eles elaboraram a teoria da mobilização de recursos. No final da mesma década, Alain Touraine, sociólogo francês, constrói todo um conceito para a expressão movimento social.

Afinal, o que são os movimentos sociais? Uma forma de reivindicação? A luta de classes? Como pessoas se agrupam em nome de um bem comum? Gohn (2011, p.13) afirma:

Para nós, desde logo é preciso demarcarmos nosso entendimento sobre o que são movimentos sociais: nós o vemos como ações sociais coletivas de caráter sociopolítico e cultural que viabilizam distintas formas da população se organizar e expressar suas demandas. Na ação concreta, essas formas adotam diferentes estratégias que variam da simples denúncia, passando pela pressão direta (mobilizações, marchas, concentrações, passeatas, distúrbios à ordem constituída, atos de desobediência civil, negociações etc.), até as pressões indiretas.

No parecer da autora acima citada, os movimentos sociais são demandas capitaneadas por pessoas do povo que, se sentem incomodadas com alguma necessidade e partem em busca de resoluções, sejam elas pacíficas ou bélicas, para atingir o seu objetivo.

Cada pessoa que participa de uma demanda deste porte sente-se protegida por estar em grupamentos e se encorajam muitas das vezes a chegarem às últimas consequências. O movimento social é uma forma de cada cidadão que em busca de um bem comum, reiterar suas demandas sob proteção grupal, para se fortalecer e atingir os seus objetivos.

A capilaridade dos movimentos sociais atinge de pronto vários setores e classes sociais, pois de acordo com os objetivos de cada pessoa, a red e vai se formando do entorno às entranhas da sociedade, onde os engajamentos se tornam pontos cruciais de normativas relevantes em que se atendem ao chamado das populações com algum tipo de carência e que quer ver seu desejo atendido. Tarrow (2009, p. 99) preleciona o seguinte:

O que faz as pessoas comuns irem às ruas, arriscarem suas vidas e ficarem gravemente feridas para clamar por seus direitos? A questão tem fascinado os observadores e assustado as elites desde as revoluções francesa e industrial. Indignados com os excessos de turba e com os deslocamentos da industrialização, os primeiros estudiosos viram o confronto político como expressão da mentalidade da multidão, da anomia e da privação. Mas até mesmo um exame superficial da história moderna mostra que o surgimento de confrontos não pode ser derivado da privação sofrida pelas pessoas ou da desorganização de suas sociedades. Essas pré-condições são muito mais duradoras do que os movimentos que elas favorecem. O que varia muito no tempo e no espaço são os níveis e tipos de oportunidades com que as pessoas se deparam as restrições em sua liberdade de ação e a percepção de ameaças a seus interesses e ações.

Nessa dinâmica da história dos movimentos sociais, procura-se a gênese de toda a concepção das lutas de classes, dos movimentos pela outorga da cidadania e por respaldos às inclusões duramente almejadas, nos ensaios metabólicos em que as populações se inserem para sua dignidade.

Os atores sociais veiculam suas opiniões ao longo da história como um amálgama de processos conflitantes, com curvaturas indolentes na esfera de protestos incessantes, na intenção de melhorias para a sociedade na qual estão inseridos.

Com o crescimento econômico exacerbado que sempre viveu e sobreviveu às expensas da miséria socioeconômica do povo brasileiro, que tem suas raízes na colonização, pensar em lutas sociais e retornar ao povo um mínimo de dignidade e cidadania às mazelas de um processo histórico contraproducente à riqueza social que deveria ser o mote da realização de todos, na procura de uma estabilidade para a sociedade, Rocha Sobrinho (2013, p. 84) explica que:

O GRITO DAS RUAS abriu portas para alertarmos a Juventude para não se contentar com o desenvolvimento econômico sem o correlato desenvolvimento social e político que tanto carece a maioria da Sociedade Civil brasileira. Este problema não será resolvido apenas combatendo a Corrupção, ou se o ICMS será cobrado na fonte produtora ou consumidora. Mas prescinde da RP, RTFP e do IGF, em processo de curto e médio prazo para tributar as altas rendas e as grandes fortunas de forma progressiva. Só assim desonerará gradativamente os assalariados e os gêneros de primeira necessidade, o que permitirá maior investimento na formação profissional, melhor qualificação e redução das Políticas Compensatórias. Se a Juventude exercer o direito de solidariedade com quem necessitar e lutar por desenvolvimento social e político, evitaremos que a População seja massa de manobra da Direita e da Esquerda.(grifo do autor)

Portanto, seja qual for a razão e o que leva as pessoas a reivindicarem os seus direitos, a história revela desde as lutas inerentes à Revolução Industrial e Revolução Francesa até o movimento dos “caras pintadas” uma faceta de sentimento de igualdade, solidariedade e busca de cidadania plena, numa história marcada por processos desiguais, de miséria, num quadro espúrio, em que as somas sempre foram para uma minoria, num estandarte de lutas desiguais e muitas vezes inglórias, pois os percalços foram contundentes e a população sentiu cada pedaço desse tecido social que permeou a história dos movimentos sociais.

Esta história ainda não teve um final feliz, mas os deslindes apontam para um novo tempo de maior conscientização das pessoas, de mais busca pelo conhecimento e pelo entendimento de que só a coesão, cooperação e sentimento de unidade farão com que os movimentos não só ganhem as ruas, mas que na sua trajetória as forças serão multiplicadoras de avanços e ganhos para todos que estão imbuídos na conquista de uma vida mais cidadã e digna.

2.1. Os movimentos sociais sob a ótica sociológica, sua dinâmica e as mudanças ocorridas ao longo do processo

Durante toda a história dos movimentos sociais houve muitas mudanças. A sua faceta foi mudando, pois a sociedade é dinâmica e mutável e, de acordo com as demandas dessa mesma sociedade as coisas vão mudando de posição e os eventos vão tomando formas diferenciadas num contexto de mobilizações que desaguam naquilo que pode ser chamado de movimentos em rede e que dão poder e força no dinamismo aos atores sociais.

Esses sistemas não são fechados e os atores que muitas vezes estão nos frontes, depois se internalizam com ilações profícuas em dilemas diretos e fragmentados dos sistemas sociais.

Todas as lutas dos movimentos sociais são nucleadas por conquistas que são imprescindíveis para uma vida mais digna e com mais cidadania. Os motivos são muito claros e óbvios. Gohn (2011, p. 30) assevera que:

O que se observa a partir dos casos analisados é que o perfil dos movimentos sociais se alterou na virada do novo milênio porque a conjuntura política mudou; eles redefiniram-se em função dessas mudanças. Mas eles foram também coartífices dessa nova conjuntura, pelo que ela continha de positivo, em termos de conquista de novos direitos sociais, resultado das pressões e mobilizações que eles- movimentos- realizaram nos anos 1980. Mas os movimentos foram também vítimas dessa conjuntura, que, por meio de políticas neoliberais, buscou desorganizar e enfraquecer os setores organizados. Por isso, ao longo dos anos de 1990 os movimentos sociais em geral, e os populares em especial, tiveram que abandonar algumas posturas e adotaram posições mais ativas/proativas. Passaram atuar em rede e em parceria com outros atores sociais, dentro dos marcos da institucionalidade existente e não mais à margem, de costas para o Estado, somente no interior da sociedade civil, como no período anterior, na fase ainda do regime militar.

Os movimentos sociais começaram a partir das premissas de construção e desconstrução do seu eixo norteador e começaram a ter e a dar visibilidade institucional, com matizes espalhadas em vários lugares e em vários setores. Seus objetivos sempre foram muito claros e coesos, com tendências a resolver questões diversas da sociedade, para os entes menos favorecidos, excluídos, com identidades infringíveis, sem o mínimo de direitos e garantias dadas por quem tem o dever de cuidá-los.

As lutas e conquistas que se deram ao longo da história, em especial aqui no Brasil, vêm recheadas de movimentos com fluxos organizacionais e aparatos que hodiernamente se cruzam e se configuram em outros alentos contra as políticas neoliberais[1] que sacrificam os ganhos da sociedade e a marginaliza nos guetos sociais e nos escombros da cultura, da política e da miséria pululante. Rocha Sobrinho (2013, p. 93) diz que:

A doutrina liberal separa de forma estanque as categorias Política e o Econômico, como se isto fosse possível e, afirma que o Estado é autônomo diante da Sociedade Civil e um mediador dos possíveis conflitos entre a classe trabalhadora e os Capitalistas. No entanto, entendemos que o Estado Capitalista é condicionado a manter o processo de acumulação do Capital e, depende de bons resultados da economia capitalista para evitar crise social [...].

Durante a sua trajetória, os movimentos sociais abrangeram diversos nichos sociais, de diversas classes e nomenclaturas. Exemplo: os Novos Movimentos Sociais que tiveram como mote as lutas políticas em favor da democracia; as lutas de gênero, as mulheres em busca de ascensão social, política e econômica; as lutas ecológicas, defesa da biodiversidade; a luta dos homossexuais, bissexuais e transexuais, em busca de garantia dos seus direitos; as lutas religiosas, em defesa de exercício do seu credo ou seita. Essas lutas vieram para edificar os movimentos, suas nuances e os seus contextos. Cada grupo em busca de uma posição de respeito e dignidade.

3. Os movimentos sociais no Brasil e suas principais ocorrências

Para se ter uma ideia da dinâmica e construção dos movimentos sociais aqui no Brasil é necessário fazer uma retrospectiva sobre os mesmos antes da década de 1960 a 1990, especialmente no Século XIX que de acordo com Gohn (2011, p. 17) foram:

1 Lutas em torno da questão da escravidão.

2 Lutas em torno das cobranças do fisco.

3 Lutas de pequenos camponeses.

4 Lutas contra legislações e atos do poder público.

5 Lutas pela mudança do regime político (pela República ou pela restauração da Monarquia).

6 Lutas entre categorias socioeconômicas (comerciantes brasileiros x comerciantes portugueses).

Todas as categorias de lutas assinaladas envolviam conflitos que abrangiam zonas rurais e urbanas, pois dado o sistema produtivo existente, baseado na hegemonia da monocultura do café, a produção ocorria no campo, mas a comercialização do produto e da mão-de-obra ocorria na cidade. Essas lutas irromperam-se em diferentes pontos do país. As relativas à questão dos escravos e à proclamação da República tornaram-se as mais famosas na História, pelo fato de estarem diretamente relacionadas com os elementos fundamentais do país, ou seja, o sistema produtivo e o sistema do poder e controle político. Entretanto, outras lutas, igualmente importantes, não ganharam tanto destaque na História do Brasil.

Portanto, é premente o conhecimento dos novos paradigmas que permeiam e permearam os movimentos e lutas sociais ao longo da história do Brasil e, como esses movimentos e lutas se reproduziam e as suas vertentes, a sua herança para o Brasil atual.

A partir de 1974, com a crise política e econômica do país, momento em que o governo perde credibilidade junto ao povo, começam a brotar movimentos incipientes, mas que ao longo do tempo vai tomando força e se caracterizando por diversos setores da sociedade brasileira. O inconformismo com a situação brutal da ditadura; o capitalismo exacerbado; o desrespeito aos direitos sociais; a negação da inclusão social dos menos favorecidos socialmente faz com que eclodam diversos tipos de enfrentamentos de uma população já escarnecida e sem paciência para tantos desmandos. Segundo Wiese e Santos (2011, p. 46)

As lutas e as organizações dos movimentos sociais são consideradas, após 1974, um dos mais importantes para a história dos movimentos sociais brasileiros. Naquele momento, independente da ideologia política, os movimentos se articulavam em busca da redemocratização do país (anos de 1975 a 1982). Esses anos correspondem a um período de grandes resistências e enfrentamentos ao regime de Ditadura Militar Brasileira, momento em que o governo já perdeu a legitimidade com a população brasileira, decorrente da crise econômica que iniciou em 1973, conhecida também como “a crise do petróleo”.

Não obstante à resiliência do povo brasileiro, os movimentos foram imprescindíveis para que houvesse chancela das suas lutas e a aquisição e respeito aos seus direitos. E neste trabalho abre-se um parêntese para falar de uma conquista que marcou a luta do povo brasileiro que foi as “Diretas Já”[2].

De acordo com Gohn (2011), os movimentos e lutas de destaque naquele período foram:

1975 – Movimento pela Redemocratização do País.

1975 – Lançamento de vários Movimentos Feministas.

1975 – Criação da Comissão Pastoral da Terra – CPT.

1976 – Movimento pela Anistia.

1976 – Movimento Sindical.

1977 – Movimento Estudantil.

1978 – Grandes Greves de diversas categorias socioeconômicas.

1978 – I Congresso da Mulher Metalúrgica.

1979 – Movimento de Professores e Outros Profissionais da Área da Educação, da Saúde e outros Serviços Sociais Públicos.

1979 – Movimento dos Transportes Coletivos.

1979 – Lançamento do Movimento de Lutas por Creche em São Paulo e em Belo Horizonte.

1979 – Criação do Movimento dos Sem-Terra.

1979 – Criação da Comissão Regional dos Atingidos por Barragens.

1979 – Movimento das Favelas.

1979 – Luta pelo Pluripartidarismo.

1980 – Protesto Indígena.

1980 – Criação da Articulação Nacional de Movimentos Populares e Sindicais – ANAMPOS.

1980 – I Congresso Nacional de Luta Contra a Carestia.

1980 – Criação do Partido dos Trabalhadores, recriação do MDB e outros partidos nacionais.

1981 – Passeata Contra o Aumento da Passagem de Ônibus.

1981 – Movimento dos Trabalhadores para a construção de Centrais Sindicais.

1981 – Movimento Assembleia do Povo.

Com suas particularidades e peculiaridades, os movimentos sociais foram, são e serão importantes para que os direitos sociais e políticos da sociedade brasileira sejam respeitados. Nenhuma sociedade será de fato fortificada se não houver lutas em nome das melhorias, da conquista de cidadania plena e de democratização dos direitos, sejam quais os seus estigmas. É contraproducente se pensar que as lutas ao longo do tempo foram inglórias, pois, foi a partir delas que muitas garantias aconteceram. Os mártires dessas lutas, não obstante às suas crenças, deram-se como vítimas de expiação contra o holocausto social que se desenhou no País, desde a sua colonização.

4. A formação dos movimentos sociais através das redes sociais virtuais e os seus desdobramentos

É natural que a grande maioria das pessoas esteja inserida em alguma rede social. Isto porque nos novos tempos, essa é a forma mais rápida de conexão e relacionamento existente entre as pessoas. É uma forma de comunicação quase que em tempo real, que aproxima as distâncias e deixa que os assuntos, estes de diversas categorias, cheguem a todos.

Neste Século XXI e nesta década a grande maioria tem acesso às redes sociais de uma forma infinda com o advento dos computadores, smartphones, tablets, netbook, notebook, ou seja, através da Internet que aos poucos vem fazendo a inclusão digital de todas as pessoas. Essa inclusão pode acontecer quando se estuda a distância (EAD); quando se conecta nas redes sociais; quando se faz uma pesquisa; quando se propõe uma ação; e nesse caso aqui em estudo, essa ação vem através das redes sociais e que se pode chamar de movimentos sociais. Movimentos estes que propugnam lutas para melhorar algo que a sociedade em seu âmago repudia e que quer uma resposta dos governantes, em busca de direitos infringidos e desrespeitados.

Como se dá a formação desses movimentos através das redes sociais? Este é o foco do estudo aqui em tela. É a internet a grande propulsora do engajamento da sociedade através das redes sociais na busca de seus direitos? A resposta pode estar atrelada a uma palavra extremamente importante que circunda a internet e que contribui para a formação de movimentos sociais, denominada engajamento. Segundo Strutzel (2015, p. 16), “[...] engajamento diz respeito ao nível de interação dos diferentes tipos de usuários com o conteúdo publicado. O conteúdo é a mola propulsora que movimenta a internet [...]”. Portanto, para que um evento, uma ação se materialize é necessário que haja engajamento. No momento atual, o engajamento dos movimentos sociais é impulsionado pelo próprio governo, pelos meios de comunicação de massa, por pessoas com ideias diferentes comungando de um mesmo posicionamento causando certa indignação com os fatos vivenciados.

Pautado nesse sentimento de indignação é que o povo vai às ruas, quando se articula através da ferramenta mais rápida e proativa que se tem que é a internet, capitaneada pelas redes sociais virtuais, grandes aliadas nesse processo. Conforme Castells (2013, p. 21):

A questão fundamental é que esse novo espaço público, o espaço em rede, situado entre os espaços digital e urbano, é um espaço de comunicação autônoma. A autonomia da comunicação é a essência dos movimentos sociais, ao permitir que o movimento se forme e ao possibilitar que ele se relacione com a sociedade em geral, para além do controle dos detentores do poder sobre o poder da comunicação.

É esse espaço público que as pessoas se utilizam para deflagrar os movimentos que na maioria das vezes propugnam por novas condições de vida, alento para os reveses que a política socioeconômica impõe às pessoas.

A formação dos movimentos sociais através das redes sociais se dá a partir de uma pequena chama que é o estopim para que as pessoas se juntem virtualmente e logo depois concluam essa junção de forma real e concreta na luta pelo bem comum. Cada pessoa que vai às ruas nesta era digital, previamente mantiveram contatos virtuais com acertos que se consolidaram na busca por dias melhores, sejam eles, educacionais, políticos, na saúde, ou simplesmente por poder transitar de maneira digna e com pouco custo, como foram as manifestações em 2013, vésperas da Copa do Mundo e das eleições presidenciais aqui no Brasil.

Qual foi o chamamento que ocasionou essa série de manifestações? Como foi a sua formação? Segundo Luis Guilherme Barrucho do site de notícias da BBC Brasil (2013), “A onda de protestos realizada em inúmeras cidades brasileiras na semana passada é motivada por uma sensação de "mal-estar coletivo", compartilhada em especial pela juventude das grandes cidades”.

O jornalista acima citado alude possíveis motivações que originaram as manifestações, assim como de sociólogos e cientistas políticos, afirmando que:

Na semana passada, manifestantes tomaram as ruas de pelo menos seis cidades brasileiras para protestar contra o aumento das tarifas do transporte público. Em São Paulo, na quinta-feira, a polícia reprimiu uma passeata e acabou ferindo várias pessoas, incluindo jornalistas. Em suas interpretações sobre as causas dos protestos, sociólogos e cientistas políticos destacam a insatisfação dos jovens com a administração pública e com as condições de vida nas grandes cidades. "Existe uma espécie de mal-estar difuso, sem um foco claro. Há uma espécie de ressentimento e frustração de ordem social, alimentados por um estilo de gestão que não oferece diálogo à população", afirmou à BBC Brasil o sociólogo Gabriel Cohn, ex-diretor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP). Cohn, porém, acredita que esse mal-estar também reflete "uma insegurança dos jovens em relação a seu futuro. Nos últimos anos, o Brasil passou por profundas transformações, o que gerou fortes expectativas dessa camada social, e há uma ansiedade justificada por parte deles se isso vai se sustentar ou avançar nos próximos anos", acrescentou. Para o sociólogo Aldo Fornazieri, diretor acadêmico da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), os protestos são uma crítica à mobilidade urbana, sobretudo por parte dos jovens, que se ressentem da falta de representatividade nas diferentes esferas de administração pública. "As manifestações refletem uma insatisfação sobre o modo sufocante de viver nas grandes cidades, cada vez mais hostis à população em geral. Isso cria uma espécie de uma anomalia social, uma sensação de não pertencimento. Para piorar, o poder público não está conseguindo garantir qualidade de vida aos moradores dos grandes centros urbanos", disse Fornazieri, que diz conhecer alguns dos líderes do MPL, aos quais deu aulas. "A principal bandeira é o transporte público porque o jovem ─ especialmente o de classe média baixa ─ que muitas vezes precisa trabalhar e estudar, é o mais afetado por tudo isso. Essa situação gera uma angústia na juventude, que não se vê representada nem nos sindicatos nem nas associações estudantis, pois estes estão relativamente acomodados em suas conquistas", acrescentou.

Justamente a juventude é que tem maior acesso às redes sociais, portanto, conseguem organizar virtualmente um protesto e/ou uma manifestação quase que em tempo real e os seus desdobramentos são irrefutáveis, pois ao irem às ruas, de forma organizada e focada, eles conseguem dar visibilidade às suas demandas. Foi o caso das “Diretas Já”, do movimento dos “Caras Pintadas” pelo Impeachment do presidente Fernando Collor de Melo e em 2013 as manifestações em várias capitais brasileiras. De acordo com Gohn (2011, p. 37): “Os recursos tecnológicos são as grandes armas estratégicas utilizadas na organização e mobilização do movimento". A internet tem sido o principal instrumento de comunicação na elaboração de suas agendas.

Por conta do advento da internet e o avanço das redes sociais, os movimentos sociais têm ganhado visibilidade e adesão das pessoas que se sentem insatisfeitas com os deslizes que o governo em suas esferas Municipal, Estadual e Federal, promove. Não obstante a essa onda avassaladora de deslizes e desmandos governamentais, os manifestos vêm de encontro aos anseios de uma sociedade igualitária, digna e justa para todos. E que mais se arvora para colocar-se diante de esteios mambembes é o povo que se sente lesado. E nesse diapasão, as redes sociais virtuais são as grandes aliadas, pois de dentro da própria casa as pessoas podem se articular e formar uma grande multidão com dia e hora marcados para se mobilizarem em busca de mais cidadania. O ciberespaço dá essa condição de mobilidade virtual que forma uma engrenagem que insere pessoas de diversos contextos sociais, por isso a formação de grupos heterogêneos, com ideologias adversas aos fazeres dos grupos políticos que diminuem os direitos sociais da sociedade num todo.

A hegemonia da injustiça social dá caracteres para que as pessoas se insurjam e procurem minimizar os atos insanos da desigualdade social e política. De acordo com Moraes (2000 apud PAULA e TAVARES, 2013, p. 11):

As características de interatividade, cooperação e descentralização da internet abriram espaço para as lutas sociais a partir da segunda metade da década de 1990, visto que as possibilidades de difusão e reivindicações, disseminação de ideias e estabelecimento de contatos, e sem ter a necessidade de passar pelos filtros ideológicos da grande mídia. Desta forma, “a militância online vem alargar a teia comunicacional planetária, usufruindo de uma das singularidades do ciberespaço: a capacidade de disponibilizar, em qualquer espaço-tempo, variadas atividades, formas e expressões de vida”.

Como se configura essa nova forma de agregação social, através das redes sociais virtuais? Que tipo de pessoa se articula para defender direitos ou bandeiras numa nova configuração de ativismo social? Existe uma conexão hierárquica nesse espaço, ou as pessoas se inserem de maneira democrática, límpida e com nuances de possibilidades de comunicação engendrada para o bem comum? Estas perguntas são importantes para que se entenda o desfecho requerido pelos movimentos sociais. As metáforas indizíveis de uma movimentação que abarca pessoas de vários contextos sociais e intelectuais. Segundo Scherer-Warren (2006):

O ciberespaço e a dinâmica propiciada por este em termos de aproximação de diferentes tempos culturais resulta em uma sinergia entre as redes presenciais e redes virtuais, novas possibilidades de articulações podem ser vislumbradas, seja na relação entre legados históricos e projetos de transformações ou mesmo na relação entre escalas locais e globais dos movimentos.

O exemplo do que aconteceu no ano de 2013 em que as pessoas foram às ruas reivindicar a diminuição das passagens do transporte coletivo e a partir daí, se desencadearam outros tipos de demandas que foram deflagradas por pessoas de todas as camadas da sociedade, inclusive por aqueles que foram para barbarizar e aterrorizar, sem nenhum intuito de acoplar melhorias à vida da sociedade.

No Brasil, os movimentos sociais da atualidade vêm em busca de respostas para vários setores da sociedade que se encontram numa lacuna infinda, por conta de maus governos e das péssimas estruturas implementadas pelos mesmos. E aonde entram as redes sociais virtuais? Qual é o seu papel para que se formem no ciberespaço aglutinações virtuais e que inesperadamente eclodem nas ruas em busca de um bem comum? Quais são os canais que mais há interação e que mais abrigam pessoas, para daí irem às ruas buscar os seus direitos, sejam eles sociais, políticos ou econômicos? É notório o empenho de pessoas para alertarem quanto à existência de direitos, muitas vezes camuflados ou travestidos e esquecidos pelas pessoas. De acordo com Paula e Tavares (2013, p. 13):

A busca por emancipação, igualdade e/ou tipos de reconhecimento passa a ser realizada exclusivamente em espaços virtuais de interação ou como extensão dos espaços reais/físicos disponíveis. Estes espaços virtuais denominados de ciberespaços e estruturados na internet têm permitido novos formatos de organização social e a criação, estabelecimento e repercussão de movimentos sociais em várias partes do mundo, em especial pelo que se conhece como “redes sociais virtuais” ou “redes sociais na internet”. Estas redes, baseadas no desenvolvimento da Web 2.0 e de softwares sociais, têm ganhado espaço na sociedade permitindo maior interação entre as pessoas.

Dessa forma as redes sociais na internet têm contribuído para a disseminação de propostas palpáveis e que de uma forma ou de outra buscam inserir os indivíduos através de lutas socializadas e significativas, no âmbito da sociedade que ao mesmo tempo em que se pluraliza, há uma singularidade nesse emaranhado de demandas e respaldos aos anseios de todos os participantes desse tecido social atuante.

As ferramentas disponíveis no mercado virtual dão condições imprescindíveis para que as pessoas se mantenham conectadas e a partir do momento que uma notícia ou uma demanda se torna viral, os seus desdobramentos são incontroláveis. Há de ser ter muito cuidado com a disseminação dos insumos que são jogados nas redes sociais quando se quer fazer um movimento, pois se pode acoplar uma horda que vem para descaracterizar e macular o objetivo do movimento em tela.

Para finalizar o presente capítulo é necessário informar que os movimentos sociais, suscitados e editados através das redes sociais na internet, vêm no seu bojo, na maioria das vezes, reivindicar algum direito social, político e econômico, pois conta com as classes que propugnam por melhoria nas condições de vida, por mais cidadania e por mais acesso social e dignidade da pessoa humana, direitos evocados por uma nação sedenta de harmonia, paz e bem-estar.

5. Considerações finais

Finalizando o presente trabalho e em atenção ao que foi proposto, é tempestivo afirmar que a formação de grupos sociais acontece desde os primórdios, em que as pessoas se aglutinavam para a luta de um bem comum ou, para defesa de seus interesses individuais e que no final de tudo, o movimento girava mesmo era em torno do coletivo.

Vários foram e são os fatores que suscitam a formação dos movimentos sociais: quando se busca igualdade de direitos, de respeito e da cidadania se forma uma rede que visa a aglutinação de pessoas, primeiro pelas redes sociais, que é o mote desta pesquisa e depois a movimentação nas ruas reivindicando direitos.

O resultado palpável da pesquisa sinaliza que os eventos que aconteceram ao longo da história perpassaram por situações de desconforto sistêmico de um povo exaurido pelas mazelas do caos social que sempre se abateu sobre os menos favorecidos e excluídos social e economicamente.

Concluo que o advento das redes sociais trouxe uma nova forma de organização social através do Facebook, Twitter, Whatsapp, Instagram e Youtube, pois a disseminação por estes canais se dá em tempo real e com muita rapidez e, portanto, os movimentos sociais arregimentados pelas redes sociais ganham adeptos rapidamente e logo estão nas ruas.

Atualmente, os movimentos sociais que se sucederam tiveram sua formação através das redes sociais virtuais, num prelúdio capitaneado por pessoas que se sentem ludibriadas, desgastadas pelas desigualdades sociais e que numa dinâmica maior buscam respaldos para formação de grupos que se sentem também escarnecidos pelos vilipêndios sociais e econômicos dos poderes governamentais e políticos que negam os direitos das classes minoritárias.

As redes sociais virtuais têm um significado importante e desempenha um papel de amplitude, pois redemocratiza e dá “empoderamento” aos grupos sociais, dá um sentimento de pertença, abriga as demandas de uma sociedade sedenta de justiça social e abre espaço para propósitos de lutas e infringências significativas para a busca de dias melhores para todas as pessoas que se sintam excluídas e à margem do processo de crescimento social.

As redes sociais virtuais no seu âmago tem o condão de através da mídia recrudescer o desejo popular e formar grupo que hodiernamente vem se fortalecendo e dando margem para novos adeptos, desde que conectados e torna-se mais fácil organizar movimentos que saem em busca de mitigar as mazelas imprimidas ao longo do tempo pelas classes dominantes.

Quais as importância dos movimentos sociais?

Movimentos sociais têm grande relevância na formação de uma sociedade democrática. Como mencionado, eles geralmente dão voz para pessoas que estão, de alguma forma, excluídas do contexto social. Além de garantir os direitos desses indivíduos, esses movimentos contribuem para tornar a sociedade mais plural.

O que são e qual a importância dos movimentos sociais?

genérica, os movimentos sociais populares visam dar voz às pessoas excluídas da sociedade, dos processos democráticos de participação e decisão, e buscam fortalecer a sua organização na luta por seus direitos bem como para ocuparem seu espaço na sociedade.

Qual a importância dos movimentos sociais o que eles podem mudar na realidade?

Resposta. é importante, pois é um direito do povo se manifestar e protestar em relação a política. se a população será ouvida, isso é incerto. moradias e condições melhores de vida para as pessoas pobres não serão, infelizmente, criadas assim, tão fácil e instantâneamente.

Qual a importância dos movimentos sociais para os Direitos Humanos?

Os movimentos sociais são de extrema importância para a formação de uma sociedade democrática ao tentarem possibilitar a inserção de cada vez mais pessoas na sociedade de direitos. Os primeiros movimentos sociais visavam resolver os problemas de classes sociais e políticos, como a ampliação do direito ao voto.

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