Quais os problemas levantados pelos executivos das empresas de tecnologias?

INTERNET, MERCADOS E HIERARQUIAS

Ruderico F. Pimentel

Professor do Curso de P�s-Gradua��o em Engenharia de Produ��o da Universidade Federal Fluminense

RESUMO

Os principais processos atrav�s dos quais se alocam recursos para a produ��o e consumo de bens e servi�os s�o: (1) as transa��es de mercado e (2) as transfer�ncias realizadas internamente em estruturas hier�rquicas, sob um esquema de autoridade predefinido.

Ambas est�o sendo profundamente afetadas pela redu��o dos custos e pelas mudan�as das tecnologias de processamento e transmiss�o de informa��es, entre as quais a expans�o da Internet � apenas a mais vis�vel, em um processo cuja abrang�ncia e conseq��ncias sobre as formas de organiza��o da produ��o s�o, ainda, de dif�cil entendimento.

Mais especificamente, as rela��es entre mercados e hierarquias est�o tendo sua economicidade transformada, com grandes impactos sobre ambos e sobre suas fronteiras. Sem pretender examinar o fen�meno em sua abrang�ncia, o objetivo aqui � o de discutir essas conseq��ncias, a partir do conceito de �custos de transa��o�.

Embora os impactos da Internet sobre os mercados, e suas implica��es sobre as atividades de comercializa��o, tenham sido, certamente, os aspectos que mais aten��o t�m recebido nos debates sobre este novo meio, esse processo de mudan�a tecnol�gica tem trazido tamb�m enormes impactos sobre os custos de gest�o internos da firma.

Partindo da vis�o das empresas como local de acumula��o de conhecimento e tratamento de informa��o e assumindo a essencialidade desses aspectos para a efici�ncia de seus processos decis�rios, � obrigat�rio concluir-se que as mudan�as tecnol�gicas que acompanham a Internet tem, tamb�m, enorme impacto sobre as estruturas hier�rquicas e sobre seus custos de gest�o e produ��o.

Destaca-se aqui que o balan�o entre estes dois tipos de efeitos � que ir�, em cada caso, determinar o resultado global desse processo sobre as empresas, apontando para uma amplia��o ou para uma redu��o das fronteiras da firma.

1.      Introdu��o

Os principais processos atrav�s dos quais se alocam recursos para a produ��o e consumo de bens e servi�os s�o: (1) as transa��es de mercado e (2) as aloca��es realizadas internamente em estruturas hier�rquicas[1], sob um esquema de autoridade predefinido.

No segundo caso, incluem-se as aloca��es realizadas dentro dos diversos tipos de organiza��o, incluindo, entre outras, as firmas e as entidades governamentais. Regulando esse tipo de transa��o, est� o contexto institucional, �as regras do jogo�, cujo desenho � fator determinante da efici�ncia econ�mica resultante. A n�vel de governo, engloba sua estrutura��o, leis, normas e regulamentos; dentro das empresas, � formado pela pr�pria estrutura organizacional adotada, por seus documentos normativos, seus procedimentos e seus sistemas. Em complemento, �, ainda, delimitado de modo informal pelos aspectos culturais de cada organiza��o.

Ambas as formas de aloca��o de recursos, mercados e hierarquias, estas tanto em suas dimens�es p�blicas como privadas, est�o sendo profundamente afetadas pela r�pida expans�o da Internet e da redu��o dos custos de processamento e transmiss�o de informa��es, em um processo cuja abrang�ncia e conseq��ncias sobre as formas de organiza��o da produ��o s�o, ainda, de dif�cil visualiza��o.

Mais especificamente, as rela��es entre mercados e hierarquias est�o tendo sua economicidade transformada, com grandes impactos sobre ambos.

De um modo geral, se observarmos o comportamento das empresas no mundo em anos recentes, fica flagrante que est� ocorrendo um expressivo redesenho do espa�o empresarial e das formas de relacionamento entre as empresas, incluindo fus�es e compras de outras empresas, reorganiza��es com vendas de ativos e terceiriza��es, maior coordena��o entre firmas atrav�s da gest�o conjunta da cadeia de suprimento, e forma��o de novas alian�as e de investimentos comuns atrav�s de sociedades de prop�sitos espec�ficos.

Entre os diversos fatores que est�o movendo e/ou facilitando esse processo, as mudan�as ligadas �s tecnologias de processamento de informa��es e de comunica��o t�m conseq��ncias particulares e significativas. Embora n�o seja poss�vel prever com clareza seu impacto sobre as formas de comercializa��o e de estrutura��o do espa�o empresarial, elas afetam diretamente custos relevantes nas defini��es das fronteiras entre os mercados e as hierarquias, para cujo exame dispomos de alguns conceitos econ�micos[2], que podem nos permitir esbo�ar um quadro de refer�ncia e algumas reflex�es sobre esse movimento de mudan�as.

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Sem pretender examinar o fen�meno em sua abrang�ncia, o objetivo aqui � o de discutir, mais especificamente, a partir do conceito de �custos de transa��o�[3], os impactos sobre as formas de organiza��o da produ��o, provocados pela expans�o da Internet e pela redu��o dos custos de processamento e transmiss�o de informa��es.

O presente artigo expande algumas considera��es levantadas em trabalho anterior[4], buscando, com essa an�lise, explicitar alguns elementos que facilitem a reflex�o estrat�gica dos diferentes agentes inseridos nesse quadro de transforma��es.

Note-se, ainda, que, embora a introdu��o e expans�o da Internet seja apenas um dos aspectos dessas mudan�as das tecnologias de processamento e de comunica��o, ele � o mais vis�vel e, no que se segue, por simplicidade, as consequ�ncias desse processo como um todo ser�o referidas como impactos da Internet

Inicialmente, no item 2, para servir de refer�ncia aos itens posteriores, faz-se uma breve apresenta��o de algumas caracter�sticas econ�micas espec�ficas das informa��es, com �nfase em aspectos ligados � sua comercializa��o.

O item 3 apresenta uma descri��o resumida do sistema de organiza��o da produ��o e das formas alternativas de mercado e hierarquias, conforme tem sido apontado na literatura econ�mica, ressaltando-se, ainda, os aspectos comuns entre as formas de aloca��o de recursos nas hierarquias empresariais e de governo.

Destaca-se a import�ncia dos custos de transa��o na op��o entre as duas formas acima referidas, conforme Coase (!937). � ponto central, neste trabalho, que o enfoque de Coase permite um melhor entendimento de aspectos essenciais datransforma��o do ambiente empresarial provocada pela Internet.

Seguindo esta vis�o, analisam-se, em 4, os impactos da Internet sobre os mercados, que, aliados �s suas implica��es sobre as atividades de comercializa��o, t�m sido, certamente, os aspectos que mais aten��o t�m recebido nos debates sobre este novo meio. Em particular, comentam-se, neste item, alguns estudos recentes sobre as consequ�ncias da Internet para a efici�ncia econ�mica.

Pela abordagem de Coase, o resultado global destas mudan�as tecnol�gicas depende do balan�o entre os impactos sobre os mercados e os impactos sobre as empresas. Nesse sentido, procura-se ressaltar que estes �ltimos t�m efeitos profundos e significativos, que v�o muito al�m das quest�es mais imediatas de comercializa��o.

Assim, em 5, aborda-se a quest�o das consequ�ncias das mudan�as nas tecnologias de processamento e de comunica��o sobre as empresas. Partindo da vis�o destas como local de acumula��o de conhecimento e tratamento de informa��o e assumindo a essencialidade desses aspectos para a efici�ncia de seus processos decisorios, � obrigat�rio concluir-se que as mudan�as tecnol�gicas que acompanham a Internet t�m enorme impacto sobre os custos de gest�o e produ��o das mesmas.

Observa-se, ainda, que estas mudan�as afetam as empresas, n�o apenas em seus processos internos, mas tamb�m em suas estruturas de reg�ncia (quando sociedades an�nimas) e suas rela��es com o ambiente externo, em particular com outras firmas. Distinguem-se, tamb�m, devido �s suas especificidades, as mudan�as da ind�stria de informa��es.

Como conclus�o, em 6, faz-se um sum�rio dos principais pontos levantados nos itens anteriores e procura-se esbo�ar alguns elementos de cen�rio, de car�ter especulativo, para a evolu��o das empresas e mercados, assim como apontar alguns dos problemas de natureza institucional levantados pelo processo de evolu��o tecnol�gica aqui discutido.

2.      Algumas Caracter�sticas Econ�micas das Informa��es

Embora o tratamento espec�fico da ind�stria da informa��o n�o seja o objetivo do presente trabalho, antes de se analisar os efeitos trazidos pela introdu��o da Internet deve-se, para melhor compreend�-los, destacar algumas das especificidades das informa��es e de sua comercializa��o, afetadas pela Internet, com significativas implica��es estrat�gicas para as empresas e mercados.

Conforme apontado por Varian e Shapiro (1999), algumas caracter�sticas importantes incluem:

(1)   a informa��o � cara para produzir e barata para reproduzir, ou seja, tem custo fixo alto e marginal quase nulo; a Internet reduz ainda mais os custos de reprodu��o e distribui��o, ampliando o impacto desta propriedade;

(2)   a informa��o pode ser facilmente copiada gerando uma dificuldade em sua comercializa��o para permitir a remunera��o de seus criadores, o que pode gerar um desincentivo econ�mico � sua produ��o;

(3)   o baixo custo de reprodu��o faz com que o pre�o da informa��o deva ser feito pela disposi��o a pagar do consumidor e n�o pelo custo marginal, sugerindo a ado��o de estrat�gias de diferencia��o de pre�os;

(4)   a informa��o � um bem que tem que ser experimentado para ser avaliado, o que faz com que a marca e a reputa��o sejam particularmente importantes.

J� com impactos mais abrangentes, est�o as caracter�sticas da Internet como canal de comercializa��o de produtos em geral, independentemente do processo de sua distribui��o f�sica. Ainda, conforme apontado por Varian e Shapiro (1999), pode-se destacar que:

(5)   A Internet permite marketing individualizado e/ou diferenciado para certos subgrupos, viabilizando um direcionamento in�dito na comercializa��o de produtos em larga escala; essa caracter�stica facilita, inclusive estrat�gias de diferencia��o.

Uma outra caracter�stica que deve ser aqui apontada, apresentada por um grupo de produtos, incluindo a Internet e, tamb�m, alguns tipos de produtos a ela associados, como alguns �sites�, �softwares�, etc, �:

(6)   A Internet, assim como alguns produtos a ela associados, apresenta o que se chama de �externalidade de rede�, ou seja, o seu valor para um usu�rio depende de quantos outros usu�rios existem e, em consequ�ncia, apresenta �feedback positivo�, ou seja, a base de usu�rios cresce a velocidades crescentes.

Emboraa maior parte dessas caracter�sticas da ind�stria da informa��o independa da exist�ncia da Internet, as mudan�as trazidas pelas novas tecnologias ampliam de muito as suas consequ�ncias estrat�gicaspara esse segmento, com impactos que se propagam sobre a organiza��o da produ��o como um todo.

3.      A Organiza��o da Produ��o

Os mercados e as hierarquias p�blicas e privadas

A especializa��o dos indiv�duos e das empresas, via maior habilidade ou conhecimento, e a possibilidade de aproveitamento de ganhos de escala formam a base da divis�o do trabalho e dos ganhos de produtividade que caracterizam a organiza��o do sistema produtivo. Esse inter-relacionamento, por�m, requer a exist�ncia de mecanismos de coordena��o para ajustar o comportamento dos diferentes agentes, supridores e consumidores.

Duas formas principais - os mercados e as hierarquias (veja-se Williamson (1975)) - s�o adotadas para a tomada de decis�es em rela��o � produ��o e ao consumo de bens e servi�os. Nos mercados, conforme o modelo neocl�ssico, com base nos pre�os, decis�es descentralizadas dos agentes conduzem, de modo iterativo, a uma solu��o de equil�brio para o sistema, t�o mais eficiente qu�o mais competitivo for o mercado. Nas hierarquias, decisores escolhidos tomam as decis�es alocativas, dentro dos limites institucionais, com base nas informa��es e an�lises dispon�veis.

As decis�es tomadas fora do �mbito do mercado se d�o dentro do quadro institucional que, segundo North (1990), � �formado pelas restri��es feitas pelos homens e dentro do qual as intera��es entre eles t�m lugar�. Dentro desse conjunto de regras, em sua maior parte formalizadas, � que se estruturam as hierarquias de decis�o.

A n�vel mais global, se t�m o aparelho de Estado, onde decis�es centrais sobre a aloca��o de recursos na sociedade s�o tomadas, delimitadas pela legisla��o, por processos decis�rios hier�rquicos, usualmente delegados atrav�s de escolhas p�blicas.

A n�vel micro, � dentro das organiza��es e, mais especificamente, das empresas, que v�o se dar decis�es alocativas hier�rquicas, que, de maneira similar �s estruturas de governo, s�o regidas por normas, e que, similarmente, t�m seu processo decis�rio centrado em agentes que recebem delega��o para tal.

O quadro institucional onde as decis�es hier�rquicas s�o tomadas consolida, tanto o conhecimento do �como fazer�, como os princ�pios a serem seguidos e a delega��o do poder sobre as decis�es residuais, face �s conting�ncias enfrentadas a cada momento pelas organiza��es. Nesse sentido, as hierarquias s�o, simultaneamente, estruturadoras do conhecimento e do poder decis�rio que governa as aloca��es de recursos das organiza��es.

Embora os dois n�veis, macro e micro, estejam separados por distin��es fundamentais, entre elas as dimens�es e a complexidade dos interesses e das quest�es envolvidas nos problemas a serem gerenciados, alguns pontos comuns e alguns paralelismos entre os dois tipos de hierarquias decis�rias podem ser encontrados.

Em ambos os casos v�o surgir problemas similares e complexos de ag�ncia, de compatibiliza��o dos interesses daqueles que delegam (principal) com os dos que recebem a delega��o (agentes). Esses problemas s�o inerentes aos processos decis�rios hier�rquicos, nos quais o decisor exerce papel delegado, qualquer que seja sua natureza.

Nas empresas, os conflitos de interesses mais evidentes se d�o entre os acionistas e os administradores por eles escolhidos, conforme tem sido apontado (vide, por exemplo, Demsetz (1990 e 1995), cuja an�lise forma uma das correntes maismarcantes de reformula��o da teoria da firma).

Esses mesmos conflitos que marcam a rela��o agente-principal podem, tamb�m,ser encontrados, a n�vel mais geral, nos problemas de representatividade entre eleitores e eleitos, assim como entre os decisores ocupantes das hierarquias p�blicas (agentes) e a sociedade em geral, agravados pelos enormes ganhos pecuni�rios que uma atitude oportunista pode proporcionar e pela maior pulveriza��o daqueles que delegam (principal). Tamb�m aqui se necessita aprimorar os dois principais tipos de mecanismos de que se disp�e para lidar com esses conflitos, que s�o os de alinhamento de interesses e de monitoramento.

Pode-se observar, ainda, que, sobre ambos os tipos de estruturas decis�rias hier�rquicas, formalmente organizadas, v�o atuar, tamb�m, elementos informais e culturais que, no caso da empresa, foram exaustivamente apontados por Barnard (1934).

Os custos de transa��o e os mercados

Em 1937, discutindo a l�gica econ�mica que justifica a exist�ncia das firmas, trabalho basilar de Coase apontou o fato das transa��es realizadas no mercado terem custos. Mais ainda, argumentou que a compara��o destes custos com os custos que seriam incorridos, caso aqueles processos fossem realizados dentro de firmas, era fator essencial no estabelecimento das fronteiras entre as firmas e o mercado. A possibilidade de economizar custos de transa��o, substitu�dos por custos internos de gest�o, seria, assim, uma das principais raz�es da exist�ncia das firmas.

Entre os custos de mercado (veja-se Williamson (1975)) est�o os de identifica��o dos compradores e vendedores, de obten��o das informa��es sobre pre�os dos produtos (tanto para quem vende como para quem compra) e de negocia��o entre as partes.

Quando a transa��o fica um pouco mais complexa, ela passa a ter como contrapartida jur�dica um contrato formal. Somam-se ent�o, aos anteriores, os custos de negocia��o e elabora��o dos contratos, os custos econ�micos resultantes das inevit�veis imperfei��es dos mesmos, al�m dos custos ex-post de se fazer valer esses contratos.

Para Coase, o custo da realiza��o de algumas contrata��es no mercado repetidas vezes, como, por exemplo, a de m�o-de-obra, vai se tornando t�o elevado, que fica mais barato e simples operar-se atrav�s de uma firma, forma de organiza��o que pode ser entendida como definida por grandes contratos gen�ricos e dentro da qual hierarquias institucionalizadas tomam as decis�es de produ��o.

As escolhas organizacionais entre empresa (hierarquia) e mercado v�o, ent�o, sendo orientadas pela compara��o entre os custos dos dois tipos de op��o.

No caso das hierarquias, al�m dos custos oriundos dos problemas de ag�ncia, v�o se destacar os custos de gest�o em geral. Quanto mais cresce uma organiza��o, mais distantes v�o ficando os centros decis�rios principais das fronteiras da mesma, assim como mais diversa vai sendo a natureza dos problemas; assim, vai ficando mais dif�cil e mais sujeita a erros (custos) a sua administra��o. Quando as deseconomias de escala passam a superar as economias, a empresa n�o tem mais ganhos de produtividade, se crescer.

Fora das hierarquias, entre as empresas e entre estas e os consumidores em geral, as transa��es s�o governadas pelas leis do mercado. Estes mercados, se plenamente competitivos, levam, pela concorr�ncia, considera��es distributivas � parte, a solu��es consideradas ideais (eficientes), onde n�o se consegue melhorar a situa��o de nenhum agente, consumidor ou produtor, sem prejudicar a outros.

Os mercados plenamente concorrenciais, todavia, s�o modelos ideais,aos quais se procura fazer a realidade se aproximar (via legisla��o e regulamenta��o), quando poss�vel. Os mercados falham, e estas falhas de mercado afastam suas solu��es do padr�o desej�vel. Aqui interessa destacar, particularmente, uma falha importante de mercado, especialmente relevante para o tema em tela, que se d� quando os custos de transa��o de um dado produto ficam t�o caros que o pr�prio mercado sequer se forma.

4.      AInternet e os Mercados

Os impactos da Internet sobre os mercados

Sem pretender exaurir o assunto, as considera��es anteriores j� permitem destacar alguns impactos espec�ficos sobre a organiza��o de produ��o, provocados pela Internet e por toda a redu��o de custos que tem se verificado no processamento e transmiss�o de informa��es.

Por este enfoque, qual a primeira grande conseq��ncia da Internet? Ela reduz em muito os custos das transa��es, j� que, pelo menos, os custos de tomar pre�os, identificar produtores e consumidores em diferentes lugares � os chamados custos de busca - s�o radicalmente reduzidos. Compras no mercado spot atrav�s dela podem se fazer de forma extremamente simples e barata.

E quanto aos custos de contrata��o? Aqui j� � menos aparente, mas � poss�vel que se possa vir a conseguir, tamb�m, alguns ganhos, com a maior facilidade de comunica��o entre os agentes. Esta quest�o ir� requerer umareflex�o e revis�o da legisla��o envolvida (em cada pa�s), para que se agilizem contrata��es fruto de entendimentos por meio eletr�nico[5].

Uma possibilidade importante a ser explorada, na redu��o desses �ltimos custos, est� ligada � verifica��o ex-post dos eventos objeto da rela��o contratual, cuja dificuldade freq�entemente inviabiliza ou gera demandas, encarecendo a transa��o. Com a Internet, alguns fen�menos podem passar a ser mais facilmente observ�veis, � medida que maiores volumes de dados podem ser armazenados e podem ser colocados transparentemente � disposi��o das partes e do poder judici�rio. Em particular, a integra��o dos sistemas das empresas em uma dada cadeia de produ��o gera maior transpar�ncia nessas rela��es.

Assim, in�meras opera��es de mercado ficam mais baratas com a Internet. Esse � o ponto chave aqui: com a Internet caem alguns custos significativos de mercado e mudam suas caracter�sticas, e com isso alteram-se, tamb�m, as rela��es entre mercados e hierarquias.

Duas conseq��ncias maiores para os mercados podem ser apontadas. Primeiro, com a Internet os mercados se expandem. Alguns mercados, em particular, est�ose globalizando e, embora os aspectos geogr�ficos afetem os custos de transporte de mercadorias,permanecendo como fator limitador,as facilidades trazidas pela Internet refor�am esse processo de globaliza��o. A tecnologia, reduzindo enormemente os custos de comunica��o, abole, em grande parte, as fronteiras geogr�ficas e reduz as barreiras entre os mercados nacionais. A rela��o entre o fen�meno da globaliza��o e o da expans�o da Internet � t�o expressiva que fica dif�cil analis�-los em separado.

Entre os mercados em que a Internet facilita a globaliza��o, est� ainda o mercado de trabalho. Enquanto que o fluxo de mercadorias e capitais entre pa�ses se intensifica, o de trabalho ainda sofre maiores restri��es, sem que se possa observar nenhuma redu��o significativa nas in�meras barreiras que dificultam o deslocamento de pessoas entre diferentes pa�ses. Entretanto, a Internet, permitindo a contrata��o de m�o-de-obra aut�noma em pa�ses diferentes daqueles em que os agentes contratantes residem, indiretamente, canaliza a �importa��o/exporta��o� do trabalho.

Exemplos ilustrativos desse tipo de trabalho podem ser hoje vistos na �ndia, na �rea de produ��o de �software�, e tamb�m em atividades de servi�o de apoio de escrit�rio a empresas localizadas em outros pa�ses, aproveitando-se, inclusive, das diferen�as de fuso hor�rio.

Em segundo lugar, com a redu��o de custos de transa��o surgem novos mercados, que antes n�o poderiam existir, eliminando-se �falhas� caracterizadas pela inexist�ncia de mercados. Alguns interessados em um produto antes considerado ex�tico, dispersos em diferentes cidades, no mesmo ou em diferentes pa�ses, v�o se somando e formando n�mero suficiente para viabilizar a organiza��o da oferta e comercializa��o do tal produto. Entre outras, por exemplo, se viabilizam negocia��es em mercados futuros e em produtos muito especializados.

Agentes que percebem essas possibilidades abrem novas atividades de comercializa��o, configurando novos mercados, nem sempre legais e/ou legalmente definidos. Em muitos casos novas necessidades de regulamenta��o e fiscaliza��o ter�o que ser atendidas pelo aparelho do Estado.

AInternet e a efici�ncia econ�mica

A redu��o dos custos de transa��o e de gest�o proporcionada pela Internet provoca uma grande amplia��o de mercados existentes e o surgimento de outros mercados, anteriormente invi�veis, viabilizando, dessa forma, novas transa��es econ�micas eficientes.

Algumas das caracter�sticas desse novo meio, entretanto, est�o gerando alguns efeitos no sentido oposto ao de aumento de efici�ncia, o que tem levado diversos autores a examinarem suas consequ�ncias. De uma maneira geral, os resultados desses estudos t�m apontado para um aumento de efici�ncia geral,mas com ressalvas, cuja import�ncia estrat�gica � necess�rio se assinalar aqui.

Alguns ganhos trazidos pela Internet s�o �bvios: a maior facilidade de acessar produtores diversos e fazer buscas de pre�os aumenta a informa��o dispon�vel aos compradores, tornando, por esse �ngulo, os mercados mais competitivos.

Tamb�m a maior facilidade de diferentes produtores, independentemente de sua localiza��o geogr�fica, chegarem ao mercado, amplia a concorr�ncia na negocia��o de produtos, antes fechada e limitada a um pequeno grupo de ofertantes. A Internet derruba barreiras econ�micas de entrada, podendo, por esse lado, aumentar as possibilidades de concorr�ncia em mercados j� estabelecidos.

N�o obstante, algumas outras propriedades das informa��es fazem com que o mercado de produtos digitaliz�veis tenda a se afastar das condi��es de competi��o perfeita e que as suas solu��es de equil�brio deixem de corresponder aos princ�pios de otimiza��o alocativa, conforme apontado por Froomkin e De Long (1997).

Estes �ltimos autores ressaltam que pelo menos tr�s condi��es para que se tenha um mercado concorr�ncial n�o s�o atendidas na comercializa��o de informa��es, fen�meno que � agravado sensivelmente pela Internet.

Em primeiro lugar, os comercializadores de informa��es t�m muita dificuldade em excluir do consumo de seus produtos outros interessados, que n�o os que efetivamente paguem por eles, devido ao baixo custo de reprodu��o dos mesmos.

Tamb�m, o fato do custo para o produtor n�o variar (ou variar muito pouco) se mais de um consumidor usufru�r o produto, leva o custo marginal para valores muito inferiores ao custo m�dio e impede que se pratique um pre�o igual ao custo marginal.

Um terceiro aspecto � a falta de transpar�ncia na compra de bens, que t�m que ser experimentados para serem efetivamente avaliados.

Como a Internet agrava estas tr�s condi��es, com sua expans�o todo o mercado de produtos digitaliz�veis poderia estar se afastando das condi��es de concorr�ncia.

Para se procurar mensurar as consequ�ncias deste processo, n�o apenas a comercializa��o de informa��es, mas tamb�m a comercializa��o dos bens e servi�os em geral atrav�s da Internet t�m sido examinadas em termos da efici�ncia resultante.

N�o obstante a validade das preocupa��es de Froomkin e De Long, os estudos emp�ricos t�m constatado a predomin�ncia dos fatores positivos, indicando que a Internet, de uma maneira geral, tem tornado os mercados mais eficientes.

Smith, Bailey e Brynjolfsson (1999) examinaram v�rios estudos sobre esta quest�o, que, em seu conjunto, indicaram que a Internet tende a aumentar a efici�ncia dos mercados, pelo menos no que se refere ao n�vel dos pre�os, que tendem a ser mais baratos na Internet, e a um aumento na freq��ncia de suas varia��es, indicando respostas mais r�pidas �s condi��es de mercado.

Apenas em contradi��o com um poss�vel aumento de efici�ncia dos mercados, os referidos autores constataram uma grande dispers�o de pre�os em alguns produtos transacionados na Internet, ao contr�rio do que se poderia esperar. � poss�vel que esta dispers�o esteja ligada � confiabilidade de certos comercializadores, que, mesmo para bens id�nticos, tendem a agregar valor, por isso, para os seus consumidores na Internet

5.      A Internet e as Empresas

Impactos da Internet sobre as fronteiras entre mercados e empresas

A expans�o e o surgimento de novos mercados, acima comentados, s�o apenas uma das faces da introdu��o da Internet e das mudan�as tecnol�gicas aqui discutidas. Seu impacto n�o se restringe apenas aos custos de mercado, mas,tamb�m, os custos de produ��o s�o afetados, mudando as economias e deseconomias de escala que delimitam a dimens�o das empresas.

Para que se possa melhor entender esse processo e se esbo�ar alguns cen�rios de mudan�as nas rela��es entre mercados e hierarquias, � essencial que esses dois tipos de efeitos sejam analisados em simult�neo.

Enquanto a Internet, em si mesma, altera as formas e custos de comercializa��o, as mudan�as aqui consideradas reduzem, tamb�m, os custos de gest�o das empresas, incluindo os custos de comunica��o internos (pela Intranet) e os de acesso, organiza��o e acumula��o de dados e de conhecimento. N�o apenas nos mercados, mas tamb�m internamente �s organiza��es, e nos relacionamentos entre elas, v�o se redefinindo os conceitos de dist�ncia.

Com o avan�o tecnol�gico, caem tamb�m os custos internos de produ��o e os de compra de insumos no mercado.

Ampliando, ent�o, um pouco, o enfoque inicial, verifica-se que as mudan�as aqui sintetizadas pela introdu��o da Internet trazem, simultaneamente, os dois impactos, ou seja, reduzem tanto os custos de mercado, como os de gest�o e produ��o.Assim, voltando �abordagem de Coase, poderiam, ent�o, conduzir tanto a um crescimento, como a uma redu��o da dimens�o das unidades empresariais. � poss�vel que ambos os movimentos aconte�am, dependendo, em cada caso, de como estes efeitos opostos se balanceiem.

Cumpre observar que Coase n�o apenas destacou a import�ncia dos custos de transa��o nos mercados reais, em oposi��o aos mercados ideais te�ricos, como apontou como fator essencial na defini��o das dimens�es das empresas, o balan�o entre estes custos e os custos internos �s empresas, de produ��o e gest�o, aspecto esse que tem que ser cuidadosamente levado em conta ao se refletir sobre os impactos da Internet.

Aloca��es de recursos nas empresas e no mercado

Embora as atividades de comercializa��o sejam as mais vis�veis e, talvez, as mais atingidas diretamente pelas transforma��es em tela, muitas outras mudan�as significativas est�o alterando a efici�ncia e os custos das empresas, impactando, em particular, seus processos decis�rios, com ganhos de efici�ncia alocativa.

Tanto nas transa��es de mercados, como das aloca��es de recursos internas �s hierarquias, se tem um processo decis�rio baseado em uma an�lise das op��es dispon�veis.

Nas transa��es efetuadas no mercado, as decis�es s�o tomadas por agentes que analisam seus custos e benef�cios, onde os pre�os consolidam grande parte das informa��es necess�rias, economizando esfor�os anal�ticos e simplificando o processo. As op��es de compra ou de venda s�o feitas considerando o leque de op��es identific�veis no mercado, a custos compat�veis com a transa��o.

J� as aloca��es de recursos efetuadas no interior das empresas dependem de um processo anal�tico interno, sem as simplifica��es providas pelos pre�os. No curto prazo, estas decis�es s�o mais r�pidas, mas t�m um elevado grau de rigidez, j� que, de uma forma geral, s� se examinam as possibilidades internas, com custos fixos j� incorridos e com o uso de recursos humanos j� contratados.

No longo prazo, as decis�es empresariais s�o mais complexas, j� que podem considerar um leque mais amplo de recursos internos, estes sem a refer�ncia clara dos pre�os, e externos, que podem ser internalizados, mas cuja repactua��o a posteriori, ao contr�rio das opera��es realizadas no mercado, � bastante mais dif�cil e custosa.

A efici�ncia empresarial depende diretamente da efici�ncia de suas decis�es alocativas.

Processos decis�rios, comunica��o e conhecimento nas empresas

Duas das principais conseq��ncias da introdu��o da Internet (e da Intranet) sobre os processos decis�rios nas empresas referem-se � redu��o dos custos de (1) comunica��o (tanto internamente como com o exterior) e (2) de aquisi��o e dissemina��o de conhecimento. Ambos criticamente relacionados ao processo de aloca��o interna de recursos.

Para ilustrar-se a import�ncia destas quest�es para as empresas veja-se, por exemplo, Barnard (1934), que identificava as linhas de autoridade, ao longo das quais as decis�es empresarias s�o tomadas, com as linhas de comunica��o. Por isso mesmo, considerava que as fun��es essenciais do executivo s�o: (i) manter o sistema de comunica��o, (ii) promover e assegurar os esfor�os essenciais, e (iii) formular e definir prop�sitos.

Quando uma decis�o de aloca��o de recursos � tomada em uma hierarquia, dois aspectos est�o presentes: o fim a ser alcan�ado e os meios a serem usados. A decis�o deve ser o resultado de um processo l�gico de discrimina��o, an�lise e escolha.

Nas empresas, ainda acompanhando Barnard, tr�s grandes n�veis de decis�o podem ser destacados: (a) n�vel superior, relativo aos fins a serem perseguidos, (b) n�vel intermedi�rio, onde os prop�sitos s�o quebrados em fins mais espec�ficos, e (c) n�veis inferiores, de execu��o, onde as decis�es pessoais quanto � disposi��o de contribuir ou n�o (e a motiva��o) se tornam da maior import�ncia.

ObservaBarnard que o aspecto objetivo da autoridade, ao longo destas linhas, s� � mantido se as pessoas s�o cont�nua e adequadamente informadas, o que depende da opera��o do sistema de comunica��es na organiza��o.

Mais ainda, para ele, os requisitos de comunica��o s�o fatores determinantes sobre o tamanho das unidades e das organiza��es.

Estas quest�es s�o tamb�m focadas mais tarde por Simon (1947 e edi��o de 1977), que define formalmente a comunica��o como qualquer processo onde informa��es ligadas a um processo decis�rio s�o transmitidaspor um membro da organiza��o para outro.

Sem comunica��o n�o pode existir organiza��o, sendo que os meios tecnol�gicos dispon�veis para a transmiss�o das informa��es determinam, em grande parte, a forma de estrutura��o do processo decis�rio e a pr�pria organiza��o da empresa.

Al�m dos dois sentidos, acima destacados, em que a informa��o flui nos processos decis�rios, ela flui tamb�m lateralmente, entre �reas diferentes da empresa. Para que as decis�es relevantes de aloca��o dos recursos da organiza��o sejam eficientes, � fundamental que o indiv�duo que as toma esteja bem informado e tenha capacidade de analis�-las.

Conhecimento e informa��o se interrelacionam; sem conhecimento os indiv�duos n�o tem como lidar com as informa��es que recebem. Por outro lado as informa��es permitem aumentar o conhecimento de seus receptores. Elas s�o portadoras de conhecimento. O conhecimento detido por uma organiza��o pode ser considerado como um dos seus principais ativos, mesmo que intang�vel. Sua capacidade de constante aprendizado, quando existe, expande esta base, permitindo-a manter-se competitiva em um contexto de mudan�as.

Alguns autores (vide, por exemplo, Cohendet, Llerene e Marengo (1998)), inclusive, chegam a entender as organiza��es, fundamentalmente, como locais de acumula��o de conhecimentos. E aqui se est� falando de conhecimento produtivo distribu�do por toda a organiza��o,do �como fazer�, incorporado nos sistemas, nas rotinas, nas normas da organiza��o e, tamb�m, nas pessoas que as executam.

As mudan�as das tecnologias de processamento e transmiss�o de informa��es baratearam enormemente a capacidade de lidar com grandes volumes de informa��es, selecion�-las e process�-las rapidamente, assim como de transmiti-las a enormes dist�ncias, exigindo das empresas como um todo, e dos indiv�duos que a constituem, uma enorme capacidade de adapta��o, para lidarem com o novo ambiente empresarial.

Nesse novo cen�rio, possivelmente aumentar�o as comunica��es � dist�ncia, se reduzir�o os contatos diretos pessoais e os elementos verbais assumir�o maior peso, face aos n�o verbais, nessas comunica��es � dist�ncia. Problemas de c�digos comuns aumentar�o, j� que as pessoas poder�o fazer parte de comunidades bastante diferentes.

As possibilidades e meios de aquisi��o e de dissemina��o de conhecimento mudaram. O acesso a fontes de informa��es e conhecimentos externos, muitas de dom�nio p�blico, ficou muito mais f�cil e mais barato. Internamente �s empresas, a transfer�ncia de conhecimento tamb�m ficou facilitada, reduzindo-se empecilhos de ordem geogr�fica.

O resultado deste conjunto de transforma��es aponta para ganhos de produtividade com redu��es significativas tanto nos custos de gest�o, quanto de produ��o.

Formas de relacionamento� entre as empresas

Se o novo balan�o entre custos de transa��o no mercado e custos de gest�o e produ��o internos �s empresas est� afetando a redefini��o das suas fronteiras, tamb�m, as formas poss�veis de trocas de informa��es entre elas e a possibilidade de uma maior observabilidade de seus processos internos trazem novas op��es �s formas de coopera��o e de coordena��o das atividades entre diferentes empresas, op��es que poderiam ser consideradas como intermedi�rias entre as formas extremas de hierarquia e mercados.

Integra��es via novas formas de administra��o das rela��es verticais entre as cadeias de suprimento, e a forma��o de novos tipos de alian�as e de coopera��o entre empresas exemplificam algumas dessas possibilidades, facilitadas pela evolu��o tecnol�gica da comunica��o e processamento de dados.

A dissemina��o de novas iniciativas, apoiadas em companhias de prop�sitos espec�ficos, facilita e exemplifica a multiplica��o das novas formas de integra��o parcial de diversas empresas em a��es espec�ficas.

Impactos da Internet sobre as Formas de Reg�ncia

Nos setores regulados, as tens�es pelas mudan�as se constroem em seu interior, mas asmudan�as s� se efetivam ap�s algum n�vel de transforma��o institucional e legal. Nos demais setores, em geral, as formas legais e jur�dicas tendem a mudar a posteriori, sob as press�es das transforma��es concretas da sociedade e apenas quando as novas formas de consenso social se mostram relevantes e est�veis.

Um poss�vel impacto da Internet sobre as hierarquias, que ainda n�o parece ter se manifestado, nem se consubstanciado institucionalmente, mas sobre cuja possibilidade se pode especular, � uma poss�vel transforma��o nos mecanismos de reg�ncia e nas formas de representa��o e de delega��o de poder daqueles que det�m os direitos de principal, para os agentes que devem executar as a��es delegadas.

Com as novas facilidades na transfer�ncia de informa��es, de acesso r�pido e simult�neo por diferentes indiv�duos em diferentes localiza��es geogr�ficas, assim como de realiza��o de reuni�es e confer�ncias virtuais, � poss�vel, pelo menos para um subconjunto de temas, que um n�mero bastante grande de indiv�duos (e organiza��es) possa ser consultado. Assim, o espa�o de delega��o pode ser sensivelmente reduzido. Tamb�m vota��es incluindo n�mero significativo de eleitores podem se efetuar em curto espa�o de tempo, a custos baixos e por processos que v�o ficando cada vez mais seguros.

Por exemplo, quest�es que hoje s�o do �mbito do Conselho de Administra��o das empresas poderiam ser levadas diretamente � considera��o da Assembl�ia Geral de acionistas, sem a necessidade de delega��o dos mesmos. Evidentemente, qualquer movimento deste tipo amplia os custos de monitoramento por parte dos acionistas, mas entende-se que estes s�o do maior interesse dos mesmos.

Vale apontar que, tamb�m nas hierarquias de governo, possibilidades de mudan�a nas formas de representa��o podem surgir e devem ser exploradas, possivelmente mais eficientes e reduzindo os desencontros entre representantes e representados.

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Impactos da Internet sobre a Ind�stria da Informa��o

As mudan�as trazidas pela Internet t�m efeito especial, particular, sobre a ind�stria da informa��o e sobre a comercializa��o dos produtos digitaliz�veis em geral, onde suas consequ�ncias t�m se mostrado mais imediatas e contundentes.

Efetivamente, as caracter�sticas espec�ficas de produtos digitaliz�veis requerem tratamento � parte, em qualquer reflex�o estrat�gica, e an�lise de cen�rios sobre o espa�o empresarial.

� a especificidade da informa��o, enquanto bem comercializado, que faz com que Anghern (1997) inclua, como um dos que ele chama de �quatro espa�os virtuais criados pela Internet�, o Espa�o Virtual de Distribui��o, indicando os canais em que produtos digitalizados s�o efetivamente distribu�dos pela Internet. Os outros tr�s espa�os virtuais, segundo o referido autor, s�o o de Informa��o, o de Comunica��o e o de Transa��es, compondo o que ele chama de Modelo ICDT.

� ainda Anghern quem destaca, ao analisar o espa�o de distribui��o, in�meras ind�strias que produzem bens f�sicos, n�o digitaliz�veis, e comercializam informa��es como servi�os auxiliares aos seus clientes, as quais podem perfeitamente ser distribu�das pela Internet. � o caso, por exemplo, dos manuais de instru��es que acompanham carros, produtos eletr�nicos, etc.

Estas �ltimas ind�strias, embora com seus produtos principais n�o t�o diretamente afetados como as ind�strias de produtos digitaliz�veis, al�m de alcan�adas pelos impactos globais anteriormente discutidos, podem, ainda, ter suas estrat�gias de comercializa��o alteradas pelas possibilidades de mudan�as nos canais de distribui��o desses produtos complementares.

Assim, para efeitos de an�lise estrat�gica dos diferentes segmentos empresariais, dada a particularidade desse tipo de produto, al�m do exame dos efeitos dessas transforma��es sobre as rela��es empresas-mercado em geral, � conveniente estudar-se os aspectos espec�ficos, separando as empresas que comercializam informa��es como produto principal das que comercializam informa��es como produto complementarsecund�rio.

No que se refere especificamente � ind�stria da informa��o, vale a pena acrescentar, ainda, as observa��es de Shapiro e Varian sobre suas poss�veis estrat�gias, segundo os quais, nesses casos, s� duas estruturas finais s�o vi�veis: (a) firma dominante que tem vantagem de custo sobre os demais, e (b) firmas com produtos diferenciados .

Face aos enormes custos envolvidos no esfor�o para dominar um dado mercado, aqueles autores sugerem que, nesta �rea, as firmas fa�am o poss�vel para seu produto n�o virar �commodity�, diferenciando-o dos demais dispon�veis no mercado. Nesse sentido, al�m de personalizar seus produtos, sugerem que as firmas procurem personalizar seus pre�os, seja para cada grupo de consumidores, seja para cada �vers�o� do produto, seja mesmo, se poss�vel, para cada consumidor individualizado.

Nas firmas em que a informa��o � produto complementar, seria necess�rio uma an�lise caso a caso para se averiguar at� onde estas caracter�sticas estrat�gicas da ind�stria da informa��o afetam seu quadro competitivo. � de se esperar que empresas em que as informa��es complementares desempenhem papel mais significativo sejam mais afetadas por este mesmo quadro.

6.      Sum�rio e Conclus�es

A Internet � apenas um dos aspectos de um amplo processo de mudan�as tecnol�gicas que t�m reduzido enormemente os custos de comunica��o e de transmiss�o e processamento de informa��es, v�m tendo grandes impactos tanto sobre os mercados como sobre as hierarquias em geral e que, por simplicidade, s�o referidos aqui como impactos da Internet.

Coase nos lembra que as transa��es no mercado t�m custos. Um dos impactos mais imediatos da Internet � o de redu��o desses custos. Com isso, os mercados crescem e se globalizam, al�m de surgirem novos mercados, antes inviabilizados por seus custos de transa��o.

Masa an�lise de Coase diz um pouco mais: ela destaca, como um dos fatores determinantes da exist�ncia e da dimens�o das empresas, o balan�o entre os custos de transa��o e compra nos mercados, versus os custos de gest�o e produ��o internos �s empresas (hierarquias).

As mudan�as tecnol�gicas em tela afetam tamb�m as hierarquias. Informa��o e conhecimento s�o elementos-chave dos processos decis�rios hier�rquicos e s�o impactados positivamente pela Internet/Intranet. As aloca��es de recursos internas �s organiza��es, apoiadas em processos anal�ticos e em procedimentos que armazenam conhecimento da empresa, podem ser feitas de maneira mais eficiente. Caem, assim, os custos de gest�o e produ��o.

Com o surgimento do novo meio, s�o particularmente afetadas as atividades empresariais de comercializa��o, tanto com os consumidores finais, como entre empresas. Os neg�cios entre estas ficam mais �geis e ampliam-se muito as possibilidades de integra��o entre atividades de organiza��es de propriet�rios diferentes.

Uma distin��o relevante, em rela��o aos impactos sobre as empresas, refere-se ao fato de seus produtos principais serem digitaliz�veis ou n�o. No primeiro caso, a Internet � tamb�m canal de distribui��o, com conseq��ncias que afastam seu ambiente dos modelos de concorr�ncia perfeita. Esse tipo de situa��o afeta tamb�m o universo das empresas em geral, no que se refere aos produtos secund�rios, digitaliz�veis, que muitas vezes acompanham a comercializa��o de produtos de outra natureza.

Possivelmente, embora ainda n�o claramente observ�vel, podem se alterar, tamb�m, os esquemas de reg�ncia das empresas (e de governo), com a possibilidade de uma maior observabilidade dos processos decis�rios internos e com uma maior facilidade de ser ouvido um maior n�mero de agentes nas decis�es das altas administra��es das hierarquias.

A redu��o simult�nea dos custos de mercado e dos custos internos das hierarquias faz com que as fronteiras entre elas possam se deslocar nas duas dire��es, dependendo, caso a caso, das condi��es espec�ficas. Pode-se dizer que o enorme barateamento dos custos de comunica��o e tratamento da informa��o redefine os mercados e as empresas, podendo afetar, tamb�m, os limites das entidades governamentais.

Neste novo contexto, passa-se a ter novas maneiras de fazer neg�cios, onde os servi�os crescem de import�ncia e, ao mesmo tempo, enquanto desaparecem alguns intermedi�rios, surgem outros; as empresas passam a colaborar mais ao longo da cadeia de suprimento; e os pre�os fixos v�o sendo substitu�dos por pre�os vari�veis em fun��o das condi��es de mercado. Uma mudan�a cultural se faz necess�ria: a empresa n�o pode ser mais pensada como entidade isolada, e a no��o de espa�o geogr�fico mudou, dentro e fora da empresa.

Devido aos efeitos simult�neos de redu��o de custos de mercados e hierarquias,n�o se pode com exatid�o fazer qualquer previs�o sobre suas tend�ncias futuras. Entretanto, como elemento de debate, no que se segue procura-se esbo�ar, de forma meramente especulativa, algumas poss�veis rotas de evolu��o do espa�o empresarial.

Esbo�ando-se um cen�rio empresarial tentativo, espera-se ter um maior crescimento das firmas com globaliza��o de mercados, uma maior separa��o de atividades perif�ricas em firmas independentes, com crescimento de associa��es, �franchises� e alian�as (apoiadas via rede) e um foco diferenciado nos (grupos de) consumidores

Em uma primeira sugest�o sobre os cen�rios prov�veis, a globaliza��o de alguns mercados, ao menos, est� acontecendo, o que parece refor�ar a tend�ncia de globaliza��o das empresas que neles atuam, aumentando sua escala. Ao mesmo tempo, esse crescimento, aliado �s maiores facilidades de inter-relacionamento empresarial oferecidas pela tecnologia, indica uma poss�vel separa��o de atividades complementares em empresas separadas especializadas, de modo a distribuir e focar a responsabilidade gerencial.

Segundo Stiegler (1968)[6], s�o as limita��es de mercado que inviabilizam a terceiriza��o de parte das atividades das firmas. Nesse sentido, a expans�o dos mercados provocada pela Internet age como elemento facilitador para que estas atividades complementares possam ser mais eficientemente conduzidas em firmas separadas, refor�ando o processo de especializa��o das empresas no seu neg�cio central.

Do ponto de vista dos acionistas, parece tamb�m ser mais adequada esta especializa��o, aumentando a nitidez dos riscos e retornos envolvidos em suas aplica��es e facilitando um ajuste mais fino da administra��o de seus riscos, pela diversifica��o de suas carteiras.

Institucionalmente, todo esse processo de transforma��es, de mudan�as empresariais e de globaliza��o dos mercados, com a expans�o dos existentes, e com o surgimento de novos mercados, s� vi�veis em escala global, dever� gerar muitos e complexos problemas, ultrapassando, inclusive, as fronteiras nacionais.

Cada vez mais �as regras do jogo� v�o tendo que se universalizar para lidarem com este fen�meno. A progressiva converg�ncia dos padr�es de demonstra��es cont�beis em v�rios pa�ses � um apenas um exemplo dessa tend�ncia de �padroniza��o� institucional.

Para levar esse processo a solu��es eficientes e do interesse da sociedade, mudan�as institucionais ter�o que ser perseguidas. Alguns pontos preliminares, merecedores de aten��o, referem-se a como contratar atrav�s da Internet e como se aproveitar das novas facilidades para dar maior transpar�ncia a esses contratos; como lidar com as barreiras existentes para o com�rcio internacional face � integra��o global de empresas e consumidores; como regular os novos mercados emergentes; e como redefinir o papel regulador do governo nesse novo contexto.

As regras que delimitam as transa��es comerciais e contratos ter�o, inevitavelmente, que ser reformuladas para lidarem com as negocia��es realizadas via Internet. Em particular, novas formas de viabilizar o envolvimento de uma �terceira parte� para fazer valer transa��es realizadas no espa�o virtual ter�o que ser pensadas.

Dada a abrang�ncia dessas transforma��es, ser� necess�rio lidar n�o apenas com a reformula��o do conjunto de leis e normas sobre as transa��es comerciais para englobar as transa��es eletr�nicas em si mesmas, mas, tamb�m, entre outras, com quest�es ligadas ao com�rcio internacional, ao papel do Estado e das ag�ncias reguladoras, �s formas de organiza��o empresarial, aos limites dos mercados, etc.

Tamb�m os modelos jur�dico-econ�micos de organiza��o das empresas n�o permanecem est�ticos, embora suas mudan�as demorem para ser incorporadas e percebidas. As mudan�as observadas podem ser apenas alguns sinais iniciais. Transforma��es mais radicais podem estar se formando.

Antes de encerrar, face �s similaridades aqui apontadas entre as estruturas hier�rquicas de governo e empresarias, vale lembrar que a redu��o dos custos de gest�o das empresas tamb�m acontece a n�vel das entidades de governo, e que as mudan�as relativas entre os custos de mercado e gest�o devem afetar, tamb�m, seu tamanho �timo, suas formas de intera��o com o mercado e seu papel regulador. A efici�ncia das solu��es depender� de como evolua, em contrapartida, o aparelho legal e normativo.

7.      Refer�ncias

Anghern, A. A. (1997) , �The Strategic Implications of the Internet�, Insead, The European Institute of Busineess Administration, Fontainebleau.

Barnard, C. (1938), �The Functions of the Executive� , Harvard University Press, 30th anniversary edition, Cambridge, Massachusetts, 1968 (1st. Edition 1938)

Coase, R. H. (1937), �The Nature of the Firm�, Economica, 4, Novembro; tamb�m publicado em: �The Firm, the Market and the Law�, R. H. Coase (1988), The University of Chicago Press, Chicago; e, ainda, em: �The Nature of the Firm, Origins, Evolution and Development�, O. E. Williamson e S. G. Winter (ed.) (1993), Oxford University Press, Oxford.

Cohendet, P., P. Llerenae L. Marengo (1998), �Theory of the Firm in an Evolutionary Perspective: A Critical Assessment�, 2nd. Annual Conference of ISNIE, Paris.

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Pimentel, R.F. (2000), �A Internet e a Organiza��o da Produ��o�, �Workshop sobre Transa��es Eletr�nicas�, Congresso Jur�dico do Sistema Financeiro, organizado pela Escola Nacional de Magistratura, Cabo de Santo Agostinho, Pernambuco.

Shapiro, C. e H. R. Varian (1999), �Information Rules, A Strategy Guide to the Network Economy� , Harvard Business School Press, Boston, Massachutetts.

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Stiegler, G. (1968), �The Organization of Industry�, The University of Chicago Press, Chicago.

Williamson, O. E. (1975), �Markets and Hierarchies; Analysis and Antitrust Implications�, The Free Press, MacMillan, New York.

Quais são os principais problemas da tecnologia?

O uso exacerbado de aparelhos eletrônicos também causa dificuldade de relacionamento interpessoal e social, pois as pessoas tendem, assim, a se habituar ao mundo virtual, o que pode resultar em fobia social, síndrome do pensamento acelerado ou síndrome do pânico.”

Quais são os principais problemas encontrados pelas organizações em relação à tecnologia de informação?

Falhas de segurança. A segurança deve ser um dos focos principais de toda organização que trabalha com tecnologia. Caso a segurança de uma empresa seja violada, dados críticos podem ser apagados, danificados, roubados, sequestrados e/ou expostos.

Quais são os problemas de administração levantados pela nova infraestrutura de tecnologia de informação?

As falhas recorrentes na área de tecnologia da informação podem levar a problemas operacionais graves, como queda de desempenho, falhas de segurança, diminuição da produtividade e interrupção das atividades.

Quais os problemas mais comuns de TI nas empresas?

Problemas mais comuns na gestão de TI.
Falta de controle dos ativos. Os ativos de TI são todos os bens físicos e não físicos que compõem a estrutura tecnológica, como computadores, servidores, licenças, entre outros. ... .
Falhas de segurança. ... .
Conectividade instável. ... .
Custos elevados. ... .
Falta de integração com outros setores..