Porque a emigração para o Japão é um caso especial?

Há 110 anos, em 18 de junho de 1908, o navio Kasato Maru atracou no Porto de Santos (SP), trazendo 781 lavradores do Japão para trabalhar nas fazendas de café em São Paulo. Foi o início da imigração de japoneses para o Brasil. Pouco mais de 90 anos depois, os descendentes deles começaram a voltar.

Entre 1989 e 2018, é possível identificar três grandes ondas de imigração de brasileiros dekasseguis (descendentes de japoneses que viajam para trabalhar) para o Japão: na virada dos anos 1990, depois no fim da década e agora, nos últimos anos, com a crise financeira que resultou em 27 milhões de desempregados no Brasil.

Para Natália Fingerman, professora de Relações Internacionais da Unisantos, a questão econômica explica uma boa parte da motivação para brasileiros que buscam mudar de vida em outras partes do mundo, mas a melhoria na qualidade de vida é muito importante.

"A economia é um fator, mas a qualidade de vida que as pessoas encontram também afeta na decisão de sair. Em países como o Japão, com um emprego menos qualificado você consegue viver bem, não precisa de tantos recursos para ter segurança, educação", afirma.

Dekassegui veterano

A trajetória de Hachiro Akamine, 56, é uma representação perfeita do fluxo de imigração entre os dois países. Ele foi para o Japão pela primeira vez em 1990. Atraídos pelo crescimento japonês e empurrados pela grave crise econômica do Brasil no início da década, os dekasseguis começaram a ir para o outro lado do mundo.

Em 1989, havia 14 mil brasileiros vivendo no Japão. No ano seguinte, eram 56 mil. Em 1992, 119 mil.

Durante os 18 anos seguintes, Hachiro foi e voltou, trabalhava dois anos em uma fábrica de eletrônicos em Yokohama, juntava dinheiro e voltava para o Brasil. Quando as coisas apertavam aqui, voltava e o ciclo reiniciava.

“Nasci em São Paulo, poucos meses depois que meus pais chegaram do Japão. Costumo brincar que fui gerado no navio, no meio do caminho. Fui e voltei várias vezes. A primeira foi porque trabalhava muito no Brasil e não conseguia ter dinheiro nunca. Como o Japão estava crescendo, vim para cá tentar a vida”, conta Hachiro, que está em Yokohama há alguns meses.

Em 2008, ele voltou para o Brasil achando que seria a última vez que se mudaria entre os dois países. Comprou uma franquia dos Correios em Minas e tentou ampliar os negócios, mas a crise no país desde 2015 colocou um fim nesses planos. Como estava difícil arrumar um bom emprego para se sustentar e pagar alguns prejuízos, foi para o Japão de novo. Viver no país de seus pais, no entanto, nem sempre foi fácil.

"Minha principal dificuldade quando cheguei é porque não falava a língua, passava umas situações chatas, as pessoas me tratavam meio mal. Como não tenho nome brasileiro, as pessoas estranham muito. Não dominar a língua e depender dos outros é muito complicado, sempre fico querendo voltar, mas o Brasil está muito difícil", relata.

Ondas de imigração

Desde a primeira onda, quando Hachiro foi ao Japão, o número de brasileiros vivendo no país jamais voltou a ficar abaixo de 100 mil, mas variou de acordo com os cenários de ambos os países e do mundo.

A cifra foi crescendo ao longo das décadas de 1990 e 2000 até atingir o pico em 2007, quando havia 313 mil. No ano seguinte, começou a crise mundial, que custou o emprego de muitos deles e a colônia brasileira foi caindo ano a ano até chegar a 173 mil, em 2015.

Desde então, a crise econômica no Brasil, aliada à sensação de insegurança generalizada no país, vem empurrando o número novamente para cima. Nos últimos três anos, a colônia cresce em ritmo lento, mas constante.

Segundo o Consulado Geral do Brasil em Tóquio, que usa as estatísticas do ministério da Justiça japonês, hoje são 191.362 cidadãos brasileiros vivendo no país.

Fugindo da violência

Rodrigo Hiroshi Tokumaru, 28, também deve chegar ao Japão em até dois meses. Ele foi para o Japão ainda adolescente, em 2006, seguindo o exemplo do pai, que foi dekassegui nas primeiras levas de brasileiros, mas teve de voltar dois anos depois, por problemas de saúde.

Diferente de Hachiro, no entanto, o objetivo dele é encontrar um local mais seguro para morar.

“São Paulo é uma cidade muito perigosa, não aguento mais. Já sofri assaltos, fui agredido”, relata Rodrigo. Há três meses, ele tentou reagir a um assalto quando voltava para casa e levou um chute do criminoso, caiu e bateu a cabeça. Passou duas semanas internado por traumatismo craniano e, depois disso, decidiu voltar ao Japão.

Ele acredita que vai conseguir uma vaga na mesma fábrica de lentes para celulares onde trabalhou há mais de dez anos. “Conheço o chefe lá, ele me conhece, não deve ter problema. Aqui ganho praticamente o mesmo que lá, mas a vida vai ser muito mais tranquila. Estou estudando para aperfeiçoar o japonês, da primeira vez não sabia quase nada”, relembra.

Novos imigrantes

O número de brasileiros deve aumentar novamente até o fim do ano. Desiludidos com a situação do país, jovens estão esperando o pedido de visto de trabalho para ir pela primeira vez para o outro lado do mundo. É o caso de Priscila Igarashi, 24, e o marido, Israel Anacleto, 22. Os dois pretendem se mudar para o Japão até outubro.

“Decidimos ir pelas condições de vida, porque queremos morar perto do trabalho e não trabalhar apenas para pagar contas, também pela segurança. Não vamos com o objetivo de juntar dinheiro, como meus pais e meus tios faziam”, explica Priscila.

Ela nasceu no Japão, em um período em que os pais moravam no país, em 1994. Dois anos depois, a família voltou ao Brasil e ela ficou por aqui, até agora. Ela tem diploma em marketing e o marido trabalhava com suporte de informática. Quando estiverem em terras japonesas, vão trabalhar em uma fábrica de eletrônicos, mas ainda não sabem a cidade.

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“Vamos chegar no inverno, então já iremos ter que nos adaptar com o clima diferente. Sabemos que logo no início conseguimos pegar aparelho e plano de celular também, sem que isso pese nas contas. A praticidade de comprar comida barata também é um dos pontos positivos, pois aqui ficava muito difícil ter que passar horas no transporte e depois ainda ter que fazer comida”, conta.

Fuga de qualificados

O grande problema desse movimento, na opinião da professora Natália Fingermann, é que a saída de profissionais que no Brasil são considerados qualificados acaba prejudicando a própria recuperação do país.

"Acabamos perdendo muitas pessoas com qualificação profissional aqui, isso cria um déficit no mercado. Quando as empresas estrangeiras voltarem a investir aqui, os cargos mais altos acabarão ocupados por gente que eles vão precisar trazer, não por brasileiros e isso faz com que os recursos não fiquem por aqui", explica.

Qual a importância da imigração para o Japão?

Além de bagagem, os recém-chegados traziam a coragem para recomeçar a vida em um país repleto de terras produtivas e longe das tensões sociais e pobreza que o Japão enfrentava na época.

Por que podemos afirmar que o Japão é um dos países mais populosos do mundo?

O território japonês, além de populoso, é altamente povoado, em razão da grande concentração de habitantes em uma pequena extensão espacial. O país conta, ainda, com uma elevada taxa de urbanização, sendo que a maior parte da população vive em cidades.

Qual foi a diferença significativa entre o imigrante japonês e os outros imigrantes?

Os imigrantes foram proibidos entre outras restrições, de falar em público, visto que era proibido falar em japonês e a grande maioria não sabia falar outra língua e tiveram que pôr fim a atividades sociais e esportivas, que antes eram motivo para reunir as famílias (MORAIS, 2000).

Como vivem os imigrantes brasileiros no Japão?

Cerca de 43 mil dos brasileiros residentes no Japão são crianças e jovens de até 18 anos. Entre eles, 4.000 estão matriculados em colégios brasileiros, instituições particulares idealizadas para acolher filhos de imigrantes no fim da década de 1990. Até 2008, foram abertas mais de cem escolas brasileiras.

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