Por que a construção de muros é uma contradição do mundo globalizado?

As fronteiras entre países são linhas imaginárias traçadas no mapa e, na maior parte do mundo, facilmente atravessáveis. Em outras regiões, entretanto, as fronteiras são reais e aparecem na forma de muros, com arame farpada e guardas.

As barreiras mais emblemáticas foram construídas entre os Estados Unidos e o México; no enclave espanhol de Melilla, no Marrocos, e Ceuta, na Espanha, que separa a Europa da África; na zona desmilitarizada entre as Coreias e na Faixa de Gaza, região em disputa por Israel e Palestina.

As justificativas pelos responsáveis por erguer essas estruturas nos limites entre dois países são controlar a entrada de imigrantes, criar zonas de segurança e garantir um cessar-fogo. No entanto, a explicação para construção dessas barreiras é, no fundo, mostrar quem manda na região.

“A materialização do muro expressa o distanciamento e materializa o poder. É a expressão do poder e da opressão, quem controla esse muro tem o poder”, diz a professora de Relações Internacionais da ESPM-POA, Ana Simão.

Os muros construídos na fronteira entre México e os Estados Univos e no reduto espanhol em Melilla e em Ceuta, no norte do Marrocos, surgiram com a premissa de controlar a imigração ilegal. Do lado norte-americano, a obra foi justificada também com uma medida  necessária para combater o tráfico de drogas e a criminalidade.

"A criação das fronteiras não controla o tráfico e nem elimina o terrorismo o muro aumenta a vulnerabilidade das pessoas, das regiões e expressa o poder”, diz a professora da ESPM.

Pessoas que vivem em situação de crise política, econômica ou humanitária deixam suas casas em busca de uma situação de vida melhor e fogem para regiões mais desenvolvidas. Apesar de existir possibilidade de conseguir asilo ao cruzar a fronteira, o volume desses pedidos é grande e o processo lento.

Nos últimos anos, a União Europeia se mostrou mais aberta à entrada de imigrantes, com exceção a Itália, que fechou portos e recusou ajudar navios que circulavam próximo a sua costa. O ultradireitista Matteo Salvini chegou a ser julgado pelo bloqueio de uma dessas embarcações.

“A barreira física é uma demonstração de problemas diplomáticos prévios. Mostra que a questão chegou em um ponto em que as negociações diplomáticas se esgotaram”, diz o coordenador do curso de Relações Internacionais da FAAP, Carlos Gustavo Poggio.

Nos EUA, o ex-presidente Donald Trump foi eleito com um discurso contra a imigração e, durante seu governo endureceu as medidas para asilo e recebeu críticas pelo tratamento dado aos latinos nas dependências de centros da Agência de Imigração e Alfândega (ICE).

Joe Biden chegou à Casa Branca com uma proposta mais flexível em relação aos imigrantes, mas deixou claro que não vai abrir as portas para todos.

A fronteira entre Israel e Palestina é uma zona de guerra e, em maio deste ano, um confronto que durou semanas terminou com 100 mortes no lado árabe do muro. 

“Essa é uma região de bastante tensão política. Tem uma questão econômica e política, com elementos religiosos, culturais e históricos”, explica Poggio.

Com a saída de Benjamin Netanyahu do poder no começo de junho, é possível que a situação de fato mude. “É preciso aguardar para ver como ficam as relações com a nova política em Israel”, diz Ana.

A Zona Desmilitarizada entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul é uma das regiões mais armadas e vigiadas do mundo. Os dois países ainda estão em guerra, apesar de não trocarem tiros desde os anos 1950, quando a divisão do território foi formalizada.

Ainda assim, nunca houve um tratado de paz e as conversas sobre uma reintegração das Coreias ficam no campo das possibilidades para o futuro. Por hora, o maior perigo na região é o poderio militar da isolada Coreia do Norte, que rejeita as tentativas de diálogo com países do Ocidente e vizinhos.

O território sob o comando de Kim Jong-Un está isolado do restante do mundo desde o fim da guerra e relações principalmente com a China, que também tem um governo comunista. Enquanto isso, a Coreia do Sul cresce no campo da tecnologia, soft power e conta com aliados poderosos na Ásia e é próxima dos Estados Unidos.

Nesse muro não há imigrantes tentando passar para o outro lado. Os dissidentes da Coreia do Norte precisam enfrentar jornadas dificílimas para deixar o país e podem correr o perigo de serem traficados para outras regiões.

Para o professor Poggio, a permanência da proibição de circulação de pessoas entre as Coreias e a presença de outros muros pelo mundo vai contra o que era esperado para o mundo no século 21.

"A criação de todos esses muros é uma negação ao discurso pós-Guerra Fria de que viveríamos em um mundo aberto, globalizado, com trocas globais de comércio”, afirma.

Por que a construção de muros é uma contradição do mundo globalizado?

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GEOPOLÍTICA

Por que a construção de muros é uma contradição do mundo globalizado?

Os diferentes muros sociais que se erguem no mundo contemporâneo

As cidades muradas da Idade Média eram constituídas para proteger suas comunidades do invasor, da barbárie. Os muros de nossa história contemporânea – construídos por Israel na Cisjordânia, no lado leste da Palestina e pelos Estados Unidos, na fronteira com o México – por trás de uma função comum, que é "tentar impedir, de modo absoluto, a transposição, pela população, da fronteira entre duas unidades políticas distintas", diferenciam-se do seu congênere mais famoso de nosso passado recente, o muro de Berlim. Na análise dos geógrafos Ricardo Castillo (da Unicamp) e Ricardo Mendes Antas Junior (da Unifieo), apesar das conseqüências trágicas, o muro de Berlim derivou-se de um período histórico de equilíbrio político – a Guerra Fria – entre duas potências: os EUA e a União Soviética. Já os atuais, em território palestino e mexicano, representam a exacerbação do poder, "a tirania de poderes desmedidos e sem peias".

As fronteiras, obsoletas no conceito popular da globalização, estão longe de acabar, mas passam por uma profunda reformulação, avaliam os pesquisadores. "Conforme várias vezes afirmou o geógrafo Milton Santos – pensador atual que melhor refletiu sobre o tema – da mesma forma que as fronteiras podem ser um instrumento de coação e controle, também se apresentam como instrumento de proteção e de emancipação das sociedades nacionais", afirmam.

Pouco comentado, o "muro do México" (ou "muro do Império", como preferem alguns) que separa este país dos Estados Unidos, vai da praia de Tijuana, no Oceano Pacífico, e se estende sem interrupção por toda a fronteira entre os dois países até chegar no rio Grande. Começa a 150 metros mar adentro, como uma armação de 8 metros de altura de barras de aço e concreto, e se transforma numa linha de alambrados, paredes de concreto ou marcas de pedra. Alguns pontos estratégicos são vigiados com rigor, usando-se de câmeras, luzes e sensores eletrônicos, controlados pela polícia de fronteira.

Estudos da Universidade de Houston mostram que de 1994 até hoje morreram mais de 2,2 mil pessoas tentando atravessar a fronteira. O ano de 1994 marca a criação da Operation Gatekeeper, na Califórnia, especializada na vigilância da fronteira. Até aquele ano, o número de mortes vinha diminuindo, mas passa a crescer em 1995. Um aumento significativo é registrado entre os anos de 1999 e 2000, pulando de 250 para mais de 350 mortes por ano. Em quase 30 anos de história, morreram entre 800 e 1 mil pessoas tentando atravessar o muro de Berlim.

Para Castillo e Antas, o muro entre o México e os Estados Unidos é apenas a evidência concreta que separa o mundo subdesenvolvido do desenvolvido de modo geral. "É o caso mais grave, pois esse muro é uma absolutização de uma das maiores contradições do período atual: a maior concentração de riquezas já havida na história. O fato é que há, também, um "muro" entre Brasil e Estados Unidos. E entre nós e a Inglaterra, a França, a Alemanha etc". Para eles, enquanto a circulação de mercadorias, capitais, informações e fluxos financeiros fica liberada no contexto atual, a dos homens é cada vez mais restringida.

MURO ÉTNICO Já o muro localizado no Oriente Médio, que adentra territórios palestinos ocupados por Israel teria outra natureza. "Esse é um muro étnico, da recusa de integração entre povos, da recusa da paz", dizem os pesquisadores. Alegando questões de segurança, o governo de Israel está construindo uma barreira de mais de 700 km na Cisjordânia.

Com exceção do governo norte-americano, as principais lideranças internacionais têm condenado, com alguma veemência, Israel pela construção do muro. A fronteira que ele estabelece vai além da chamada "linha verde", marco internacionalmente reconhecido como limite de Israel. Em artigo intitulado "Muro, humilhação e roubo", o lingüista e ativista político americano de origem judaica Noam Chomsky questiona os argumentos de segurança para sua construção. "O que o muro realmente faz é tomar terras palestinas", afirma. Segundo ele, a área que Israel está tomando para si possui os melhores recursos naturais da região. Os colonos israelenses instalados nesse território terão garantido o direito de uso da terra; já os palestinos precisarão reivindicar o direito de "viverem em suas próprias casas", afirma Chomsky. Após a pressão internacional, Israel anunciou que alterará o desenho atual do muro, aproximando-o – mas não o igualando – da "linha verde".

Rafael Evangelista

Por que a construção do muro pode ser vista como uma contradição?

Resposta:Embora os tempos de Globalização apregoem a maior aproximação das diferentes partes do planeta, com a diminuição das distâncias e dos obstáculos, ainda são vários os muros que dividem o mundo e que continuam a difundir-se por ele.

Por que alguns países estão criando muros e barreiras para impedir a entrada de imigrantes?

O principal motivo para a criação dos muros contemporâneos é o controle do fluxo migratório nas fronteiras dos países.

Porque alguns países constroem muros para isolar seu território?

As justificativas pelos responsáveis por erguer essas estruturas nos limites entre dois países são controlar a entrada de imigrantes, criar zonas de segurança e garantir um cessar-fogo.

Quais foram os objetivos da construção de cada um dos muros retratados?

1) Quais foram os objetivos da construção dos dois muros retratados? R: O primeiro muro entre EUA e México foi construído para impedir a entrada ilegal dos mexicanos. O segundo muro refere-se ao muro de Berlim e foi construído para dividir o território sob a influência do Socialismo e do Capitalismo.