O envelhecimento do sistema músculo-esquelético e a abordagem fisioterapêutica

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Introdu��o

O envelhecimento e o sistema m�sculo esquel�tico

    A medida que se entra na fase adulta, passa-se a experimentar importantes altera��es fisiol�gicas que afetam o comportamento humano. V�rias teorias t�m sido apresentadas no sentido de buscar uma maior compreens�o sobre as reais causas e implica��es deste processo, e ao que tudo indica, n�o existe apenas uma, mas sim um conjunto de fatores que causam o envelhecimento e que se comportam de forma din�mica em cada pessoa. O n�vel no qual essas teorias abordam a essas quest�es, varia a partir do n�vel celular ao n�vel de todo o organismo (Gallahue e Ozmun, 2001). O envelhecimento � um processo cont�nuo durante o qual ocorre um decl�nio progressivo de todos os processos fisiol�gicos, sendo que muitos geront�logos acreditam que algumas modifica��es fisiol�gicas e psicol�gicas observadas no idoso podem, de fato, ser em parte atribu�das ao estilo de vida sedent�rio (N�brega et al., 1999). Leite (1996), apresenta o chamado ciclo vicioso do envelhecimento e afirma que este est� associado a uma redu��o na atividade f�sica. N�brega et al (1999) tamb�m apresentam o mesmo ciclo do envelhecimento, ilustrado na Figura 1:

Figura 1. C�rculo vicioso do envelhecimento.


Fonte: N�brega et al. (1999).

    De acordo com a Figura acima, nota-se que com a falta de exerc�cios f�sicos ocorre um descondicionamento, que segundo os autores leva a fragilidade do sistema m�sculo esquel�tico. Fleck e Kraemer (2002), destacam entre as in�meras fun��es do sistema m�sculo-esquel�tico a import�ncia principalmente da for�a para as capacidades funcionais nos idosos. Segundo o mesmo autor, a fraqueza dos m�sculos pode avan�ar at� que uma pessoa idosa n�o possa realizar as atividades comuns da vida di�ria, tais como as tarefas dom�sticas, levantar-se de uma cadeira, varrer o ch�o ou jogar o lixo fora.

    Tomando-se como base leituras realizadas pela ci�ncia biol�gica dos idosos observamos que a partir dos 30 anos de idade, j� se inicia o processo degenerativo do sistema org�nico. Esse processo lento, complexo, multifatorial, n�o acontece de uma s� vez, nem atinge todos os sistemas ao mesmo tempo, pois depende de fatores que n�o esgotam apenas no aspecto biol�gico (Soares, 2002).

    Segundo Matsudo (2001) a perda da massa muscular e conseq�entemente da for�a muscular � o modo principal de se notar a deterioriza��o da mobilidade e da capacidade funcional do indiv�duo que est� envelhecendo. Para a mesma autora, � por esta raz�o que se desperta o interesse de pesquisadores a procura das causas e mecanismos envolvidos na perda da for�a muscular com o avan�o da idade, para que se criem estrat�gias que minimizem este efeito delet�rio e para que se possa manter uma boa qualidade de vida nesta etapa da vida.

    Para N�brega et al (1999), o sistema neuromuscular no homem alcan�a sua matura��o plena entre 20 e 30 anos. A for�a muscular � essencial para o desempenho de habilidades motoras, sejam elas relacionadas ao desempenho atl�tico de alto n�vel, ou � vida di�ria funcional. Para Gallahue e Ozmun (2001) com a idade, a estrutura e a fun��o dos m�sculos esquel�ticos alteram-se. Estruturalmente, a massa muscular diminui a medida que o n�mero e o tamanho das fibras musculares declinam durante o final da meia-idade e dos anos posteriores da idade adulta. Para N�brega et al (1999) entre as 3� e 4� d�cadas de vida, a for�a m�xima permanece est�vel ou com redu��es pouco significativas. Em torno dos 60 anos � observada uma redu��o de for�a m�xima muscular entre 30 e 40%, o que corresponde a uma perda de for�a de cerca de 6% por d�cada dos 35 aos 50 anos de idade, a partir da�, 10% por d�cada. Leite (1996) apresenta a rela��o entre a idade e a for�a muscular, onde podemos observar que ocorre um decl�nio pelo menos de 16,5% na for�a muscular ap�s a terceira d�cada de vida.

    Essa perda de for�a, segundo Leite (1996) relaciona-se diretamente a uma mobilidade e a um desempenho f�sico limitados, assim como aumentos na incid�ncia de acidentes sofridos pelas pessoas com fraqueza muscular. A perda de for�a na preens�o manual em homens por volta dos 65 anos � aproximadamente 20% em compara��o com os valores para os indiv�duos de 20 anos; para as mulheres a perda no transcorrer desses mesmos 45 anos varia de 2 a 20%. O menor decl�nio nas mulheres poderia ser atribu�do a uma for�a m�xima relativamente menor nos anos mais jovens, em virtude do menor uso profissional das m�os. O mesmo autor ainda apresenta outros dados de indiv�duos com mais de 65 anos de idade que sugerem que a redu��o na for�a sofre uma acelera��o adicional com o envelhecimento, com a perda global de for�a relacionada � idade, variando de 24% a 45%.

    Funcionalmente, a redu��o na for�a muscular parece ocorrer ao mesmo tempo em que ocorrem perdas no tecido muscular. Por�m Gallahue e Ozmun (2001) afirmam que embora uma perda de massa muscular ou atrofia muscular pare�a ocorrer com a idade, estas altera��es tamb�m s�o decorrentes da inatividade f�sica. Leite (1996) afirma que a atrofia muscular devida a idade tem in�cio no jovem adulto, ou seja, em torno dos 30 anos. O indiv�duo n�o treinado perde cerca de 10% de sua massa muscular at� os 50 anos. A partir da�, o processo de atrofia se acelera visivelmente aos 80 anos. Fiatarone et al apud Gallahue e Ozmun (2001) demonstram que em programas de treinamento de for�a realizados com idosos de 90 anos, esses apresentam uma melhora na for�a muscular e um aumento na massa muscular. Em estudos recentes, realizados com indiv�duos entre 50 e 80 anos, Antoniazzi, Dias e Lang (2003) verificaram que o treinamento com caracter�sticas de resist�ncia muscular s�o eficientes para melhorar a for�a muscular nos indiv�duos estudados.

    Segundo Leite (1996) a atrofia muscular da idade avan�ada corre por conta principalmente da perda de fibras musculares, sendo em grau menor devida � redu��o do tamanho das fibras. A redu��o do n�mero de fibras musculares diz respeito aos dois tipos de fibras; a diminui��o do tamanho afeta principalmente as fibras do tipo II. Parece que o mecanismo respons�vel n�o � tanto um processo miog�nico e sim um fen�meno neurog�nico, no qual a reinerva��o n�o � capaz de acompanhar a denerva��o e reinerva��o. Segundo o mesmo autor, as fibras musculares, que deixam de ser inervadas, acabam perecendo, sendo em parte substitu�das por gordura e tecido conjuntivo. Esse mecanismo explica a acentuada diminui��o da porcentagem de tecido muscular contr�til na musculatura do indiv�duo idoso que para Lexell apud Matsudo (2001) � ap�s os 60 anos que o m�sculo passa por esse processo cont�nuo de denerva��o e reinerva��o. Essa altera��o na estrutura do m�sculo poderia explicar porque a redu��o do tecido muscular contr�til seria maior que a redu��o real do volume muscular e da �rea muscular transversa.

    Al�m disso, o incremento da idade est� associado a uma redu��o de aproximadamente 25% da capacidade muscular oxidativa e do fluxo sangu�neo durante a atividade contr�til (Rogers e Evans apud Matsudo, 2001). Para Cartee, P�ster et al. apud Matsudo (2001) o tamanho da fibra tipo II � reduzida com o incremento da idade, enquanto que o tamanho da fibra tipo I (fibra de contra��o lenta) permanece muito menos afetada. As fibras tipo II s�o muito importantes nas respostas �s urg�ncias do dia-a-dia, pois contribuem com o tempo de rea��o e principalmente de resposta, e, portanto, sua disfun��o inviabilizaria uma apropriada resposta corporal �s situa��es de emerg�ncia, como a perda s�bita do equil�brio.

    Segundo Matsudo (2001) as principais causas apontadas como respons�veis pela redu��o seletiva da massa muscular, s�o a diminui��o nos n�veis do horm�nio do crescimento que acontece com o envelhecimento e dos n�veis de atividade f�sica do indiv�duo. Fatores nutricionais, hormonais, end�crinos e neurol�gicos tamb�m devem ser lembrados, pois est�o envolvidos na perda da for�a muscular que acontece com a idade.

    Com rela��o ao esqueleto, observa-se uma diminui��o gradual com o passar do tempo na espessura dos ossos e na resist�ncia e na arquitetura do tecido �sseo. Por�m, estas mudan�as podem ser moduladas especialmente em fun��o do tipo de alimenta��o das pessoas e dos h�bitos de atividade f�sica. Outro aspecto que influencia bastante o metabolismo �sseo s�o as mudan�as dos n�veis hormonais que ocorrem principalmente nas mulheres durante e depois do climat�rio. Apesar destas altera��es hormonais levarem a uma perda maior da massa �ssea em compara��o com os homens, os fatores nutricionais e a atividade f�sica na juventude e ao longo do processo do envelhecimento podem contribuir muito fortemente para que as mudan�as no esqueleto sejam graduais e favore�a uma boa qualidade de vida (Moriguchi e Jeckel Neto, 2003).

    Segundo N�brega et al (1999) no idoso tamb�m ocorre a redu��o da massa �ssea, mais freq�entemente em mulheres, o que pode predispor � ocorr�ncia de fraturas. Para Gallahue e Ozmun (2001), v�rias altera��es dentro da estrutura esquel�tica aparecem a medida que a pessoa envelhece. Muitos indiv�duos apresentam um encurtamento na estrutura. Este encolhimento pode ser atribu�do a uma ou mais causas. � propor��o que o envelhecimento avan�a, os discos que separam as v�rtebras principalmente da coluna dorsal passam por v�rias altera��es. Em um estado saud�vel, os discos intervertebrais possuem n�cleos similares � gelatina. Os discos vertebrais de adultos mais velhos freq�entemente perdem uma por��o de conte�do de �gua, que � importante para a absor��o de choques, tornando-se mais fibrosos. Isto, juntamente com altera��es da densidade mineral �ssea nas v�rtebras, resulta em compress�o dos discos. A compress�o dos discos reduz o comprimento da coluna vertebral e causa a perda subseq�ente de altura total conforma ilustra a Figura 2. Para Gallahue e Ozmun (2001) as fraturas por compress�o de v�rtebras tor�cicas levam a perda de estatura e cifose tor�cica progressiva. As costelas inferiores eventualmente ap�iam-se nos ossos dos il�acos e a press�o para baixo exercida sobre as v�sceras causa distens�o abdominal. Outros fatores que contribuem pata a perda de altura relacionada a idade incluem o mau alinhamento da coluna e a m� postura. O curvamento da coluna pode resultar de uma redu��o na capacidade de absor��o de choques dos discos vertebrais.

Figura 2. Perda da estatura com o envelhecimento.


Fonte: Gallahue e Ozmun (2001).

    Para Hayflick (1997), a massa �ssea � vari�vel, aumenta na inf�ncia, adolesc�ncia e fase adulta, atingindo seu pico entre os 13/35 anos, sendo mais densa nos homens do que nas mulheres. Segundo Lorda (1995) com a idade ocorre a perda de massa �ssea, sendo mais prematura na mulher que, a partir dos 35 anos de idade apresenta um �ndice de aproximadamente 1% ao ano, enquanto que o homem inicia esta perda por volta dos 55 anos, perdendo de 10 a 15% com a idade de 72 anos.

    A diminui��o de massa �ssea esteja ligada � redu��o nas concentra��es de horm�nios (estrog�neo, horm�nios de paratire�ide, calcitonina, costiester�ides e progesterona); fatores nutricionais (defici�ncia de vitamina D, e de c�lcio); imobilidade causada pelo estilo de vida sedent�rio (doen�as, fraturas, problemas articulat�rios) e status da massa �ssea na maturidade (bi�tipo baixo, magro e caucasiano) (Mazo, Lopes e Benedetti, 2001). Para Matsudo (2001) a perda de massa �ssea est� relacionada n�o somente ao envelhecimento, mas tamb�m a gen�tica, ao estado nutricional, e ao n�vel de atividade f�sica do indiv�duo.


Considera��es finais

    Buscou-se, atrav�s deste texto de revis�o, abordar algumas quest�es relacionadas ao envelhecimento, principalmente ao decl�nio das fun��es do sistema m�sculo esquel�tico. Estudos mostram que al�m das altera��es normais do processo de envelhecimento, o uso, desuso e intensidade de uso, s�o fatores primordiais na manuten��o das fun��es deste sistema e, desta forma, por se tratar de um sistema intimamente ligado �s necessidades de locomo��o e sustenta��o e por conseguinte � autonomia e qualidade de vida de todas as pessoas em especial dos idosos, deve-se resguardar suas fun��es com um estilo de vida mais ativo e saud�vel.


Refer�ncias bibliogr�ficas

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Qual o papel da fisioterapia no declínio músculo Esqueletico no envelhecimento?

A fisioterapia tem um papel importante nesse processo de senescência do sistema músculo-esquelético, já que minimiza seus efeitos, retardando as possíveis complicações Além disso, proporciona uma interação social, e melhora na qualidade de vida.

O que acontece com a musculatura esquelética no envelhecimento?

Durante o envelhecimento, a perda progressiva da massa muscular esquelética, com diminuição no número e tamanho das fibras tipo II e uma diminuição paralela da força e resistência muscular, são achados frequentes em diferentes populações.

Quais são as alterações fisiológicas relacionadas ao envelhecimento?

Com o avanço da idade, uma das consequências é a redução do teor de água no organismo do idoso, o que pode levar à desidratação. Além disso, também há uma redução da massa muscular, o que pode desenvolver a sarcopenia, e uma redução da massa óssea, o que pode desenvolver um quadro de osteoporose.

Qual a importância das alterações Músculo

A perda da massa muscular e consequentemente da força muscular é a principal responsável pela deterioração na mobilidade e na capacidade funcional do indivíduo que está envelhecendo, tendo como consequências funcionais no andar e no equilíbrio, aumentando o risco de queda e perda da independência física funcional, mas ...

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