E possível enxergar as mesmas constelações no céu em qualquer região do planeta explique?

Christiane Oliveira Publicado em 10/06/2020, às 10h00 - Atualizado em 31/03/2022, às 13h00

Constelações são como um mapeamento imaginário das estrelas, dividindo o céu em 88 conjuntos. A ideia para esses grupos de estrelas foi criada pelo ser humano há cerca de 4000 anos, quando notamos que algumas delas estavam sempre no mesmo lugar, formando figuras.

É importante lembrar que as estrelas que formam as constelações não são um verdadeiro grupo —elas só parecem estar agrupadas quando são vistas da Terra. Se visitássemos outros planetas e olhássemos para o céu, não conseguiríamos ver as mesmas formações.

Algumas constelações são mais visíveis do Hemisfério Norte, outras do Hemisfério Sul. Há também aquelas que ficam perto do Equador Celeste — prolongamento da Linha do Equador —, entre os dois hemisférios, e por isso são mais fáceis de enxergar de qualquer ponto. Há variações ao longo do ano: algumas são típicas do inverno, como a de Escorpião; outras, como a do Cruzeiro do Sul, aparecem sempre.

Já reparou que quando você viaja para uma chácara ou para um sítio consegue ver mais estrelas e constelações no céu? Isso acontece por dois motivos: a iluminação das cidades ofusca o brilho delas, e o nevoeiro formado pela poluição esconde grande parte das estrelas.

As 88 constelações são divididas em Boreais (que estão no Hemisfério Norte), Austrais (que estão no Hemisfério Sul) e Zodiacais (que estão mais próximas do Equador, entre os dois hemisférios). Saiba mais sobre as constelações mais conhecidas:

Órion

A constelação de Órion é a que tem, no centro, as famosas Três Marias ou os Três Reis. Elas estão alinhadas e têm um brilho forte e de mesma intensidade. Essa constelação pode ser vista de quase todos os lugares dos dois hemisférios, pois está localizada em cima do Equador Celeste. Nas noites de verão do Hemisfério Sul, se torna ainda mais visível.

Escorpião

Essa constelação domina o céu durante o inverno e tem esse nome porque lembra a estrutura física do aracnídeo. Pode ser vista em todo o Hemisfério Sul e em parte do Norte — mais próximo do Equador.

Cisne

Lembra a estrutura da ave, por isso recebeu esse nome. É possível ver essa constelação de todo o Hemisfério Norte e em boa parte do Sul — mais perto do Equador.

Cruzeiro do Sul

É a menor das constelações, e já pertenceu à constelação do Centauro. Dá para vê-la dos dois hemisférios, mas, por estar mais perto do Sul, no Norte é preciso se aproximar da linha do Equador.

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Há mais de 2.000 anos, os antigos gregos observavam a natureza e demonstravam a partir de seus experimentos que o planeta Terra era esférico. Aristóteles (384 - 322 a.C), por exemplo, chegou a esta conclusão ao observar a sombra de nosso planeta sobre a Lua durante um eclipse. Eratóstenes (276 - 194 a.C) mediu a sombra de um mesmo objeto no mesmo horário em lugares diferentes, e a partir da diferença de tamanho estimou a circunferência do planeta.

Da antiguidade aos dias atuais, a observação é a principal matéria-prima do método científico.

"O fato de a Terra ser redonda elucida de uma só vez várias situações medidas que você não consegue explicar utilizando a hipótese de que a Terra é plana", afirma o professor de física Bruno Carneiro da Cunha, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). "E a parte muito interessante da ciência é que conseguimos chegar a consensos exatamente porque partimos de experimentos que podem ser repetidos e dados que podem ser observados por outras pessoas e chegamos à mesma conclusão."

Como completa Gustavo Rojas, pesquisador da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), "a natureza simplesmente é, não está nem aí para o que a humanidade acha disso".

Reunimos nos próximos parágrafos algumas observações que podem ser repetidas por qualquer pessoa e são explicadas pela forma da Terra —redonda ou, mais precisamente, de um geoide, com leve achatamento nos polos— e por seu movimento em torno do Sol.

Ali onde a vista alcança

Quando observamos um barco que navega em direção ao horizonte, a imagem que temos não é a de um objeto que fica menor e menor até se tornar invisível. Na verdade, é possível perceber que ao chegar na linha do horizonte o barco começa a desaparecer em partes, o casco do navio deixa de ser visível, depois seu corpo e por último seu mastro.

Isso acontece por conta da curvatura da Terra, que faz com que nossa visão do horizonte esteja limitada a uma linha reta que alcança até certo ponto da curvatura terrestre. A partir de lá, o objeto que segue rumo ao horizonte desaparece abaixo desta linha. Sendo assim, mesmo com a ajuda de uma luneta para ampliar a imagem, o barco ainda vai desaparecer do campo de visão.

Com a altura e o raio da esfera, é possível calcular a distância do horizonte que conseguimos enxergar

Imagem: Divulgação/CERF-IFRS

De cima da árvore, de cima da casa

A distância até onde vemos algo no horizonte está diretamente relacionada com a curvatura da Terra e com a altura de onde a observação é feita, e essa distância pode ser calculada em uma fórmula matemática.

Usando uma calculadora online da curvatura da Terra, é possível perceber que uma pessoa cujos olhos estão a 1,5 metro do chão vê o horizonte a 4,37 km. Já alguém com o olhar a 3,5 metros do chão é capaz de ver o horizonte a 6,67 km.

Ou seja, subir em uma árvore ou na laje de uma casa permite ampliar seu horizonte de visão em mais de dois quilômetros. Não acredita? Basta fazer o teste de observação em dois pontos de altura diferente -a melhor maneira é em algum lugar plano ou com espaço descampado à frente.

Dias mais longos, mais curtos e as estações do ano

Às vésperas do inverno, o número de horas de luminosidade solar é cada vez menor e as noites cada vez mais longas. Para quem está em São Paulo, no final de junho, o sol nasce por volta das 6h45 e se põe antes das 17h30.

Em dezembro, o contrário acontece. O nascer do sol acontece antes das 6h25 e o pôr do sol só chegará depois das 19h45.

O motivo dessa diferença de iluminação é descrito pelo formato da Terra e por sua inclinação, a posição das partes do planeta com maior tempo ou menor tempo diário de exposição ao Sol muda ao longo do ano -por conta do movimento de translação. Assim, em junho, o hemisfério sul passa a maior parte de seus dias na parte não iluminada do globo. Já no final do ano, o mesmo hemisfério recebe mais horas de Sol em sua face.

Esta diferença de horas de iluminação —e de diferenças climáticas entre inverno e verão— é menor conforme nos aproximamos da linha do Equador, que marca o meio do planeta.

Tamanho da sombra e ângulo de iluminação

Um objeto colocado abaixo de uma luminária não tem sombra a seu redor, no entanto, conforme afastamos este objeto da fonte de luz, o tamanho da sombra aumenta. Isso se dá pela mudança no ângulo de iluminação, e é possível calcular este ângulo ao comparar dois objetos iluminados em lugares diferentes e o tamanho de suas sombras em cada lugar.

É isso que fez o grego Eratóstenes para calcular a circunferência do planeta Terra. Um mesmo objeto em lugares diferentes da Terra no mesmo horário recebe iluminação do Sol sob diferentes ângulos. Assim, fazendo a medida da sombra de um bastão em dois lugares diferentes da Terra (a centenas de quilômetros de distância), ele calcula a circunferência do planeta e chega ainda na antiguidade a um valor próximo do real (15% maior que o que temos hoje, segundo o físico João E. Steiner).

Crianças gregas repetiram o experimento de Eratóstenes em escola primária da cidade de Atenas

Imagem: Emmanouela Vamvaka/Divulgação Eratosthenes Experiment 2019

O experimento parece difícil de ser repetido sem ajuda, mas há um projeto global que reúne escolas de todo o mundo para refazer o experimento, trocar informações e calcular a circunferência terrestre.

Desde 2015, mais de 5.500 escolas em 105 países já participaram do experimento. A próxima medição global acontecerá em setembro de 2019.

O Cruzeiro do Sul e a Estrela Polar

O Brasil traz no centro de sua bandeira a constelação do Cruzeiro do Sul, conhecida por suas cinco estrelas mais brilhantes que apontam a direção sul. A constelação, tão conhecida dos brasileiros e dos navegadores do hemisfério sul, não é vista por quem observa o céu noturno nos Estados Unidos ou na Europa.

Já a Estrela Polar (uma das estrelas da constelação Ursa Menor), usada recorrentemente para indicar a direção norte do planeta, é vista apenas por quem está na região norte do planeta, e não serve de bússola natural para os moradores do Brasil.

Com pontos de vistas diferentes do Universo, os moradores do hemisfério sul e do hemisfério norte veem áreas diferentes do céu.

As três estrelas conhecidas como "Três Marias" formam o Cinturão de Órion. Órion é uma constelação classificada como equatorial por estar na região central do céu e poder ser vista tanto por moradores do hemisfério sul quanto do hemisfério norte. No entanto, não sob o mesmo ponto de vista.

Quem vê Órion a partir da parte sul do planeta tem a imagem do caçador de ponta cabeça. Para testar, use um aplicativo como o Sky Map para a localização dos astros durante a observação noturna do céu.

A lua crescente, ao lado do Cristo Redentor, parece um "C" no céu do hemisfério sul

Imagem: Alessandro Buzas/Futura Press/Estadão Conteúdo

Outra curiosidade, a mudança de ponto de vista entre o hemisfério norte e sul também altera a forma como vemos a lua crescente. A lua crescente que aparece como um "C" no céu brasileiro é vista como um "C" invertido no céu dos EUA ou da Europa.

A lua crescente, ao fundo da Torre Eiffel, aparece com um "C" invertido na noite de Paris

Imagem: Ludovic Marin/AFP

Fontes: Gustavo Rojas, pesquisador da UFSCar, Bruno Carneiro da Cunha, pesquisador da UFPE, Centro de Referência para o Ensino de Física da UFRGS, Eratosthenes Experiment 2019 e "A Origem do Universo", de João E. Steiner.

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É possível enxergar as mesmas constelações no céu em qualquer região do planeta explique?

Algumas constelações só podem ser vistas completamente por alguém que se encontra numa determinada região da Terra. Por exemplo, a Ursa Menor não é observada por nós no Hemisfério Sul, somente por quem está no Hemisfério Norte.

É possível ver todas as constelações zodiacais no céu ao mesmo tempo?

Durante todo o ano os asterismos zodiacais podem ser vistos ao longo da eclíptica, linha imaginária que representa a trajetória do Sol.

Por que a visão das constelações é diferente entre o hemisfério norte e o hemisfério sul da Terra?

Outra diferença importante entre os dois hemisférios está no movimento que observamos para as estrelas ao longo de uma noite pois elas giram em torno do polo norte celeste (no hemisfério norte) em sentido anti-horário e em torno do polo sul celeste (no hemisfério sul) em sentido horário.

Por que as estrelas estão sempre no mesmo lugar?

Embora as estrelas pareçam estar fixas no céu, elas na verdade se movem no espaço com velocidades altas, da ordem de dezenas ou centenas de km/s. Suas distâncias gigantescas fazem com que estes movimentos sejam quase imperceptíveis. O movimento aparente das estrelas no céu, embora pequeno, é mensurável.

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