Como e a atuação da corrente do Golfo?

As correntes marítimas, de forma simplificada, são os fluxos de água com características comuns que se deslocam ao longo dos oceanos. Entre essas características específicas, destacam-se a salinidade e, principalmente, as temperaturas, fazendo com que exista uma direta relação entre as correntes marítimas e o clima do planeta, bem como a distribuição de calor sobre a superfície oceânica. Em outras palavras, elas constituem-se como um importante fator climático.

Por causa do movimento de rotação da Terra e do consequente efeito coriólis (uma força inercial que atua sobre um corpo cujo sistema de referência encontra-se em rotação), as correntes marinhas circulam em sentidos diferentes entre os dois hemisférios: no norte, elas percorrem o sentido horário e, no sul, elas percorrem o sentido anti-horário. A direção que elas assumem é importante não só para o clima, mas também para definir a direção em que se deslocam várias espécies de animais marinhos, contribuindo para o equilíbrio dos ecossistemas oceânicos e também para atividades econômicas relacionadas com a pesca.

Os fatores responsáveis pelas correntes marítimas são, notadamente, o deslocamento dos ventos e das massas de ar, além das diferenças de temperatura, de salinidade e de pressão atmosférica, de forma que o relevo submarino e até a forma dos continentes e ilhas também interferem na orientação do deslocamento dessas correntes.

Como a temperatura é um dos principais fatores relacionados com essa dinâmica das águas dos oceanos, ela é utilizada como critério para a classificação das correntes marítimas. Assim, as correntes são divididas em quentes e frias.

Correntes quentes: são provenientes das faixas equatoriais do planeta, onde a insolação é maior e as temperaturas também. Essas características fazem com que elas sejam mais superficiais e se desloquem mais rapidamente do que as demais correntes. Nelas, o índice de evaporação é maior, o que faz com que as áreas banhadas por elas recebam uma maior quantidade de umidade. As principais correntes quentes são as correntes das Guianas, do Golfo do México e a do Brasil.

Correntes frias: inversamente, as correntes frias são provenientes de faixas polares, com elevadas latitudes, sendo, portanto, mais frias. Elas deslocam-se em direção à Linha do Equador. Como as substâncias frias são naturalmente mais densas, essas correntes costumam ser mais profundas e deslocam-se mais lentamente. Da mesma forma, o índice de evaporação é menor, fazendo com que as áreas próximas recebam menos umidade e chuvas. As principais correntes frias são as de Humboldt, na costa oeste da América do Sul, e a Circumpolar Antártica.

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Como e a atuação da corrente do Golfo?

Mapa demonstrativo das principais correntes oceânicas da Terra

As correntes frias possuem uma relevante função ambiental, pois, como são mais profundas, interferem na movimentação de depósitos orgânicos existentes nas áreas mais submersas das áreas oceânicas. Esses depósitos afloram, então, à superfície e atraem uma grande quantidade de cardumes, de forma que favorecem a prática da pesca, em um fenômeno chamado de ressurgência.

A corrente fria de Humboldt constitui-se como um grande exemplo de como as correntes marítimas interferem no clima, fazendo surgir paisagens que, aparentemente, não estão relacionadas a elas, como os desertos. Como as suas temperaturas são baixas, ela não gera muita umidade, fazendo com que o seu ambiente ao redor fique seco e atraia todo o ar úmido que por ele passe. Com isso, os ambientes litorâneos próximos (no caso, a costa do território do Chile) recebem pouca umidade, o que, somado a outros fatores, faz com que se constitua o conhecido Deserto do Atacama.

Outra importante função das correntes marítimas em relação ao clima global é a distribuição das temperaturas, que impede que as áreas que recebem mais radiação solar fiquem continuamente mais quentes e as áreas polares fiquem continuamente mais frias, pois distribuem o calor. Por isso, o estudo da dinâmica de cada uma das correntes existentes é sistematicamente realizado por especialistas em oceanografia, climatologia e áreas afins, pois nos permite compreender melhor as relações das dinâmicas naturais do planeta Terra.

Novo modelo mostra que esteira oceânica que transporta calor à Europa é mais vulnerável ao aquecimento global do que se imaginava, mas só pararia em séculos não de anos; Brasil seria afetado

04.01.2017 - Atualizado 04.01.2017 às 00:00 |

CLAUDIO ANGELO
DO OC

Cientistas chineses trabalhando nos EUA trouxeram nesta quarta-feira uma notícia agridoce sobre um dos efeitos mais temidos do aquecimento global. Um modelo climático feito por eles mostra que a corrente oceânica que leva calor dos trópicos à Europa é mais vulnerável do que se imaginava às mudanças do clima, e desligará completamente caso a quantidade de gás carbônico na atmosfera siga aumentando. Por outro lado, esse desligamento ocorreria em séculos, não em anos ou décadas.

Conhecida como circulação termoalina do Atlântico, essa imensa esteira oceânica é um dos principais sistemas de regulação do clima da Terra. Sua face mais conhecida é a Corrente do Golfo, uma corrente quente que migra pela superfície do Atlântico tropical até as imediações do Ártico. No Atlântico Norte, ela fica mais fria e mais salgada (devido à evaporação da água no caminho), afundando e retornando aos trópicos na forma de uma corrente fria submarina. A dissipação de calor dessa corrente é o que mantém a Inglaterra e o norte da Europa com um clima relativamente tépido, mesmo estando em uma latitude elevada.

Desde os anos 1980 os cientistas têm postulado que o aquecimento global, ao derreter o gelo e a neve do Ártico, lançaria grande quantidade de água doce no oceano, diluindo o sal da corrente e impedindo que ela afundasse. O efeito imediato seria a suspensão do transporte da calor para a Europa, que mergulharia numa espécie de era do gelo. Isso já aconteceu há 8.200 anos e resfriou o Velho Continente por dois séculos. Poderia acontecer de novo de forma rápida e causar problemas sérios à civilização, caricaturados no filme-catástrofe O Dia Depois de Amanhã, de 2004.

Observações feitas até aqui, que são esparsas, têm mostrado que justamente desde 2004 esteira oceânica está em sua menor potência nos últimos mil anos, provavelmente por causa do aquecimento global. Alguns cientistas temem que o colapso já tenha começado.

Ocorre que os modelos computacionais que simulam o clima da Terra no futuro, usados pelo IPCC (o painel do clima da ONU), têm falhado sistematicamente em apontar instabilidade no sistema. Por consequência, o desligamento repentino da corrente é considerado pouco provável pelo painel.

Entram em cena Wei Liu, da Universidade da Califórnia em San Diego (hoje na outra costa do país, na Universidade Yale), e colegas. Em estudo publicado nesta quarta-feira no site da revista Science Advances, o grupo aponta que os modelos padecem de um viés: uma distorção faz a corrente parecer artificialmente mais estável do que é de fato.

A origem do problema está longe da Europa, no Atlântico Sul. Essa região do oceano tropical, perto do equador, recebe chuvas constantes na chamada Zona de Convergência Intertropical, o cinturão de tempestades onde massas de ar aquecido dos dois hemisférios se encontram.

Liu e colegas dizem que os modelos do IPCC assumem que há mais água doce oriunda dessas chuvas na corrente do que há de fato. Isso causaria nos modelos uma ilusão de estabilidade – quanto mais água doce no trópico, menor a diferença de salinidade perto do Ártico, portanto, menos suscetível a perturbações a corrente seria. Esse viés, afirma Liu, já havia sido sugerido por outros estudos no passado.

O que o chinês e seu grupo fizeram foi ajustar um dos modelos de acordo com parâmetros de salinidade que eles consideravam mais realistas. Mas não apenas isso: a correção do viés tornou a corrente mais instável e vulnerável ao próprio aquecimento da água do mar – algo que casa melhor com as observações. “O aquecimento reduz a densidade da água e impede a convecção”, disse Liu ao OC.  “O método não é perfeito, mas é o melhor que podemos fazer agora para corrigir o viés e fazer uma projeção mais confiável.”

Os pesquisadores usaram o modelo ajustado para estimar o que acontece com a esteira oceânica caso o nível de CO2 na atmosfera duplique – algo que acontecerá por volta de meados do século se medidas radicais de controle de emissões não forem tomadas.

Aqui vem a nota de alívio do estudo: o colapso da corrente ocorre nas simulações apenas 300 anos após a quantidade de CO2 dobrar na atmosfera. Questionado sobre se isso era uma boa notícia, Liu foi cauteloso: “Sim, 300 anos são muita coisa comparado a uma vida humana, mas mudanças notáveis podem ocorrer antes de a circulação colapsar”, disse. “Além disso, nosso resultado é baseado em um modelo e em um cenário simples de aquecimento.” Liu e seus colegas não consideraram, por exemplo, o fator que até agora tem sido invocado para explicar a redução da corrente: o efeito do degelo da Groenlândia. Ao lançar excesso de água doce sobre o oceano no Ártico, o derretimento poderia agravar a situação de uma corrente que já seria impactada pelo aquecimento da superfície.

Um efeito esperado dessa redução na corrente, por exemplo, é uma mudança nos padrões de chuva em várias regiões do planeta. Um dos lugares que seriam afetados é o Brasil. Estudos do grupo do geólogo de Francisco Cruz, da USP, já mostraram que fases de redução da circulação termoalina no passado corresponderam a chuvas torrenciais no Brasil, devido ao deslocamento da Zona de Convergência Intertropical para o sul.

“Precisamos aplicar essa metodologia a mais modelos climáticos e a cenários de aquecimento global mais realistas”, afirmou Liu.

Como e a atuação da Corrente do Golfo?

A corrente do Golfo interfere no clima do continente europeu, sendo empurrada pelos movimentos dos ventos em direção ao norte da Europa. Assim, ela aquece a porção da Europa ocidental (Noruega, Irlanda, Grã-Bretanha) e evita, dessa maneira, o congelamento de determinadas áreas.

Qual o papel da Corrente do Golfo nos climas europeus?

O ar quente que sobe da Corrente do Golfo atravessa o continente europeu, sendo responsável pelo clima temperado que caracteriza muitos dos seus países. No passado, a exploração do Atlântico permitiu o conhecimento desta corrente sinuosa e quente.

Qual a importância da Corrente do Golfo para os climas da América do Norte?

A Corrente do Golfo ou Gulf-stream (quente) se origina nas Antilhas, banha grande parte da costa leste da América do Norte, aquecendo o clima no Golfo do México. Por possuir águas quentes favorece a evaporação contribuindo para o aumento da pluviosidade na região do Golfo.