Caracterize o processo de ocupação e de integração recente da amazônia.

1O discurso de desenvolvimento da Amazônia moderna transfere ao fenômeno turístico uma função importante. Normalmente guiados por superlativos e por uma valorização seletiva dos espaços, as primeiras estratégias de turistificação deste ambiente manifestam os interesses adotados pelos atores públicos. Uma leitura à respeito da evolução destas ações permitem compreender as mudanças sociais, políticas e suas interrelações em uma determinada conjuntura. Afirmando que o turismo faz parte das táticas coordenadas pelos atores do desenvolvimento, nossa reflexão estará centrada nas lógicas que induziram às primeiras tentativas políticas de turistificar a Amazônia Brasileira. De um paraíso perdido ao inferno verde, a imensa floresta tropical isolada, representava para os militares brasileiros, uma questão géopolítica de ordem interna e externa. Da necessidade de assegurar a hegemonia do Brasil na manutenção e exploração dos 64% do seu território, o Estado brasileiro visava integrar esta região no contexto nacional. Neste sentido, de maneira bastante surpreendente o fenômento turístico torna-se objeto da ideologia de um Estado soberano, planejador e nacionalista.

  • 1  O termo vanguarda que utilizamos neste texto refere-se as ações novas e experimentais empreendias (...)

2Para compreender este processo estudaremos a iniciativa de turistificação implementada pelos militares brasileiros entre os anos de 1964 à 1985. Uma época onde a intervenção estatal, a formação de redes e a indução da mobilidade representavam as estratégias géopolíticas de integração amazônica. Neste contexto surgem as estradas, a modernização das infra-estruturas aéreo/portuárias e os incentivos fiscais. Consequente, sua abertura para o mundo se fortalecia com o fenômeno turístico, possibilitando a mobilidade de pessoas e capitais. Desta forma o presente artigo visa apresentar algumas características da configuração turística amazônica resultante do período analisado. Uma abordagem espaço/temporal nos parece o mais pertinente para compreender os interesses de uma turistificação ex-nihilo, mostrando que as estratégias políticas implementadas tiveram uma forte influência na formação e dinâmica dos lugares turísticos atuais. Baseando em diferentes autores e pesquisa de campo, está propõ-se entender como a fase inicial do processo de turistificação da floresta misturou elementos geográficos em um planejamento de vanguarda1.

As origens da organização dos espaços turísticos amazônicos

3O discurso à respeito da promoção e organização do espaço turístico amazônico é uma prática recente. As primeiras retóricas podem ser percebidas nas palavras do ex-presidente general Humberto Castelo Branco (1964/1967) durante a solenidade de instalação da I reunião de incentivo ao desenvolvimento da Amazônia, buscavam ações para o desenvolvimento e integração da região (SUDAM, 1968). Em suas palavras proferidas no teatro Amazonas, em Manaus no ano de 1966, é possível observar estes objetivos

“Por certo, não viestes aqui para ver a paisagem da Amazônia como fazem os turistas à cata de quadros exóticos. Homens de negócios, vitoriosos em outras partes do Brasil, estais preocupados em bem utilizar as facilidades concretas, que se oferece à iniciativa privada [...]. Estais, outrossim, como brasileiros, motivados pelo dever de criar riquezas numa região que hoje representa para todos nós um desafio de proporções colossais. [...] A partir de amanhã, ireis, por quase um semana, descer o grande rio. Não para uma excursão turística, pois aproveitareis o tempo no exame de planos e projetos...” (SUDAM, 1968, p. 40)

4Dois anos mais tarde, desta vez durante a reunião de instalação do conselho deliberativo da Superintendêndia de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), o coronel engenheiro João Walter de Andrade anunciava um apoio indireto às principais portas de entrada desta floresta. O seu interesse em reconstruir e modernizar os aeroportos das capitais amazônicas visava fornecer subsídios aos vôos internacionais (SUDAM, 1968). O reaparelhamento dos portos e a construção de outros haviam privilegiados as cidades de Belém, Manaus, Santarém e Maranhão, como estratégicas para o incentivo da mobilidade de pessoas e mercadorias na região.

  • 2  Grande parte destes projetos foram investidos nos setores alimentares, seguidos da extração de mad (...)

5Se observarmos os primeiros resultados à respeito dos projetos de incentivo disponibilizados na Amazônia, alguns elementos ilustram que a formação de uma consciência turística se desenvolvia. Uma planilha divulgada pela SUDAM em 1971, demonstrava que entre 1966 e junho de 1971, 417 diferentes projetos foram aprovados na Amazônia Legal, incluindo estes da extinta Superintendência de valorização econômica da Amazônia (SPVEA). Deste universo, 46% eram dedicados ao setor agropecuário; 41% para as indústrias de transformação2 e apenas 13%, para as atividades do setor terciário. Deste total, apenas 2 projetos dos 11 investidos no setor terciário visava a promoção de uma infra-estrutura turística no local.

Tabela 1: Mão de obra empregada em 1974 no Pará e Amazonas,

com relação à amostra de 77 projetos financiados pela SUDAM

Caracterize o processo de ocupação e de integração recente da amazônia.

Fonte: Estudos para o planejamento de mão de obra, SUDAM 1977

  • 3  Os 417 projetos aprovados entre 1966 e junho de 1971 organizavam-se da seguinte maneira: Cr$ 1 636 (...)
  • 4  Comunicações, transportes, energia, habitação, educação, saúde e saneamento, indústrias de transfo (...)

6A atração das redes hoteleiras Tropical em Manaus (1969), e Orsa para a cidade de Belém em 1970, correspondem às origens dos incentivos à instalação das empresas turísticas em cidades estratégicas para o desenvolvimento da Amazônia. Estes investimentos correspondiam na época à pouco mais de 2,5% do montante dos projetos aprovados para a Amazônia no período analisado3. Na expectativa de avaliar os efeitos destes investimentos no nível de emprego local e subsidiar a implantação do II Plano de Desenvolvimento da Amazônia (II PDA – 1975/1979), a SUDAM encomenda no ano de 1974 um estudo nos Estados do Amazonas e do Pará à respeito da necessidade de mão-de-obra atual e futura. Algumas atividades ditas prioritárias foram privilegiadas na amostra de 77 projetos. Com relação ao setor terciário, o II PDA elege as seguintes atividades para fins de fomento econômico4. Face ao limite para avaliar o desempenho de todas estas atividades econômicas, privilegia-se a educação e o turismo para subsidiar as análises. Este último em função da importância que esta atividade vinha desenvolvendo na escala nacional e regional (SUDAM, 1977).

7A tabela acima apresentada foi elaborada em função das diferentes informações apresentadas no estudo para o planejamento da mão-de-obra na Amazônia, publicado em 1977 pela SUDAM. Tal como apresentado a prioridade da amostra foi dada aos setores primários e secundários. Estes representados pela agricultura, pecuária, madeira e pesca. Quanto ao terciário, dos 8 empreendimentos analisados pela SUDAM (SUDAM, 1977), somente dois correspondem ao turismo, ou seja, metade dos projetos turísticos financiados para os Estados do Amazonas e Pará na época em que foram avaliados. Estes projetos correspondem aos hotéis de luxo Tropical de Santarém e Selton em Belém. De um setor pouco incentivado e com menores médias de salário a um dos mais representativos em termos de empregos gerados, este talvez seja um dos argumentos que tenha justificado o interesse em fortalecer a promoção e organização do turismo na escala amazônica.

8Pela primeira vez o ex-presidente militar Emílio Médici (1969/1974) prevê um recurso específico para fortalecer a atividade. A soma de Cr$ 9 500 000,00 seriam disponibilizados para investimentos no turismo entre 1975/1979 (SUDAM, 1976). Dois anos mais tarde é lançado de maneira surpreendente o I Plano de Turismo da Amazônia (I PTA). Fazendo parte de uma política mais abrangente, seus objetivos ilustravam a importância econômica e estratégica do turismo na organização e integração da Amazônia ao contexto nacional.

Os interesses militares em planejar uma turistificação regional

9O contexto de aparição do I PTA o insere como parte de uma estratégia nacional. De uma necessidade de readequação da questão regional (de Lyra, 2005) a Amazônia era concebida como uma “fronteira tropical” que apresentava potencialidades econômicas ainda não exploradas. Para reverter estas deficiências, cinco objetivos macros foram delimitados no II Plano de Desenvolvimento da Amazônia (II PDA) e impostos à um setor ainda bastante prematuro.

10O discurso de promover a turistificação amazônica faz parte assim de um objetivo principal. Reduzir as desigualdades interregionais e favorecer o crescimento do produto regional. Para isto, o papel do turismo visava promover primeiramente as vantagens comparativas (SUDAM, 1978). Amazônia turística é ilustrada, segundo a concepção da SUDAM, por uma imagem ímpar, atrativa e misteriosa formada pelo trinômio rio-floresta-fauna. Estes roteiros turísticos cheios de “primitivismo lírico”, só a Amazônia poderia oferecer. Para acelerar o crescimento regional amazônico seria necessário privilegiar as suas particularidades capazes de gerar fluxos de turistas estimulando os demais setores econômicos. Desta forma o turismo objetivava aproveitar a vocação e aptidão turística da região como fonte geradora de novos empregos e consequentemente do progresso econômico e social.

11Investir no turismo era a expectativa de um vantajoso custo - benefício. Pouco investimento, se comparado com as outras atividades econômicas, e estimulo a quantidade e diversidade de emprego, como na hotelaria, nos restaurantes, nas agências de viagens, transporte, no artesanatos  etc. Desta forma era possível alcançar o segundo objetivo de elevar o nivel de vida da população, através da expansão do emprego produtivo, do aumento da produtividade e do poder de compra dos efetivos residentes na região.

12Se a prática das viagens na região amazônica objetivava desenvolver um efeito econômico multiplicador, ela contribuiria igualmente nas trocas interregionais. Desta forma o turismo tornava-se estratégico no sentido de promover o maior intercâmbio de pessoas, capitais e conhecimento por parte da população brasileira. Assim seria possível utilizar da atividade turística para integrar a região no contexto sócio, econômico e cultural do país. A noção de integração estimulou além dos interesses econômicos uma necessidade da organização espacial.

  • 5  Segundo Bertha Becker (1990) uma malha de controle técnico e político permitiu implantar as estrat (...)

13O turismo permitiria gerar receitas cambiais tanto para a região quanto para a balança de pagamentos nacionais, através da vinda dos turistas estrangeiros. Incentivando a melhoria da infra-estrutura e dos equipamentos turísticos, seria igualmente um estimulo para o turista nacional viajar dentro do Brasil ao invés de procurar outros países estrangeiros. Seguindo a lógica da época, a Amazônia era dotada de atrativos turísticos em toda sua extensão e promover a infra-estrutura turística representava uma promoção à ocupação territorial. Além disto, os planos de promoção do desenvolvimento turístico da época acompanhavam as diferentes tentativas de integração Amazônica durante o regime ditatorial5. Para analisar os efeitos das intencionalidades dos militares em estimular a turistificação amazônica e fazer valer a política de integração nacional dos anos 70, concentraremos nosso olhar em três aspectos específicos: A atração de hotéis com a abertura das redes de integração nacional; a tentativa de organização multi-escalar dos lugares turísticos e por fim a indução da mobilidade turística para a região. Por fim, apresentaremos algumas breves características dos fluxos turísticos amazônicos na década de 80 resultantes deste projeto de vanguarda.

A atração espontânea dos hotéis

  • 6  Belém-Brasília; Cuiabá-Porto Velho ; Mato Grosso/Manaus/Venezuela; Cuiabá-Santarém  e a Tranzamazô (...)

14A abertura de estradas e dos grandes eixos transversais para viabilizar a conexão dos diferentes pontos da floresta foi um dos objetos do Projeto de Integração Nacional de 1970 e que teve uma certa influência na gênese de alguns lugares turísticos Amazônicos. Cinco estradas6 e doze mil quilômetros se tornam o foco desta empreitada para facilitar a circulação e a aproximação das fronteiras Amazônicas.

15Um investimento que custava caro aos cofres públicos. Se no início dos anos 70 a melhoria dos portos e aeroportos representava aproximadamente 9% do recurso investido, a abertura dos grandes eixos de integração absorvia os 91% restantes dos recursos públicos disponíveis para o setor de transporte. Concretamente, foram investidos Cr$ 1 633 milhões entre 1972 e 1974 para a tentativa de formação da grande rede física de integração amazônica à partir de estradas (SUDAM, 1973).

16Estas ações influenciaram indiretamente na atração espontânea de uma oferta hoteleira para as márgens dos eixos de integração. A abertura dos trechos Belém/São Luiz; Belém/Brasília; Cuiabá/Santarém; Cuiabá/Porto Velho; Porto Velho/Manaus e Manaus/Boa Vista, atraiu não só a instalação de um posto de gasolina a cada 70 km em média (SUDAM, 1978), mas também a atração de estruturas de hospedagens e restaurantes para os viajantes. Mesmo que alguns destes precários hotéis visassem atender às eventuais pessoas que trafegassem pelas precárias estradas amazônicas, outros equipamentos hoteleiros se beneficiavam da facilidade do acesso para estimular uma prática turística pouco convencional na época.

Mapa 1: Plano dos militares brasileiros para turistificação da Amazônia Legal em geral e do baixo rio Negro em particular durante o período de 1978 à 1986

Caracterize o processo de ocupação e de integração recente da amazônia.

Fonte: SUDAM, 1978 e pesquisa de campo

17No caso específico do Estado do Amazonas, a abertura de estradas federais e estaduais permitiram instalar novos hotéis fora do centro urbano de Manaus e uma diversificação da tipologia dos hotéis nas áreas rurais do Estado. Três exemplos permitem ilustrar esta idéia. A abertura da BR 319 (Manaus/Porto Velho) inaugurada em 1973, que visava a conexão destas duas capitais através de um trecho de 880 km. Da necessidade de conectar à capital amazonense com o município de Autazes, que já atingia uma população superior a 16 mil habitantes no início dos anos 80, inicia-se a origem do primeiro trecho da AM 254, partindo da BR 319. Com a perspectiva da facilidade de acesso, o Amazon Lodge, primeiro hotel de selva do Estado do Amazonas, é instalado em 1982 nas márgens do rio Juma.

18Um caso idêntico aconteceu ao longo das márgens leste da BR 174. A conclusão das obras de abertura da AM 010 até a cidade de Itacoatiara em 1981 coincide com o período de instalação da Pousada Guanavenas, as márgens do lago Canaçari. Com a abertura da AM 363 em 1987, conhecida também como estrada da várzea, possibilitou não só aumentar o número de leitos deste hotel, como também atrair a instalação do hotel de selva Aldeia dos Lagos na mesma região. A chegada dos ecolodges Amazon Camp, Amazon Swiss Lodge e Amazonat, entre 1988 e 1998 as márgens do Rio Urubu, correspondem também com o período de abertura destas novas estradas estaduais e teoricamente com o aumento do fluxo de passageiros. Quanto a márgem direita do rio Negro, a expectativa de abertura do trecho conectando Manacapuru com o município de Novo Airão atraiu no início dos anos 90 a chegada do Hotel Anavilhanas Creek, em frente ao Arquipélago das Anavilhanas. Diversos outros se instalaram na mesma época entre a márgem direita do Rio Negro e a rodovia AM 070.

19A implantação de uma rede hidrelétrica para o fornecimento de energia e a implantação de uma rede de telecomunicações através de satélite, entrou também na lista das prioridades da rede de integração espacial dos militares. Se esta infra-estrutura permitiu a população amazônica acessar os canais televisivos e as primeiras linhas telefônicas em menos de três anos, alguns hotéis de Manaus e Belém instalam as primeiras unidades de telex em pouco mais de cinco anos. Deste modo facilitava-se a comunicação com outros hotéis e agências nacionais. A tecnologia de pagamento das diárias com cartão de crédito conquista não só a maioria dos hotéis das capitais, como também estes do interior amazônico. Melhorias nas redes urbanas foram igualmente previstas, principalmente nas cidades que abrigam as sedes dos governos e das organizações privadas.

20A criação da Zona Franca de Manaus em 1967 fez igualmente parte dos projetos de integração Amazônica. Algumas vantagens fiscais nas diferentes esferas, federal, estadual e municipal criou uma nova dinâmica na região Norte. O centro da cidade logo foi ocupado por lojas, algumas delas representando até mesmo produtos de marcas internacionais. Manaus se tornou nos primeiros anos da Zona Franca, a única cidade brasileira onde o comércio de mercadorias estrangeiras podia ser praticado livremente. Este fato foi marcante na mobilidade de pessoas. Sua população de 100 000 habitantes no inicio dos anos 50 atinge a marca de 280 000 mil habitantes, vinte anos mais tarde, chegando a pouco mais de um milhão na década de 90. As vantagens fiscais atraem não só empresas como também um grande fluxo de consumidores, principalmente estes vindos do sudeste e sul do Brasil à procura de produtos industrializados com menores taxas de impostos (Droulers, 2004).

21Era comum a presença de brasileiros, latino-americanos, asiáticos e europeus na ZFM, criando assim um pólo expressivo de turismo (Garcia, 2004). Havia um crescimento do fluxo de pessoas, mercadorias e companhias aéreas no aeroporto da capital, abrindo a necessidade de novas companhias aéreas, inclusive internacionais. Com o aumento do desembarque de consumidores que chegavam semanalmente em Manaus é igualmente percebido uma elevação do número de meios de hospedagens. Segundo uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) citada pela SUDAM (1976 b), Manaus possuia 1.736 leitos para o ano de 1974. Grande parte dela representada por hotéis comerciais situados no centro da cidade. Em 1985, estes hotéis ampliam em capacidade de atendimento e a chegada de novos meios de hospedagens, permite à capital atingir a marca de 4503 leitos, chegando a 5772 em 1988 (EMANTUR/SEC, 2000).

A organização multi-escalar dos lugares turísticos

  • 7  Nove Estados compõe o conceito politico-administrativo de Amazônia Legal Brasileira. Sendo eles, A (...)

22Com a criação do conceito Amazônia Legal Brasileira7 em 1966, a apropriação de terras antes pertencidas aos Estados, possibilitou ao governo federal exercer uma jurisdição absoluta e/ou direito de propriedade. Esta ação específica corresponde no plano turístico à uma tentativa de hierarquização multi-escalar dos lugares. A partir de uma lógica de pólos e centros turísticos, um critério de avaliação subjetivo foi colocado em prática, permitindo assim definir a oferta turística amazônica seguindo um modelo centro-periférico como vimos no mapa 1. Na primeira linha horizontal privilegiou-se as cidades de Manaus, Santarém, Belém e São Luiz como pólos turísticos. Com excessão da ultima capital, todas estas são banhadas pelo rio Amazonas, representando assim à geografia turística das margens do rio Amazonas. Em oposição, a periferia da hierarquização turística ficou representada pelas capitais de Rio Branco, Boa Vista, Macapá, Cuiabá e Porto Velho. Ambas localizadas nas regiões de fronteiras, sejam elas com países vizinhos ou com os outros estados brasileiros.  

23Partindo do pressuposto onde a oferta de infra-estrutura geraria a demanda de turistas, planejou-se também uma organização espacial na escala microrregional e micro-local. Estas deveriam ser implementadas até 1985 em todas as cidades que compôem os pólos turísticos amazônicos. Para todos os outros foi definido um prazo indeterminado, com excessão da proposta prevista para a Chapada dos Guimarães, próximo à Cuiabá, que deveria seguir a mesma escala temporal das cidades que margeiam o rio Amazonas.

24Face ao déficit de infra-estrutura e equipamentos turísticos que caracterizava a Amazônia, foi proposto um modelo micro-local chamado de complexos turísticos. Este é compreendido como um “conjunto de equipamentos turísticos agrupados, definidos por um programa e um contexto geográfico com ou sem limites territoriais precisos” (SUDAM,1978 b, p. 96).  Partindo de uma lógica de urbanização de zonas com potênciais turísticos, os diferentes contextos geográficos foram identificados e registrados como prioridades do plano. Assim, os complexos turísticos seriam uma solução para a diversificação dos fluxos turísticos, sem prejudicar a demanda já existente na região (SUDAM, 1978). A mobilidade de pessoas e capitais deveria igualmente atrair os interesses imobiliários e uma ampla especulação das potencialidades existentes.

25Havia inclusive uma preocupação de que a atividade poderia pertubar a alteração funcional e econômica das cidades em função do contato com os turistas. Deste modo, as zonas peri-urbanas eram a preferência para a localização dos complexos turísticos, permitindo um contato maior entre áreas urbanas e rurais. Isto possibilitaria uma caracterização particular ao empreendimento, aproveitando a acessibilidade aos aeroportos existentes e infra-estruturas básicas, como saneamento, abastecimentos e comunicações. Estes aspectos privilegiaram a escolha de diferentes áreas potências.

Figura 1 e 2: Fotografia aérea Arcgis Explorer do hotel tropical em 2011 e o modelo de complexo turístico proposto pelo I PTA (1976)

Caracterize o processo de ocupação e de integração recente da amazônia.

Caracterize o processo de ocupação e de integração recente da amazônia.

1 – ACOMODAÇÕES TURÍSTICAS (Hotéis, abrigos, colônia de férias, etc); 2 – CAMPING; 3 – RESIDÊNCIAS SECUNDÁRIAS (em condomínios isolados, para veraneio, etc); 4 – EQUIPAMENTOS COMERCIAIS (Agências de viagem, supermercado, bancos e etc); 5 – EQUIPAMENTOS PÚBLICOS (Igrejas, polícia, bombeiros e etc); 6 - EQUIPAMENTOS COMPLEMENTARES (Lazer, animação, alimentação e etc); 7 – EQUIPAMENTOS ESPORTIVOS (Ginásio de esporte, clubes, etc); 8 – EQUIPAMENTOS DE SAÚDE (Farmácia, clínicas, etc.); 9 – HABITAT (População efetiva – empregada)

Fonte: SUDAM, 1978

Áreas sugeridas para implantação dos complexos turísticos amazônicos

Pólos Turísticos

Áreas potências para complexos turísticos

Belém

Ilha do mosqueiro e Salinópolis

Manaus

Ponta Negra, vários igarapés ou área da Embratur

São Luiz

Ilha de Curupu

Santarém

Alter do Chão

Fonte: SUDAM, 1978

26Os complexos turísticos visavam concentrar os investimentos públicos em um lugar e atender uma população flutuante, composta por turistas brasileiros e estrangeiros através da instalações de equipamentos e serviços. A idéia básica seria agrupar a infra-estrutura turística, tais como hotéis, agências, pousadas, campings, restaurantes dentre outros e uma dinâmica de atividades ligadas ao lazer. Estas seriam animadas por eventos esportivos, parques de diversões, cinemas, boates entre outras. Na expectativa de criar a dinamização de funções para o lugar, foi proposto a instalação de equipamentos e serviços nos complexos turísticos, que são típicos dos centros urbanos. Deste modo, foram sugeridos a presença de bancos, comércios, correio, delegacia, dentre outros, evitando assim um contato entre turistas e populações residentes. Sua construção deveria ficar a cargo da iniciativa privada.

27A proposta visava compatibilizar a prática turística dos espaços com a defesa dos bens naturais e culturais. Mesmo que ela considerasse as estações ecológicas como áreas de interesse ao turismo, esta por sua vez possui um estatuto bastante restritivo ao desenvolvimento da atividade, privilegiando a prática de um turismo científico bastante controlado. Outra dificuldade surge pela ausência de um sistema de informação cartográfica homogêneo que permitisse estabelecer os limites físicos das áreas. Naquela época o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) tinha um cadastro que descrevia os limites. Muitas vezes estas informações diferenciavam dos dados da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), que por sua vez distorcia destas fornecidas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Assim, mesmo que existisse as legislações, a ausência de mapeamento dificultava o diálogo entre os órgãos. No I Plano de Turismo da Amazônia houve a tentativa de organizar estas informações, o que era inovador para a época.

28Foi estimado Cr$ 39 000 000,00 na época para instalação de um terminal hidroviário no Anavilhanas, sede administrativa, facilidades de hospedagem e serviços em uma área de 560 km². Na expectativa de facilitar o acesso e impulsionar o turismo local, foi projetada a abertura de uma estrada, conectando Manaus ao arquipélago. Este fato permitiria diminuir o trajeto de 2 horas utilizado pelas embarcações locais, permitindo inclusive a instalação de energia elétrica, o que que diferenciava da márgem direita do Rio Negro.

  • 8  Criação do Parque Estadual do Rio Negro em 1995

29Porém já existia na época, o interesse ambientalistas em tranformar o Arquipélago de Anavilhanas em estação ecológica. Este fato se concretizou somente em 1981 com a aprovação do decreto federal 86.061 de 2 de julho de 1981, criando assim a Estação Ecológica de Anavilhanas. Além de um estatuto que restringia a implantação da atividade turística neste local, a falta de investimentos públicos na implementação do complexo turístico e o fim do período militar parece ter sido motivos que justificam o abandono da proposta. Pouco tempo mais tarde, com a conferência Rio +10 e a criação de novas áreas protegidas no entorno de Anavilhanas8, a idéia foi definitivamente abandonada.

Figura 3 e 4: Modelo de pousada para áreas especiais proposto em 1978 pela SUDAM e atual fotografia aérea do hotel Ariau

Caracterize o processo de ocupação e de integração recente da amazônia.

Caracterize o processo de ocupação e de integração recente da amazônia.

Fonte: SUDAM, 1978 e Hotel Ariau

30O I PTA previa inclusive a instalação de uma estrutura de pousada para as Áreas Especiais de Interesse Turístico na Amazônia. Sendo assim foi desenvolvido um modelo de hotel suspenso a ser instalado em um rio ou nas márgens de um curso d’água, para fazer face às alterações anuais dos níveis dos rios amazônicos. Foi previsto inclusive que as pousadas deveriam acompanhar os exemplos típicos das moradias da região, privilegiando o uso de materiais locais como palafitas, palhas, madeiras dentre outros. Este modelo pode ter servido de inspiração para o hotel Ariau Amazon Towers, inaugurado em 1986, nas márgens do Rio Negro e se tornou um dos lugares turísticos do Estado do Amazonas.

A indução da mobilidade turística e os novos perfis dos seus viajantes

  • 9  Esta empresa já havia prestado serviços em planos de turismo no Estado do Espírito Santo, Maranhão (...)

31A abertura de vantagens fiscais, de crédito e de novos atores para estimular o fluxo de pessoas e capitais na Amazônia fazia igualmente parte das estratégias de integração da década de 70. Este processo inicia-se com um contrato firmado com o consórcio PLANAVE-PROCHNIK, empresa formada por arquitetos e urbanistas9 responsáveis pela elaboração do primeiro Plano de Turismo da Amazônia. Em seguida firmou-se uma parceria entre a SUDAM e a Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR) através do convênio número 122/77. Este previa uma cooperação técnico-financeira, objetivando o estabelecimento de condições que propiciem a elaboração e execução do I PTA. Desta forma constituiu-se uma comissão de coordenação e acompanhamento do plano e em paralelo foi disponibilizado recursos financeiros através da abertura de linhas de financiamento nacionais e internacionais para empresas e obras turísticas.

  • 10  Amazônia Comércio e navegação s/a (São Luiz); Navegação e Comercio Norte LTDA (Belém); Figueiro na (...)
  • 11  Oeste Redes S/A – ORA; Taxi Aéreo Londrinense Ltda (Belém); Taxi Aéreo São Jorge (Manaus)

32Se a chegada dos grupos Horsa, Selton e Tropical para as diferentes capitais da amazonia correspondiam à investimentos no setor do turismo durante a década de 70, as insenções fiscais atraíram também empresas especializadas no transporte de pessoas. Com excessão de Santarém, todas as cidades pré-definidas como pólo turístico foram privilegiadas com benefícios a cinco empresas responsáveis pela infra-estrutura de transportes marítimos e/ou fluviais10. Três outras de taxi aéreo11, se instalam igualmente nas capitais de Belém e Manaus (SUDAM, 1974), representando também isenções fiscais na indução da mobilidade. Segundo dados disponibilizados pela coordenação geral de programas regionais do Ministério do Turismo, as insenções fiscais por parte do governo federal beneficiaram cinco hotéis entre 1969 e 1987 para atender o turismo de negócios em Manaus. Três agências de turismo receptivo e obras de infra-estrutura turística para o mercado Adolfo Lisboa e o conjunto internacional da Amazônia foram também incentivadas.

  • 12  Bahamas, Porto Rico, Hawai, India, Tailândia, Zâmbia, Singapura, Hong-Kong foram pesquisados pela (...)

33Apoiando no exotismo o I PTA idealizou a Amazônia como um produto turístico único no mundo. Tendo como ponto de partida o mercado europeu e norte-americano, a maior floresta tropical brasileira era vista pelos planejadores da época como um exotismo comparável às destinações do Pacífico, Africa e Asia. Desta forma tentou-se posicioná-la em função destes diferentes continentes. Utilizando dados da Organização Mundial de Turismo (OMT) e uma pesquisa nos hotéis da cidade de Manaus, o consórcio comparou o gasto turístico da capital amazonense com outras cidades e países localizados em diferentes destinações tropicais12.

34Os dados revelavam as particularidades do turismo no interior da floresta. Manaus, no ano de 1977, ficou posicionada como o lugar mais caro para se divertir em comparação às outras destinações. O valor das diárias dos hotéis eram os menos acessíveis. Em contra-partida, os gastos com transporte interno e alimentação eram os mais inferiores entre os pesquisados e não ultrapassavam 15% das despesas da viagem. Já as compras consumiam 22% das despesas e havia uma expectativa que com o avanço da Zona Franca de Manaus estes valores poderiam atingir as mesmas proporções para os turistas que visitam Hong-Kong e Singapura, ou seja, 60% das despesas nas viagens.

35Com relação ao perfil dos visitantes estrangeiros, algumas semelhanças com o publico nacional. Grande parte deles eram do sexo masculino, com idade acima de 35 anos, originados dos Estados Unidos, França e Alemanha e em seguida por japoneses. As viagens de negócios correspondiam por 70% das motivações e estes permaneciam até cinco dias na capital amazonense.

Foto 3 – Promoção do turismo Amazônico no mercado interno e externo

Caracterize o processo de ocupação e de integração recente da amazônia.

  • 13  SUDAM. Turismo e desenvolvimento regional. Rio de Janeiro. SUDAM. 1977. 40 p.

No plano dos militares brasileiros, diversas publicidades foram igualmente previstas nas diferentes mídias nacionais e estrangeiras. A publicação chamada “turismo e desenvolvimento regional”13 por exemplo, foi enriquecida com belas imagens e traduzidas em inglês para estimular a vinda de turistas e investidores para a Amazônia.

Ilha de Marajó (Pará) Fonte: SUDAM, 1977

  • 14

36A estratégia de marketing definia, portanto, os mercados prioritários para estimular a turistificação Amazônica. Todo o eixo centro-sul, em especial o Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo tornaram os alvos nacionais para estimular os fluxos turísticos. Em paralelo, os Estados Unidos, França, Alemanha e Suiça foram priorizados nos mercados internacionais. Para estimular a vinda destes turistas previlegiou-se promover eventos na Amazônia, associar o exotismo da natureza e propor roteiros14 para diversificar o poder de atração dos lugares. Diversas publicidades foram também planejadas em diferentes mídias nacionais e internacionais.

37A abertura de novas rotas aéreas internacionais para a Amazônia entram também na lista das prioridades. A parceria com a iniciativa privada foi fundamental tanto para criar novas redes de conexões, quanto estimular o fluxo de pessoas e capitais. Em 1976 foi publicado pela Organização dos Estados Americanos (OEA) uma mapa de rotas aéreas dos vôos entre a Europa e as Américas. A ausência de conexões entre as cidades que compoe a Amazônia brasileira era uma realidade. Já em 1978, dois anos após a inauguração do Hotel Tropical de Manaus, pertencente ao grupo Varig, esta mesma companhia já começava a operar um vôo direto de Manaus à Paris e passa a organizar diversos roteiros. A capital francesa possui uma posição estratégica para os turistas europeus, principalmente aos alemães e suiços que desejam conhecer a maior floresta tropical brasileira. Para os Norte Americanos, Miami permitia também um acesso direto com Belém e Manaus. Igualmente, os sul-americanos de Cayenne, Paramaribo, Porto de Espanha e Lima estavam contectados à estas duas capitais amazônicas. Já para os japoneses a viagem ainda era mais longa, exigindo conexões em Los Angeles e Rio de Janeiro.

Conclusão: Os desafios de integrar a Amazônia pela turistificação dos lugares

38O presente artigo tentou apresentar alguns elementos políticos de um dos processos de turistificação amazônica. Face a expansão internacional dos fluxos de visitantes, a maior floresta brasileira aparece como um novo espaço que poderia fazer parte dos circuitos turísticos mundiais. Com o desejo de integração espacial, o Estado brasileiro serve-se de uma uma abordagem autoritária, soberana e nacionalista visando uma hierarquização multi-escalar dos lugares à serem turistificados.O surgimento de lugares turísticos em porções específicas da Amazônia onde ninguém esperava encontrar turistas, assim como a pouca frequentação destes, justamente em lugares amplamente investidos pelos atores públicos e privados nos mostram os primeiros limites desta abordagem. O estudo de caso que desenvolvemos parece nos mostrar que o avanço do processo de turistificação amazônica não segue necessariamente as lógicas econômicas, políticas, e nem mesmo à “vocação” dos seus lugares a tornarem turísticos com o tempo. Esta seria a primeira fragilidade desta forma de pensar o turismo na região.

  • 15  Nos anos 70 duas crises petroleiras (1973 e 1979) vão influenciar na elevação do preço do combustí (...)

39Com relação à rede de integração espacial, apesar dela ter proporcionado um tímido aumento da oferta hoteleira nos entornos de Manaus, seus impactos não serão necessariamente positivos no cenário internacional. A imagem da Amazônica neste período ficará bem mais centrada na degradação ambiental gerada pela abertura de estradas que por suas especificidades turísticas. Neste sentido, a política de integração Amazônica da década de 70 pode ser pensada como um vetor de estímulo ao turismo na região, mas também como o vetor de uma imagem Amazônica vitrine da degradação ambiental. Mudar esta imagem será portanto o principal desafio da promoção turística com o processo de redemocratização do Brasil e a realização da conferência Rio +10 a ser realizada em junho de 2012 na cidade do Rio de Janeiro.  Apesar do crescimento do número de turistas internacionais na época, as expectativas otimistas serão fortemente abaladas pela crise mundial do petroleo15, que forçou um aumento dos preços dos combustíveis e uma diminuição do crescimento das viagens no mundo.

40Igualmente, o Estado utilizou a mesma lógica de vantagens fiscais já empreendida na Amazônia para atrair e modernizar as empresas turísticas e as infra-estruturas locais. A diversificação da demanda dos turistas ficou marcada por um público com duas faces: de um lado majoritariamente atraída pelos negócios da Zona Franca de Manaus; de outro, motivada timidamente pela descoberta do exotismo Amazônico. Em uma escala menor, o modelo de complexo turístico preveu uma turistificação dissociada da presença das populações locais. Um quarto de século mais tarde, percebemos que a pluriatividade caracteriza a sobrevivência das populações localizadas próximo aos lugares turísticos Amazônicos. Estas tornaram-se cada vez mais associadas as novas dinâmicas do setor secundário e terciário onde o turismo constitui apenas uma das diferentes fontes de renda. Na expectativa de uma maior integração, percebemos atualmente que os lugares turísticos da Amazônia brasileira ainda funciona de maneira mal integrada e principalmente que eles dinamizam pouco um espaço bastante limitado da maior floresta brasileira.

O que caracteriza a ocupação recente da Amazônia?

A ocupação da Amazônia ocorreu primeiramente com os índios, que se interagiam de forma harmônica com a natureza. No entanto, a ocupação da área com intuitos gananciosos foi se intensificando, que desencadeou e desencadeia uma série de problemas ambientais, prejudicando a biodiversidade da Amazônia.

Como foi o processo de ocupação da Amazônia?

A história de ocupação da Amazônia começa quando levas de imigrantes asiáticos chegaram ao vale do Amazonas há mais de 14 mil anos. No momento em que essas populações passaram a desenvolver a agricultura e viver numa mesma área de terra, sociedades indígenas diversas e mais complexas emergiram nessa região.

Quais foram as principais fases do processo de ocupação e colonização da Amazônia?

Os primórdios: Os portugueses descobrem a Amazônia. Fim do século 19: Surge o ouro negro. Uma segunda chance à borracha brasileira. Anos 1960: "Integrar para não Entregar"

Como está o atual processo de ocupação da floresta?

Atualmente, estima-se que, a cada ano, o desmatamento destrói entre 11 mil e 25 mil km² de florestas, áreas maiores que alguns estados e até mesmo alguns países. O saldo disso é uma vasta área desmatada. Não existem definições precisas sobre o tamanho da floresta que já foi destruído.