Quem foram os fundadores do socialismo científico o que pregam esses pensadores?

DO SOCIALISMO UT�PICO AO SOCIALISMO CIENT�FICO   

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liga��o do origem 

Friedrich Engels

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Pref�cio � edi��o inglesa

O pequeno trabalho que o leitor tem diante de si fazia parte, originariamente, de uma obra maior. Em 1875, o dr. E. Duhring, docente da Universidade de Berlim, anunciou inopinadamente e com bastante alarido a sua convers�o ao socialismo e apresentou ao p�blico alem�o n�o s� uma teoria socialista minuciosamente elaborada, como tamb�m um plano pr�tico completo para a reorganiza��o da sociedade. Lan�ou-se, naturalmente, sobre os seus predecessores, distinguindo particularmente Marx, sobre quem derramou a sua transbordante c�lera.

Isto acontecia num momento em que os dois setores do Partido Socialista Alem�o � os eisenachianos e os lassallianos � acabavam de se fundir, adquirindo assim n�o s� um imenso fortalecimento mas algo ainda mais importante: a possibilidade de desenvolver toda essa for�a contra o inimigo comum. O Partido Socialista da Alemanha convertia-se rapidamente numa pot�ncia. Mas para que se convertesse numa pot�ncia a condi��o essencial residia em que n�o fosse posta em perigo a unidade rec�m-conquistada. E o dr. Duhring disp�s-se publicamente a formar em torno da sua pessoa uma seita � n�cleo do que seria no futuro, um partido � parte. N�o havia, pois, outro rem�dio sen�o aceitar a luva que nos atirava e entrar na luta, por menos agrad�vel que isso nos parecesse.

Certamente, ainda que n�o fosse muito dif�cil, a coisa haveria de ser, evidentemente, bastante pesada. � sabido que n�s, os alem�es, temos uma terr�vel e poderosa Grundlichkeit � um radicalismo profundo ou uma radical profundidade, como se queira chamar. Quando um de n�s exp�e algo que reputa ser uma nova doutrina, a primeira coisa que faz � elabor�-la sob a forma de um sistema universal. Tem que demonstrar que tanto os princ�pios b�sicos da l�gica como as leis fundamentais do universo n�o existiram, desde toda a eternidade, sen�o com o prop�sito de conduzir, afinal, a essa teoria rec�m-descoberta, que vai coroar ent�o tudo quanto existe. A este respeito, o dr. Duhring estava talhado perfeitamente pelo padr�o nacional. Nada menos que um Sistema Completo da Filosofia � filosofia intelectual, moral, natural e da hist�ria �, um Sistema Completo de Economia Pol�tica e de Socialismo e, finalmente, uma Hist�ria Cr�tica de Economia Pol�tica � tr�s grossos volumes in-8.", pesados por fora e por dentro, tr�s destacamentos militares de argumentos, mobilizados contra todos os fil�sofos e economistas anteriores, em geral, e contra Marx em particular; na realidade, uma tentativa de completa "subvers�o da ci�ncia". Tive que defrontar-me com tudo isso; tive que tratar todos os temas poss�veis, desde as id�ias sobre o tempo e o espa�o at� ao bimetalismo desde a eternidade da mat�ria e do movimento at� � natureza perec�vel das id�ias morais; desde a sele��o natural de Darwin at� � educa��o da juventude numa sociedade futura. certo que a sistem�tica universalidade do meu contendor me oferecia a oportunidade para desenvolver perante ele numa forma mais coerente do que at� ent�o se havia feito, as id�ias sustentadas por Marx e por mim acerca de t�o grande variedade de mat�rias. E foi essa a raz�o principal que me levou a empreender essa tarefa, al�m do mais t�o ingrata.

A minha r�plica apareceu, primeiro, numa s�rie de artigos publicados no Vorwarts (1) de Leipzig, �rg�o central do Partido Socialista, e mais tarde em forma de livro, com o titulo Herrn Eugen D�hring Umwalzung der Wissenschaft � Subvers�o da Ci�ncia Pelo Sr. E. Duhring, do qual foi publicado em Zurique uma segunda edi��o em 1886.

A pedido do meu amigo Paul Lafargue, atual representante de Lilie na C�mara dos Deputados da Fran�a, destaquei tr�s cap�tulos desse livro para um folheto, que ele traduziu e publicou em 1880 com o t�tulo Socialisme Utopique et Socialisme Scientifique. Desse texto franc�s foram feitas uma vers�o polonesa e outra espanhola. Em 1883 os nossos amigos da Alemanha publicaram o folheto no seu idioma original. Desde ent�o publicaram-se, � base do texto alem�o, tradu��es para o italiano, o russo, o dinamarqu�s, o holand�s e o romeno. Assim, incluindo a atual edi��o inglesa, este folheto foi difundido em dez l�nguas. N�o sei de nenhuma outra publica��o socialista, inclusive o nosso Manifesto Comunista de 1848 e O Capital de Marx, que tenha sido traduzida tantas vezes. Na Alemanha foram feitas quatro edi��es, com uma tiragem total de cerca de 20 mil exemplares.

O ap�ndice Marca foi escrito com o prop�sito de difundir entre o Partido Socialista Alem�o algumas no��es elementares a respeito da hist�ria e do desenvolvimento da propriedade rural na Alemanha. Naquele tempo isso era extremamente necess�rio, tanto mais que a incorpora��o dos oper�rios urbanos no Partido fizera j� um grande progresso e j� se colocava a tarefa de se dedicar �s massas de oper�rios agr�colas e dos camponeses. Esse ap�ndice foi incluido na edi��o tendo em conta a circunst�ncia de que as formas primitivas de posse da terra, comuns a todas as tribos teut�nicas assim como a hist�ria da sua decad�ncia, s�o ainda menos conhecidas na Inglaterra do que na Alemanha. Deixei o texto na sua forma original, sem aludir � hip�tese recentemente exposta por Maxim Kovalevski, segundo a qual a reparti��o das terras de cultivo e de pastagem entre os membros da Marca precedeu o cultivo em comum dessas terras por uma grande comunidade familiar patriarcal, que compreendia v�rias gera��es (pode servir de exemplo a z� druga do sul da Esl�via, existente at� hoje). Logo por�m que a comunidade cresceu e se tornou demasiado numerosa para administrar em comum a economia, verificou-se a reparti��o da terra. � prov�vel que Kovalevski tenha raz�o, mas o assunto ainda se encontra sub judice.

Os termos de economia empregados neste trabalho coincidem, sempre que novos, com os da edi��o inglesa de O Capital de Marx. Designamos como "produ��o de mercadorias" aquela fase econ�mica em que os objetos n�o s�o produzidos apenas para o uso do produtor, mas tamb�m para fins de troca, isto �, como mercadorias e n�o valores de uso. Esta fase vai desde as alvores da produ��o para troca at� aos tempos presentes; mas s� alcan�a o seu pleno desenvolvimento sob a produ��o capitalista, isto �, sob as condi��es em que o capitalista, propriet�rio dos meios de produ��o, emprega, em troca de um sal�rio, oper�rios, homens despojados de qualquer meio de produ��o, exceto a sua pr�pria for�a de trabalho, e embolsa o excedente do pre�o de venda dos produtos sobre o seu custo de produ��o. Dividimos a hist�ria da produ��o industrial desde a Idade M�dia em tr�s per�odos: 1) ind�stria artesanal, pequenos mestres artes�os com alguns oficiais e aprendizes, em que cada oper�rio elabora o artigo completo; 2) manufatura, em que se congrega num completo estabelecimento um n�mero consider�vel de oper�rios, elaborando-se o artigo completo de acordo com o principio da divis�o do trabalho, onde cada oper�rio s� executa uma opera��o parcial, de tal forma que o produto s� est� completo e acabado quando tenha passado sucessivamente pelas m�os de todos; 3) ind�stria moderna, em que o produto � fabricado mediante a m�quina movida pela for�a motriz e o trabalho do oper�rio se limita a vigiar e retificar opera��es do mecanismo.

Sei multo bem que o conte�do deste livro indignar� grande parte do p�blico brit�nico. Mas se n�s, os continentais, houv�ssemos guardada a menor considera��o pelos preconceitos da "respeitabilidade" brit�nica, isto �, pelo filistaismo brit�nico, pior ainda ter�amos sardo. Esta obra defende o que n�s chamamos o materialismo hist�rico", e para os ouvidos da imensa maioria dos leitores brit�nicos a palavra materialismo soa multo mal. "Agnosticismo (2) ainda poderia passar, mas materialismo � totalmente inadmiss�vel.

E no entanto a p�tria primitiva de todo o materialismo moderno, a partir do s�culo XVII, � a Inglaterra. "O materialismo � filho nato da Gr�-Bretanha. J� o escol�stico brit�nico Duns Scot perguntava a si mesmo se a mat�ria n�o poderia pensar.

Para realizar este milagre refugiava-se na onipot�ncia divina, isto �, obrigava a pr�pria teologia a pregar o materialismo. Al�m disso, Duns Scot era nominalista, O nominalismo (3) aparece como elemento primordial nos materialistas Ingleses e �, em geral, a express�o primeira do materialismo.

O verdadeiro pai do materialismo ingl�s � Bacon. Para ele, a ci�ncia da natureza � a verdadeira ci�ncia, e a f�sica experimental a parte mais Importante da ci�ncia da natureza. Anax�goras, com as suas hemo amei-ias, e Dem�crito com os seus �tomos, s�o as autoridades que cita com frequ�ncia. Segundo a sua teoria, os sentidos s�o infal�veis e constituem a fonte de todos os conhecimentos. Toda a ci�ncia se baseia na experi�ncia e consiste em aplicar um m�todo racional de Investiga��o ao que � dado pelos sentidos. A indu��o, a an�lise, a compara��o, a observa��o, a experimenta��o s�o as condi��es fundamentais desse m�todo racional. Entre as propriedades inerentes � mat�ria, a primeira e mais importante � o movimento concebido n�o s� como um movimento mec�nico e matem�tico, mas ainda como impulso, como esp�rito vital, como tens�o, como "Qual" (4)para empregar a express�o de Jakob B�hme � da mat�ria.

As formas primitivas deste �ltimo s�o for�as substanciais vivas, individualizantes, a ela inerentes, for�as que produzem as diferen�as espec�ficas.

Em Bacon, como seu primeiro criador, o materialismo guarda ainda, de maneira ing�nua, os germes de um desenvolvimento multilateral. A mat�ria sorri com um fulgor poeticamente sensorial a todo homem. Em troca, a doutrina afor�stica � ainda, por si mesma, um manancial de inconseq��ncia teol�gicas.

No seu desenvolvimento posterior, o materialismo torna-se unilateral. Hobbes sistematiza o materialismo de Bacon. A sensoriedade perde o seu brilho e converte-se na sensoriedade abstrata do ge�metra. O movimento f�sico sacrifica-se ao movimento mec�nico ou matem�tico, a geometria � proclamada a ci�ncia fundamental, O materialismo torna-se misantropo Para poder dar combate no seu pr�prio terreno ao esp�rito misantr�pico e descarnado, o materialismo v�-se obrigado tamb�m a flagelar a sua carne e a converter-se em asceta Apresenta-se como entidade intelectual, mas desenvolve tamb�m a l�gica impiedosa do intelecto.

Se os sentidos fornecem ao homem todos os conhecimentos � argumenta Hobbes partindo de Bacon �, os conceitos, as id�ias, as representa��es mentais, etc., n�o s�o sen�o fantasmas do mundo f�sico, mais ou menos despojado da sua forma sensorial. A ci�ncia n�o pode fazer mais do que dar nomes a estes fantasmas. Um nome pode ser atribuido a v�rios fantasmas. Pode inclusive haver nomes de nomes. Mas seria uma contradi��o querer por um lado. buscar a origem de todas as id�ias no mundo dos sentidos e, por outro lado, afirmar que uma palavra � algo mais que uma palavra, que al�m dos seres concretos que n�s nos representamos, existem seres universais. Uma subst�ncia incorp�rea � um contra-senso igual a um corpo incorp�reo. Corpo, ser, subst�ncia, v�m a ser uma e a mesma id�ia real. N�o se pode separar o pensamento da mat�ria que pensa. Ela � o sujeito de todas as mudan�as. A palavra "infinito" carece de sentido , a n�o ser como express�o da capacidade do nosso esp�rito para acrescentar sem fim. Como s� o marial � percept�vel, suscept�vel de ser conhecido, nada se conhece da exist�ncia de Deus. S� a minha pr�pria exist�ncia � certa. Toda a paix�o humana � movimento mec�nico que termina ou come�a. Os objetos do impulso s�o o bem. O homem acha-se sujeito �s mesmas leis que a natureza. O poder e a liberdade s�o coisas id�nticas.

Hobbes sistematizou Bacon, mas sem oferecer novas provas a favor do seu princ�pio fundamental: o de que os conhecimentos e as id�ias t�m a sua origem no mundo dos sentidos.

Locke, na sua obra Essay on the Human Understanding (Ensaio sobre o Entendimento Humano) fundamenta o princ�pio de Bacon e Hobbes.

Do mesmo modo que Hobbes destruiu os preconceitos te�sticos (5) do materialismo baconiano, Coilins, DodweiI, Coward, Hartley, Priestley, etc., derrubaram a �ltima barreira teol�gica do sensualismo de Locke. O de�smo (6)n�o �, pelo menos para os materialistas mais do que uma maneira c�moda e indolente de desfazer-se da religi�o.

Assim se expressa Karl Marx referindo-se �s origens brit�nicas do materialismo moderno. E lamentamos se aos ingleses de hoje n�o agrada muito esta homenagem prestada por Marx aos seus antepassados. Mas � ineg�vel, apesar de tudo, que Bacon, Hobbes e Locke foram os pais daquela brilhante escola de materialistas franceses que, apesar das derrotas que os alem�es e ingleses infligiram � Fran�a por mar e por terra, fizeram do s�culo XVIII um s�culo eminentemente franc�s; e isso muito antes daquela revolu��o francesa que coroou o final do s�culo e cujos resultados ainda hoje nos esfor�amos por aclimatar na inglaterra e na Alemanha.

N�o se pode negar- Se em meados do s�culo um estrangeiro culto se instalasse na inglaterra, o que mais lhe causaria surpresa seria a beatice religiosa e a estupidez � assim teria ele que considerar da "respeit�vel" classe m�dia inglesa. Todos n�s �ramos, ent�o, materialistas ou, pelo menos, livres-pensadores muito avan�ados, e parecia-nos inconceb�vel que quase todos os homens cultos da inglaterra acreditassem numa s�rie de milagres imposs�veis e que at� ge�logos como Buckland e Manteil tergiversassem os fatos da sua ci�ncia, para n�o desmascarar muito frontalmente os mitos do G�nesis inconceb�vel era que, para encontrar pessoas que se atrevessem a servir-se da sua intelig�ncia em mat�ria religiosa, tivessem que recorrer aos setores incultos, �s �hordas dos que n�o se lavam", como se dizia ent�o, aos oper�rios e, principalmente, aos socialistas owenianos.

Mas, de l� para c�, a Inglaterra "civilizou-se" - A Exposi��o de 1851 foi o repique f�nebre do exclusivismo insular Ingl�s. A Inglaterra foi, pouco a pouco, internacionalizando-se nas comidas e nas bebidas, nos costumes e nas id�ias, at� um ponto que me faz desejar que certos costumes ingleses encontrassem no Continente um acolhimento t�o geral como o t�m encontrado outros h�bitos continentais na Inglaterra. O que se pode assegurar � que a difus�o do azeite para salada (que antes de 1851 s� era conhecido pela aristocracia) foi acompanhada de uma fatal difus�o do ceticismo continental em mat�ria religiosa, chegando-se ate ao extremo da que o agnosticismo, embora ainda n�o considerado t�o elegante como a igreja anglicana, est� contudo, no que se refere � respeitabilidade, quase na mesma altura da seita anabatista, ocupando mesmo, posi��o muito mais alta que o Ex�rcito da Salva��o. N�o posso deixar de pensar que, para muitos que deploram e amaldi�oam com toda a sua alma tais progressos da descren�a, ser� um consolo saber que essas id�ias flamejantes n�o s�o de origem estrangeira, n�o circulam com a marca "Made in Germany", como tantos outros artigos de uso di�rio, mas t�m, pelo contr�rio, antiga e vener�vel origem inglesa e que os seus autores brit�nicos de h� duzentos anos atr�s iam muito mais longe do que os seus atuais descendentes.

Com efeito, que � o agnosticismo sen�o um materialismo envergonhado? A concep��o agn�stica da natureza � inteiramente materialista. Todo o mundo natural � regido por leis e exclui por completo toda a influ�ncia exterior. Mas n�s, acrescenta cautelosamente o agn�stico, n�o estamos em condi��es de poder provar ou refutar a exist�ncia de um ser supremo fora do mundo por n�s conhecido. Esta reserva podia ter a sua raz�o de ser na �poca em que Laplace, respondendo a Napole�o porque � que na Mecanique C�leste do grande astr�nomo n�o se mencionava sequer o criador do mundo, respondia com estas palavras orgulhosas: "Je n�avais pas besoin de cette hypothese". Mas hoje a nossa id�ia do universo no seu desenvolvimento n�o deixa o menor lugar nem para um criador nem para um regente do universo; e se quis�ssemos admitir a exist�ncia de um ser supremo posto � margem de todo o mundo existente, incorrer�amos numa contradi��o l�gica e, al�m disso, parece-me, ferir�amos desnecessariamente os sentimentos das pessoas religiosas.

O agn�stico reconhece tamb�m que todos os nossos conhecimentos t�m por base as comunica��es que recebemos por interm�dio dos sentidos. Mas, como sabemos acrescenta se os nossos sentidos nos transmitem realmente a imagem exata dos objetos por eles percebidos? E continua dizendo: quando falo das coisas e das propriedades n�o me refiro, em verdade, a essas coisas e �s suas propriedades em si, acerca das quais nada posso saber de certo, mas apenas �s impress�es que deixam nos meus sentidos. E, certamente, uma forma de conceber que parece dif�cil de contestar atrav�s de simples argumenta��o. Mas os homens, antes de argumentar, haviam atuado, Im Anfang war die Tat. E a a��o humana havia resolvido a dificuldade muito antes de os sofismas humanos a inventarem. The proof of the pudding is in the eating. Desde o momento em que aplicamos estas coisas, de acordo com as qualidades que percebemos nelas, ao nosso pr�prio uso, submetemos as percep�oes dos nossos sentidos a uma prova infal�vel no que se refere � sua exatid�o ou � sua falsidade. Se estas percep��es fossem falsas, falso seria tamb�m o nosso ju�zo acerca da possibilidade de empregar a coisa de que se trata, e a nossa tentativa de empreg�-la teria for�osamente de fracassar. Mas se conseguimos o fim desejado, se achamos que a coisa corresponde � id�ia que dela fazemos, que nos d� o que dela esper�vamos ao us�-la, teremos a prova positiva de que, dentro desses limites, as nossas percep��es acerca dessa coisa e das suas propriedades coincidem com a realidade existente fora de n�s. Em troca, se acontece termos dado um golpe em falso, geralmente n�o tardamos muito em descobrir as causas do nosso engano; conclu�mos que a percep��o em que se baseava a nossa a��o era incompleta e superficial, ou se achava enla�ada com os resultados de outras percep��es de um modo n�o justificado pela realidade das coisas; quer dizer: hav�amos realizado o que chamamos um racioc�nio defeituoso. Enquanto adestrarmos e empregarmos bem os nossos sentidos e ajustarmos o nosso modo de proceder aos limites tra�ados pelas observa��es bem feitas e bem utilizadas, veremos que os resultados dos nossos atos fornecer�o a prova da conformidade das nossas percep��es com a natureza objetiva das coisas percebidas. Em caso nenhum, segundo a experi�ncia que possu�mos at� hoje, nos vimos obrigados a chegar � conclus�o de que as percep��es sensoriais cientificamente controladas originam no nosso c�rebro id�ias do mundo exterior que, pela sua natureza, diferem da realidade, ou de que entre o mundo exterior e as percep��es que os nossos sentidos dele nos transmitem medeia uma incompatibilidade inata.

Mas, ao chegar aqui, apresenta-se o agn�stico neo-kantiano e diz-nos: Sim, poderemos talvez perceber exatamente as propriedades de uma coisa, mas nunca apreender a coisa em si por meio de nenhum processo sensorial ou discursivo. Esta coisa em si" situa-se al�m das nossas possibilidades de conhecimento. J� Hegel, h� muito tempo, respondeu a isso: desde o momento em que conhecemos todas as propriedades de uma coisa, conhecemos tamb�m a pr�pria coisa; fica somente de p� o fato de que essa coisa existe fora de n�s, e enquanto os nossos sentidos nos fornecerem esse fato, apreendemos at� ao �ltimo res�duo da coisa em si, a famosa incognosc�vel Ding an sich de Kant. Hoje, s� podemos acrescentar a isso que, na �poca de Kant, o conhecimento que se tinha das coisas naturais era suficientemente fragmentado para se poder suspeitar, por tr�s de cada uma delas, uma misteriosa coisa em si". Mas, de l� para c�, essas coisas inapreens�veis foram apreendidas, analisadas e, mais ainda, reproduzidas uma ap�s outra pelos gigantescos progressos da ci�ncia. E desde o instante em que podemos produzir uma coisa, n�o h� nenhuma raz�o para que ela seja considerada incognosc�vel. Para a qu�mica da primeira metade do nosso s�culo, as subst�ncias org�nicas eram coisas misteriosas. Hoje, j� aprendemos a fabric�-las uma ap�s outra, � base dos elementos qu�micos e sem ajuda dos processos org�nicos. A qu�mica moderna diz-nos que, logo que se conhe�a a constitui��o qu�mica de qualquer corpo, esse corpo pode integrar-se a partir dos seus elementos. Estamos atualmente muito longe ainda de conhecer exatamente a constitui��o das subst�ncias org�nicas superiores, os chamados corpos albumin�ides, mas n�o existe absolutamente nenhuma raz�o para que n�o adquiramos, ainda que tal se d� dentro de v�rios s�culos, esse conhecimento, e com a sua ajuda possamos fabricar albumina artificial. E quando o conseguirmos teremos conseguido tamb�m produzir a vida org�nica, pois a vida, desde as suas formas mais inferiores �s mais elevadas, n�o � sen�o a modalidade normal de exist�ncia dos corpos albumin�ides.

Mas, depois de feitas estas reservas formais, o nosso agn�stico faia e atua em tudo como o materialista empedernido que no fundo �. Poder� dizer: a julgar pelo que n�s sabemos, a mat�ria e o movimento ou, como agora se diz, a energia, n�o podem criar-se nem destruir-se mas n�o temos provas de que ambas n�o tenham sido criadas num tempo remoto e desconhecido. E se tentardes dirigir contra ele esta confiss�o, num caso determinado, chamar-vos � apressadamente � ordem e mandar-vos � calar. Se in abstracto reconhece a Possibilidade do espiritualismo, in concreto nada quer saber sobre ele. Dir-vos-�: pelo que sabemos e podemos saber, n�o existe criador nem regente do universo; no que a n�s se refere, a mat�ria e a energia s�o t�o incri�veis como indestrut�veis; para n�s o pensamento � uma forma da energia, uma fun��o do c�rebro. Tudo o que sabemos leva-nos � conclus�o de que o mundo material se acha regido por leis imut�veis, etc., etc. Portanto, na medida em que � um homem de ci�ncia, na medida em que sabe algo, o agn�stico � materialista; fora dos confins da sua ci�ncia, nos campos que n�o domina, traduz a sua ignor�ncia para o grego, chamando-lhe agnosticismo

Em todo caso, o que se pode assegurar � que, ainda que eu fosse agn�stico, n�o poderia dar � concep��o da hist�ria esbo�ada neste pequeno livro o nome de "agnosticismo hist�rico". As pessoas de sentimentos religiosos rir-

-se-iam de mim, e os agn�sticos perguntar-me-iam indignados, se pretendia zombar deles. Assim, confio em que a "respeitabilidade" brit�nica, que em alem�o se chama filista�smo, n�o se aborrecer� demasiado por eu empregar em Ingl�s, como em tantos outros idiomas, o nome de "materialismo hist�rico" para designar esta concep��o dos roteiros da hist�ria universal que v� a causa final e a causa propulsora decisiva de todos os acontecimentos hist�ricos importantes no desenvolvimento econ�mico da sociedade, nas transforma��es do modo de produ��o e de troca, na conseq�ente divis�o da sociedade em diferentes classes e nas lutas dessas classes entre si.

Dispensar-me-�o talvez esta considera��o, sobretudo se demonstro que o materialismo hist�rico pode inclusive ser �til para a responsabilidade do filisteu brit�nico. J� aludi ao fato de que, h� quarenta ou cinq�enta anos, o estrangeiro culto que se instalasse para viver na Inglaterra se veria desagradavelmente surpreendido pelo que necessariamente teria de considerar beatice e hipocrisia religiosa da respeit�vel classe m�dia inglesa. Demonstrarei agora que a respeit�vel classe m�dia inglesa daquele tempo n�o era, contudo, t�o est�pida como o estrangeiro inteligente imaginava. As suas tend�ncias religiosas tinham explica��o.

Quando a Europa saiu da Idade M�dia, a classe m�dia urbana em ascens�o era O seu elemento revolucion�rio. A posi��o reconhecida que conquistara dentro do regime feudal da idade M�dia era j� demasiado estreita para a sua for�a de expans�o. O livre desenvolvimento desta classe m�dia, a burguesia, J� n�o era compat�vel com o regime feudal; este tinha for�osamente que desmoronar.

Mas o grande centro internacional do feudalismo era a igreja Cat�lica Romana. Ela unia toda a Europa ocidental feudalizada, apesar de todas as suas guerras intestinas, numa grande unidade pol�tica. contraposta tanto ao mundo cism�tico grego como ao mundo maometano. Rodeou as institui��es feudais com o halo da gra�a divina. Tamb�m ela havia erguido a sua hierarquia segundo o modelo feudal e era, afinal de contas, o maior de todos os senhores feudais, pois possu�a: pelo menos, a ter�a parte de toda a propriedade territorial do mundo cat�lico. Antes de poder dar combate, em cada pais e nos diversos terrenos, ao feudalismo secular, seria necess�rio destruir a organiza��o central santificada.

Passo a passo, com a ascens�o da burguesia produzia-se o grande ressurgimento da ci�ncia. Voltava-se a cultivar a astronomia, a mec�nica, a f�sica, a anatomia, a fisiologia. A burguesia necessitava, para o desenvolvimento da sua produ��o industrial, de uma ci�ncia que investigasse as propriedades dos corpos f�sicos e o funcionamento das for�as naturais. Mas at� ent�o a ci�ncia n�o havia sido mais do que a servidora humilde da igreja, n�o lhe sendo permitido transpor as fronteiras estabelecidas pela f�; numa palavra, havia sido tudo menos uma ci�ncia. Agora, a ci�ncia rebelava-se contra a Igreja; a burguesia precisava da ci�ncia e lan�ou-se com ela na rebeli�o.

N�o toquei aqui sen�o em dois pontos em que a burguesia em ascens�o tinha necessariamente que se chocar com a religi�o estabelecida. Mas isso bastar� para provar: primeiro, que a classe mais empenhada na luta contra o poder da Igreja Cat�lica era precisamente a burguesia e, segundo, que ent�o toda luta contra o feudalismo tinha que vestir-se com uma roupagem religiosa e dirigir-se em primeira inst�ncia contra a igreja. Mas o grito de guerra lan�ado pelas universidades e os homens de neg�cios das cidades tinha inevitavelmente de encontrar, como de fato encontrou, uma forte resson�ncia entre as massas do campo, entre os camponeses, que em toda a parte estavam empenhados numa dura luta contra os senhores feudais eclesi�sticos e seculares, luta em que estava em foco a sua exist�ncia.

A grande campanha da burguesia europ�ia contra o feudalismo culminou em tr�s grandes batalhas decisivas.

A primeira foi a que chamamos Reforma protestante alem�. Ao grito de rebeli�o de Lutero contra a igreja responderam duas insurrei��es pol�ticas: primeiro, a da nobreza inferior, acaudilhada por Franz von Sickingen, em 1523, e logo a grande guerra camponesa em 1525. Ambas foram esmagadas, por causa principalmente da falta de decis�o do partido mais interessado na luta: a burguesia das cidades �falta de decis�o cujas causas n�o podemos analisar aqui. Desde esse momento a luta degenerou numa rixa entre os diversos pr�ncipes e o poder central do imperador, trazendo como conseq��ncia o afastamento da Alemanha por duzentos anos de concerto das na��es politicamente ativas da Europa. certo que a Reforma luterana conduziu a uma nova religi�o, aquela justamente de que a monarquia absoluta precisava. Mal abra�aram o luteranismo, viram-se os camponeses do nordeste da Alemanha rebaixados da condi��o de homens livres � de servos de gleba.?

Mas, onde Lutero falhou, triunfou Calvino. O dogma calvinista servia aos mais intr�pidos burgueses da �poca. A sua doutrina da predestina�ao era express�o religiosa do fato de que no mundo comercial, no mundo da concorr�ncia, o �xito ou a bancarrota n�o dependem da atividade ou da aptid�o do indiv�duo, mas de circunst�ncias independentes dele. Ele n�o depende da vontade ou da fuga de ningu�m mas da miseric�rdia", de for�as econ�micas superiores mas desconhecidas. E isso era mais do que nunca uma verdade numa �poca de revolu��o econ�mica, em que todos os velhos centros e caminhos comerciais eram substitu�dos por outros novos, em que se abriam ao mundo a Am�rica e a �ndia e em que vacilavam e vinham abaixo at� os artigos econ�micos de f� mais sagrada: os valores do ouro e da prata. De resto, o regime da Igreja calvinista era absolutamente democr�tico e republicano; como podiam os remos deste mundo continuar sendo s�ditos dos reis, dos bispos e dos senhores feudais onde o reino de Deus se havia republicanizado? Se o luteranismo alem�o se converteu num instrumento submisso nas m�os dos pequenos pr�ncipes alem�es, o calvinismo fundou uma Rep�blica na Holanda e fortes partidos republicanos na inglaterra e, sobretudo, na Esc�cia.

No calvinismo a segunda grande insurrei��o da burguesia encontrou, acabada, a sua teoria de luta. Esta insurrei��o verificou-se na inglaterra. Foi posta em marcha pela burguesia das cidades, mas foram os camponeses m�dios (a yeomanry) dos distritos rurais que conseguiram o triunfo. Coisa singular: nas tr�s grandes revolu��es burguesas s�o os camponeses que fornecem as tropas de combate e s�o tamb�m eles, precisamente, a classe que, depois de alcan�ar o triunfo, sai arruinada infalivelmente pelas conseq��ncias econ�micas desse triunfo. Cem anos depois de Cromwell, pode-se dizer que a yeomanry da inglaterra quase desaparecera- Em todo o caso, sem a interven��o desta yeomanry e do elemento plebeu das cidades, a burguesia jamais teria podido conduzir a luta ao seu final vitorioso nem levado Carlos I ao cadafalso. Para que a burguesia embolsasse embora s� os frutos mais maduros do triunfo, foi necess�rio levar a revolu��o muito al�m da sua meta; exatamente como haveria de ocorrer na Fran�a em 1793 e na Alemanha em 1848. Parece ser esta, com efeito, uma das leis que presidem � evolu��o da sociedade burguesa.

Ap�s este excesso de atividade revolucion�ria, seguiu-se a Inevit�vel rea��o que, por sua vez, tamb�m ultrapassou o ponto em que devia ter-se mantido. Depois de uma s�rie de vacila��es conseguiu por fim fixar-se o novo centro de gravidade, que se converteu, por sua vez, em novo ponto de partida. O per�odo grandioso da hist�ria inglesa, ao qual os f�listeus d�o o nome de "a grande rebeli�o", e as lutas que se lhe seguiram alcan�am o seu coroamento no epis�dio relativamente insignificante de 1689, que os historiadores liberais assinalam com o nome de "revolu��o gloriosa

O novo ponto de partida foi uma transa��o entre a burguesia em ascens�o e os antigos grandes latifundi�rios feudais. Estes, embora fossem conhecidos, ent�o como hoje, pelo nome de aristocracia, estavam desde h� muito tempo em vias de converter-se no que Lu�s Filipe havia de ser multo depois na Fran�a nos primeiros burgueses da na��o. Para felicidade da Inglaterra os antigos bar�es feudais haviam-se destro�ado entre si nas guerras das Rosas. Os seus sucessores, embora na sua maioria descendentes das mesmas antigas fam�lias, procediam j� de linhas colaterais t�o afastadas que formavam uma corpora��o completamente nova; os seus costumes e tend�ncias tinham muito mais de burgueses que de feudais; conheciam perfeitamente o valor do dinheiro e dedicaram-se, em seguida, a aumentar as rendas das suas terras expulsando delas centenas de pequenos arrendat�rios e substituindo-os por rebanhos de ovelhas. Henrique VIII criou uma massa de novos landlords burgueses, distribuindo e dilapidando os bens da igreja; e a id�ntico

resultado levaram as confisca��es de grandes propriedades territoriais, levadas a efeito sem interrup��o at� fins do s�culo XVII, para logo as entregar a indiv�duos meio ou inteiramente advent�cios. Por isso � que a "aristocracia" inglesa, desde Henrique Vil, longe de se opor ao desenvolvimento da produ��o industrial, procura tirar indiretamente proveito dela. Al�m disso, uma parte dos grandes latifundi�rio5 mostrou-se disposta a todo o momento, por motivos econ�micos ou pol�ticos, a colaborar com os caudilhos da burguesia industrial ou financeira. A transa��o de 1869 n�o foi, pois, dif�cil de conseguir. Os trof�us pol�ticos os cargos, as sinecuras, os elevados ordenados � das grandes fam�lias da aristocracia rural foram respeitados, com a condi��o de que defendessem cabalmente os interesses econ�micos da classe m�dia financeira, industrial e mercantil. E esses interesses econ�micos j� eram, ent�o, bastante poderosos; eram eles que tra�avam, em �ltima an�lise, os rumos da pol�tica nacional. Poderia haver discrep�ncias em torno de detalhes, mas a oligarquia aristocr�tica sabia demasiado bem quanto se achava a sua pr�pria prosperidade econ�mica inseparavelmente unida � da burguesia industrial e comercial.

A partir desse momento a burguesia converteu-se em parte integrante, modesta mas reconhecida, das classes dominantes da inglaterra. Compartilhava com todas elas do interesse em manter oprimida a grande massa trabalhadora do povo. O comerciante ou mesmo o fabricante ocupava, em rela��o ao seu subordinado, aos seus oper�rios ou aos seus criados, a posi��o de senhor, de seu "superior natural", como se dizia at� h� pouco na inglaterra. Tinha que sugar deles a maior quantidade e a melhor qualidade poss�vel de trabalho; para consegui-lo, tinha de educ�-los numa submiss�o adequada. Pessoalmente, era um homem religioso; a sua religi�o havia-lhe fornecido a bandeira sob a qual combateu o rei e os senhores; descobrira tamb�m, havia pouco, os recursos que essa religi�o lhe oferecia para trabalhar o esp�rito dos seus inferiores naturais e torn�-los submissos �s ordens dos amos, que os des�gnios imperscrut�veis de Deus lhe inspiravam. Numa palavra, o burgu�s da Inglaterra participava agora na empresa de oprimir as "classes inferiores�, a grande massa produtora da na��o, e um dos meios empregados para isso era a influ�ncia da religi�o.

Mas a isso vinha se acrescentar uma nova circunst�ncia. que refor�ava as inclina��es religiosas da burguesia: o aparecimento do materialismo na Inglaterra. Esta nova doutrina n�o s� feria os sentimentos piedosos da classe m�dia, mas, al�m disso, anunciava-se como uma filosofia destinada a penas aos s�bios e aos homens cultos do grande mundo; ao contr�rio da religi�o, boa para a grande massa n�o ilustrada, inclusive a burguesia. Com Hobbes, esta doutrina deu entrada em cena corno defensora das prerrogativas e da onipot�ncia reais e convidou a monarquia absoluta a trazer em r�dea curta aquele puer robustus malitiosus que era o povo.

Tamb�m nos continuadores de Hobbes, em Bolingbroke, em Shafestbury etc, a nova forma de�stica do materialismo continuava sendo uma doutrina aristocr�tica, esot�rica e, portanto, odiada pela burguesia, n�o s� por ser uma heresia religiosa, mas tamb�m pelas suas conex�es pol�ticas antiburguesas Por isso, frente ao materialismo �e ao deismo da aristocracia, eram principalmente as seitas protestantes que haviam fornecido a bandeira e os homens para a luta contra os Stuarts, que davam o contingente principal �s for�as da classe m�dia progressista e que ainda formam a medida do "grande partido liberal".

Entretanto, o materialismo transferiu-se da inglaterra para a Fran�a, onde se encontrou com uma segunda escola materialista de fil�sofos, que havia surgido do cartesianismo e com a qual se refundiu. Tamb�m na Fran�a continua sendo, a principio, uma doutrina exclusivamente aristocr�tica. Mas o seu car�ter revolucion�rio n�o tardou a revelar-se. Os materialistas franceses n�o limitavam a sua cr�tica simplesmente aos assuntos religiosos, mas estendiam-na a todas as tradi��es cient�ficas e a todas as institui��es pol�ticas do seu tempo; para demonstrar a possibilidade da aplica��o universal da sua teoria seguiram o caminho mais curto: aplicaram-na audazmente a todos os ramos do saber na Encyclop�die � a obra gigantesca que lhes valeu o nome de "enciclopedistas". Deste modo, o materialismo, sob uma forma ou outra como materialismo declarado ou como de�smo �, converteu-se no credo de toda a juventude culta da Fran�a; a tal ponto que, durante a Grande Revolu��o, a teoria criada pelos realistas ingleses serviu de bandeira te�rica aos republicanos e terroristas franceses, e dela saiu o texto da Declara��o dos Direitos do Homem. A grande Revolu��o Francesa foi a terceira insurrei��o da burguesia, mas a primeira que se despojou totalmente do manto religioso, travando a batalha no campo pol�tico aberto. E foi a primeira que levou realmente o combate at� � destrui��o de um dos dois combatentes, a aristocracia, e ao triunfo completo do outro, a burguesia. Na inglaterra, a continuidade ininterrupta das institui��es pr�-revolucion�rias e p�s-revolucion�rias e a transa��o selada entre os grandes latifundi�rios e os capitalistas encontravam a sua express�o na continuidade dos precedentes judiciais, assim como na respeitosa conserva��o das formas legais do feudalismo. Na Fran�a, a revolu��o rompeu plenamente com as tradi��es do feudalismo e criou, com o Cede civil, uma magistral adapta��o do antigo direito romano �s rela��es capitalistas modernas, daquela express�o quase perfeita das rela��es jur�dicas derivadas da fase econ�mica que Marx chama a "produ��o de mercadorias"; t�o magistral que este c�digo franc�s revolucion�rio serve ainda hoje em todos os pa�ses sem excetuar a inglaterra de modelo para as reformas do direito de propriedade. Mas, nem por isso devemos perder de vista uma coisa. Embora o direito ingl�s continue expressando as rela��es econ�micas da sociedade capitalista numa linguagem feudal b�rbara, que guarda com a coisa exprimida a mesma rela��o que a ortografia com a fcn�tica inglesa vous ecrivez Londres et vous prononcez Constantinople. dizia um franc�s esse direito ingl�s � o �nico que conservou intacta atrav�s dos s�culos e transplantou para a Am�rica do Norte e para as col�nias a melhor parte daquela liberdade pessoal; aquela autonomia local e aquela salvaguarda contra qualquer inger�ncia, fora da dos tribunais; numa palavra, aquelas antigas liberdades germ�nicas que tinham sido perdidas no Continente sob o re- gime da monarquia absoluta e que n�o foram at� agora re cobradas em parte alguma.

Voltemos por�m ao nosso burgu�s brit�nico. A Revolu��o Francesa ofereceu-lhe uma magn�fica oportunidade para arruinar, com a ajuda das monarquias constitucionais, o com�rcio mar�timo franc�s, anexar as col�nias francesas e reprimir as �ltimas pretens�es francesas de lhe fazer concorr�ncia por mar. A segunda raz�o consistia em que os m�todos dessa revolu��o eram muito pouco do seu agrado. N�o s� o seu "execr�vel" terrorismo, mas tamb�m a sua tentativa de implantar o regime burgu�s at� �s �ltimas conseq��ncias. Que faria no mundo o burgu�s brit�nico sem a sua aristocracia, que lhe ensinava maneiras (e que maneiras! e inventava modas para ele, que lhe fornecia a oficialidade para o ex�rcito, garantia de ordem dentro do pa�s, e para a marinha, conquistadora de novos dom�nios coloniais e de novos mercados no exterior? � certo que havia tamb�m dentro da burguesia uma minoria progressista, formada por pessoas cujos interesses n�o tinham sido bem sucedidos na transa��o; esta minoria, integrada pela classe m�dia de posi��o mais modesta, simpatizava com a revolu��o, mas era impotente no Parlamento.

Portanto, quanto mais se convertia o materialismo no credo da Revoluc�o Francesa, tanto mais se aferrava o piedoso burgu�s brit�nico � sua religi�o. Por acaso a �poca de terror em Paris n�o demonstrara o que se d� quando o povo perde a religi�o? � medida que se estendia o materialismo da Fran�a aos pa�ses vizinhos e recebia o refor�o de outras correntes te�ricas afins, principalmente da filosofia alem�; � medida que, no Continente o fato de se ser materialista e livre-pensador era, na realidade, uma qualidade indispens�vel para se ser pessoa culta � mais tenazmente se afirmava a classe m�dia inglesa nas suas diversas confiss�es religiosas. Por muito que variassem umas das outras, eram todas confiss�es decididamente religiosas, crist�s.

Enquanto que a revolu��o assegurava o triunfo pol�tico da burguesia na Fran�a, na Inglaterra, Watt. Arkwright, Cartwright e outros iniciaram uma revolu��o industrial, que deslocou completamente o centro de gravidade do poder econ�mico. Agora, a burguesia enriquecia muito mais rapidamente do que a aristocracia latifundi�ria. E, dentro da pr�pria burguesia. a aristocracia financeira, os banqueiros, etc., iam passando cada vez mais para segundo plano em face dos fabricantes. A transa��o de 1869, mesmo com as emendas que foram sendo introduzidas pouco a pouco a favor da burguesia. j� n�o correspondia � posi��o rec�proca das duas partes interessadas. Mudara tamb�m o car�ter destas: a burguesia de 1830 diferia muito da do s�culo anterior. o poder pol�tico que a aristocracia ainda conservava e que punha em a��o contra as pretens�es da nova burguesia industrial tornou-se incompat�vel com os novos interesses econ�micos. Colocava-se a necessidade de renovar a luta contra a aristocracia; e esta luta s� podia terminar com o triunfo do novo poder econ�mico. Sob o impulso da revolu��o francesa de 1830, imp�s-se em primeiro lugar, apesar de todas as resist�ncias, a lei de reforma eleitoral, que assegurou � burguesia uma posi��o forte e prestigiosa no Parlamento. Em seguida, veio a derroga��o das leis dos cereais, que instaurou de uma vez para sempre o predom�nio da burguesia, sobretudo da sua parte mais ativa, os fabricantes, sobre a aristocracia da terra. Foi este o maior triunfo da burguesia, mas foi tamb�m o �ltimo conseguido no seu interesse pr�prio e exclusivo. Todos os triunfos posteriores tiveram de ser por ela divididos com um novo poder social, seu aliado a principio, mas logo depois seu rival.

A revolu��o industrial criara uma classe de grandes fabricantes capitalistas, mas criara tamb�m outra, muito mais numerosa de oper�rios fabris, classe que crescia constantemente em n�mero, � medida que a revolu��o industrial se la apoderando de um ramo industrial ap�s outro. E com o seu n�mero, crescia tamb�m a sua for�a, demonstrada j� em 1824, quando obrigou o Parlamento, rangendo os dentes, a revogar as leis contra a liberdade de coaliz�o. Durante a campanha de agita��o pela reforma da lei eleitoral, os oper�rios formavam a ala radical do partido da reforma; e quando a lei de 1832 os privou do direito de sufr�gio, sintetizaram as suas reivindica��es na Carta do Povo (People�s Charter) e, em oposi��o ao grande partido burgu�s que combatia as leis cerealistas, constituiram-se em partido independente, o partido cartista, que foi o primeiro partido oper�rio do nosso tempo.

Em seguida, vieram as revolu��es continentais de Fevereiro e Mar�o de 1848, nas quais os oper�rios tiveram um papei t�o importante e nas quais levantaram pela primeira vez, em Paris, reivindica��es que eram resolutamente inadmiss�veis do ponto de vista da sociedade capitalista. E sobreveio logo a rea��o geral. Primeiro foi a derrota dos cartistas de 10 de Abril de 1848; depois, o esmagamento da insurrei��o oper�ria de Paris, em Junho do mesmo ano; mais tarde, os descalabros de 1849 na it�lia, Hungria e sul da Alemanha; por �ltimo, o triunfo de Lu�s Bonaparte sobre Paris, em 2 de Dezembro de 1851. Deste modo, consegui. ra-se afugentar, pelo menos durante algum tempo, o espantalho das reivindica��es oper�rias � mas a que pre�o! Portanto, se o burgu�s j� se achava antes convencido da necessidade de manter no povo vil o esp�rito religioso, com que motivos muito mais fortes tinha que sentir esta necessidade depois de todas aquelas experi�ncias. Por isso, sem fazer o menor caso das chacotas dos seus colegas continentais, continuava anos ap�s anos gastando milhares e dezenas de milhares na evangeliza��o das classes baixas. N�o satisfeito com a sua pr�pria maquinaria religiosa, dirigiu-se ao Irm�o Jonathan (7), o maior organizador de neg�cios religiosos da �poca, e importou dos Estados Unidos os revivalistas Moody e Sankey (8), etc.; por fim, aceitou at� a perigosa ajuda do Ex�rcito de Salva��o, que veio restaurar os recursos de propaganda do cristianismo primitivo que se dirige tanto aos pobres como aos eleitos, combatendo o capitalismo sua maneira religiosa e ati�ando assim um elemento de luta de classes do cristianismo primitivo que um bom dia pode chegar a ser fatal para as pessoas ricas que hoje oferecem do seu bolso o dinheiro para essa propaganda.

Parece ser uma lei do desenvolvimento hist�rico o fato de que a burguesia n�o possa deter em nenhum pais da Europa o poder pol�tico pelo menos durante muito tempo � da mesma maneira exclusiva com que p�de faz�-lo a aristocracia feudal durante a idade M�dia Mesmo na Fran�a, onde se extirpou pela raiz o feudalismo, a burguesia, como classe global, apenas exerce o poder durante breves per�odos de tempo. Sob Lu�s Filipe (1830/1848), s� uma pequena parte da burguesia governava, pois outra parte muito mais consider�vel era exclu�da do exerc�cio do sufr�gio devido ao elevado censo de fortuna que se exigia para poder votar. Sob a Segunda Rep�blica (1848/1851), governou toda a burguesia, mas s� durante tr�s anos; a sua incapacidade abriu caminho ao Segundo imp�rio. S� agora, sob a Terceira Rep�blica, vemos a burguesia em bloco empunhar o leme por um espa�o de vinte anos, mas nisso revela j� graves sintomas de decad�ncia. At� agora uma domina��o mantida durante muitos anos pela burguesia s� foi poss�vel em pa�ses como a Am�rica do Norte, que jamais conheceram o feudalismo e onde a sociedade se construiu, desde O primeiro momento, sobre uma base burguesa. Mas at� na Fran�a e na Am�rica do Norte j� batem � porta com pancadas fortes os sucessores da burguesia: os oper�rios.

Na Inglaterra a burguesia nunca exerceu o poder indiviso. At� ao triunfo de 1832 deixou a aristocracia no gozo quase exclusivo de todos os altos cargos p�blicos. J� n�o conseguia explicar a mim mesmo a submiss�o com que a classe m�dia rica se resignava a tolerar esta situa��o, at� que um dia o grande fabricante liberal senhor W. A. Forster, num discurso, suplicou aos jovens de Bradford que aprendessem franc�s se quisessem fazer carreira, narrando a prop�sito o triste papel que ele fizera quando, sendo ministro, se viu envolvido numa reuni�o em que o franc�s era pelo menos t�o necess�rio quanto o ingl�s. Com efeito, os burgueses brit�nicos de ent�o eram, uns mais outros menos, novos-ricos sem cultura, que tinham de ceder � aristocracia, quisessem ou n�o, todos aqueles altos postos de governo que exigiam outros dotes al�m da limita��o e da fatuidade insulares, apimentadas pela ast�cia para os neg�cios. (9).

Ainda hoje os debates intermin�veis da imprensa sobre a middie-classe-education revelam que a classe m�dia inglesa n�o se considera ainda em condi��es suficientes para receber a melhor educa��o e procura algo mais modesto. Por isso, mesmo depois da revoga��o das leis cerealistas considerou-se como coisa natural que os que haviam conseguido o triunfo, os Cobden, os Bright, os Forster, etc., ficassem privados de qualquer participa��o no governo oficial at� que. por fim, vinte anos depois, uma nova lei de Reforma lhe abriu as portas do minist�rio. A burguesia inglesa acha-se at� hoje t�o imbu�da de um sentimento de inferioridade social que, �s suas custas e do povo, sustenta uma casta decorativa de folgaz�es que t�m por of�cio representar dignamente a na��o em todos os atos solenes e considerasse honrad�ssima quando encontrado um burgu�s qualquer reconhecido como digno de ingressar nessa corpora��o seleta e privilegiada, que afinal foi fabricada pela pr�pria burguesia.

Assim, a classe m�dia industrial e comercial n�o havia conseguido ainda afastar por completo a aristocracia latifundi�ria do poder pol�tico, quando surgiu em cena o novo rival: a classe oper�ria. A rea��o que adveio depois do movimento cartista e das revolu��es continentais, Juntamente com a expans�o sem precedentes da ind�stria inglesa de 1848 a 1866 (expans�o que se costuma atribuir apenas ao livre-com�rcio, mas que resultou muito mais da gigantesca extens�o das linhas f�rreas, dos transatl�nticos e dos meios de comunica��o em geral) voltou a colocar os oper�rios sob a depend�ncia dos liberais, cuja ala radical formavam como nos tempos anteriores com o cartismo. Mas, pouco a pouco, as exig�ncias Oper�rias quanto ao sufr�gio universal foram-se tornando irresist�veis. Enquanto os whigs, os caudilhos dos liberais, tremiam de medo. Disraeli mostrava a sua superioridade: soube aproveitar o momento pr�prio para o "tories", introduzindo nos distritos eleitorais urbanos o regime eleitoral do household suffrage (10) e, em rela��o com Isso, uma nova distribui��o dos distritos eleitorais. Seguiu-se. pouco depois, o ballot (11),depois, em 1884, o household suffrage tornou-se extensivo a todos os distritos, inclusive aos dos condados, e introduziu-se uma nova distribui��o das circunscri��es eleitorais que at� certo ponto as nivelava. Todas essas reformas aumentaram de tal modo a for�a da classe oper�ria nas elei��es que eia representava j� a maioria dos eleitores em 150 a 200 distritos. N�o h�, por�m, melhor escola de respeito � tradi��o do que o sistema parlamentar Se a classe m�dia olha com devo��o e venera��o o grupo que lorde John Manners chama a gozar "a nossa velha nobreza", a massa dos oper�rios olhava ent�o com respeito e acatamento ao que na �poca se chamava "a classe melhor", a burguesia. Na realidade, o oper�rio brit�nico de h� quinze anos era esse oper�rio-modelo cuja considera��o respeitosa pela posi��o do seu patr�o e cuja timidez e humildade ao colocar as suas pr�prias reivindica��es punham um pouco de b�lsamo nas feridas que as incorrig�veis tend�ncias comunistas e revolucion�rias dos oper�rios alem�es provocam entre os nossos socialistas de c�tedra.

Contudo, os burgueses brit�nicos, como bons homens de neg�cios, viam mais que os professores alem�es. S� contrariados � que haviam dividido o poder com os oper�rios. Durante o per�odo cartista tinham tido a oportunidade de aprender do que era capaz o povo, aquele puer robustus sed malitiosus. Desde ent�o tiveram que aceitar e ver convertida em lei nacional a maior parte da Carta do Povo. Agora, mais do que nunca, era necess�rio manter o povo � dist�ncia mediante recursos morais; e o primeiro e mais importante recurso morai com que se podia influenciar as massas continua a ser a religi�o. Da� a maioria dos postos entregues aos padres nos organismos escolares e da� a burguesia impor-se a si mesma cada vez mais tributos para sustentar toda a esp�cie de revivalismos, desde o ritualismo at� o Ex�rcito de Salva��o.

A� esta como triunfava o respeit�vel filisteismo brit�nico sobre a liberdade de pensamento e a indiferen�a em assuntos religiosos do burgu�s continental. Os oper�rios da Fran�a e da Alemanha tornaramse rebeldes. Estavam totalmente contaminados de socialismo e, al�m disso, por motivos muito fortes, n�o davam muita import�ncia � legalidade dos meios empregados para conquistar o poder. Aqui, o puer robustus tornara-se realmente cada dia mais malitiosus. E ao burgu�s franc�s ou alem�o n�o restava outro recurso sen�o renunciar tacitamente a continuar sendo livre-pensa. dor, como esses rapazes engra�ados que, quando irremediavelmente atacados de enj�o, deixam cair o cigarro fumegante com que faziam palha�adas a bordo. Os gracejadores foram adotando, um ap�s outro, exteriormente, uma atitude devota e come�aram a referir-se com respeito � igreja, aos seus dogmas e ritos, chegando inclusive, quando n�o havia outra solu��o, a participar neles. Os burgueses franceses negavam.se a comer carne �s sextas-feiras e os burgueses alem�es suportavam, suando nos seus genuflex�rios os intermin�veis serm�es protestantes Haviam chegado com o seu materialismo a uma situa��o embara�osa. "� preciso conservar-se a religi�o para o povo�: era o �ltimo e �nico recurso para salvar a sociedade da sua ru�na total. Por desgra�a sua, n�o compreenderam isso sen�o depois de terem feito o humanamente poss�vel para derrubar em definitivo a religi�o. Chegara, pois, o momento em que o burgu�s brit�nico podia rir-se deles, por sua vez, e gritar-lhes: "Ah bobos, eu j� poderia ter dito isso h� duzentos anos!"

Entretanto, receio muito que nem a estupidez religiosa do burgu�s brit�nico nem a conserva��o post fastum do burgu�s continental consigam opor um dique � crescente mar� prolet�ria A tradi��o � uma grande for�a freadora; � a vis inertige da hist�ria. Mas � uma for�a meramente passiva, e por isso tem necessariamente que sucumbir Da� a religi�o n�o poder servir por muito tempo de muralha protetora da sociedade capitalista. Se as nossas id�ias jur�dicas, filos�ficas e religiosas n�o s�o sen�o frutos mais pr�ximos ou mais remotos das condi��es econ�micas imperantes numa dada sociedade, a longo prazo essas id�ias n�o podem manter-se havendo uma mudan�a fundamental daquelas condi��es. Das duas uma: ou acreditamos numa revela��o sobrenatural ou temos que reconhecer que n�o h� prega��o religiosa capaz de escorar uma sociedade em derrocada.

E a verdade � que tamb�m na Inglaterra come�am os oper�rios novamente a movimentar-se indiscutivelmente o oper�rio ingl�s est� preso a uma s�rie de tradi��es. Tradi��es burguesas, como a t�o difundida cren�a de que n�o podem existir mais que dois partidos, O conservador e o liberal e de que a classe oper�ria tem de valer-se do grande partido liberal para trabalhar pela sua emancipa��o. E tradi��es operarias herdadas dos tempos dos seus primeiros ensaios de atua��o independente, como a elimina��o. nas numerosas e antigas trade-unions, de todos os oper�rios que n�o tiverem um determinado periodo de aprendizagem: o que significa. em rigor, que cada um desses sindicatos cria os seus pr�prios fura-greves. Mas, apesar de tudo isso e de muito mais, a classe oper�ria avan�a, como o pr�prio professor Brentano se viu obrigado a comunicar, com grande pesar. aos seus irm�os, os socialistas de c�tedra. Avan�a, como tudo na Inglaterra a passo lento e ritmado, vacilante aqui, e ali mediante ensaios, �s vezes est�reis; avan�a aos poucos. com uma desconfian�a excessivamente prudente. at� quanto ao nome socialismo, mas assimilando gradualmente a ess�ncia. Avan�a, e o seu avan�o vai-se transmitindo a uma camada oper�ria ap�s outra. Sacudiu agora a apatia dos oper�rios n�o qualificados do East End de Londres, e todos n�s j� vimos que magn�fico impulso deram � classe oper�ria, por sua vez, essas novas for�as. E se o ritmo do movimento n�o est� em conson�ncia com a impaci�ncia de uns e outros, estes n�o devem esquecer que � a classe oper�ria que mant�m vivos os melhores tra�os do car�ter nacional ingl�s e que, na Inglaterra. quando se d� um passo adiante, j� n�o se recua mais. Se os filhos dos velhos cartistas n�o deram, pelos motivos indicados, tudo o que deles se podia esperar. parece que os netos ser�o dignos dos av�s.

De resto, o triunfo da classe oper�ria n�o depende somente da Inglaterra. Este triunfo s� pode ser assegurado mediante a coopera��o, pelo menos, da inglaterra, Fran�a e Alemanha. Nos dois �ltimos pa�ses o movimento oper�rio leva uma boa dianteira sobre o da Inglaterra. Os progressos alcan�ados aqui h� vinte e cinco anos n�o t�m precedente. O movimento oper�rio alem�o avan�a a uma velocidade acelerada. E se a burguesia alem� tem dado provas da sua aus�ncia lament�vel de capacidade pol�tica, de disciplina. de bravura, de energia e de perseveran�a, a classe oper�ria da Alemanha demonstrou que possui em grau extraordin�rio todas estas qualidades. J� h� quase quatrocentos anos que a Alemanha foi o ponto de partida do primeiro levante da classe m�dia da Europa. No ponto em que se acham as coisas, ser� despropositado pensar que a Alemanha venha a tornar-se tamb�m o cen�rio do primeiro grande triunfo do proletariado europeu?

20 de Abril de 1892.

F.Engels

Notas

(1) Vorwarts (Adiante): jornal publicado em Leipzig entre 1876 e 1878. Era o �rg�o principal da social-democracia alem� depois do congresso de Gotha.

(2) Doutrina criada por Hume e Kant no s�c. XVII mas que tem o seu apogeu em meados do s�c. XIX. Teoria Idealista, c�tica e reacion�ria, que prega a id�ia de que o mundo � incognosc�vel, isto �, que n�o pode ser conhecido pelo c�rebro humano.

(3) Escola progressista e materialista da Idade M�dia. A filosofia nominalista dizia que os objetos materiais existiam na realidade, enquanto que os conceitos elaborados pelo c�rebro humano n�o refletiam as propriedades e as qualidades da mat�ria. Um dos nominalistas mais famosos foi Guilherme de Occam, que deve ter nascido em 1300 e morrido em 1350. Occam demonstrou que a exist�ncia de Deus s� pode ser concebida pela f� e n�o por interm�dio da raz�o humana.

(4) "Qual�" � um jogo de palavras filos�fico: "Qual" significa, literalmente, tortura, dor que incita a realizar uma a��o qualquer. Ao mesmo tempo, o m�stico B�hme transfere para a palavra alem� algo do termo qualitas (qualidade). O seu "Qual" era, por oposi��o � dor produzida exteriormente, um princ�pio ativo, nascido do desenvolvimento espont�neo da coisa, da rela��o ou da personalidade submetida a seu Influxo e que, por sua vez, provoca esse desenvolvimento. (Nota de F. Engels).

(5) Te�smo � Doutrina filos�fica-religiosa que defende a exist�ncia de um Deus que governa todas as a��es dos homens.

(6) Doutrina nascida em Inglaterra no s�c. XVII. O De�smo reconhece a exist�ncia de Deus como criador do Universo, mas recusa a interfer�ncia daquele nas leis da natureza e do homem.

(7) Nome gen�rico dado aos E. U. A. Mais tarde foi substitu�do por Tio 8am.

(8) O revivalismo foi um movimento religioso que tinha por finalidade fortalecer a influ�ncia decrescente da religi�o. Moody e Sankey foram dois pregadores c�lebres dessa organiza��o

(9) E at� em mat�ria de neg�cios a fatuidade do chauvinismo nacional � mau conselheiro. At� h� pouco tempo, o fabricante ingl�s comum considerava infamante para o ingl�s falar outro idioma que n�o fosse o seu pr�prio e enchia-se de orgulho, de certo modo, ao ver esses �pobres-diabos" dos estrangeiros instalarem-se na inglaterra, livrando-o com isso de vender os seus produtos no estrangeiro. N�o percebia sequer que esses estrangeiros, na sua maior parte ais-mies, se apoderavam desse modo de uma grande parte do com�rcio exterior da inglaterra tanto de importa��o como de exporta��o � e que o com�rcio direto dos ingleses com o estrangeiro ia-se reduzindo quase exclusivamente �s col�nias, China, Estados Unidos e Am�rica do Sul. T�o-pouco percebia que esses alem�es comerciavam com outros alem�es do estrangeiro, que organizavam com o tempo uma rede completa de col�nias comerciais por todo o mundo E quando, h� quarenta anos, a Alemanha come�ou seriamente a fabricar para a exporta��o encontrou nessas col�nias comerciais alem�s um instrumento que lhe prestou maravilhosos servi�os na empresa de se transformar em t�o pouco tempo de um pa�s exportador de cereais num pa�s industrial de primeira ordem. Por fim, h� cerca de dez anos, os fabricantes ingleses come�aram a inquietar-se e a perguntar aos seus embaixadores e c�nsules porque � que j� n�o podiam reter todos os seus clientes A resposta un�nime foi esta:

1.�) porque n�o vos dais ao trabalho de aprender o idioma dos vossos clientes e exigis que eles aprendam o vosso; e 2.�) porque n�o tentais sequer satisfazer as necessidades, os costumes e os gostos dos vossos clientes, mas quereis que eles se atenham aos vossos, aos da inglaterra (Nota de Engels).

(10) O household suffrage estabelecia o direito de voto para todas as pessoas que morassem na mesma casa.

(11) Vota��o secreta.

DO SOCIALISMO UT�PICO AO SOCIALISMO CIENT�FICO 

O socialismo moderno �, em primeiro lugar, pelo seu conte�do, fruto do reflexo na intelig�ncia, por um lado dos antagonismos de classe que imperam na moderna sociedade entre possuidores e despossu�dos, capitalistas e oper�rios assalariados, e, por outro lado, da anarquia que reina na produ��o. Pela sua forma te�rica, por�m, o socialismo come�a apresentar-se como uma continua��o, mais desenvolvida e mais conseq�ente, dos princ�pios proclamados pelos grandes pensadores franceses do s�culo XVIII. Como toda a teoria nova, o socialismo, embora tivesse as suas ra�zes nos fatos materiais econ�micos, teve de ligar-se, ao nascer, �s id�ias existentes.

Os grandes homens que, na Fran�a, iluminaram os c�rebros para a revolu��o que se havia de desencadear, adotaram uma atitude resolutamente revolucion�ria. N�o reconheciam autoridade exterior de nenhuma esp�cie. A religi�o, a concep��o da natureza, a sociedade, a ordem estatal: tudo eles submetiam � cr�tica mais impiedosa; tudo quanto existia devia justificar a sua exist�ncia ante o foro da raz�o, ou renunciar a continuar existindo. A tudo se aplicava como rasura �nica a raz�o pensante. Era a �poca em que, segundo Hegel, o mundo girava sobre a cabe�a (12), primeiro no sentido de que a cabe�a humana e os princ�pios estabelecidos pela sua especula��o reclamavam o direito de ser acatados como base de todos os atos humanos e de toda a rela��o social, e logo tamb�m, no sentido mais amplo de que a realidade que n�o se ajustava a essas conclus�es se via subvertida, de fato, desde os alicerces at� o alto. Todas as formas anteriores de sociedade e de Estado, todas as leis tradicionais, foram atiradas ao lixo como irracionais; at� ent�o o mundo deixara-se governar por puros preconceitos; todo o passado n�o merecia sen�o comisera��o e desprezo. S� agora despontava a aurora, o reino da raz�o; daqui por diante a supersti��o, a injusti�a, o privil�gio e a opress�o seriam substitu�dos pela verdade eterna, pela eterna justi�a, pela igualdade baseada na natureza e pelos direitos inalien�veis do homem.

J� sabemos, hoje, que este imp�rio da raz�o n�o era mais do que o imp�rio idealizado pela burguesia; que a justi�a eterna tomou corpo na justi�a burguesa; que a igualdade se reduziu � igualdade burguesa em face da lei, que, como um dos direitos mais essenciais do homem, foi proclamada a propriedade burguesa; e que o Estado da raz�o, o "contrato social" de Rousseau, Pisou e somente podia pisar o terreno da realidade, convertido na rep�blica democr�tica burguesa. Os grandes pensadores do s�culo XVIII, como todos os seus predecessores n�o podiam romper as fronteiras que a sua pr�pria �poca lhes impunha.

Mas, ao lado do antagonismo entre a nobreza feudal e a burguesia, que se erigia em representante de todo o resto da sociedade, mantinha-se de p� os antagonismos geral entre exploradores e explorados, entre ricos gozadores e pobres que trabalhavam E este fato exatamente � que permitia aos representantes da burguesia arrogar-se a representa��o, n�o de uma classe determinada, mas de toda a humanidade sofredora Mais ainda: desde o momento em que nasceu, a burguesia transportava nas suas entranhas a sua pr�pria ant�tese, pois os capitalistas n�o podem existir sem os oper�rios assalariados, e na mesma propor��o em que os mestres de of�cios das corpora��es medievais se convertiam em burgueses modernos, os oficiais e os jornaleiros n�o agremiados transformavam se em prolet�rios E se, em termos gerais, a burguesia podia arrogar-se o direito de representar, nas suas lutas com a nobreza, al�m dos seus interesses, os das diferentes classes trabalhadoras da �poca ao lado de qualquer grande movimento burgu�s que se desencadeava eclodiam movimentos independentes daquela classe que era o procedente mais ou menos desenvolvido do proletariado moderno. Tal foi na �poca da Reforma e das guerras camponesas na Alemanha a tend�ncia dos anabatistas e de Thomas M�nzer, na grande Revolu��o Inglesa os levellers (13), e na Revolu��o Francesa, Babeuf. Estas subleva��es revolucion�rias de uma classe incipiente s�o acompanhadas, por sua vez, pelas correspondentes manifesta��es te�ricas: nos s�culos XVI e XVII aparecem as descri��es ut�picas de um regime ideal da sociedade; no s�culo XVIII, teorias j� abertamente comunistas, como as de Morelly (14) e Mably (15). A reivindica��o da igualdade nao se limitava aos direitos pol�ticos, mas estendia-se �s condi��es sociais de vida de cada indiv�duo; j� n�o se tratava de abolir os privil�gios de classe, mas de destruir as pr�prias diferen�as de classe. Um comunismo asc�tico � maneira espartana, que renunciava a todos os gozos da vida, tal foi a primeira forma de manifesta��o da nova teoria. Mais tarde vieram os tr�s grandes utopistas: Sa�nt-S�mon, cuja tend�ncia continua ainda a afirmar-se, at� certo ponto, junto � tend�ncia prolet�ria; Fourier e Owen, este �ltimo num pa�s onde a produ��o capitalista estava mais desenvolvida e sob a press�o engendrada por ela, expondo de forma sistem�tica uma s�rie de medidas orientadas no sentido de abolir as diferen�as de classe, em rela��o direta com o materialismo franc�s.

Tra�o comum aos tr�s � que n�o atuavam como representantes dos interesses do proletariado, que entretanto surgira como um produto hist�rico. Da mesma maneira que os enciclopedistas, n�o se prop�em emancipar primeiramente uma classe determinada, mas, de chofre, toda a humanidade. E assim como eles, pretendem instaurar o imp�rio da raz�o e da justi�a eterna. Mas entre o seu imp�rio e o dos enciclopedistas medeia um abismo. Tamb�m o mundo burgu�s, instaurado segundo os princ�pios dos enciclopedistas, � injusto e irracional e merece, portanto, ser deitado fora como trastes imprest�veis, tanto quanto o feudalismo e as formas sociais que o antecederam. Se at� agora a verdadeira raz�o e a verdadeira justi�a n�o governaram o mundo � simplesmente porque ningu�m soube penetrar devidamente nelas. Faltava o homem genial, que agora se ergue ante a humanidade com a verdade, por fim descoberta. O fato de que esse homem tenha aparecido agora, e n�o antes, o fato de que a verdade tenha sido por fim descoberta agora, e n�o antes, n�o �, segundo eles, um acontecimento inevit�vel, imposto pela concatena��o do desenvolvimento hist�rico, e sim porque o simples acaso assim o quis. Poderia ter aparecido quinhentos anos antes, poupando assim � humanidade quinhentos anos de erros, de lutas e de sofrimentos.

Vimos como os fil�sofos franceses do s�culo XVIII, que abriram o caminho � revolu��o, apelavam para a raz�o como o juiz �nico de tudo o que existe. Pretendia-se instaurar um Estado racional, uma sociedade ajustada � raz�o, e tudo quanto contradissesse a raz�o eterna deveria ser recha�ado sem nenhuma piedade. Vimos tamb�m que, na realidade, essa raz�o n�o era mais que o senso comum do homem idealizado da classe m�dia que, precisamente ent�o, se convertia em burgu�s. Por isso, quando a Revolu��o Francesa empreendeu a constru��o dessa sociedade e desse Estado da raz�o, redundou que as novas institui��es, por mais racionais que fossem em compara��o com as antigas distavam bastante da raz�o absoluta. O estado da raz�o falira completamente. O contrato social de Rousseau tomara corpo na �poca do terror, e a burguesia perdida a f� na sua pr�pria habilidade pol�tica, refugiou-se, primeiro na corrup��o do Diret�rio e, por �ltimo, sob a �gide do despotismo napole�nico. A prometida paz eterna covertera-se numa intermin�vel guerra de conquistas. Nem teve melhor sorte a sociedade da raz�o. O antagonismo entre pobres e ricos, longe de dissolver-se no bem-estar geral, agu�ara-se com o desaparecimento dos privil�gios das corpora��es e outros, que estendiam uma ponte sobre ele, e os estabelecimentos eclesi�sticos de benefic�ncia, que o atenuavam. A "liberta��o da propriedade" dos entraves feudais, que agora se convertia em realidade, vinha a ser para o pequeno burgu�s e o pequeno campon�s a liberdade de vender a esses mesmos poderosos senhores a sua pequena propriedade, esgotada pela esmagadora concorr�ncia do grande capital e da grande propriedade latifundi�ria; com o que se transformava na "liberta��o" do pequeno burgu�s e do pequeno campon�s de toda e qualquer propriedade. A ascens�o da ind�stria sobre bases capitalistas converteu a pobreza e a mis�ria das massas trabalhadoras em condi��o de vida da sociedade. O pagamento � vista transformava-se, cada vez mais, segundo a express�o de Carlyle, no �nico elo que unia a sociedade. A estat�stica criminal crescia de ano para ano. Os v�cios feudais, que at� ent�o eram exibidos impudicamente, � luz do dia, n�o desapareceram, mas recolheram-se, por um momento, um pouco ao fundo do cen�rio; em troca, floresciam exuberantemente os v�cios burgueses, at� ent�o superficialmente ocultos. O com�rcio foi degenerando, cada vez mais, em vigarice. A "fraternidade" do lema revolucion�rio tomou corpo nas deslealdades e na inveja da luta de concorr�ncia. A opress�o violenta cedeu lugar � corrup��o, e a espada, como principal alavanca do poder social, foi substitu�da pelo dinheiro. O direito de pernada (16) passou do senhor feudal ao fabricante burgu�s. A prostitui��o desenvolveu-se em propor��es at� ent�o desconhecidas. O pr�prio casamento continuou sendo o que j� era: a forma reconhecida pela lei, o manto com que se cobria a prostitui��o, completado al�m disso com uma abund�ncia de adult�rios. Numa palavra, comparadas com as brilhantes promessas dos pensadores, as institui��es sociais e pol�ticas instauradas pelo "triunfo da raz�o" redundaram em tristes e decepcionantes caricaturas. Faltavam apenas os homens que pusessem em relevo o desengano e esses homens surgiram nos primeiros anos do s�culo XIX. Em 1802, vieram � luz as Cartas de Genebra de Saint-Simon; em 1808, Fourier publicou a sua primeira obra, embora as bases da sua teoria datassem j� de 1799; a 1 de Janeiro de 1800, Robert Owen assumiu a dire��o da empresa de New Lanark.

No entanto, naquela �poca, o modo capitalista de produ��o, e com ele o antagonismo entre a burguesia e o proletariado, achava-se ainda muito pouco desenvolvido. A grande ind�stria, que acabava de nascer na Inglaterra, era ainda desconhecida na Fran�a. E s� a grande ind�stria desenvolve, por um lado, os conflitos que transformaram numa necessidade imperiosa a subvers�o do modo de produ��o e a elimina��o do seu car�ter capitalista � conflitos que eclodem n�o s� entre as classes engendradas por essa grande ind�stria, mas tamb�m entre as for�as produtivas e as formas de distribui��o por elas criadas � e, por outro, desenvolve nessas gigantescas for�as produtivas os meios para solucionar esses conflitos. Em v�speras do s�culo XIX, os conflitos que brotavam da nova ordem social mal come�avam a desenvolver-se e menos ainda, naturalmente, os meios que levam a sua solu��o. Se as massas despossu�das de Paris conseguiram dominar por um momento o poder durante o regime de terror, e assim levar ao triunfo a revolu��o burguesa, inclusive contra a burguesia, s� serviu para demonstrar at� que ponto era imposs�vel manter por muito tempo esse poder nas condi��es da �poca. O proletariado, que apenas come�ava a destacar-se no seio das massas que nada possuem, como tronco de uma nova classe, totalmente incapaz ainda para desenvolver uma a��o pol�tica pr�pria, n�o representava mais que um estrato social oprimido, castigado, incapaz de valer-se por si mesmo. A ajuda, no melhor dos casos, tinha que vir de fora, do alto.

Essa situa��o hist�rica informa tamb�m as doutrinas dos fundadores do socialismo. As suas teorias incipientes n�o fazem mais do que refletir o estado incipiente da produ��o capitalista, a incipiente condi��o de classe. Pretendia-se tirar da cabe�a a solu��o dos problemas sociais, latentes ainda nas condi��es econ�micas pouco desenvolvidas da �poca. A sociedade n�o encerrava sen�o males, que a raz�o pensante era chamada a remediar.

Tratava-se, por isso, de descobrir um sistema novo e mais perfeito de ordem social, para implant�-lo na sociedade vindo de fora, por meio da propaganda e, sendo poss�vel, com o exemplo, mediante experi�ncias que servissem de modelo. Esses novos sistemas sociais nasciam condenados a mover-se no reino da utopia; quanto mais detalhados e minuciosos fossem, mais tinham que degenerar em puras fantasias.

Assentado isto, n�o h� por que nos determos nem um momento mais neste aspecto, j� definitivamente incorporado ao passado. Deixemos que os trapeiros liter�rios revolvam solenemente essas fantasias, que parecem hoje provocar o riso, para ressaltar sobre o fundo desse "c�mulo de disparates" a superioridade do seu racioc�nio sereno. Quanto a n�s, admiramos os germes geniais de id�ias e as id�ias geniais que brotam por toda a parte sob essa capa de fantasia que os filisteus san incapazes de ver.

Saint-Simon era filho da grande Revolu��o Francesa, que estourou quando ele n�o contava ainda trinta anos. A Revolu��o foi o triunfo do terceiro estado, isto �, da grande massa ativa da na��o, a cujo cargo corriam a produ��o e o com�rcio, sobre os estados at� ent�o ociosos e privilegiados da sociedade: a nobreza e o clero. Mas logo se viu que o triunfo do terceiro estado n�o era mais que o triunfo de uma parte muito pequena dele, a conquista do poder pol�tico pelo setor socialmente privilegiado dessa classe: a burguesia possuidora. Esta burguesia desenvolvia-se rapidamente j� no processo da revolu��o, especulando com as terras confiscadas e logo vendidas da aristocracia e da Igreja, e lesando na��o por meio das verbas destinadas ao ex�rcito. Foi precisamente o governo desses negociantes que, sob o Diret�rio, levou a Fran�a e a Revolu��o � beira da ru�na, dando com isso a Napole�o o pretexto para o golpe de Estado. Por isso, na id�ia de Saint-Simon, o antagonismo entre o terceiro estado e os estados privilegiados da sociedade tomou a forma de um antagonismo entre "trabalhadores" e ociosos . Os "ociosos" eram n�o s� os antigos privilegiados, mas todos aqueles que viviam de rendas, sem intervir na produ��o nem no com�rcio. No conceito de "trabalhadores" n�o entravam somente os oper�rios assalariados, mas tamb�m os fabricantes, os comerciantes e os banqueiros. Que os ociosos haviam perdido a capacidade para dirigir espiritualmente e governar politicamente era um fato indisfar��vel, selado em definitivo pela Revolu��o. E, para Saint-Simon, as experi�ncias da �poca do terror haviam demonstrado, por sua vez, que os descamisados tamb�m n�o possu�am essa capacidade. Ent�o, quem haveria de dirigir e governar? Segundo Saint-Simon, a ci�ncia e a ind�stria, unidas por um novo la�o religioso, um "novo cristianismo", for�osamente m�stico e rigorosamente hier�rquico, chamado a restaurar a unidade das id�ias religiosas, destru�da desde a Reforma. Mas a ci�ncia eram os s�bios acad�micos; e a ind�stria eram, em primeiro lugar, os burgueses ativos, os fabricantes, os comerciantes, os banqueiros. E embora esses burgueses tivessem de transformar-se numa esp�cie de funcion�rios p�blicos, de homens da confian�a de toda a sociedade sempre conservariam frente aos oper�rios uma posi��o autorit�ria e economicamente privilegiada. Os banqueiros seriam os chamados em primeiro lugar para regular toda a produ��o social por meio de uma regulamenta��o do cr�dito. Esse modo de conceber correspondia perfeitamente a uma �poca em que a grande ind�stria, e com ela o antagonismo entre a burguesia e o proletariado, mal come�ava a despontar na Fran�a. Mas Saint-Simon insiste muito especialmente neste ponto: o que o preocupa, sempre e em primeiro lugar � a sorte da "classe mais numerosa e mais pobre" da sociedade ("la classe la plus nombreuse et la plus pauvre").

Nas suas cartas de Genebra, Saint-Simon formula a tese de que "todos os homens devem trabalhar". Na mesma obra j� se expressa a id�ia de que o reinado do terror era o governo das massas despossu�das. "Vede �grita-lhes - o que se passou na Fran�a quando os vossos camaradas subiram ao poder: provocaram a fome". Mas conceber a Revolu��o Francesa com uma luta de classes, e n�o s� entre a nobreza e a burguesia, mas entre a nobreza, a burguesia e os des possu�dos, era, em 1802, uma descoberta verdadeiramente genial. Em 1816, Saint-Simon declara que a pol�tica � a ci�ncia da produ��o e prediz j� a total absor��o da pol�tica pela economia. E se aqui n�o faz sen�o aparecer em germe a id�ia de que a situa��o econ�mica � a base das institui��es pol�ticas, proclama j� claramente a transforma��o do governo pol�tico sobre os homens numa administra��o das coisas e na dire��o dos processos da produ��o, que n�o � sen�o a id�ia da "aboli��o do Estado", que tanto alarde levanta ultimamente. E, elevando-se com a mesma superioridade acima dos seus contempor�neos, declara, em 1814, imediatamente depois da entrada das tropas coligadas em Paris, e reitera em 1815, durante a Guerra dos Cem Dias, que a alian�a da Fran�a com a Inglaterra e, em segundo lugar, a destes pa�ses com a Alemanha, � a �nica garantia do desenvolvimento pr�spero e da paz na Europa. Para aconselhar aos franceses de 1815 uma alian�a com os vencedores de Waterloo era necess�rio ter tanto de valentia quanto de ca acidade para ver longe na hist�ria.

O que em Saint-Simon � amplitude genial de vis�o, que lhe permite conter j�, em germe, quase todas as id�ias n�o estritamente econ�micas dos socialistas posteriores, em Fourier � a cr�tica engenhosa autenticamente francesa, mas nem por isso menos profunda, das condi��es sociais existentes. Fourier pega a burguesia pela palavra, pelos seus inflamados profetas de antes e pelos seus interesseiros aduladores de depois da revolu��o. P�e a nu, impiedosamente, a mis�ria material e moral do mundo burgu�s, e compara-a �s fascinantes promessas dos velhos enciclopedistas, com a imagem que eles faziam da sociedade em que a raz�o reinaria sozinha, de uma civiliza��o que faria felizes todos os homens e de uma ilimitada capacidade humana de perfei��o. Desmascara as brilhantes frases dos ide�logos burgueses da �poca, demonstra como a essas frases grandiloquen. tes corresponde, por toda a parte, a mais cruel das realidades e derrama a sua s�tira mordaz sobre esse ruidoso fracasso da fraseologia. Fourier n�o � apenas um cr�tico; o seu esp�rito sempre jovial faz dele um sat�rico, um dos maiores sat�ricos de todos os tempos. A especula��o criminosa desencadeada com o refluxo da onda revolucion�ria e o esp�rito mesquinho do com�rcio franc�s naqueles anos aparecem pintados nas suas obras com tra�os magistrais e encantadores. Mas � ainda mais magistral nele a cr�tica das rela��es entre os sexos e da posi��o da mulher na sociedade burguesa. � ele o primeiro a proclamar que o grau de emancipa��o da mulher numa sociedade � o bar�metro natural pelo qual se mede a emancipa��o geral. Contudo, onde mais sobressai Fourier � na maneira como concebe a hist�ria da sociedade. Fourier divide toda a hist�ria anterior em quatro fases ou etapas de desenvolvimento; o selvagismo, a barb�rie, o patriarcado e a civiliza��o, esta �ltima fase coincidindo com o que chamamos hoje sociedade burguesa, isto �, com o regime social implantado desde o s�culo XVI, e demonstra que a "ordem civilizada eleva a uma forma complexa, amb�gua, equivoca e hip�crita todos aqueles v�cios que a barb�rie praticava no meio da maior simplicidade". Para ele a civiliza��o move-se num circulo vicioso", num ciclo de contradi��es, que se reproduz constantemente sem poder super�-las, conseguindo sempre precisamente o contr�rio do que deseja ou alega querer conseguir. E assim nos encontramos, por exemplo, com o fato de que "na civiliza��o, a pobreza brota da pr�pria abund�ncia". Gomo se v�, Fourier maneja a dial�tica com a mesma maestria do seu contempor�neo Hegel. Diante dos que enchem a boca falando da ilimitada capacidade humana de perfei��o, p�e em relevo, com igual dial�tica, que toda a fase hist�rica tem a sua vertente ascensional, mas tamb�m a sua ladeira descendente, e projeta essa concep��o sobre o futuro de toda a humanidade. E assim como Kant introduziu na ci�ncia da natureza o desaparecimento futuro da Terra, Fourier introduz no seu estudo da hist�ria a id�ia do futuro desaparecimento da humanidade.

Enquanto o vendaval da revolu��o varria o solo da Fran�a, desenvolvia-se na Inglaterra um processo revolucion�rio, mais tranq�ilo embora nem por isso menos poderoso. O vapor e as m�quinas-ferramentas converteram a manufatura na grande ind�stria moderna, revolucionando com isso todos os fundamentos da sociedade burguesa. O ritmo vagaroso do desenvolvimento do per�odo da manufatura converteu-se num verdadeiro per�odo de luta e embate da produ��o. Com uma velocidade cada vez mais acelerada, ia-se dando a divis�o da sociedade em grandes capitalistas e prolet�rios que nada possuem e, entre eles, em lugar da antiga classe m�dia tranq�ila e est�vel, uma massa inst�vel de artes�os e pequenos comerciantes, a parte mais flutuante da popula��o, levava uma exist�ncia sem nenhuma seguran�a. O novo modo de produ��o apenas come�ava a galgar a vertente ascensional; era ainda o modo de produ��o normal, regular, o �nico poss�vel naquelas circunst�ncias. E no entanto deu origem a toda uma s�rie de graves calamidades sociais: amontoamento, nos bairros mais s�rdidos das grandes cidades, de uma popula��o arrancada do seu solo; dissolu��o de todos os la�os tradicionais dos costumes, da submiss�o patriarcal e da fam�lia; prolonga��o abusiva do trabalho, que sobretudo entre as mulheres e as crian�as assumia propor��es aterradoras; desmoraliza��o em massa da classe trabalhadora, lan�ada de s�bito para condi��es de vida totalmente novas � do campo para a cidade, da agricultura para a ind�stria, de uma situa��o est�vel para outra constantemente vari�vel e insegura. Em tais circunst�ncias, ergue-se como reformador um fabricante de 29 anos, um homem cuja pureza quase infantil tocava as raias do sublime e que era, ao lado disso, um condutor de homens como poucos. Robert Owen assimilava os ensinamentos dos fil�sofos materialistas do s�culo XVIII, segundo os quais o car�ter do homem �, por um lado, produto da sua organiza��o inata e, por outro, fruto das circunst�ncias que envolvem o homem durante a sua vida, sobretudo durante o per�odo do seu desenvolvimento. A maioria dos homens da sua classe n�o via na revolu��o industrial sen�o caos e confus�o, uma ocasi�o prop�cia para pescar no rio revolto e enriquecer depressa. Owen, por�m, viu nela o terreno adequado para p�r em pr�tica a sua tese favorita, introduzindo ordem no caos. J� em Manchester, dirigindo uma f�brica de mais de 500 oper�rios, tentara, n�o sem �xito, aplicar praticamente a sua teoria. De 1800 a 1829 orientou no mesmo sentido, embora com maior liberdade de iniciativa e com um �xito que lhe valeu fama na Europa, a grande f�brica de fios de algod�o de New Lanark, na Esc�cia, da qual era s�cio e gerente. Uma Popula��o oper�ria que foi crescendo paulatina.. mente at� 2500 almas, recrutada a princ�pio entre os elementos mais heterog�neos, a maioria dos quais muito desmoralizados, converteu-se nas suas m�os numa col�nia-modelo, na qual n�o se conheciam a embriaguez, a pol�cia, os juizes de paz, os processos, os asilos para pobres nem a benefic�ncia p�blica. Para isso bastou, somente, colocar os seus oper�rios em condi��es mais humanas de vida, consagrando um cuidado especial � educa��o da prole. Owen foi o criador dos jardins de inf�ncia que funcionaram pela primeira vez em New Lanark. As crian�as eram enviadas �s escolas desde os dois anos, e nelas se sentiam t�o bem que s� com dificuldade eram levadas para casa. Enquanto nas f�bricas dos seus concorrentes os oper�rios trabalhavam treze e catorze horas di�rias, em New Lanark a jornada de trabalho era de dez horas e meia. Quando uma crise algodoeira obrigou o encerramento da f�brica por quatro meses, os oper�rios de New Lanark que ficaram sem trabalho, continuaram recebendo as suas di�rias integrais. E contudo a empresa incrementara para o dobro o seu, valor e rendeu aos seus propriet�rios, at� ao �ltimo dia, enormes lucros.

Owen, entretanto, n�o estava satisfeito com o que conseguira. A exist�ncia que se propusera dar aos seus oper�rios distava muito ainda, a seus olhos, de uma exist�ncia digna de um ser humano. "Aqueles homens eram meus escravos . As circunst�ncias relativamente favor�veis em que os colocara estavam ainda muito longe de permitir-lhes desenvolver racionalmente e em todos os aspectos o car�ter e a intelig�ncia, e muito menos desenvolver livremente as suas energias. "E, contudo, a parte produtora daquela popula��o de 2500 almas dava sociedade uma soma de riqueza real que, apenas meio s�culo antes teria exigido o trabalho de 600 000 homens juntos. Perguntava-me: onde vai parar a diferen�a entre a riqueza consumida por essas 2500 pessoas e a que precisaria ser consumida pelas 600 000?" A resposta era clara: essa diferen�a era invertida em abonar os propriet�rios da empresa com 5 por cento de juros sobre o canital de instala��o, ao qual vinham somar-se mais de 300 000 libras esterlinas de lucros. E o caso de New Lanark era, s� que em propor��es maiores, o de todas as f�bricas de Inglaterra. "Sem essa nova fonte de riqueza criada pelas m�quinas, teria sido imposs�vel levar adiante as guerras travadas para derrubar Napole�o e manter de p� os princ�pios da sociedade aristocr�tica. E, no entanto, esse novo poder era obra da classe oper�ria". Portanto, a ela deviam pertencer tamb�m os seus frutos. As novas e gigantescas for�as produtivas, que at� ali s� haviam servido para que alguns enriquecessem e as massas fossem escravizadas, lan�avam, segundo Owen, as bases para uma reconstru��o social e estavam fadadas para trabalhar somente para o bem-estar coletivo, como propriedade coletiva de todos os membros da sociedade.

Foi assim, por esse caminho puramente pr�tico �resultado, por assim dizer, dos c�lculos de um homem de neg�cios que surgiu o comunismo oweniano, conservando sempre esse car�ter pr�tico. Assim, em 1823, Owen prop�e um sistema de col�nias comunistas para combater a mis�ria reinante na Irlanda e apresenta, em apoio da sua proposta, um or�amento completo de despesas de instala��o, desembolsos anuais e rendas prov�veis. E assim tamb�m nos seus planos definitivos da sociedade do futuro, os detalhes t�cnicos s�o calculados com um dom�nio tal da mat�ria, incluindo at� projetos, desenhos de frente, de perfil e do alto que, uma vez aceiro o m�todo oweniano de reforma da sociedade, pouco se poderia objetar, mesmo um t�cnico experimentado, contra os pormenores da sua organiza��o.

O avan�o para o comunismo constitui um momento crucial na vida de Owen. Enquanto se limitara a atuar s� como filantropo, n�o colhera sen�o riquezas, aplausos, honra e fama. Era o homem mais popular da Europa. N�o s� os homens da sua classe e posi��o social, mas tamb�m os governantes e os pr�ncipes o escutavam e o aprovavam No momento, por�m, em que formulou as suas teorias comunistas, virou-se a p�gina. Eram precisamente tr�s grandes obst�culos os que, segundo ele, se erguiam no seu caminho da reforma social: a propriedade privada, a religi�o e a forma atual do casamento. E n�o ignorava ao que se expunha atacando-os: � execra��o de toda a sociedade oficial e � perda da sua posi��o social. Mas isso n�o o deteve nos seus ataques implac�veis contra aquelas institui��es, e ocorreu o que ele previa. Desterrado pela sociedade oficial, ignorado completamente pela imprensa, arruinado pelas suas fracassadas experi�ncias comunistas na Am�rica, �s quais sacrificou toda a sua fortuna, dirigiu-se � classe oper�ria, no seio da qual atuou ainda durante trinta anos. Todos os movimentos sociais, todos os progressos reais registrados na Inglaterra no interesse da classe trabalhadora, est�o ligados ao nome de Owen. Assim, em 1819, depois de cinco anos de grandes esfor�os, conseguiu que fosse votada a primeira lei limitando o trabalho da mulher e da crian�a nas f�bricas. Foi ele quem presidiu ao primeiro congresso em que as trade-unions de toda a Inglaterra se fundiram numa grande organiza��o sindical �nica. E foi tamb�m ele quem criou, como medidas de transi��o, para que a sociedade pudesse organizar-se de maneira integralmente comunista, por um lado, as cooperativas de consumo e de produ��o � que serviram, pelo menos, para demonstrar na pr�tica que o comerciante
e o fabricante n�o s�o indispens�veis �, e por outro lado, os mercados oper�rios, estabelecimentos de troca dos produtos do trabalho por meio de b�nus de trabalho e cuja unidade � a hora de trabalho produzido; esses estabelecimentos tinham necessariamente que fracassar, mas antecipam-se muito aos bancos proudhonianos de troca, diferenciando-se deles somente em que n�o pretendem ser a panac�ia universal para todos os males sociais, mas pura e simplesmente um primeiro passo para uma transforma��o muito mais radical da sociedade.

As concep��es dos utopistas dominaram durante muito tempo as id�ias socialistas do s�culo XIX, e em parte ainda hoje as dominam. Rendiam-lhes homenagens, at� h� muito pouco tempo, todos os socialistas franceses e ingleses e a eles se deve tamb�m o incipiente comunismo alem�o, incluindo Wetling. Para todos eles, o socialismo � a express�o da verdade absoluta, da raz�o e da justi�a, e � bastante revel�-lo para, gra�as �sua virtude, conquistar o mundo. E, como a verdade absoluta n�o est� sujeita a condi��es de espa�o e de tempo nem ao desenvolvimento hist�rico da humanida de, s� o acaso pode decidir quando e onde essa descoberta se revelar�. Acrescentese a isso que a verdade absoluta, a raz�o e a justi�a variam com os fundadores de cada escola; e como o car�ter espec�fico da verdade absoluta, da raz�o e da justi�a est� condicionado, por sua vez, em cada um deles, pela intelig�ncia pessoal, condi��es de vida, estado de cultura e disciplina mental, resulta que nesse conflito de verjades absolutas a �nica solu��o � que elas se v�o acomodando umas �s outras. E, assim, era inevit�vel que surgisse uma esp�cie de socialismo ecl�tico e med�ocre, como o que, com efeito, continua imperando ainda nas cabe�as da maior parte dos oper�rios socialistas da Fran�a e da Inglaterra uma mistura extraordin�riamente variegada e cheia de matizes, compostas de desabafos cr�ticos econ�micos e as imagens sociais do futuro menos discut�veis dos diversos fundadores de seitas, mistura tanto mais f�cil de compor quanto mais os ingredientes individuais iam perdendo, na torrente da discuss�o, os seus contornos sutis e agudos, como as pedras limadas pela corrente de um rio. Para converter o socialismo em ci�ncia era necess�rio antes de tudo, situ�-lo no terreno da realidade.

II

Entretanto, junto � filosofia francesa do s�culo XVIII, e por tr�s dela, surgira a moderna filosofia alem�, cujo ponto culminante foi Hegel. O principal m�rito dessa filosofia � a restaura��o da dial�tica, como forma suprema do pensamento Os antigos fil�sofos gregos eram todos dial�ticos inatos, espont�neos, e a cabe�a mais universal de todos eles � Arist�teles �chegara j� a estudar as formas mais substanciais do pensamento dial�tico. Em troca, a nova filosofia, embora tendo um ou outro brilhante defensor da dial�tica (como, por exemplo, Descartes e Espinoza) ca�a cada vez mais, sob a influ�ncia principalmente dos ingleses, na chamada maneira metaf�sica de pensar, que tamb�m dominou quase totalmente entre os franceses do s�culo XVIII, pelo menos nas suas obras especificamente filos�ficas. Fora do campo estritamente filos�fico, eles criaram tamb�m obras-primas de dial�tica; como prova, basta citar O Sobrinho de Rameau, de Diderot, e o estudo de Rousseau sobre a origem da desigualdade entre os homens. Resumiremos aqui, sucintamente, os tra�os mais essenciais de ambos os m�todos discursivos.

Quando nos detemos a pensar sobre a natureza, ou sobre a hist�ria humana, ou sobre a nossa pr�pria atividade espiritual, deparamo-nos, em primeiro plano, com a imagem de uma trama infinita de concatena��es e influ�ncias rec�procas, em que nada permanece o que era, nem como e onde era, mas tudo se move e se transforma, nasce e morre. Vemos, pois, antes de tudo, a imagem de conjunto, na qual os detalhes passam ainda mais ou menos para segundo plano; fixamo-nos mais no movimento, nas transi��es, na concatena��o, do que no que se move, se transforma e se concatena. Essa concep��o do mundo, primitiva, ing�nua, mas essencialmente exata, � a dos fil�sofos gregos antigos, e aparece claramente expressa pela primeira vez em Her�clito: tudo � e n�o �, pois tudo flui, tudo se acha sujeito a um processo constante de transforma��o, de incessante nascimento e caducidade. Mas esta concep��o, por mais exatamente que reflita o car�ter geral do quadro que nos � oferecido pelos fen�menos, n�o basta para explicar os elementos isolados que formam esse quadro total; sem os conhecer, a imagem geral n�o adquirir� t�o-pouco um sentido claro. Para penetrar nestes detalhes temos de os despejar do seu trono hist�rico ou natural e investig�-los separadamente, cada qual por si, no seu car�ter, causas e efeitos especiais, etc. Tal a miss�o primordial das ci�ncias naturais e da hist�ria, ramos de investiga��o que os gregos cl�ssicos situavam, por motivos muito justificados, num plano puramente secund�rio, pois primeiramente deviam dedicar-se a acumular os materiais cient�ficos necess�rios. Enquanto n�o se re�ne uma certa quantidade de materiais naturais e hist�ricos n�o se pode proceder ao exame critico, � compara��o e, consequentemente, divis�o em classes, ordens e esp�cies. Por isso, os rudimentos das ci�ncias naturais exatas n�o foram desenvolvidos sen�o a partir dos gregos do per�odo alexandrino (17) e, mais tarde, na Idade M�dia, pelos �rabes; a ci�ncia aut�ntica da natureza data somente da segunda metade do s�culo XV e, desde ent�o, n�o fez sen�o progredir a ritmo acelerado. A an�lise da natureza nas suas diversas partes, a classifica��o dos diversos processos e objetos naturais em determinadas categorias, a pesquisa interna dos corpos org�nicos segundo as diversas estruturas anat�micas, foram outras tantas condi��es fundamentais a que obedeceram os gigantescos progressos realizados, durante os �ltimos quatrocentos anos, no conhecimento cient�fico da natureza. Esses m�todos de investiga��o, por�m, transmitiram-nos, ao lado disso, o h�bito de focar as coisas e os processos da natureza isoladamente, subtra�dos concatena��o do grande todo; portanto, n�o na sua din�mica, mas estaticamente; n�o como substancialmente vari�veis, mas como consist�ncias fixas; n�o na sua vida, mas na sua morte. Por isso, esse m�todo de observa��o, ao transplantar-se, com Bacon e Locke, das ci�ncias naturais para a filosofia, determinou a estreiteza espec�fica caracter�stica dos �ltimos s�culos: o m�todo metaf�sico de especula��o.

Para o metaf�sico, as coisas e as suas imagens no pensamento, os conceitos, s�o objetos de investiga��o solados, fixos, r�gidos, focalizados um ap�s o outro, de per si, como algo dado e perene. Pensa s� em ant�teses, sem meio-termo poss�vel; para ele, das duas uma: sim, sim; n�o, n�o; o que for al�m disso sobra. Para ele, uma coisa existe ou n�o existe; um objeto n�o pode ser ao mesmo tempo o que � e outro diferente. O positivo e o negativo excluem-se em absoluto. A causa e o efeito revestem-se tamb�m, a seus olhos, da forma de uma r�gida ant�tese. � primeira vista, este m�todo discursivo parece-nos extremamente razo�vel, porque � o do chamado senso comum. Mas o pr�prio senso comum �personagem muito respeit�vel dentro de casa, entre quatro paredes � vive perip�cias verdadeiramente maravilhosas quando se aventura pelos caminhos amplos da investiga��o; e o m�todo metaf�sico de pensar, por muito justificado e at� necess�rio que seja em muitas zonas do pensamento, mais ou menos extensas segundo a natureza do objeto de que se trate, trope�a sempre, cedo ou tarde, com uma barreira, ultrapassada, a qual se converte num m�todo unilateral, limitado, abstrato, e se perde em insol�veis contradi��es, pois, absorvido pelos objetos concretos, n�o consegue perceber a sua concatena��o; preocupado com a sua exist�ncia, n�o atenta na sua origem nem na sua caducidade; obcecado pelas �rvores, n�o consegue ver o bosque. Na realidade de cada dia, sabemos por exemplo, e podemos dizer com toda a certeza se um animal existe ou n�o; por�m, pesquisando mais detidamente, verificamos que �s vezes o problema se complica consideravelmente, como sabem muito bem os juristas, que tanto e t�o inutilmente se t�m atormentado por descobrir um limite racional a partir do qual deva a morte do filho no ventre materno ser considerada um assassinato; nem � f�cil t�o-pouco determinar rigidamente o momento da morte, uma vez que a fisiologia demonstrou que a morte n�o � um fen�meno repentino, instant�neo, mas um processo muito longo. Do mesmo modo, todo o ser org�nico �, a qualquer instante, ele mesmo e outro; a todo instante, assimila mat�rias absorvidas do exterior e elimina outras do seu interior; a todo instante, morrem certas c�lulas e nascem outras no seu organismo; e no transcurso de um per�odo mais ou menos demorado, a mat�ria de que � formado renova-se totalmente, e novos �tomos de mat�rias v�m ocupar o lugar dos antigos, pelo que todo o seu ser org�nico �, ao mesmo tempo, o que � o outro diferente. Da mesma maneira, observando as coisas detidamente, verificamos que os dois p�los de uma ant�tese, o positivo e o negativo, s�o t�o insepar�veis quanto antit�ticos um do outro e que, apesar de todo o seu antagonismo, se penetram reciprocamente; e vemos que a causa e o efeito s�o representa��es que somente regem, como tais, na sua aplica��o ao caso concreto, mas que, examinando o caso concreto na sua concatena��o com a imagem total do universo, se juntam e se diluem na id�ia de uma trama universal de a��es e rea��es, em que as causas e os efeitos mudam constantemente de lugar e em que o que agora ou aqui � efeito adquire em seguida, aqui ou ai, o car�ter de causa, e vice-versa.

Nenhum desses fen�menos e m�todos discursivos se encaixa no quadro das especula��es metaf�sicas. Ao contr�rio, para a dial�tica, que focaliza as coisas e as suas imagens conceituais substancialmente nas suas conex�es, na sua concatena��o, na sua din�mica, no seu processo de nascimento e caducidade, fen�menos como os expostos n�o s�o mais que outras tantas confirma��es do seu modo genu�no de proceder. A natureza � a pedra de toque da dial�tica, e as modernas ci�ncias naturais oferecem-nos para esta prova um acervo de dados extraordinariamente copioso e enriquecido a cada dia que passa, demonstrando com isso que a natureza se move, em �ltima inst�ncia, pelos caminhos dial�ticos e n�o pelas veredas metaf�sicas, que n�o se move na eterna monotonia de um ciclo constantemente repetido, mas percorre uma verdadeira hist�ria. Aqui � necess�rio citar, em primeiro lugar, Darwin, que, com a sua prova de que toda a natureza org�nica existente, plantas e animais, e entre eles, como � l�gico, o homem, � o produto de um processo de desenvolvimento de milh�es de anos, assestou na concep��o metaf�sica da natureza o mais rude golpe. At� hoje, por�m, os naturalistas que souberam pensar dialeticamente podem ser contados pelos dedos, e este conflito entre os resultados descobertos e o m�todo discursivo tradicional p�e a nu a ilimitada confus�o que reina presentemente na teoria das ci�ncias naturais e que constitui o desespero de mestres e disc�pulos, de autores e leitores.

Somente seguindo o caminho da dial�tica, n�o perdendo jamais de vista as inumer�veis a��es e rea��es gerais do devir e do perecer, das mudan�as de avan�o e retrocesso, chegamos a uma concep��o exata do universo, do seu desenvolvimento e do desenvolvimento da humanidade, assim como da imagem projetada por este desenvolvimento nas cabe�as dos homens. E foi este, com efeito, o sentido em que come�ou a trabalhar, desde o primeiro momento, a moderna filosofia alem�. Kant iniciou a sua carreira de fil�sofo dissolvendo o sistema solar est�vel de Newton e sua dura��o eterna � depois de recebido o primeiro impulso � num processo hist�rico: no nascimento do Sol e de todos os planetas a partir de uma massa nebulosa em rota��o. Da�, deduziu que essa origem implicava tamb�m, necessariamente, a morte futura do sistema solar. Meio s�culo depois a sua teoria foi confirmada matematicamente por Laplace e, ao fim de outro meio s�culo, o espectrosc�pio veio demonstrar a exist�ncia no espa�o daquelas massas �gneas de g�s, em diferente grau de condensa��o.

A filosofia alem� moderna encontrou o seu apogeu no sistema de Hegel, em que pela primeira vez � e ai est� o seu grande m�rito � se concebe todo o mundo da natureza, da hist�ria e do esp�rito como um processo, isto �, em constante movimento, mudan�a, transforma��o e desenvolvimento, tentando al�m disso ressaltar a �ntima conex�o que preside a esse processo de movimento e desenvolvimento. Contemplada deste ponto de vista, a hist�ria da humanidade j� n�o parecia como um caos in�spito de viol�ncias absurdas, todas igualmente conden�veis diante do foro da raz�o filos�fica hoje j� madura, e boas para serem esquecidas quanto antes, mas como o processo de desenvolvimento da pr�pria humanidade, que cabia agora ao pensamento acompanhar nas suas etapas graduais e atrav�s de todos os desvios, e demonstrar a exist�ncia de leis internas que orientam tudo aquilo que � primeira vista poderia parecer obra do acaso cego.

N�o importava que o sistema de Hegel n�o resolvesse o problema que se propunha. O seu m�rito, que marcou �poca, consistiu em t�-lo proposto. N�o em v�o, trata-se de um problema que nenhum homem sozinho p�de resolver. E embora fosse Hegel, como Saint-Simon, a cabe�a mais universal do seu tempo, o seu horizonte achava-se circunscrito, em primeiro lugar, pela limita��o inevit�vel dos seus pr�prios conhecimentos e, em segundo lugar, pelos conhecimentos e concep��es da sua �poca, limitados tamb�m em extens�o e profundidade. Deve-se acrescentar a isso uma terceira circunst�ncia. Hegel era idealista; isto �, para ele, as id�ias da sua cabe�a n�o eram imagens mais ou menos abstratas dos objetos ou fen�menos da realidade, mas essas coisas e seu desenvolvimento afiguravam-se-lhe, ao contr�rio, como proje��es realizadas na "Id�ia", que j� existia, n�o se sabe como, antes de existir o mundo. Assim, foi tudo posto de cabe�a para baixo, e a concatena��o real do universal apresentava-se completamente �s avessas. E por mais exatas e mesmo geniais que fossem v�rias das conex�es concretas concebidas por Hegel, era inevit�vel, pelos motivos que acabamos de apontar, que muitos dos seus detalhes tivessem um car�ter amaneirado, artificial, constru�do, numa palavra, falso. O sistema de Hegel foi um aborto gigantesco, mas o �ltimo do seu g�nero. De fato, continuava a sofrer de uma contradi��o interna incur�vel; pois, enquanto por um lado partia como pressuposto inicial da concep��o hist�rica, segundo a qual a hist�ria humana � um processo de desenvolvimento que n�o pode, pela sua natureza, encontrar o remate intelectual na descoberta disso que chamam verdade absoluta, por outro lado � nos apresentado exatamente como a soma e a s�ntese dessa verdade absoluta. Um sistema universal e definitivamente plasmado do conhecimento da natureza e da hist�ria � incompat�vel com as leis fundamentais do pensamento dial�tico � que n�o exclui, mas, longe disso, implica que o conhecimento sistem�tico do mundo exterior na sua totalidade possa progredir gigantescamente de gera��o em gera��o.

A consci�ncia da total invers�o em que incorria o idealismo alem�o levou necessariamente ao materialismo; mas n�o, veja-se bem, �quele materialismo puramente metaf�sico e exclusivamente mec�nico do s�culo XVIII. Em oposi��o � simples repulsa, ingenuamente revolucion�ria, de toda a hist�ria anterior, o materialismo moderno v� na hist�ria o processo de desenvolvimento da humanidade, cujas leis din�micas � sua miss�o descobrir. Contrariamente � id�ia da natureza que imperava entre os franceses do s�culo XVIII, assim como em Hegel, em que esta era concebida como um todo permanente e invari�vel, que se movia dentro de ciclos estreitos, como corpos celestes eternos, tal como Newton os representava, e com esp�cies invari�veis de seres org�nicos, como ensinara Linneu, o materialismo moderno resume e compendia os novos progressos das ci�ncias naturais, segundo os quais a natureza tem tamb�m a sua hist�ria no tempo e os mundos assim como as esp�cies org�nicas que em condi��es prop�cias os habitam nascem e morrem, e os ciclos, no grau em que s�o admiss�veis, revestem dimens�es infinitamente mais grandiosas. Tanto em um como em outro caso, o materialismo moderno � substancialmente dial�tico e j� n�o precisa de uma filosofia superior �s demais ci�ncias. Desde o momento em que cada ci�ncia tem que prestar contas da posi��o que ocupa no quadro universal das coisas e do conhecimento dessas coisas, j� n�o h� margem para uma ci�ncia especialmente consagrada ao estudo das concatena��es universais. Da filosofia anterior, como exist�ncia pr�pria, s� permanece de p� a teoria do pensar e das suas leis: a l�gica formal e a dial�tica. O resto dissolve-se na ci�ncia positiva da natureza e da hist�ria.

No entanto, enquanto que esta revolu��o na concep��o da natureza s� se p�de impor na medida em que a pesquisa fornecia � ci�ncia os materiais positivos correspondentes, j� h� muito tempo se haviam revelado certos fatos hist�ricos que imprimiram uma reviravolta decisiva no modo de perspectivar a hist�ria. Em 1831, estoura em Lyon a primeira insurrei��o oper�ria, e de 1838a 1842 atinge o auge o primeiro movimento oper�rio nacional: o dos cartistas ingleses. A luta de classes entre o proletariado e a burguesia passou a ocupar o primeiro plano da hist�ria dos pa�ses europeus mais avan�ados, ao mesmo ritmo em que se desenvolvia neles, por um lado, a grande ind�stria, e por outro lado, a domina��o pol�tica rec�m-conquistada da burguesia. Os fatos refutavam cada vez mais rotundamente as doutrinas burguesas da identidade de interesses entre o capital e o trabalho e da harmonia universal e do bem-estar geral das na��es, como fruto da livre concorr�ncia. N�o havia como passar por alto esses fatos, nem era poss�vel ignorar o socialismo franc�s e ingl�s, express�o te�rica sua, por mais imperfeita que fosse. Mas a velha concep��o idealista da hist�ria. que ainda n�o havia sido removida, n�o conhecia lutas de classes baseadas em interesses materiais conhecia interesses materiais de qualquer esp�cie para ela a produ��o, bem como todas as rela��es econ�micas, s� existiam acessoriamente, como um elemento secund�rio dentro da hist�ria culturaI".

Os novos fatos obrigaram � revis�o de toda a hist�ria anterior, e ent�o viu-se que, com exce��o do Estado primitivo, toda a hist�ria anterior era a hist�ria das lutas de classes, e que essas classes sociais em luta entre si eram em todas as �pocas fruto das rela��es de produ��o e de troca, isto �, das rela��es econ�micas da sua �poca; que a estrutura econ�mica da sociedade em cada �poca da hist�ria constitui, portanto, a base real cujas propriedades explicam, em �ltima an�lise, toda a superestrutura integrada pelas institui��es jur�dicas e pol�ticas, assim como pela ideologia religiosa, filos�fica, etc., de cada per�odo hist�rico. Hegel libertara da metaf�sica a concep��o da hist�ria, tornando-a dial�tica; mas a sua interpreta��o da hist�ria era essencialmente idealista. Agora, o idealismo fora despejado do seu �ltimo reduto - a concep��o da hist�ria -, substitu�da por uma concep��o materialista da hist�ria, com o que abria o caminho para explicar a consci�ncia do homem pela sua exist�ncia e n�o esta pela sua consci�ncia, que era at� ent�o o tradicional.

Desse modo o socialismo j� n�o aparecia corno a descoberta casual dum ou outro intelecto genial, mas como o produto necess�rio da luta entre as duas classes formadas historicamente: o proletariado e a burguesia. A sua miss�o j� n�o era elaborar um sistema o mais perfeito poss�vel da sociedade, mas investigar o processo hist�rico econ�mico de que, for�osamente, tinham que resultar essas classes e o seu conflito, descobrindo os meios para a solu��o desse conflito na situa��o econ�mica assim criada. Mas o socialismo tradicional era incompat�vel com essa nova concep��o materialista da hist�ria, tanto quanto a concep��o da natureza do materialismo franc�s n�o podia ajustar-se � dial�tica e �s novas ci�ncias naturais. Com efeito, o socialismo anterior criticava o modo de produ��o capitalista existente e as suas conseq��ncias, mas n�o conseguia explic�-lo nem podia, portanto, destru�-lo ideologicamente; nada mais lhe restava sen�o repudi�-lo, pura e simplesmente, como mau. Quanto mais violentamente clamava contra a explora��o da classe oper�ria, insepar�vel desse modo de produ��o, menos estava em condi��es de indicar claramente em que consistia e como nascia essa explora��o. Mas do que se tratava era, por um lado, de expor esse modo capitalista de produ��o nas suas conex�es hist�ricas e como era necess�rio para uma determinada �poca da hist�ria, demonstrando com isso tamb�m a necessidade do seu desaparecimento e, por outro lado, p�r a nu o seu car�ter interno, ainda oculto. Isto tornou-se evidente com a descoberta da mais-valia. Descoberta que veio revelar que o regime capitalista de produ��o e a explora��o do oper�rio, que dele deriva, tinham por forma fundamental a apropria��o de trabalho n�o pago; que o capitalista, mesmo quando compra a for�a de trabalho do seu oper�rio por todo o seu valor, por todo o valor que representa como mercadoria no mercado, dela retira sempre mais valor do que lhe custa e que essa mais-valia �, em �ltima an�lise, a soma de valor de onde prov�m a massa cada vez maior do capital acumulado nas m�os das classes possuidoras. O processo da produ��o capitalista e o da produ��o do capital estavam assim explicados.

Essas duas grandes descobertas � a concep��o materialista da hist�ria e a revela��o do segredo da produ��o capitalista atrav�s da mais-valia � n�s dev�mo-las aKarl Marx. Gra�as a elas, o materialismo converte-se numa ci�ncia, que s� nos resta desenvolver em todos os seus detalhes e concatena��es.

III

A concep��o materialista da hist�ria parte da tese de que a produ��o, e com ela a troca dos produtos, � a base de toda a ordem social; de que em todas as sociedades que desfilam pela hist�ria, a distribui��o dos produtos, e juntamente com ela a divis�o social dos homens em classes ou camadas, � determinada pelo que a sociedade produz e como produz e pelo modo de trocar os seus produtos. De conformidade com isso, as causas profundas de todas as transforma��es sociais e de todas as revolu��es pol�ticas n�o devem ser procuradas nas cabe�as dos homens nem na id�ia que eles fa�am da verdade eterna ou da eterna justi�a, mas nas transforma��es operadas no modo de produ��o e de troca; devem ser procuradas n�o na filosofia, mas na economia da �poca de que se trata. Quando nasce nos homens a consci�ncia de que as institui��es sociais vigentes s�o irracionais e injustas, de que a raz�o se converteu em insensatez e a b�n��o em praga, isso n�o � mais que um ind�cio de que nos m�todos de produ��o e nas formas de distribui��o produziram silenciosamente transforma��es com as quais j� n�o concorda a ordem social, talhada segundo o padr�o de condi��es econ�micas anteriores. E assim j� est� dito que nas novas rela��es de produ��o t�m for�osamente que conter-se � mais ou menos desenvolvidos � os meios necess�rios para p�r fim aos males descobertos. E esses meios n�o devem ser tirados da cabe�a de ningu�m, mas a cabe�a � que tem de descobri-los nos fatos materiais da produ��o, tal e qual a realidade os oferece.

Qual �, neste aspecto, a posi��o do socialismo moderno?

A ordem social vigente � verdade reconhecida hoje por quase todo o mundo � � obra das classes dominantes dos tempos modernos, da burguesia. O modo de produ��o caracter�stico da burguesia, ao qual desde Marx se d� o nome de modo capitalista de produ��o, era incompat�vel com os privil�gios locais e dos estados, como o era com os v�nculos interpessoais da ordem feudal. A burguesia lan�ou por terra a ordem feudal e levantou sobre as suas ru�nas o regime da sociedade burguesa, o imp�rio da livre concorr�ncia, da liberdade de domic�lio, da igualdade de direitos dos possuidores de mercadorias, e tantas outras maravilhas burguesas. Agora j� se podia desenvolver livremente o modo capitalista de produ��o. E ao chegarem o vapor e as novas m�quinas-ferramentas, transformando a antiga manufatura na grande ind�stria, as for�as produtivas criadas e postas em movimento sob o comando da burguesia desenvolveram-se com uma velocidade inaudita e em propor��es at� ent�o desconhecidas. Mas, do mesmo modo que no seu tempo a manufatura e o artesanato, que continuava a desenvolver-se sob a sua influ�ncia, se chocavam com os entraves feudais das corpora��es, a grande ind�stria, ao chegar a um n�vel de desenvolvimento mais alto, j� n�o cabe no estreito quadro em que � contida pelo modo produ��o capitalista. As novas for�as produtivas transbordam j� da forma burguesa em que s�o exploradas, e esse conflito entre as for�as produtivas e o modo de produ��o n�o � precisamente nascido na cabe�a do homem � algo assim como o conflito entre o pecado original do homem e a justi�a divina � mas tem as suas ra�zes nos fatos, na realidade objetiva, fora de n�s, independentemente da vontade ou da atividade dos pr�prios homens que o provocaram. O socialismo moderno n�o � mais que o reflexo deste conflito material na consci�ncia, a sua proje��o ideal nas cabe�as, a come�ar pelas da classe que sofre diretamente as suas conseq��ncias: a classe oper�ria.

Em que consiste este conflito?

Antes de sobreviver a produ��o capitalista, isto �, na Idade M�dia, dominava, com car�ter geral, a pequena ind�stria, baseada na propriedade privada do trabalhador sobre os seus meios de produ��o: no campo, a agricultura corria a cargo de pequenos lavradores, livres ou vassalos; nas cidades, a ind�stria achava-se nas m�os dos artes�os. Os meios de trabalho � a terra, os instrumentos agr�colas, a oficina, as ferramentas � eram meios de trabalho individual, destinados unicamente ao uso individual e, portanto, for�osamente, mesquinhos, diminutos, limitados. Mas isso mesmo levava a que pertencessem, em geral, ao pr�prio produtor. O papel hist�rico do modo capitalista de produ��o e do seu portador a burguesia � consistiu precisamente em concentrar e desenvolver esses dispersos e mesquinhos meios de produ��o, transformando-os nas poderosas alavancas produtoras dos tempos atuais. Esse processo, que a burguesia vem desenvolvendo desde o s�culo XV e que passa historicamente pelas tr�s etapas da coopera��o simples, a manufatura e a grande ind�stria � minuciosamente exposto por Marx na 4 parte de O Capital. Mas a burguesia, como fica tamb�m demonstrado nessa obra, n�o podia converter aqueles primitivos meios de produ��o em poderosas for�as produtivas sem transform�-los de meios individuais de produ��o em meios sociais, s� manej�veis por uma coletividade de homens. A ro�a, o tear manual e o martelo do ferreiro foram substitu�dos pela m�quina de fiar, pelo tear mec�nico, pelo martelo movido a vapor; a oficina individual deu o lugar � f�brica, que imp�e a coopera��o de centenas e milhares de oper�rios. E, com os meios de produ��o, transformou-se a pr�pria produ��o, deixando de ser uma cadeia de fatos individuais para se converter numa cadeia de atos sociais, e os produtos transformaram-se de produtos individuais em produtos sociais. O fio, as telas, os artigos de metal que agora sa�am da f�brica eram produto do trabalho coletivo de um grande n�mero de oper�rios, por cujas m�os tinham que passar sucessivamente para a sua elabora��o. J� ningu�m podia dizer: isto foi feito por mim, este produto � meu.

Mas onde a produ��o tem por forma principal um regime de divis�o social do trabalho criado paulatinamente, por impulso elementar, sem sujei��o a plano algum, a produ��o imprime aos produtos a forma de mercadoria, cuja troca, compra e venda permitem aos diferentes produtores individuais satisfazer as suas diversas necessidades. E isso era o que acontecia na Idade M�dia. O campon�s, por exemplo, vendia ao artes�o os produtos da terra, comprando-lhe em troca os artigos elaborados na sua oficina. Nessa sociedade de produtores isolados, de produtores de mercadorias, veio a introduzir-se mais tarde o novo modo de produ��o. No meio daquela divis�o elementar do trabalho, sem plano nem sistema, que imperava no seio de toda a sociedade, o novo modo de produ��o implantou a divis�o planificada do trabalho dentro de cada f�brica; ao lado da produ��o individual surgiu a produ��o social. Os produtos de ambas eram vendidos no mesmo mercado e, portanto, a pre�os aproximadamente iguais. Mas a organiza��o planificada podia mais que a divis�o elementar do trabalho; as f�bricas em que o trabalho estava organizado socialmente elaboravam os seus produtos mais baratos que os pequenos produtores isolados. A produ��o individual foi pouco a pouco sucumbindo em todos os campos e a produ��o social revolucionou todo o antigo modo de produ��o. Contudo, esse car�ter revolucion�rio passava despercebido; t�o despercebido que, pelo contr�rio, se implantava com a �nica e exclusiva finalidade de aumentar e fomentar a produ��o de mercadorias. Nasceu diretamente ligado a certos setores de produ��o e troca de mercadorias que j� vinham funcionando: o capital comercial, a ind�stria artesanal e o trabalho assalariado. E j� que surgia como uma nova forma de produ��o de mercadorias, mantiveram-se em pleno vigor sob ela as formas de apropria��o da produ��o de mercadorias.

Na produ��o de mercadorias, tal como se havia desenvolvido na Idade M�dia, n�o podia surgir o problema de a quem pertencem os produtos do trabalho. O produtor individual criava-os, geralmente, com mat�rias-primas da sua propriedade, produzidas n�o raro por ele mesmo, com os seus pr�prios meios de trabalho e elaborados com o seu pr�prio trabalho manual ou da sua fam�lia. N�o necessitava, portanto, de se apropriar deles, pois j� eram seus pelo simples fato de produzi-los. A propriedade dos produtos baseava-se, pois, no trabalho pessoal. E mesmo naqueles casos em que se empregava a ajuda alheia, esta era, em regra, acess�ria, e recebia freq�entemente, al�m do sal�rio, outra compensa��o: o aprendiz e o oficial das corpora��es n�o trabalhavam menos pelo sal�rio e pela comida do que para aprender e chegar a ser mestres algum dia. Sobrevem a concentra��o dos meios de produ��o em grandes oficinas e manufaturas, a sua transforma��o em meios de produ��o realmente sociais. Entretanto, esses meios de produ��o e os seus produtos sociais foram considerados como se continuassem a ser o que eram antes: meios de produ��o e produtos individuais. E se at� aqui o propriet�rio dos meios de trabalho se apropriara dos produtos, porque eram, geralmente, produtos seus e a ajuda constitu�a uma exce��o, agora o propriet�rio dos meios de trabalho continuava apoderando-se do produto, embora j� n�o fosse um produto seu, mas fruto exclusivo do trabalho alheio. Deste modo, os produtos, criados agora socialmente, n�o passavam a ser propriedade daqueles que haviam posto realmente em marcha os meios de produ��o e eram realmente os seus criadores, mas do capitalista. Os meios de produ��o e a produ��o foram convertidos essencialmente em fatores sociais. E, no entanto, viam-se submetidos a uma forma de apropria��o que pressup�e a produ��o privada individual, isto � aquela em que cada qual � dono do seu pr�prio produto e, como tal, comparece ele no mercado. O modo de produ��o v�-se sujeito a esta forma de apropria��o apesar de destruir o pressuposto sobre o qual repousa (18) Nesta contradi��o, que imprime ao novo modo de produ��o o seu car�ter capitalista, encerra-se em germe todo o conflito dos tempos atuais. E quanto mais o novo modo de produ��o se imp�e e impera em todos os campos fundamentais da produ��o e em todos os pa�ses economicamente importantes, afastando a produ��o individual, salvo vest�gios insignificantes, maior � a evid�ncia com que se revela a incompatibilidade entre a produ��o social e a apropria��o capitalista.

Os primeiros capitalistas j� se encontraram, como ficou dito, com a forma do trabalho assalariado. Mas como exce��o, como ocupa��o secund�ria, como simples ajuda, como ponto de transi��o. O lavrador que sa�a de vez em quando para ganhar uma di�ria, tinha os seus dois palmos de terra pr�pria, gra�as aos quais, em caso extremo, podia viver. Os regulamentos das corpora��es velavam para que os oficiais de hoje se convertessem amanh� em mestres. Mas, logo que os meios de produ��o adquiriram um car�ter social e se concentraram nas m�os dos capitalistas, as coisas mudaram. Os meios de produ��o e os produtos do pequeno produtor individual foram sendo cada vez mais depreciados, at� que a esse pequeno produtor n�o restou outro recurso sen�o ganhar um sal�rio pago pelo capitalista. O trabalho assalariado, que era antes exce��o e mera ajuda, passou a ser regra e forma fundamental de toda a produ��o, e o que era antes ocupa��o acess�ria converte-se em ocupa��o exclusiva do oper�rio. O oper�rio assalariado tempor�rio transformou-se em oper�rio assalariado para toda a vida. Al�m disso, a multid�o desses para sempre assalariados v�-se engrossada em propor��es gigantescas pela derrocada simult�nea da ordem feudal, pela dissolu��o das mesnadas (19) dos senhores feudais, a expuls�o dos camponeses das suas terras, etc. Realizara-se o completo div�rcio entre os meios de produ��o concentrados nas m�os dos capitalistas, por um lado, e por outro, os produtores que nada possu�am al�m da sua pr�pria for�a de trabalho. A contradi��o entre a produ��o social e a apropria��o capitalista reveste a forma de antagonismo entre o proletariado e a burguesia.

Vimos que o modo de produ��o capitalista se introduziu numa sociedade de produtores de mercadorias, de produtores individuais, cujo v�nculo social era o interc�mbio dos seus produtos - Mas toda a sociedade baseada na produ��o de mercadorias apresenta a particularidade de que nela os produtores perdem o comando sobre as suas pr�prias rela��es sociais - Cada qual produz para si, com os meios de produ��o de que consegue dispor, e para as necessidades do seu interc�mbio privado. Ningu�m sabe qual a quantidade de artigos do mesmo tipo que os demais lan�am no mercado, nem da quantidade que o mercado necessita; ningu�m sabe se o seu produto individual corresponde a uma procura efetiva, nem se poder� cobrir os gastos, nem sequer, em geral, se poder� vend�-lo. A anarquia impera na produ��o social. Mas a produ��o de mercadorias tem, como toda a forma de produ��o, as suas �eis caracter�sticas, pr�prias e insepar�veis dela; e essas leis abrem caminho apesar da anarquia, na pr�pria anarquia e atrav�s dela. Tomam corpo na �nica forma de enlace social que subsiste: na troca, e imp�em-se aos produtores individuais sob a forma das leis imperativas da concorr�ncia. A princ�pio, esses produtores ignoram-nas e � preciso que uma larga experi�ncia as v� revelando, pouco a pouco. Imp�em-se, pois, sem os produtores, e mesmo contra eles, como leis naturais cegas que presidem a essa forma de produ��o. O produto impera sobre o produtor.

Na sociedade medieval, e sobretudo nos seus primeiros s�culos, a produ��o destinava-se principalmente ao consumo pr�prio, a satisfazer apenas as necessidades do produtor e sua fam�lia. E onde, como acontecia no campo, subsistiam rela��es pessoais de vassalagem, contribu�a tamb�m para satisfazer as necessidades do senhor feudal. N�o se produzia, pois, nenhuma troca, nem os produtos se revestiam, portanto, com o car�ter de mercadorias. A fam�lia do lavrador produzia quase todos os objetos de que necessitava; utens�lios, roupas e v�veres. S� come�ou a produzir mercadorias quando come�ou a criar um excedente de produ��o, depois de cobrir as suas pr�prias necessidades e os tributos em esp�cie que devia pagar ao senhor feudal; esse excedente, lan�ado no interc�mbio social, no mercado, para venda, converteu-se em mercadoria. Os artes�os das cidades, por certo, tiveram que produzir para o mercado desde o primeiro momento. Mas tamb�m elaboravam eles pr�prios a maior parte dos produtos de que necessitavam para o seu consumo; tinham as suas hortas e os seus pequenos campos, apascentavam o seu gado nos campos comunais, que lhes forneciam tamb�m madeira e lenha; as mulheres fiavam o linho e a l�, etc. A produ��o para a troca, a produ��o de mercadorias estava no in�cio. Por isso o interc�mbio era limitado, o mercado era reduzido, o modo de produ��o era est�vel. Em face do exterior imperava o exclusivismo local; no interior, a associa��o local: a Marca no campo, as corpora��es nas cidades.

Mas ao estender-se a produ��o de mercadorias e, sobretudo, ao aparecer o modo capitalista de produ��o, as leis da produ��o de mercadorias, que at� aqui haviam apenas dado sinais de vida, passam a funcionar de maneira aberta e poderosa. As antigas associa��es come�am a perder for�a, as antigas fronteiras v�o caindo por terra, os produtores v�o se convertendo mais e mais em produtores de mercadorias independentes e isolados A anarquia da produ��o social vem � luz e agu�a-se cada vez mais. Mas o instrumento principal com que o modo de produ��o capitalista fomenta essa anarquia na produ��o social � precisamente o inverso da anarquia: a crescente organiza��o da produ��o com car�ter social, dentro de cada estabelecimento de produ��o. Por este meio, p�e fim � velha estabilidade pac�fica. Onde se implanta num ramo industrial, n�o tolera a seu lado nenhum dos velhos m�todos. Onde se apodera da ind�stria artesanal, destr�i-a e aniquila-a. O terreno de trabalho transforma-se num campo de batalha. As grandes descobertas geogr�ficas e as empresas de coloniza��o que as acompanham multiplicam os mercados e aceleram o processo de transforma��o da oficina do artes�o em manufatura. E a luta n�o eclode somente entre os produtores locais isolados; as contendas locais n�o adquirem envergadura nacional, e surgem as guerras comerciais dos s�culos XVII e XVIII. At� que, por fim, a grande ind�stria e a implanta��o do mercado mundial d�o car�ter universal � luta, ao mesmo tempo que lhe imprimem uma inaudita viol�ncia. Tanto entre os capitalistas individuais como entre industriais e pa�ses inteiros, a primazia das condi��es � natural ou artificialmente criadas � da produ��o decide a luta pela exist�ncia. O que sucumbe � esmagado sem piedade. E a luta darwinista da exist�ncia individual transplantada, com redobrada f�ria, da natureza para a sociedade. As condi��es naturais de vida da besta convertem-se no ponto culminante do desenvolvimento humano. A contradi��o entre a produ��o social e a apropria��o capitalista manifesta-se agora como antagonismo entre a organiza��o da produ��o dentro de cada f�brica e a anarquia da produ��o no seio de toda a sociedade.

O modo capitalista de produ��o move-se nestas duas formas da contradi��o a ele inerentes pelas suas pr�prias origens, descrevendo sem apelo aquele "c�rculo vicioso" j� revelado por Fourier. Mas o que Fourier era ainda incapaz de distinguir na sua �poca � que este c�rculo se vai reduzindo gradualmente pouco a pouco, que o movimento se desenvolve em espiral e tem de chegar necessariamente ao seu fim, como o movimento dos planetas, chocando-se com o centro. a for�a propulsora da anarquia social da produ��o que converte a imensa maioria dos homens, cada vez mais marcadamente, em prolet�rios, e estas massas prolet�rias ser�o, por sua vez, as que, afinal, por�o fim � anarquia da produ��o. � a for�a propulsora da anarquia social da produ��o que converte a capacidade infinita de aperfei�oamento das m�quinas num preceito imperativo, que obriga todo o capitalista industrial a melhorar continuamente a sua maquin�ria, sob pena de perecer. Mas melhorar a maquin�ria equivale a tornar sup�rflua uma massa de trabalho humano. E assim como a implanta��o e o aumento quantitativo da maquin�ria trouxeram consigo a substitui��o de milh�es de oper�rios manuais por um n�mero reduzido de oper�rios mec�nicos, o seu aperfei�oamento determina a elimina��o de um n�mero cada vez maior de oper�rios das m�quinas e, em �ltima inst�ncia, a cria��o de uma massa de oper�rios dispon�veis que ultrapassa a necessidade m�dia de ocupa��o do capital, de um verdadeiro ex�rcito industrial de reserva, como eu j� lhe chamara em 1845 (20),de um ex�rcito de trabalhadores dispon�veis para as �pocas em que a ind�stria trabalha a pleno vapor e que logo nas crises que sobrev�m necessariamente depois desses per�odos, � lan�ado �s ruas, constituindo a todo o momento uma grilheta amarrada aos p�s da classe trabalhadora na sua luta pela exist�ncia contra o capital e um regulador para manter os sal�rios no n�vel baixo correspondente �s necessidades do capitalista. Assim, para o dizer com Marx, a maquin�ria converteu-se na mais poderosa arma do capital contra a classe oper�ria, um meio de trabalho que arranca constantemente os meios de vida das m�os do oper�rio, acontecendo que o produto do pr�prio oper�rio passa a ser o instrumento da sua escraviza��o. Deste modo, a economia nos meios de trabalho leva consigo, desde o primeiro momento, o mais impiedoso desperd�cio da for�a de trabalho e a espolia��o das condi��es normais da fun��o mesma do trabalho - E a maquin�ria, o recurso mais poderoso que se p�de criar para reduzir a jornada de trabalho, converte-se no mais infal�vel recurso para converter a vida inteira do oper�rio e da sua fam�lia numa grande jornada dispon�vel para a valoriza��o do capital; ocorre, assim, que o excesso de trabalho de uns � a condi��o determinante da car�ncia de trabalho de outros, e que a grande ind�stria, lan�ando-se pelo mundo inteiro, em desabalada correria, � conquista de novos consumidores, reduz na sua pr�pria casa o consumo das massas a um m�nimo de fome e mina com isso o seu pr�prio mercado interno. "A lei que mant�m constantemente o excesso relativo de popula��o ou ex�rcito industrial de reserva em equil�brio com o volume e a intensidade da acumula��o do capital amarra o oper�rio ao capital com liames mais fortes do que as cunhas com que Vulcano cravou Prometeu no rochedo. Isso d� origem a que a acumula��o do capital corresponda a uma acumula��o igual de mis�ria. A acumula��o de riqueza num dos p�los determina no p�lo oposto, no p�lo da classe que produz o seu produto como capital, uma acumula��o igual de mis�ria, de tormentos, de trabalho, de escravid�o, de ignor�ncia, de embrutecimento e de degrada��o moral". (Marx, O Capital, t. I cap. XXIII). E esperar do modo capitalista de produ��o uma distribui��o diferente dos produtos seria o mesmo que esperar que os dois eletrodos de uma bateria, quando ligados com ela n�o decomponham a �gua nem produzam oxig�nio no p�lo positivo e hidrog�nio no p�lo negativo Vimos - que a capacidade de aperfei�oamento da maquin�ria moderna, levada ao seu limite m�ximo converte-se, em virtude da anarquia da produ��o dentro da sociedade, num preceito imperativo que obriga os capitalistas industriais, cada qual por si, a melhorar incessantemente a sua maquin�ria, a tornar sempre mais poderosa a sua for�a de produ��o. N�o menos imperativo e o preceito em que se converte para ele a mera possibilidade efetiva de dilatas a sua �rbita de produ��o. A enorme for�a de expans�o da grande ind�stria, a cujo lado a expans�o dos gases � uma brincadeira de crian�as, revela-se hoje diante dos nossos olhos como uma necessidade qualitativa e quantitativa de expans�o, que zomba de todos os obst�culos que se lhe deparam. Estes obst�culos s�o os que lhe op�em o consumo, a sa�da, os mercados de que os produtos da grande ind�stria necessitam. Mas a capacidade extensiva e intensiva de expans�o dos mercados obedece, por sua vez, a leis muito diferentes e que atuam de uma maneira muito menos en�rgica. A expans�o dos mercados n�o pode desenvolver-se ao mesmo ritmo que a da produ��o. A colis�o torna-se inevit�vel, e como � imposs�vel qualquer solu��o sen�o fazendo-se saltar o pr�prio modo capitalista de produ��o, essa colis�o torna-se peri�dica. A produ��o capitalista engendra um novo "c�rculo vicioso"

Com efeito, desde 1825, ano em que estourou a primeira crise geral, n�o se passam dez anos seguidos sem que todo o mundo industrial e comercial, a distribui��o e a troca de todos os povos civilizados e do seu s�quito de pa�ses mais ou menos b�rbaros saia dos eixos. O com�rcio � paralisado, os mercados s�o saturados de mercadorias, os produtos apodrecem nos armaz�ns abarrotados, sem encontrar sa�da; o dinheiro torna-se invis�vel; o cr�dito desaparece; as f�bricas param; as massas oper�rias carecem de meios de subsist�ncia precisamente por t�-los produzido em excesso, as bancarrotas e fal�ncias sucedem-se. A paragem dura anos inteiros, as for�as produtivas e os produtos s�o malbaratados e destru�dos em massa at� que, por fim, os "stocks" de mercadorias acumuladas, mais ou menos depreciadas, encontram sa�da, e a produ��o e a troca se v�o reanimando pouco a pouco. Paulatinamente, a marca acelera-se, O andamento converte-se em trote, o trote industrial em galope e, finalmente, em carreira desenfreada, num steeple-chase da ind�stria, do com�rcio, do cr�dito, da especula��o, para terminar, por fim, depois dos saltos mais arriscados, na fossa de um crack. E assim, sucessivamente. Cinco vezes se repete a mesma hist�ria desde 1825, e presentemente (1877) estamos a viv�-la pela sexta vez. E o car�ter destas crises � t�o n�tido e t�o marcante que Fourier as abrangia todas ao descrever a primeira, dizendo que era uma crise pl�torique, uma crise nascida da superabund�ncia.

Nas crises estoura em explos�es violentas a contradi��o entre a produ��o social e a apropria��o capitalista. A circula��o da mercadoria fica, por um momento paralisada. O meio de circula��o, o dinheiro, converte-se num obst�culo para a circula��o; todas as leis da produ��o e da circula��o das mercadorias se viram ao contr�rio. O conflito econ�mico atinge o seu ponto culminante: o modo de produ��o rebela-se contra o modo de distribui��o.

O fato de que a organiza��o social da produ��o dentro das f�bricas se tenha desenvolvido at� chegar a um ponto em que passou a ser inconcili�vel com a anarquia � coexistente com ela e acima dela � da produ��o na sociedade � um fato que se revela palp�vel aos pr�prios capitalistas pela concentra��o violenta dos capitais, produzida durante as crises � custa da ru�na de numerosos grandes e, sobretudo, pequenos capitalistas. Todo o mecanismo do modo de produ��o falha, esgotado pelas for�as produtivas que ele mesmo engendrou J� n�o consegue transformar em capital essa massa de meios de produ��o, que permanecem inativos, e por isso precisamente deve permanecer tamb�m inativo o ex�rcito industrial de reserva. Meios de produ��o, meios de vida, oper�rios em disponibilidade: todos os elementos da produ��o e da riqueza geral existem em excesso. Mas a "superabund�ncia converte-se em fonte - de mis�ria e de pen�ria". (Fourier), j� que � ela, exatamente, que impede a transforma��o dos meios de produ��o e de vida em capital, pois na sociedade capitalista os meios de produ��o n�o podem p�r-se em movimento sen�o transformando-se previamente em capital, em meio de explora��o da for�a humana de trabalho. Este imprescind�vel car�ter de capital dos meios de produ��o ergue-se como um espectro entre eles e a classe oper�ria. � isso o que impede que se engrenem a alavanca material e a alavanca pessoal da produ��o; � o que n�o permite aos meios de produ��o funcionar nem aos oper�rios trabalhar e viver. Por um lado, o modo capitalista de produ��o revela, pois, a sua pr�pria incapacidade para continuar dirigindo as suas for�as produtivas. Por outro lado, essas for�as produtivas compelem com uma intensidade. cada vez maior no sentido de que se resolva a contradi��o, de que sejam redimidas da sua condi��o de capital, de que seja efetivamente reconhecido o seu car�ter de for�as produtivas sociais.

� essa rebeli�o das for�as de produ��o, cada vez mais capazes de impor, contra a sua qualidade de capital, essa necessidade cada vez mais imperiosa de que se reconhe�a o seu car�ter social, que obriga a pr�pria classe capitalista a consider�-las cada vez mais abertamente como for�as produtivas sociais, na medida em que � poss�vel dentro das rela��es capitalistas. Tanto os per�odos de elevada press�o industrial, como a sua desmedida expans�o do cr�dito, como o pr�prio crack, com o desmoronamento de grandes empresas capitalistas, estimulam essa forma de socializa��o de grandes massas de meios de produ��o que encontramos nas diferentes categorias de sociedades an�nimas. Alguns desses meios de produ��o e de comunica��o j� s�o por si t�o gigantescos que excluem, como acontece com as estradas de ferro, qualquer outra forma de explora��o capitalista. Ao chegar a uma determinada fase de desenvolvimento j� n�o basta nem essa forma; os grandes produtores nacionais de um ramo industrial unem-se para formar um truste, um cons�rcio destinado a regular a produ��o; determinam a quantidade total que deve ser produzida, dividem-se entre eles e imp�em, desse modo, um pre�o de venda de antem�o fixado. Como, por�m, esses trustes se desmoronam ao sobrevirem os primeiros ventos maus nos neg�cios, conduzem com isso a uma socializa��o ainda mais concentrada; todo o ramo industrial se converte numa �nica grande sociedade an�nima, e a concorr�ncia interna d� lugar ao monop�lio interno dessa sociedade �nica; assim aconteceu j� em 1890 com a produ��o inglesa de �lcalis, que na atualidade, depois da fus�o de todas as quarenta e oito grandes f�bricas do pa�s, � explorada por uma s� sociedade com dire��o �nica e um capital de 120 milh�es de marcos.

Nos trustes, a livre concorr�ncia transforma-se em monop�lio e a produ��o sem plano da sociedade capitalista capitula ante a produ��o planificada e organizada da nascente sociedade socialista. � claro que, no momento, cm proveito e benef�cio dos capitalistas. Mas aqui a explora��o torna-se t�o patente que tem for�osa-mente dc ser derrubada. Nenhum povo toleraria uma produ��o dirigida pelos trustes, unia explora��o t�o descarada da coletividade por uma pequena quadrilha de cortadores de cup�es.

De um modo ou de outro, com ou sem trustes, o representante oficial da sociedade capitalista, o Estado, tem que acabar tomando a seu cargo o comando da produ��o (21). A necessidade a que corresponde essa transforma��o de certas empresas em propriedades do Estado come�a a manifestar-se nas grandes empresas de transportes e comunica��es, tais como o correio, o tel�grafo e as estradas de ferro.

Al�m da incapacidade da burguesia para continuar a dirigir as for�as produtivas modernas que as crises revelam, a transforma��o das grandes empresas de produ��o e transporte em sociedade an�nimas, trustes e em propriedade do Estado demonstra que a burguesia j� n�o � indispens�vel para o desempenho dessas fun��es. Hoje as fun��es sociais do capitalista est�o todas a cargo de empregados assalariados, e toda a atividade social do capitalista se reduz a cobrar as suas rendas, cortar os seus cup�es e jogar na Bolsa, onde os capitalistas de toda esp�cie arrebatam, uns aos outros, os seus capitais. E se antes o modo capitalista de produ��o deslocava os oper�rios, agora desloca tamb�m os capitalistas, lan�ando-os, do mesmo modo que aos oper�rios, entre a popula��o excedente; embora, por enquanto ainda n�o no ex�rcito industrial de reserva.

Mas as for�as produtivas n�o perdem a sua condi��o de capital ao converter-se em propriedade das sociedades an�nimas e dos trustes ou em propriedade do Estado- No que se refere aos trustes e sociedades an�nimas, � palpavelmente claro. Pelo seu lado, o Estado moderno n�o � nem mais que uma organiza��o criada pela sociedade burguesa para defender as condi��es exteriores gerais de modo capitalista de produ��o contra os atentados, tanto dos oper�rios como dos capitalistas isolados. O Estado moderno, qualquer que seja a sua forma, � uma m�quina essencialmente capitalista, � o Estado. No que se refere aos trustes e sociedades an�quanto mais for�as produtivas passarem sua propriedade, tanto mais se converter� em capitalista coletivo e tanto maior quantidade de cidad�os explorar�. Os oper�rios continuam sendo oper�rios assalariados, prolet�rios. A rela��o capitalista, longe de ser abolida com essas medidas, agu�a-se. Mas, ao chegar ao cume, esboroa-se. A propriedade do Estado sobre as for�as produtivas n�o � solu��o do conflito, mas abriga j� no seu seio o meio formal, o instrumento para chegar � solu��o.

Essa solu��o s� pode residir em ser reconhecido de um modo efetivo o car�ter social das for�as produtivas modernas e, portanto, em harmonizar o modo de produ��o, de apropria��o e de troca com o car�ter social dos meios de produ��o. Para isso n�o h� sen�o um caminho: que a sociedade, abertamente e sem rodeios, tome posse dessas for�as produtivas, que j� n�o admitem outra dire��o a n�o ser a sua. Assim procedendo, o car�ter social dos meios de produ��o e dos produtos, que hoje se volta contra os pr�prios produtores, rompendo periodicamente as fronteiras do modo de podu��o e de troca, e s� pode Impor-se com uma for�a e efic�cia t�o destruidoras como o impulso cego das leis naturais, ser� posto em vigor com plena consci�ncia pelos produtores e converter-se-� de causa constante de perturba��es e cataclismas peri�dicos, na alavanca mais poderosa da pr�pria produ��o.

As for�as ativas da sociedade atuam, enquanto n�o as conhecemos e contamos com elas, exatamente como as for�as da natureza: de modo cego, violento e destruidor. Mas, uma vez conhecidas, logo que se saiba compreender a sua a��o, as suas tend�ncias e os seus efeitos, est� nas nossas m�os o sujeit�-las cada vez mais � nossa vontade e, por meio delas, alcan�ar os fins propostos. Tal � o que ocorre, muito especialmente com as gigantescas for�as modernas da produ��o. Enquanto resistirmos obstinadamente a compreender a sua natureza e o seu car�ter � e a essa compreens�o se op�em o modo capitalista de produ��o e os seus defensores �, essas for�as atuar�o apesar de n�s, e dominar-nos-�o, como bem ressaltamos. Em troca, assim que penetramos na sua natureza, essas for�as, postas nas m�os dos produtores associados, converter-se-�o de tiranos demon�acos em servas submissas. � a mesma diferen�a que h� entre o poder mal�fico da eletricidade nos raios da tempestade e o poder ben�fico da for�a el�trica dominada no tel�grafo e no arco voltaico; a diferen�a que h� entre o fogo destruidor e o fogo posto ao servi�o do homem. No dia em que as for�as produtivas da sociedade moderna se submeterem ao regime congruente com a sua natureza por fim conhecida, a anarquia social da produ��o deixar� o seu posto � regulamenta��o coletiva e organizada da produ��o, de acordo com as necessidades da sociedade e do indiv�duo. E o regime capitalista de apropria��o, em que o produto escraviza primeiro quem o cria e, em seguida, a quem dele se apropria, ser� substitu�do pelo regime de apropria��o, do produto que o car�ter dos modernos meios de produ��o est� ~� reclamar: por um lado, apropria��o diretamente social, como meio para manter e ampliar a produ��o; por outro, apropria��o diretamente individual, como meio de vida e de proveito.

O modo capitalista de produ��o, ao converter mais e mais em prolet�rios a imensa maioria dos indiv�duos de cada pa�s, cria a for�a que, se n�o quiser perecer, est� obrigada a fazer essa revolu��o. E, ao for�ar cada vez mais a convers�o dos grandes meios socializados de produ��o em propriedade do Estado, j� indica por si mesmo o caminho pelo qual deve produzir-se essa revolu��o. O proletariado toma nas suas m�os o Poder do Estado e come�a por converter os meios de produ��o em propriedade do Estado. Mas, nesse mesmo ato, destr�i-se a si pr�prio como proletariado, destruindo toda a diferen�a e todo o antagonismo de classes, e com isso o Estado como tal. A sociedade, que se movera at� ent�o entre antagonismos de classe, precisou do Estado, ou seja, de uma organiza��o da classe exploradora correspondente para manter as condi��es externas de produ��o e, portanto, particularmente, para manter pela for�a a classe explorada nas condi��es de opress�o (a escravid�o, a servid�o ou a vassalagem e o trabalho assalariado), determinadas pelo modo de produ��o existente. O Estado era o representante oficial de toda a sociedade, a sua s�ntese num corpo social vis�vel; mas era-o s� como Estado que, na sua �poca, representava toda a sociedade:na antig�idade era o Estado dos cidad�os escravagistas, na Idade M�dia o da nobreza feudal; nos nossos tempos, da burguesia. Quando o Estado se converter, finalmente, em representante efetivo de toda a sociedade, tornar-se-� por si mesmo sup�rfluo. Quando n�o existir j� nenhuma classe social que precise ser submetida; quando desaparecerem, juntamente com a domina��o de classe, juntamente com a luta pela exist�ncia individual, engendrada pela atual anarquia da produ��o, os choques e os excessos resultantes dessa luta, nada mais haver� para reprimir, nem haver� necessidade, portanto, dessa for�a especial de repress�o que � o Estado. O primeiro ato em que o Estado se manifesta efetivamente como representante de toda a sociedade � a posse dos meios de produ��o em nome da sociedade � � ao mesmo tempo o seu �ltimo ato independente como Estado. A interven��o da autoridade do Estado nas rela��es sociais tornar-se-a sup�rflua num campo ap�s outro da vida social e cessar� por si mesma. O governo sobre as pessoas � substitu�do pela administra��o das coisas e pela dire��o dos processos de produ��o. O Estado n�o ser� "abolido", extingue-se. partindo da� que se pode julgar o valor do falado �Estado popular livre" no que diz respeito � sua justifica��o provis�ria como palavra de ordem de agita��o e no que se refere � sua falta de fundamento cient�fico. � tamb�m partindo da� que deve ser considerada a exig�ncia dos chamados anarquistas de que o Estado seja abolido da noite para o dia.

Desde que existe historicamente o modo capitalista de produ��o, houve indiv�duos e seitas inteiras diante dos quais se projetou mais ou menos vagamente, como ideal futuro, a apropria��o de todos os meios de produ��o pela sociedade. Mas, para que isso fosse realiz�vel, para que se convertesse numa necessidade hist�rica, tornava-se necess�rio que se dessem antes as condi��es efetivas para a sua realiza��o. A fim de que esse progresso, como todos os progressos sociais, seja vi�vel, n�o hasta ser compreendido pela raz�o que a exist�ncia de classes � incompat�vel com os ditames da justi�a, da igualdade, etc.; n�o basta a simples vontade de abolir essas classes � mas s�o necess�rias determinadas condi��es econ�micas novas. A divis�o da sociedade numa classe exploradora e em outra explorada, uma classe dominante e outra oprimida, era uma conseq��ncia necess�ria do anterior desenvolvimento incipiente da produ��o. Enquanto o trabalho global da sociedade der apenas o estritamente necess�rio para cobrir as necessidades mais elementares de todos, e talvez um pouco mais; enquanto, por isso, o trabalho absorver todo o tempo, ou quase todo o tempo, da imensa maioria dos membros da sociedade, esta divide-se, necessariamente, em classes. Junto � grande maioria constrangida a n�o fazer outra coisa sen�o suportar a carga do trabalho, forma-se uma classe que se exime do trabalho diretamente produtivo e a cujo cargo ficam os assuntos gerais da sociedade: a dire��o dos trabalhos, os neg�cios p�blicos, a justi�a, as ci�ncias, as artes, etc. � pois, a lei da divis�o do trabalho que serve de base divis�o da sociedade em classes. O que n�o impede que essa divis�o da sociedade em classes se realize por meio de viol�ncia e da espolia��o, da ast�cia e do logro; nem quer dizer que a classe dominante, uma vez entronizada, se abstenha de consolidar o seu poderio custa da classe trabalhadora, transformando o seu papel social de dire��o numa maior explora��o das massas.

Vemos, pois, que a divis�o da sociedade em classes tem a sua raz�o hist�rica de ser, mas s� dentro de determinados limites de tempo, sob determinadas condi��es sociais. Era condicionada pela insufici�ncia da produ��o, e ser� varrida quando se desenvolverem plenamente as modernas for�as produtivas. Com efeito, a aboli��o das classes sociais pressup�e um grau hist�rico de desenvolvimento tal que a exist�ncia, j� n�o desta ou daquela classe dominante concreta, mas de uma classe dominante qualquer que ela seja e, portanto, as pr�prias diferen�as de classe, representa um anacronismo. Pressup�e, por conseguinte, um grau culminante no desenvolvimento da produ��o em que a apropria��o dos meios de produ��o e dos produtos e, portanto, do poder pol�tico, do monop�lio da cultura e da dire��o espiritual por uma determinada classe da sociedade, n�o s� se tornou de fato sup�rfluo, mas constitui econ�mica, pol�tica e intelectualmente uma barreira levantada perante o progresso. Pois bem, j� se chegou a este ponto. Hoje, a bancarrota pol�tica e intelectual da burguesia j� n�o � um segredo nem para ela mesma; e a sua bancarrota econ�mica � um fen�meno que se repete periodicamente de dez em dez anos. Em cada uma dessas crises a sociedade asfixia-se, afogada pela massa das suas pr�prias for�as produtivas e dos seus produtos, que n�o pode aproveitar e, impotente, v�-se diante da absurda contradi��o de que os seus produtores n�o tenham o que consumir, por falta precisamente de consumidores. A for�a expansiva dos meios de produ��o rompe as amarras com que s�o submetidos pelo modo capitalista de produ��o. S� esta liberta��o dos meios de produ��o pode permitir o desenvolvimento interrupto e cada vez mais r�pido das for�as produtivas e, com isso, o crescimento praticamente ilimitado da produ��o. Mas n�o � apenas isso. A apropria��o social dos meios de produ��o n�o s� elimina os obst�culos artificiais hoje antepostos � produ��o, mas p�e termo tamb�m ao desperd�cio e � devasta��o das for�as produtivas e dos produtos, unia das conseq��ncias inevit�veis da produ��o atual e que alcan�a o seu ponto culminante durante as crises. Al�m disso, acabando-se com o parvo desperd�cio do luxo das classes dominantes e dos seus representantes pol�ticos, ser� posta em circula��o para a coletividade toda uma massa de meios de produ��o e de produtos. Pela primeira vez, surge agora, e surge de um modo efetivo, a possibilidade de assegurar a todos os membros da sociedade, atrav�s de um sistema de produ��o social, uma exist�ncia que, al�m de satisfazer plenamente e cada dia mais abundantemente as suas necessidades materiais, lhes assegura o livre e completo desenvolvimento e exerc�cio das suas capacidades f�sicas, e intelectuais (22). 

Ao apossar-se a sociedade dos meios de produ��o, cessa a produ��o de mercadorias e, com ela, o dom�nio do produto sobre os produtores. A anarquia reinante no seio da produ��o social cede o lugar a uma organiza��o planejada e consciente. Cessa a luta pela exist�ncia individual e, assim, em certo sentido, o homem sai definitivamente do reino animal e sobrep�e-se �s condi��es animais de exist�ncia, para se submeter a condi��es de vida verdadeiramente humanas. As condi��es que cercam o homem e at� agora o dominam, colocam-se, a partir desse instante, sob o seu dom�nio e seu comando e o homem, ao tornar-se dono e senhor das suas pr�prias rela��es sociais, converte-se pela primeira vez em senhor consciente e efetivo da natureza. As leis da sua pr�pria atividade social, que at� agora se erguiam frente ao homem como leis naturais, como poderes estranhos que o submetiam ao seu imp�rio, s�o agora aplicadas por ele com pleno conhecimento de causa e, portanto, submetidas ao seu poderio. A pr�pria exist�ncia social do homem, que at� aqui era enfrentada como algo imposto pela natureza e a hist�ria, �, de agora em diante, obra livre sua. Os poderes objetivos e estranhos que at� aqui vinham imperando na hist�ria, colocam-se sob o controle do pr�prio homem. S� a partir de ent�o, ele come�a a tra�ar a sua hist�ria com plena consci�ncia do que faz. E s� da� em diante as causas sociais postas em a��o por ele come�am a produzir predominantemente, e cada vez em maior medida, os efeitos desejados. � o salto da humanidade do reino da necessidade para o reino da liberdade.

*

* *

Resumamos, brevemente, para terminar, a nossa trajet�ria de desenvolvimento:

1. � Sociedade medieval: Pequena produ��o individual. Meios de produ��o adaptados ao uso individual e, portanto, primitivos, torpes, mesquinhos, de efici�ncia m�nima. Produ��o para o consumo imediato, seja do pr�prio produtor, seja do seu senhor feudal. S� nos casos em que fica um excedente de produtos, depois de ser coberto aquele consumo, � posto � venda e lan�ado no mercado esse excedente. Portanto, a produ��o de mercadorias acha-se ainda nos seus alvores, mas j� encerra, em potencial, a anarquia da produ��o social.

2. � Revolu��o capitalista: Transforma��o da ind�stria, iniciada por meio da coopera��o simples e da manufatura. Concentra��o dos meios de produ��o, at� ent�o dispersos, em grandes oficinas, com o que se convertem de meios de produ��o do indiv�duo em meios de produ��o sociais, metamorfose que n�o afeta, em geral, a forma de troca. Ficam de p� as velhas formas de apropria��o. Aparece o capitalista.- na sua qualidade de propriet�rio dos meios �de produ��o, apropria-se tamb�m dos produtos e converte-os em mercadorias. A produ��o transforma-se num ato social; a troca e, com ela, a apropria��o continuam sendo atos individuais: o produto social � apropriado pelo capitalista individual. Contradi��o fundamental, da qual derivam todas as contradi��es em que se move a sociedade atual e que a grande ind�stria evidencia claramente:

A) Div�rcio do produtor com os meios de produ��o. Condena��o do oper�rio a ser assalariado por toda a vida. Ant�tese de burguesia e proletariado.

B) Relevo crescente e efic�cia acentuada das leis que presidem � produ��o de mercadorias. Concorr�ncia desenfreada. Contradi��o entre a organiza��o social dentro de cada f�brica e a anarquia social na produ��o total.

C) Por um lado, aperfei�oamento da maquinaria, que a concorr�ncia transforma num preceito imperativo para cada fabricante e que eq�ivale a um afastamento cada dia maior de oper�rios: ex�rcito industrial de reserva. Por outro lado, extens�o ilimitada da produ��o, que a concorr�ncia imp�e tamb�m como norma incoerc�vel a todos os fabricantes. De ambos os lados, um desenvolvimento inaudito das for�as produtivas, excesso da oferta sobre a procura, superprodu��o, abarrotamento dos mercados, crise cada dez anos, c�rculo vicioso: superabund�ncia, aqui, de meios de produ��o e de produtos e, ali2 de oper�rios sem trabalho e sem meios de vida. Mas essas duas alavancas da produ��o e do bem-estar social n�o podem combinar-se, porque a forma capitalista da produ��o impede que as for�as produtivas atuem e os produtos circulem, a n�o ser que o convertam previamente em capital, o que lhes � vedado precisamente pela sua pr�pria superabund�ncia. A contradi��o agu�a-se at� se converter em contra-senso: o modo de produ��o revolta-se contra a forma de troca. A burguesia revela-se incapaz para continuar a dirigir as suas pr�prias for�as sociais produtivas.

D) Reconhecimento parcial do car�ter social das for�as produtivas, arrancado aos pr�prios capitalistas. Apropria��o dos grandes organismos de produ��o e de transporte, primeiro por sociedades an�nimas, em seguida pelos trustes, e mais tarde pelo Estado. A burguesia revela-se uma classe sup�rflua; todas as suas fun��es sociais s�o executadas agora por empregados assalariados. 

3. Revolu��o prolet�ria, solu��o das contradi��es: o proletariado toma o poder pol�tico e, por meio dele, converte em propriedade p�blica os meios sociais de produ��o, que escapam das m�os da burguesia. Com este ato redime os meios de produ��o da condi��o de capital, que tinham at� ent�o, e d� ao seu car�ter social plena liberdade para se impor. A partir de agora j� � poss�vel uma produ��o social segundo um plano previamente elaborado. O desenvolvimento da produ��o transforma num anacronismo a sobreviv�ncia de classes sociais diversas. � medida que desaparece a anarquia da produ��o social, vai-se diluindo tamb�m a autoridade pol�tica do Estado. Os homens, donos por fim da sua pr�pria exist�ncia social, tornam-se senhores da natureza, senhores de si mesmos, homens livres. 

A realiza��o deste ato, que redimir� o mundo, � a miss�o hist�rica do proletariado moderno. E o socialismo cient�fico express�o te�rica do movimento prolet�rio, destina-se a pesquisar as condi��es hist�ricas e, com isso, a natureza mesma deste ato, infundindo assim � classe chamada a fazer essa revolu��o, a classe hoje oprimida, a consci�ncia das condi��es e da natureza da sua pr�pria a��o.

Notas

(12) E a seguinte a passagem de Hegel referente � Revolu��o Francesa. �A id�ia, o conceito de direito, fez-se valer de chofre, sem que lhe pudesse opor qualquer resist�ncia a velha arma��o da injusti�a. Sobre a id�ia do direito baseou-se agora portanto, uma Constitui��o, e sobre esse fundamento deve basear-se tudo o mais no futuro: Desde que o Sol ilumina o firmamento e os planetas giram em torno daquele, ningu�m havia percebido que o hoffiem se ergue sobre a cabe�a, isto �, sobre a id�ia, construindo de acordo com ela a realidade. Anax�goras foi o primeiro a dizer que o nus, a raz�o, governa o mundo; mas s� agora o homem acabou de compreender que o pensamento deve governar a realidade espiritual. Era, pois, uma espl�ndida aurora. Todos os seres pensantes celebraram a nova �poca. Uma sublime emo��o reinava naquela �poca, um entusiasmo do esp�rito abalava o momento de aplicar a estas doutrinas subversivas e atentat�rias liga��o do mundo com a divindade". (Hegel, Philosophie der Geschichte, Filosofia da Hist�ria, 1840, p�g. 535). N�o ter� chegado o momento de aplicar a estas doutrinas subversivas e atentat�rias da sociedade, do finado professor Hegel, a lei contra os socialistas? (Nota de Engeis).

(13) Levellers (niveladores): nome dado aos mais radicais plebeus ingleses durante a revolu��o de 1648.

(14) Genial pensador franc�s do s�c. XVIII. Pouco se sabe da vida de Morelly. Somente em meados do s�c. XIX � que se teve a certeza de que os livros O C�digo da Natureza e a Basiliade eram de MorelI. Fil�sofo materialista, Morelly via na propriedade privada o mal do mundo e pregava para resolver esse mal a propriedade coletiva do solo. "Onde n�o existir propriedade privada n�o pode existir nenhuma das suas funestas conseq��ncias". escreveu Morelly.

(15) Gabriel Bonnot de Mably (1709-1785) foi um comunista ut�pico assim como Morelly. Mably foi um dos homens mais cultos do seu tempo e n�o se limitou, nos seus escritos, a criticar o regime social franc�s, mas toda a ordem feudal assente na propriedade privada. A propriedade privada era para Mably a fonte da desigualdade social, e para curar este terr�vel v�cio, o homem n�o tinha mais que se instruir e ter boa moral. Diferentemente de Morelly. Mably era c�ptico com o futuro da humanidade. Para ele a idade do ouro" era imposs�vel alcan�ar. Tanto Mably como Morelly, e ao contr�rio do seu contempor�neo. padre Meslier n�o defendiam a viol�ncia. A ordem social injusta tinha que ser mudada com apelos � raz�o, e n�o Por meio da revolu��o.

(16) Jus primae noctis. Direito que o senhor feudal tinha de se deitar com as noivas do seu feudo na noite de casamento.

(17) Refere-se � cultura grega da cidade de Alexandria, o Egito.

(18) N�o precisamos explicar que, ainda quando a forma de apropria��o permane�a invari�vel, o car�ter da apropria��o sofre uma revolu��o pelo processo que descrevemos, em n�o menor grau que a pr�pria produ��o. A apropria��o de um produto pr�prio e a apropria��o de um produto alheio s�o, evidentemente, duas formas muito diferentes de apropria��o. E advertimos de passagem que o trabalho assalariado, no qual se cont�m j� o germe de todo o modo capitalista de produ��o, � muito antigo: coexistiu durante s�culos inteiros, em casos isolados e dispersos, com a escravid�o. Contudo, esse germe s� p�de desenvolver-se at� formar o modo capitalista de produ��o quando surgiram as premissas hist�ricas adequadas. (Nota de Engels).

(19)For�a militar mercen�ria que defendia em campanha os senhores feudais.

(20) A situa��o da Classe Oper�ria na Inglaterra. (Nota de Engels).

(21) E digo que tem que tomar a seu cargo, pois a nacionaliza��o s� representar� um progresso econ�mico, um passo adiante para a conquista pela sociedade de todas as for�as produtivas, embora essa medida seja levada a cabo pelo Estado atual, quando os meios de produ��o ou de transporte superarem j� efetivamente os quadros diretivos de uma sociedade an�nima, quando, portanto, a medida da nacionaliza��o j� for economicamente inevit�vel. Contudo, recentemente, desde que Bismarck empreendeu o caminho da nacionaliza��o, surgiu uma esp�cie de falso socialismo, que degenera de vez em quando num tipo especial de socialismo, submisso e servil, que em qualquer ato de nacionaliza��o, mesmo nos adotados por Bismarck, v� uma medida socialista. Se a nacionaliza��o da ind�stria do tabaco fosse socialismo, seria necess�rio incluir Napole�o e Metternich entre os fundadores do socialismo. Quando o Estado belga, por motivos pol�ticos e financeiros perfeitamente vulgares, decidiu construir por sua conta as principais linhas f�rreas do pa�s, ou quando Bismarck, sem que nenhuma necessidade econ�mica o levasse a isso, nacionalizou as linhas mais importantes da rede ferrovi�ria da Pr�ssia, pura e simplesmente para assim as poder manejar e aproveitar melhor em caso de guerra, para converter o pessoal das estradas de ferro em gado eleitoral submisso ao Governo e, sobretudo, para encontrar uma nova fonte de rendas isentas de fiscaliza��o pelo Parlamento, todas essas medidas n�o tinham, nem direta nem indiretamente, nem consciente nem inconsciente-mente, nada de socialistas. De outro modo, seria necess�rio tamb�m classificar entre as institui��es socialistas a Real Companhia de Com�rcio Mar�timo, a Real Manufatura de Porcelanas e at� os alfaiates do ex�rcito, sem esquecer a nacionaliza��o dos prost�bulos, proposta muito seriamente, a� por volta do ano 34, sob Frederico Guilherme III por um homem muito esperto. (Nota de Engels).

(22) Alguns �ndices dar�o ao leitor uma no��o aproximada da enorme for�a expansiva que, mesmo sob a press�o capitalista, os modernos meios de produ��o desenvolvem. Segundo os c�lculos de Giffen, a riqueza global da Gr�-Bretanha e Irlanda ascendia. em n�meros redondos a

1814�2200 milh�es de libras esterlinas = 44000 milh�es de marcos

1865�6100 milh�es de libras esterlina = 22000 milh�es de marcos

1875�8500 milh�es de libras esterlinas = 7000 milh�es de marcos

Para dar uma id�ia do que representa a dilapida��o dos meios de produ��o e de produtos desperdi�ados durante a crise, direi que no segundo congresso dos industriais alem�es, realizado em Berlim. em 21 de Fevereiro de 1878, calculou-se em 455 milh�es de marcos as perdas globais representadas pelo �ltimo crack, somente para a ind�stria sider�rgica alem�. (Nota de Engels).

Quem foram os fundadores do socialismo científico oq pregavam os pensadores?

O socialismo científico, também chamado de socialismo marxista, é uma teoria política, social e econômica. Ele foi criado em 1840 por Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895). Como o próprio nome indica, esse modelo esteve baseado na análise científica e crítica do sistema capitalista.

Quem são os fundadores do socialismo científico?

O Socialismo Científico teve sua origem a partir da publicação, no ano de 1848, do livro 'Manifesto Comunista', dos autores Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), portanto, os citados autores foram os principais teóricos do socialismo científico – também denominado marxismo.

Quais foram os principais pensadores do socialismo?

O pensamento socialista foi primeiramente formulado por Saint-Simon (1760-1825), Charles Fourier (1772-1837), Louis Blanc (1811-1882) e Robert Owen (1771-1858).

O que defende o socialismo científico?

O socialismo científico, também conhecido como marxismo, propõe a compreensão científica de como o capitalismo funciona para poder substituí-lo por um regime econômico igualitário. Para seus autores, todos os períodos da História e todos os modelos econômicos foram estruturados sobre a luta de classes.

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