Quem era o presidente do Brasil durante a greve dos caminhoneiros?

Quem era o presidente do Brasil durante a greve dos caminhoneiros?
Caminhoneiros falam sobre apoio nas eleições presidenciais deste ano - Rodolfo Buhrer/Agência O Globo

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Os caminhoneiros foram uma importante base apoiadora da eleição de Jair Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018. À época, o então candidato à Presidência fez acenos à categoria, que depois de ter paralisado o país nas greves durante o governo de Michel Temer pleiteava a redução do valor do diesel, o piso mínimo da tabela de frete e mais pontos de parada para descanso nas estradas. Quatro anos depois, no entanto, a maioria das promessas não foi cumprida e os líderes da categoria, decepcionados, assumem diferentes posicionamentos em relação aos candidatos destas eleições.

Wallace Jardim, mais conhecido como Chorão, é presidente da Associação Nacional dos Condutores de Veículos Autônomos (Abrava), agora licenciado para concorrer ao cargo de deputado federal por São Paulo pelo Partido Social Democrático (PSD). Chorão foi um dos principais líderes da greve de 2018 e apoiou a eleição de Bolsonaro na época, porém, logo mudou o seu posicionamento quando percebeu que muitas pautas não seriam atendidas. A retirada do apoio ao Bolsonaro foi um movimento de grande parte da categoria já no segundo semestre de 2019, após a notícia de que o frete mínimo sofreria redução entre 30% e 50%. Na época, o então ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas(hoje candidato ao governo de São Paulo), prometeu dialogar e conciliar os interesses da categoria, mas a categoria afirma que poucos foram de fato atendidos.

Hoje, Chorão afirma que não apoia a reeleição de Bolsonaro ainda que o presidente de seu partido, Gilberto Kassab, indique um caminho diferente com apoio à chapa de Tarcísio em São Paulo. Chorão afirma que os candidatos Ciro Gomes (PDT) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fizeram acenos mais concretos aos caminhoneiros nesta campanha. “Lula e Ciro se comprometeram a colocar as demandas da categoria no seu plano de governo, o que Bolsonaro não fez em 2018”, disse ele, citando entre elas o fim do Preço de Paridade Internacional (PPI), da Petrobras.

Já Irani Gomes, presidente do Sinditanque de Minas Gerais e candidato ao Senado pelo Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), está apoiando o governo Bolsonaro apesar de ver na categoria uma descrença geral com a política. “Não sou bolsonarista, mas sou a favor da continuidade do governo”, diz ele. “No meio do transporte rodoviário de carga o pessoal está muito calado, não tem nenhuma condição para nenhum dos dois governos. Me parece que estão insatisfeitos e desacreditados com a política”, diz ele.

Questionado sobre o apoio que os dois governos, tanto do PT quanto de Bolsonaro, fizeram pela categoria, Irani disse que Bolsonaro deixou a desejar, mas zerou o PIS/Cofins temporariamente e reduziu o ICMS, enquanto o governo do PT decepcionou com a “falta de apoio ao piso mínimo do frete e aumento dos combustíveis”, durante o governo Dilma. “O PT teve 16 anos para fazer e o final foi de muito abandono”, diz ele.

Apesar do apoio ao governo atual, Irani está pleiteando a redução dos impostos sobre o óleo diesel e verificando como ficará o preço dos combustíveis com gasolina e etanol, após o fim das isenções a esses combustíveis, em dezembro. “Estamos começando a falar com o governo, mas ainda não nos deram posicionamento. Precisamos que seja uma lei, estamos muito preocupados se essa redução vai se manter apenas no período eleitoral”, diz ele.

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Quem era o presidente do Brasil durante a greve dos caminhoneiros?
O deputado federal Nereu Crispim (PSD-RS) Michel Jesus/Câmara dos Deputados

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Presidente da Frente Parlamentar dos Caminhoneiros Autônomos e Celetistas, o deputado federal Nereu Crispim (PSD-RS) não poupou críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PL) pelos últimos repasses da Petrobras ao preço do óleo diesel e ressaltou que há possibilidade de paralisação da categoria nas próximas semanas. Em entrevista a VEJA, ele disse que o anúncio de privatização da petrolífera é uma “cortina de fumaça” para encobrir as promessas referentes à classe que não foram cumpridas por Bolsonaro. “Isso é mais uma cortina de fumaça para justificar a falta de vontade, incompetência e mentira do Bolsonaro em relação ao que ele se comprometeu lá em 2018 quando teve a paralisação dos caminhoneiros”, diz Crispim. “É só para ganhar tempo.”

Crispim afirma que Bolsonaro praticou um “teatro” ao exonerar o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, após o anúncio de novos reajustes nos valores praticados pela companhia em suas refinarias. Agora as atenções se voltam ao presidente da estatal, José Mauro Ferreira Coelho. Indicado por Albuquerque, Ferreira Coelho assumiu a companhia há um mês e pode ser trocado na próxima assembleia de acionistas da companhia. “Os ministros e presidentes da Petrobras são, na verdade, fantoches, que fazem exatamente o que o Bolsonaro e o [ministro da Economia] Paulo Guedes projetam de políticas de preços para a Petrobras. A cada aumento de preço, ele arruma um fantoche para fazer de ‘boi de piranha’. Como ele não poderia responsabilizar o presidente da Petrobras neste momento, resolveu responsabilizar o ministro Bento, mesmo que esse tenha cumprido com as determinações do Bolsonaro em um cabresto”, diz o parlamentar.

Para ele, Bolsonaro “joga para a torcida” ao dizer que não pode fazer nada em relação à política de preços praticadas pela empresa. “Ele vai continuar com esse ‘teatro’ até as eleições, dizendo que não tem como fazer nada, mas a Petrobras é uma empresa pública, controlada pelo governo. Ele é quem escolhe o presidente, o ministro, o presidente do conselho… O único responsável por permanecer com essa política de preço é ele, que está beneficiando somente os grandes investidores da empresa na bolsa e os banqueiros já abastados”, afirma Crispim, que complementa dizendo que não há tempo hábil para a aprovação da privatização da companhia via Congresso este ano.

Em 11 de março, a Frente Parlamentar que representa a categoria entrou com uma ação civil pública pedindo para suspender liminarmente o aumento dos combustíveis, afirmando atentado à ordem econômica e aos direitos fundamentais do consumidor. Naquele momento, a Justiça determinou que a Petrobras e Advocacia-Geral da União (AGU) respondessem os motivos para a alta dos preços. Fora isso, há um processo aberto no Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o Cade, para investigar os preços praticados pela empresa. “Encaminhamos esse assunto há alguns meses ao Cade, que abriu um procedimento de investigação, mas que ainda está sob sigilo”, disserta.

Segundo Crispim, a categoria pode promover uma paralisação no país se os valores do óleo diesel continuarem subindo no país. “Há realmente uma possibilidade de paralisação. Não é que a categoria dos caminhoneiros queira parar, mas pode parar exatamente por não ter mais condições de repassar esses reajustes para seus clientes e contratantes. Há relatos de caminhoneiros que saíram do Sul para Sudeste e Nordeste que não conseguem retornar para seus locais de partida”, diz ele. “A coisa realmente se tornou insustentável, até porque o governo e a própria Petrobras não demonstram nenhum movimento de que esses reajustes serão suspensos. Então, pode haver, sim, um movimento de paralisação em alguns lugares.”

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