Que relação pode ser estabelecida entre a invasão holandesa no Nordeste e no Quilombo dos Palmares?

Graduada em História (Udesc, 2010)
Mestre em História (Udesc, 2013)
Doutora em História (USP, 2018)

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Ocorrida na Capitania de Pernambuco, no atual estado de Alagoas, a Guerra dos Palmares foi uma longa tentativa da Coroa Portuguesa de acabar com a sociedade rebelde que se formava na região, em meados no século XVII, contra o sistema escravista.

O Quilombo dos Palmares foi fundado na intenção de construir uma sociedade longe do poder dos senhores de engenho, especialmente do trabalho no cultivo do açúcar, o principal produto da economia da colônia no período. Assim, escravizados nas fazendas rebelaram-se e, em fuga, buscaram novas formas de vida, libertando-se do trabalho compulsório e da escravidão.

Inicialmente o Quilombo foi formado por africanos, especialmente vindos do Congo e de Angola. O número de escravizados vindos de Angola era tanto que ficou conhecido também como Refúgio de Angola Janga – a pequena Angola na América Portuguesa.

A vida comunitária nos quilombos era bastante organizada, com regras administrativas, leis e governo próprios. Para a Coroa Portuguesa, o Quilombo dos Palmares caracterizava-se como uma “República”, o que para o período significava um espaço de autonomia.

Palmares chegou a abrigar aproximadamente vinte mil habitantes, um número bastante expressivo. Os quilombolas estimulavam a fuga em massa dos engenhos, travavam comércio com as vilas mais próximas e promoviam assaltos a engenhos. Tudo isso em forma de resistência e sobrevivência.

Durante todo o século XVII Palmares sofreu com as investidas da Coroa. Em 1612 conheceu a primeira expedição e somente em 1695, com a morte de Zumbi, a última aconteceu.

Mas é especialmente em meados do século XVII que Palmares tem seu auge mas também o maior número de tentativas de acabar com o espaço de liberdade. Entre 1644 e 1645, durante as ocupações holandesas, a Companhia das Índias Ocidentais ordenou ataques ao Quilombo. A operação não foi bem-sucedida e deixou os holandeses suscetíveis às emboscadas dos quilombolas. Com a crise nas invasões, Palmares cresce. Segundo Lilia Schwarcz e Heloisa Starling a população dos quilombos parece agir quando a sociedade escravista entrava em crise, aproveitando o momento conflituoso na Coroa.

Cresce assim a fama de Palmares na América Portuguesa e, com isso, expedições, ataques, fim das relações comerciais começam a ser fomentados pela Coroa. Mesmo não conseguindo conter o crescimento do Quilombo provocam divisões internas nas lideranças.

Em 1678 um acordo de paz é proposto e portugueses e rebeldes, liderados então por Ganga Zumba – nascido no Congo e primeiro líder de Palmares – encontram-se. Com o acordo, escravizados fugidos deveriam ser devolvidos à Coroa (menos os já nascidos no Quilombo) e, em contrapartida, Portugal garantia alforria e terras aos habitantes de Palmares.

O acordo de Paz, aceito por Ganga Zumba, opôs este a Zumbi e Dandara, anulando a unidade na sociedade quilombola. Ganga Zumba é envenenado e após o acontecido Zumbi lidera a guerra contra a Coroa e garante autonomia e liberdade.

O fim da guerra chefiada por Zumbi tem um fim trágico. Em 1694, com a queda da Cerca Real do Macaco (Capital de Palmares) tem-se a derrota e destruição de Palmares, bem como o suicídio de Dandara, liderança feminina que preferiu a guerra constante e a morte que a volta à escravidão. Seu lugar de protagonismo nesta história é comumente negligenciado, mas é preciso atribuir à Dandara sua importância na luta pela liberdade e contra a escravidão.

Zumbi tem sua morte em 20 de novembro de 1695 e a data foi estabelecida em 1995 – quando completava trezentos anos de história – como Dia da Consciência Negra.

Palmares é símbolo da luta negra e da resistência. Seus personagens não foram apenas vítimas passivas mas agentes da história de combate e luta pela liberdade.

Referências bibliográficas:

//cordeisdaspreta.wixsite.com/cordeldaspreta/descricao-das-mulheres

//www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/o-que-houve-em-palmares

SCHWARCZ, Lilia & STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

Texto originalmente publicado em //www.infoescola.com/historia-do-brasil/guerra-dos-palmares/

As invasões holandesas no Brasil aconteceram ao longo do século XVII e tiveram como momento-chave quando os holandeses invadiram e ocuparam Pernambuco. A ocupação holandesa no Nordeste estendeu-se de 1630 a 1654 e teve relação com o envolvimento diplomático entre Portugal, Espanha e Países Baixos.

Os holandeses tinham como objetivo montar uma colônia baseada na produção de açúcar, e a ocupação holandesa teve como grande nome o governador Maurício de Nassau, um alemão que esteve aqui de 1637 a 1643 e promoveu uma série de reformas e melhorias na cidade de Recife. Os holandeses foram expulsos ao final das Guerras Brasílicas.

Leia mais: Quilombo dos Palmares, o quilombo que se aproveitou da invasão holandesa para crescer

Entendendo a invasão holandesa

A invasão do Nordeste pelos holandeses não foi puramente um ato motivado por interesses econômicos, havia também um contexto que envolvia as relações diplomáticas de três países: Portugal, Espanha e Países Baixos. Todos os detalhes envolvendo essa relação diplomática e econômica serão explicados.

Primeiramente, devemos lembrar-nos de que a atividade açucareiraera a principal atividade econômica do Brasil e era altamente lucrativa. Sua instalação deu-se com empréstimos holandeses, e a participação holandesa nesse negócio também se dava no transporte, refinamento e distribuição do produto pela Europa. Portanto, existia uma grande parceria econômica entre Portugal e os Países Baixos que era lucrativa para os dois lados.

Essa relação começou a ficar abalada por conta da crise da Dinastia de Avis, no final da década de 1570. Com a morte do rei de d. Henrique, rei de Portugal, iniciou-se uma crise dinástica que resultou na entronização de Filipe II da Espanha como rei de Portugal. Isso fez com que os tronos espanhol e português fossem ocupados pelo mesmo monarca. Esse acontecimento ficou conhecido como União Ibérica, e a junção das Coroas espanhola e portuguesa durou de 1580 a 1640.

Assim, os dois impérios unificaram-se, e as posses portuguesas passaram a ser administradas pela Espanha. Momento em que as coisas complicaram-se, pois a Espanha estava em guerra com os Países Baixos, e isso significava que, obviamente, os holandeses seriam excluídos do negócio do açúcar. Como vingança, os Países Baixos decidiram atacar as antigas posses de Portugal para recuperar seus ganhos com o açúcar.

Invasão do Nordeste

Com a ação holandesa, Pernambuco foi invadida em 1630, e Recife, transformada na capital da colônia holandesa.

A primeira ação dos holandeses deu-se contra as feitorias dos portugueses instaladas no litoral do continente africano. Depois, os holandeses voltaram-se contra Salvador, atacando-a em 1604, mas, nesse ataque, não conseguiram conquistar a cidade. Uma trégua entre as duas nações foi assinada em 1609, estendendo-se até 1621.

O fim da trégua marcou uma segunda fase nas ações holandesas contra o Nordeste brasileiro. Em 1621, foi criada nos Países Baixos a Companhia das Índias Ocidentais (ou WIC, na sigla em holandês). Essa empresa tinha como objetivo fundar uma colônia holandesa na América para controlar os centros produtores de açúcar. Por meio dela, os holandeses também se voltaram contra os postos de venda de escravos na África.

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Em 1624, aconteceu o primeiro grande ataque contra o Nordeste. O alvo foi novamente Salvador, com os holandeses tentando conquistar a cidade tendo em vista expandirem-se pelo Brasil. Após um dia de luta, eles conquistaram-na, mas não conseguiram expandir-se para o interior da Bahia. A resistência nos arredores da cidade foi muito grande, e os holandeses foram expulsos dela um ano depois.

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Ataque a Pernambuco

Entre 1637 e 1643, a colônia holandesa foi administrada pelo alemão Maurício de Nassau.[1]

Em 1630, os holandeses voltaram com uma força armada de mais de sete mil homens, mas, dessa vez, para atacar Pernambuco. Essa região possuía mais de 100 engenhos e era um dos grandes produtores de açúcar do Brasil. Os holandeses conquistaram facilmente Olinda e Recife, e, ao longo dos anos, expandiram sua colônia para outras regiões do Nordeste.

Essa expansão aconteceu entre 1630 e 1637, chegando a regiões como Paraíba e Sergipe. A partir de 1637, a administração colonial foi entregue a João Maurício de Nassau, um militar alemão. Ele realizou uma série de reformas em Pernambuco e priorizou consideravelmente os principais núcleos urbanos — Recife e Olinda.

Nassau procurou desenvolver a economia açucareira, destruída pela batalha; melhorar as normas de higiene em Recife; aumentar a distribuição de alimentos; incentivar o desenvolvimento científico e artístico em Pernambuco; e garantir a liberdade religiosa nos territórios que controlava. Por outro lado, os holandeses mantiveram a instituição do trabalho escravo.

Os problemas financeiros da Companhia das Índias Ocidentais colocaram em xeque a existência do projeto colonial dos holandeses no Brasil. A intenção de desenvolver uma colônia baseada no comércio fracassou, e o momento que deixou isso perceptível foi o retorno de Maurício de Nassau para os Países Baixos.

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Fim da colônia holandesa

Com a decadência da Companhia das Índias Ocidentais, a defesa da colônia holandesa enfraqueceu-se. Os portugueses, por sua vez, passavam por um momento inverso porque, desde 1640, o país tinha voltado a ser governado por eles. Essa foi a restauração de Portugal, evento que marcou o fim da União Ibérica e colocou a família Bragança no poder.

Com a restauração, os portugueses começaram a organizar-se para recuperar o controle sobre o Nordeste. Assim, a partir de 1645, foi iniciada o que conhecemos como Guerras Brasílicas, o conflito travado entre portugueses e holandeses pelo controle do Nordeste. À medida que a situação dos holandeses no Nordeste agravava-se, o apoio aos portugueses era aumentado.

As Guerras Brasílias duraram até 1654, e nelas os holandeses foram, pouco a pouco, derrotados. Houve uma grande mobilização de negros e indígenas que lutaram do lado português. Tradicionalmente, dois momentos importantes, do ponto de vista português, foram as duas Batalhas de Guararapes, que aconteceram em 1648 e 1649 e foram derrotas significativas dos holandeses.

Em 1654, os holandeses estavam reclusos na cidade de Recife, pois todo o interior do que um dia tinha sido a colônia holandesa já havia sido recuperado pelos portugueses. Nesse ano, a cidade de Recife foi cercada, invadida e conquistada pelos portugueses, colocando fim na experiência colonial dos holandeses aqui. Nesse processo, os portugueses também reconquistaram feitorias na África que tinham sido tomadas pelos holandeses.

Crédito da imagem

[1] Commons

Qual a relação entre a invasão holandesa no Nordeste e o Quilombo dos Palmares?

O Quilombo dos Palmares registrou um crescimento notável durante o período da invasão holandesa no Nordeste (1630-1654). Esse período de crise na gestão colonial de Pernambuco favoreceu a fuga de escravos e enfraqueceu a busca pelos escravos fugidos.

Qual foi a principal consequência da invasão holandesa no Nordeste?

Em conseqüência das invasões ao nordeste do Brasil, o capital neerlandês passou a dominar todas as etapas da produção de açúcar, do plantio da cana-de-açúcar ao refino e distribuição. Com o controle do mercado fornecedor de escravos africanos, passou a investir na região das Antilhas.

Quais foram os motivos que levaram os holandeses a invadir e se estabelecer no Nordeste brasileiro?

As invasões holandesas foram motivadas pelo interesse holandês em tomar controle do negócio açucareiro e por conta da rivalidade entre Portugal e Holanda, e desta com a União Ibérica.

Qual a relação entre o quilombo é o Dia Nacional da Consciência Negra?

O Dia Nacional da Consciência Negra é comemorado em 20 de novembro, dia da morte de Zumbi dos Palmares, e reivindica essa figura histórica como símbolo de resistência. em 1695, na referida data, por bandeirantes liderados por Domingos Jorge Velho. Palmares. reivindicam.

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