Que correspondência é possível estabelecer Ao comparar os dois mapas do continente?

 aponta para o fato de que o consumo dos produtos e serviços dessas corporações depende da remuneração dos trabalhadores. Em síntese, a redução da oferta de empregos em países com alto nível de renda, como os Estados Unidos, representa um risco de redução do mercado consumidor para as empresas globais.

O artigo analisa do ponto de vista da cartografia comparada alguns mapas da região amazônica, de meados do século XVIII, tendo como eixo a Carte de l'Amérique Méridionale, de 1748, de autoria de Bourguignon D'Anville, cartógrafo francês que trabalhou com o embaixador português dom Luís da Cunha, visando a produção de um mapa que servisse de base para as negociações do Tratado de Madri. O documento é cotejado com um mapa atual, com o mapa resultante da expedição de La Condamine (1744, desenhado por D'Anville), e com o chamado Mapa das Cortes (Lisboa, 1749), produzido sob os auspícios de Alexandre de Gusmão, o documento efetivamente utilizado para subsidiar as negociações desse Tratado de 1750 que efetuou a partilha da América setentrional. Conjuga-se uma análise da política diplomática europeia com um rastreamento das fontes cartográficas, confirmado pela cartografia digital.

história da cartografia; análise cartográfica; Jean Baptiste Bourguignon D'Anville; La Condamine; Mapa das Cortes; dom Luís da Cunha


This paper analyses, from the point of view of compared cartography, some maps of the Amazon region from the mid-eighteenth century, having as central axis the Carte de l'Amérique Meridionale produced in 1748 by Bourguignon D'Anville, a French cartographer who has worked closely with the Portuguese ambassador Don Luis da Cunha, in order to produce a map that would serve as a basis for the ongoing negotiations of the Madrid's Treaty. In addition to collate it with a current map, to observe concordances and dissonances, two other comparisons are made: one with the resulting map of La Condamine's expedition, drawn by D'Anville (1744), and the other with the so-called Mapa das Cortes, produced in Lisbon under the auspices of Alexandre de Gusmão, which was the map effectively used to support the negotiations of this Treaty of 1750 that made the division of South America. This methodology combines an European diplomatic policy analysis with the tracing of cartographic sources that, in turn, is confirmed by the digital cartography, involving studies of map accuracy and statistical analyses. This combination of methods proved to be a powerful tool for the analysis of cartographic production, understood in its broadest sense and opens new frontiers of work and research.

History of Cartography; cartographic analyses; Jean Baptiste Bourguignon D'Anville; La Condamine; Mapa das Cortes; Dom Luís da Cunha


ARTIGOS

A Carte de l'Amérique Méridionale de Bourguignon D'Anville: eixo perspectivo de uma cartografia amazônica comparada

The Carte de l'Amérique méridionale of Bourguignon D'Anville: perspective axis of a compared Amazonian cartography

Jorge Pimentel CintraI; Júnia Ferreira FurtadoII

IProfessor Associado, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Departamento de Engenharia de Transportes. Av. Prof. Luciano Gualberto, travessa 3, n.380 – Cidade Universitária. 05508-900 São Paulo – SP – Brasil, E-mail: [email protected]

IIProfessora Titular, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Departamento de História, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Av. Antônio Carlos, 6627, Caixa Postal 253 – Pampulha, 31270-901 Belo Horizonte – MG – Brasil, E-mail: [email protected]

RESUMO

O artigo analisa do ponto de vista da cartografia comparada alguns mapas da região amazônica, de meados do século XVIII, tendo como eixo a Carte de l'Amérique Méridionale, de 1748, de autoria de Bourguignon D'Anville, cartógrafo francês que trabalhou com o embaixador português dom Luís da Cunha, visando a produção de um mapa que servisse de base para as negociações do Tratado de Madri. O documento é cotejado com um mapa atual, com o mapa resultante da expedição de La Condamine (1744, desenhado por D'Anville), e com o chamado Mapa das Cortes (Lisboa, 1749), produzido sob os auspícios de Alexandre de Gusmão, o documento efetivamente utilizado para subsidiar as negociações desse Tratado de 1750 que efetuou a partilha da América setentrional. Conjuga-se uma análise da política diplomática europeia com um rastreamento das fontes cartográficas, confirmado pela cartografia digital.

Palavras-chave: história da cartografia; análise cartográfica; Jean Baptiste Bourguignon D'Anville; La Condamine; Mapa das Cortes; dom Luís da Cunha.

ABSTRACT

This paper analyses, from the point of view of compared cartography, some maps of the Amazon region from the mid-eighteenth century, having as central axis the Carte de l'Amérique Meridionale produced in 1748 by Bourguignon D'Anville, a French cartographer who has worked closely with the Portuguese ambassador Don Luis da Cunha, in order to produce a map that would serve as a basis for the ongoing negotiations of the Madrid's Treaty. In addition to collate it with a current map, to observe concordances and dissonances, two other comparisons are made: one with the resulting map of La Condamine's expedition, drawn by D'Anville (1744), and the other with the so-called Mapa das Cortes, produced in Lisbon under the auspices of Alexandre de Gusmão, which was the map effectively used to support the negotiations of this Treaty of 1750 that made the division of South America. This methodology combines an European diplomatic policy analysis with the tracing of cartographic sources that, in turn, is confirmed by the digital cartography, involving studies of map accuracy and statistical analyses. This combination of methods proved to be a powerful tool for the analysis of cartographic production, understood in its broadest sense and opens new frontiers of work and research.

Keywords: History of Cartography; cartographic analyses; Jean Baptiste Bourguignon D'Anville; La Condamine; Mapa das Cortes; Dom Luís da Cunha.

Na década de 1720, quando servia em Paris, o embaixador português dom Luís da Cunha aproximou-se pela primeira do jovem geógrafo francês Jean-Baptiste Bourguignon D'Anville, contratando-o para o serviço da Coroa portuguesa.1 1 Nessa ocasião, D'Anville foi contratado somente para auxiliar na composição e organização de uma coleção de estampas que dom João V vinha montando e que estava sendo adquirida por dom Luís da Cunha em Paris. Com o passar do tempo, e estreitando-se a confiança entre os dois, a colaboração foi se ampliando. FURTADO, Júnia F. Colecionismo e gosto. As compras portuguesas de livros e estampas nos Países Baixos meridionais. In: THOMAS, Werner; STOLS, Eddy (Ed.). Un mundo sobre papel: libros, grabados y mapas de Flandres en los impérios español y portugués (siglos XVI-XVIII). Lovaina: Acco, 2009. p.411-425. 2 Para análise mais completa do mapa e da colaboração estabelecida entre eles ver: FURTADO, Júnia Ferreira. Oráculos da Geografia iluminista: Dom Luís da Cunha e Jean Baptiste Bourguignon D'Anville na construção da cartografia do Brasil. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2011 (no prelo, a partir da Tese de Titular, Departamento de História/UFMG, 2009). 3 Sobre o perfil e o método de D'Anville ver: FURTADO (no prelo), cap. 4 (Espelho do mundo). 4 Bibliotèque Nationale de France (BNF). Département des Cartes et Plans (DCP). Ge D 11795 (rés), manuscrita. Todos os mapas da coleção D'Anville estão disponíveis para consulta no site da biblioteca. 5 BNF. DCP. Ge D (10659), manuscrita. 6 O mapa foi confeccionado em 3 partes e corresponde a 3 folhas separadas, que foram fotografadas em arquivos distintos. Trabalhou-se com a cópia manuscrita de 1748 da Folha 1, superior do mapa, a partir de fotografia em meio digital, obtida junto à Biblioteca Nacional da França, à qual se agradece, sendo a cota correspondente: BNF. DCP. Ge C 11339 (rés), manuscrita. 7 HARLEY, John Brian. The new nature of maps: essays in the history of cartography. Baltimore/London: The Johns Hopkins University Press, 2001. 8 As coordenadas foram extraídas de três fontes: a) do Mapa da Amazônia Legal. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Brasil, 1995. Disponível em: geoftp.ibge.gov.br/mapas/temáticos; b) do Britannica Atlas, Enc. Britannica, Helen Hemingway Benton pub., London, 1974; e c) do World Atlas, Hammond, New Jersey. 9 "O mesmo correio português me entregou o mapa, e carta de mr. D'Anville". Arquivo da Universidade de Coimbra (AUC). Cartório de Dom Luís da Cunha (CDLC). Doc. 994, f.1, Madrid, 21 ago. 1747. 10 Arquivos Nacionais da Torre do Tombo (ANTT). Ministério dos Negócios Exteriores (MNE). Livro 826, Carta de Marco Antônio de Azevedo para Vila Nova da Cerveira, f.114-114v, Lisboa, 28 dez. 1748. 11 Durante as negociações Portugal apresentou esse mapa, que acabou servindo como base para a definição das fronteiras. Por essa razão, cópias foram então produzidas, ficando em poder das duas Coroas. Ainda subsistem algumas delas. Ver: Mapa dos Confins do Brasil com as terras da Coroa de Espanha na América ou Mapa das Cortes. Fac-símile do original da Biblioteca Nacional pertencente a Marcos Carneiro de Mendonça, ofertado por Luiz Phillipe Carneiro de Mendonça, a quem se agradece. Acervo Pessoal de Júnia Ferreira Furtado. 12 Ver FERREIRA, Mario Clemente. O Tratado de Madrid e o Brasil Meridional. Lisboa: CNPCDP, 2001; FERREIRA, Mário Clemente. O Mapa das Cortes e o Tratado de Madrid: a cartografia a serviço da diplomacia. Varia Historia, Belo Horizonte, v.23, n.37, p.53-69, 2007. 13 Para detalhes dessa correspondência e suas implicações ver: FURTADO (no prelo), cap. 9 (Espelhos ondulados). Carte huilée de la route de Nicolas Horstman natif de Hidelsheim en Westphalie depuis Rio Esquibé jusqu'à Rio Negro 14 , 17. BNF. DCP. Ge DD 2987 (9612). 15 "Mas, antes de descer mais abaixo representando o rio das Amazonas, não se pode omitir uma comunicação quase inteiramente praticada entre o rio Negro e o Essequebé ". ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d'. Premiere Lettre de Monsieur d'Anville, à Messieurs du Journal des Sçavans, sur une Carte de l'Amérique Méridionale qu'il vient de publier. Journal des Sçavans, Paris, p.522, Mars 1750. 16 PRATT, Mary Louise. Os olhos do império: relatos de viagem e transculturação. Bauru: Edusc, 1999. p.45-48; SAFIER, Neil. Measuring the New World: enlightenment science and South América. Chicago: Chicago University Press, 2008. 17 SAFIER, Neil. Como era ardiloso o meu francês: Charles Marie de la Condamine e a Amazônia das Luzes. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.29, n.57, p.91-114, jan.-jun. 2009. 18 Versões impressa e manuscrita da Carte du cours du Maragnon ou de la grande riviere des Amazones, La Condamine e D'Anville. BNF. DCP. Ge DD 2987 (9542) e (9543). 19 Essa divisão do trabalho cartográfico era típica da geografia francesa e inglesa de gabinete e ainda incluía uma terceira tarefa, a de gravação do mapa, realizada por pessoa distinta. Ver: PEDLEY, Mary Sponberg. The commerce of cartography: making and marketing maps in eighteenth-century France and England. Chicago: The University of Chicago Press, 2005. 20 LA CONDAMINE, Charles-Marie de. [1745] Viagem na América meridional descendo o rio Amazonas. Brasília: Ed. Senado Federal, 1984. p.34. 21 Como exemplo, "Em São Joaquim ... partimos ... com a intenção de chegar à foz do Napo a tempo de aí observar na noite de 31 para 1º de agosto uma emersão do primeiro satélite de Júpiter ... Observei primeiro a altura meridiana do Sol, em uma ilha em frente da boca do Napo. Achei 3º 24' de latitude astral ... Acho pelo cálculo 4 horas e três quartos a diferença entre os meridianos de Paris e a embocadura do Napo. Essa determinação será mais exata quando se tiver a hora de observação atual em qualquer lugar cuja posição em longitude seja conhecida e onde essa emersão tenha sido visível. Logo depois de minha observação de longitude, pusemo-nos em caminho". Esta e as demais citações do livro de La Condamine seguem a mesma edição, LA CONDAMINE 1984[1745], p.73. A observação dos satélites de Júpiter era o método corrente para as tomadas de longitude. Sobre a discrepância entre o que La Condamine efetivamente observou e o que relatou como tendo visto, ver: SAFIER, 2009, p.91-114. 22 Ver nota 8. 23 OLIVEIRA, C. Dicionário cartográfico. Rio de Janeiro: FIBGE, 1980. 24 Os parâmetros estatísticos t, z e F, aqui ou abaixo mencionados, e seus limites e intervalos de confiança são números absolutos e não graus. 25 Desvio, no presente trabalho, pode ser considerado equivalente a um valor discrepante de outro, tido como mais preciso ou exato, no sentido matemático da expressão, como La Condamine aponta em sua obra e como é a pretensão também de D'Anville: produzir mapas mais exatos. Isso pode ocorrer em função da aplicação de diferentes tecnologias ou mesmo de algum descuido grande ou pequeno na medição ou nos cálculos. As medidas atuais de latitude e longitude estão convergindo para valores muito próximos entre si e por isso podem servir de padrão de referência matemática para mapas antigos. 26 LA CONDAMINE, 1984[1745], p.115. Como exemplo dessa configuração tradicional ver a carta, sem autoria identificada, intitulada Embouchure de la rivière des Amazones, séc. 18. BNF. DCP. Ge DD 2987 (9552). 27 Detalhes da Route de Mr. La Condamine le long le la cote Nord de l'Ile Marajó ou Joannès. Dessin original de M. de La Condamine, 1736, BNF. DCP. Sh Pf 166 Div 1 pièce 8 B; Carte de la côte septentrionale de l'Ile de Marajo depuis Yaraoubi jusqu'à Anajaheba, 1763, D'Anville. BNF. DCP. GEC- 9798. Para toda a rota de La Condamine desde Paris ver: Carte des routes de M. de la Condamine, tant par mer que par terre dans le cour du voyage a l'Equateur, D'Anville. BNF. DCP. Ge D 2987 (9653). 28 Robert Bosch Collection (BC). ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d'. Coleção de oito manuscritos e tratados dos quais cinco se referem ao Brasil, n.229 (558). Chapitre II. De l'entré du Pará... (manuscrito do próprio punho de d'Anville), 8 ½ p. A autoria de La Condamine pode ser inferida por três razões principais: 1) o texto é escrito na primeira pessoa por alguém que realizou a viagem, o que não é o caso de D'Anville; 2) o autor conta que mediu a latitude no Pará e encontrou a medida de aproximadamente de 1º 20' e La Condamine registra no diário a medida exata que encontrou como 1º 28', e discorda de Fritz que encontrara apenas 1º (p.112); 3) um dos capítulos desse documento está acompanhado de extratos de uma viagem do capitão Coperon às nascentes do Oiapoque e, nesse papel, está escrito que tal memória foi comunicada por M. de la Condamine. 29 Foram duas Memórias, publicadas em 1750, no Journal des Sçavans; na Robert Bosch Collection, em Stuttgart, encontram-se duas versões manuscritas, datadas de 1779, além de uma memória sobre o acréscimo dos conhecimentos geográficos na América meridional e uma sobre a longitude mais conveniente a este continente. BC. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d'. Coleção de oito manuscritos e tratados dos quais cinco se referem ao Brasil, n.229. 30 ANVILLE, Premiere Lettre..., p.554. Mais detalhes em FURTADO (no prelo), cap. 8 e 9. 31 "Dans l'assemblage des matériaux qui ont servi à la construction de cette Carte, le Autour doit a M r. de la Condamine, de l'Académie R le. des Sciences, la comunicacion de tout ce qu'une curiosité active et eclairée lui avoit procuré de connoissences et des mémoires, indépendamment de ses propres observations, ce qui concerne principalment le cours de la Riv. des Amazones, et des rivieres que s'y rendent. Il est pareillement redevable de l'usage qu'il a fait de quelques morceaux importants à M r. Bourguer de la même Académie: et à M r. Maldonado, Gouveneur de la Province des Emeraudes, de l'avoir instruit de divers circunstances de détail dans la partie septentrionale du Péru" . BNF. DCP. Ge ANGRAND 11. Cartuche de la Carte de l'Amérique Méridionale, Jean-Baptiste Bourguignon d'Anville. 32 CINTRA, J. P.; FREITAS, J. C. Sailing down the Amazon River: La Condamine's Map. Survey Review, v.43, p.550-566, Oct. 2011. 33 Essa conexão já havia sido sugerida no Magni Amazoni Fluvii, mapa do Conde de Pagan, de 1655, e nos relatos de viagem de Pedro Teixeira e Cristóval Acuña, que juntos haviam descido o rio, tendo o último deixado em 1637 um relato da empreitada, intitulado Nuevo Descubrimento del Gran rio de las Amazonas. Ver CINTRA, J. P. Magni Amazoni Fluvii: o Mapa do Conde de Pagan. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE CARTOGRAFIA HISTÓRICA, 1., Paraty, 2011. Anais... (no prelo) . 34 "Le fait le plus singulier, & que les preuves sur lesquelles M. de la Condamine l'a établi ne permettent point de regarder comme équivoque, est la communication de Rio Negro avec l'Orinoque". ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d'. Seconde Lettre de Monsieur d'Anville, à Messieurs du Journal des Sçavans, sur la Carte qu'il a publiée de l'Amérique Méridionale. Journal des Sçavans, Paris, p.550, Avr. 1750. 35 Segundo o próprio La Condamine, "ela foi tirada do original guardado nos Arquivos do Colégio de Quito, e me foi comunicada por D. José Pardo Y Figueroa, marquês de Valleumbroso, hoje corregedor de Cuzco, bem conhecido na república das letras". LA CONDAMINE, 1984[1745], nota 16, p.44. 36 Sobre as diferentes versões ver: ALMEIDA, André Ferrand de. Samuel Fritz and the mapping of the Amazon. Imago Mundi, v.55, p.113-119, 2003. 37 "Quant à l'intérieur des terres, le detail de la partie supérieure du Marañon est dû P. Fritz". ANVILLE, Seconde Lettre..., p.627. 38 Ao transferir para uma superfície plana o formato da terra, todo mapa tem que escolher uma forma de projetar o território representado para o papel e toda projeção apresenta distorções. A projeção plana quadrada, muito utilizada por D'Anville para representar pequenas porções de território, apresenta as latitudes e longitudes como quadrados perfeitos, e não leva em consideração as distorções provocadas pela forma, esférica e achatada nos polos, da terra. Essa projeção pode ser usada sem grandes problemas em territórios próximos ao Equador, como é o caso da Amazônia, onde essas distorções são bem menores. 39 FURTADO (no prelo), cap. 8 (A Carte de l'Amerique du Sud). Essa projeção foi intencionalmente escolhida por D'Anville para representar o continente sul-americano, entre outras razões, por ser a que torna mais visível o formato da terra, acentuando o distanciamento dos meridianos junto ao Equador e sua aproximação junto aos polos. 40 Sobre os custos e o processo de comercialização dos mapas ver: PEDLEY, Mary Sponberg. Making maps. In: The commerce of cartography, p.19-70. Sobre o caso específico da Carte de l'Amérique Méridionale, ver: FURTADO (no prelo), cap. 4 e 8. 41 "Lorsque la longitude de Paris à l'Est de ce [Premier] Méridian y ajoute 20 dégrés justes". ANVILLE, Seconde Lettre..., p.626. 42 Como curiosidade, no seu mapa, o posicionamento se dá a 60,43º ( Tabela 1), o que corresponde a 60o26'. Em relação a Greenwich corresponde a 78º06', o que é muito próximo do valor atual de 78º35'. 43 Neste caso ele é bastante específico no diário como e quando realizou as medições e conclui que: "Achei por várias observações acordes 1º 28' [de latitude] ... julguei pelo cálculo que a diferença do meridiano do Pará para o de Paris é de cerca de 3 horas e 24 minutos para o Ocidente" (LA CONDAMINE, 1984[1745], p.112). 44 Na foz do rio Napo, La Condamine tomou medidas de latitude e longitude: a primeira resultou em 3,40º, a segunda 4 horas e três quartos, o que equivale a 71,25º (ver nota 21). Esse valor significa um desvio de 3,79º em longitude nesse ponto, ao passo que na Carte du cours du Maragnon, graças aos ajustes, o desvio é de 3,22º. 45 El gran rio Marañon, O Amazonas con la mission de la Compañia de Jesus geographicamente delineado por el P. Fritz, missionero continuo, em este Rio, P.J. de N. Societatis Iesu quondan in hoc Marañone Missionarius Quiti Anno 1707. Arquivo do Itamarati. Mapoteca. Inv. 459. 46 Para ver todas as fontes coligidas por D'Anville para estabelecer o mapa completo ver: FURTADO (no prelo), cap. 8 e 9. Algumas delas, utilizadas para o rio Amazonas e seu entorno, são discutidas neste artigo. 47 Segundo La Condamine, "para multiplicar as ocasiões de observar, combináramos desde muito tempo M. Godin, M. Bouguer e eu, voltar por caminhos diferentes". LA CONDAMINE, 1984[1745], p.42. Sobre a rota de Maldonado ver p.45 e 64. 48 LA CONDAMINE, 1984[1745], p. 47. A rota de La Condamine pode ser visualizada no mapa desenhado à p.35 dessa edição, ainda que contenha um erro muito grande no posicionamento de Tarqui, que corresponde à cidade atual com esse nome e não ao local da medição da base. 49 Gnomone ou gnomen: instrumento que, projetando sombra num plano horizontal, marca e mede a altura do sol; pode funcionar também como relógio solar. 50 La Condamine saiu de Laguna no dia 23 de julho e chegou à foz do Napo no dia 31, a tempo de observar um eclipse dos satélites de Júpiter (ver nota 21; LA CONDAMINE, 1984[1745], p.65 e 73. 51 Para distâncias menores, como a largura de um rio ou a profundidade da corrente em certo ponto, D'Anville deveria fazer a equivalência, já que Maldonado utilizou a vara, medida que equivalia a três pés espanhóis, e La Condamine a toesa do Peru, medida estabelecida pelos partícipes da missão geodésica a partir da toise francesa. 52 Sobre o tema escreveu: ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d'. Traité des mesures itinéraires anciennes et modernes. Paris: l'Imprimerie Royale, 1769. Sobre sua metodologia de conversão de medidas ver FURTADO (no prelo), cap. 4. 53 Sobre essa colaboração e os embates na sua confecção ver SAFIER, 2008, Correcting Quito (p.123-165). 54 Esta e as informações a seguir foram retiradas de SAFIER, 2008, Correcting Quito (p.123-165). 55 BNF. DCP. Ge DD 2987 (10878). 56 Neil Safier salienta que, já na produção da Carta de la provincia de Quito, as divergências entre La Condamine e Maldonado surgiram, mas, na conformação final do mapa, D'Anville geralmente deu preferência às informações do primeiro, apesar de o segundo aparecer como autor. SAFIER, 2008, Correcting Quito (p.123-165). 57 "Quant à l'intérieur des terres, le detail de la partie supérieure du Marañon est dû P. Fritz " (ANVILLE. Seconde Lettre..., p.627). 58 BC. ANVILLE, Jean-Baptiste Bourguignon d'. Coleção de oito manuscritos e tratados dos quais cinco se referem ao Brasil, n.229 (558). Chapitre II. De l'entré du Pará. 59 ANVILLE. Second Lettre..., p.659. Sobre essa carta e sua utilização no mapa de D'Anville ver: FURTADO (no prelo), cap. 9. 60 CINTRA, J. P. O Mapa das Cortes: perspectivas cartográficas. Anais do Museu Paulista. [online]. 2009, v.17, n.2 [cit. 2010-02-19], p.63-77. Disponível em: www.scielo.br/pdf/anaismp/v17n2/05.pdf. 61 CINTRA, J. P. Comparação visual entre o 'Mapa das Cortes' e o 'Mapa do Brasil atual' estabelecidos sobre a Carte de l'Amérique Méridionale, de D'Anville. 62 IBGE, 2010. Disponível em: www.ibge.gov.br/mapas_ibge/. Último acesso: mar. 2010. 63 Sobre o detalhamento da linha de fronteira proposta pela Carte de l'Amérique Méridionale e sua comparação com o Mapa das Cortes ver: FURTADO (no prelo), cap. 11 (Uma guerra de imagens: a título de conclusão). 64 Sobre as disputas diplomáticas nas fronteiras da América portuguesa e, em particular sobre as disputas no Cabo do Norte, ver: FURTADO (no prelo), cap. 6 (A visão geopolítica de um imperium).