Com a Internet, vieram novas palavras e expressões, em configuração de comandos ou aplicações, muitas sem apropriado significado em nossa língua. Notamos também que a grande multiplicidade dos softwares disponíveis no país é em inglês. Percebemos, então, como as palavras foram abreviadas até o ponto de se transformarem em uma única expressão, duas ou no máximo três letras (não=n, sim=s, de=d, que=q, também=tb, cadê=kd, tc=teclar, porque=pq, aqui=aki, acho=axo, qualquer=qq, mais ou mas=+). Além dessa "contenção", houve também um desmoronamento da pontuação e da acentuação (é=eh, não=naum), nos enviando à fonética das palavras e não mais à etimologia.
Nessa nova linguagem, também podemos constatar o derramamento de termos da informática, uma contenção de caracteres digitados e um descaso com as normas gramaticais da Língua Portuguesa. Quando surgiu, a linguagem peculiar dos jovens na internet, já começou a influência da escrita do adolescente internauta em sala de aula e a preocupação dos educadores.
O uso dessa linguagem, com integral desobediência às regras cultas, não é próprio apenas dos brasileiros. Pois os alunos já são alfabetizados ao mesmo tempo em que aprendem a se comunicar pela internet. A necessidade de interagir utilizando o teclado do computador fez com que, rapidamente, o "internetês" se difundisse àqueles que tem acesso à internet. O grande problema que existe é o uso dessa linguagem em locais onde ela não é apropriada, como é o caso da escola.
Em português, ou em qualquer outra língua do mundo, a Internet já começa a modificar os habituais meios de comunicação considerados como politicamente corretos. É melhor pensar nas conseqüências desse acontecimento antes que haja uma descaracterização dos idiomas cultos pela extrema e cada vez mais rápida fama da rede.
A grande provocação que nos é apresentada é a de integrar e interagir com toda a comunidade escolar, no mundo da corporação globalizada, para garantir a possibilidade da livre expressão, mas também harmonizar a metodologia da construção da conversação humana dentro de um contexto da norma culta. Devemos, como educadores, nos familiarizarmos com as linguagens múltiplas, com a proliferação de tecnologias, de frases e de expressões e as diferentes lógicas de articulação.
Não podemos nos esquecer, no entanto, que o modo de ver e interagir com o mundo, de sentir e de atuar são sempre orientados pelos meios de comunicação, e servem de modelo de vida. A sedução da linguagem da internet é constante, proporcionando ao público uma enchente de informações, que mesmo sem tratamento pedagógico, transforma-se em formação. Quando colocamos o desafio na mão do aluno, resgatamos o objeto de estudo e oferecemos recursos para interpretá-lo e analisá-lo criticamente, permitindo a compreensão do processo de reavaliação da linguagem da internet no ambiente escolar. Acreditamos que “não adianta resistir”, pois temos que pensar a educação associada ao pensar do uso da tecnologia. Isso deve ser uma atitude constante no pensar dos educadores e especialistas da educação. Pois a existência da internet está muito generalizada tanto na escola pública como na particular. O importante papel do educador é o de preparar o educando para usar criticamente as diversas formas de linguagens e também utilizá-las de maneira adequada.
Autora: Amelia Hamze
Educadora
Profª UNIFEB/CETEC e FISO - Barretos
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Você já ouvir falar sobre o internetês? Mas com certeza você já se deparou com ele em algum momento, mesmo não conhecendo o termo. A linguagem da internet, que também é conhecida como net speak, já é uma realidade presente há alguns anos na vida dos internautas, principalmente dos pré-adolescentes e jovens. Isso, inclusive, já causou muito rebuliço na comunidade acadêmica e das escolas. Afinal, o internetês atrapalha o aprendizado dos pequenos?
Em primeiro lugar, o que é a linguagem da internet?
Abreviações, acrônimos, ortografia adaptada, emojis… Tudo isso faz parte do internetês. Já viu alguma frase assim: “oi td bem q sdds d vc”? Em tradução: “Oi, tudo bem? Que saudades de você!”. Claramente exageramos na exposição do exemplo, mas isso não é tão incomum assim.
Essa linguagem informal surgiu pela primeira vez nos anos 1990, com a popularização da rede. Com o intuito de facilitar e agilizar a comunicação, ela também se tornou códigos de determinados grupos. Como assim? Dificilmente você vai encontrar um adolescente que se comunica pelas redes sociais com seus amigos utilizando a norma culta.
Desta forma, o grupo dos “adolescentes” criou, despercebidamente, um código a ser seguido para quem deseja pertencê-lo. E isso não, necessariamente, é uma coisa negativa. Todos os grupos e nichos têm seus códigos a serem seguidos pelos integrantes. Assim, as pessoas que naturalmente já funcionam de acordo com essas regras, desenvolvem o sentimento de pertencimento tão inato à nossa humanidade quanto respirar.
E, se você está habituado ao ambiente virtual, certamente já abreviou as palavras, usou emojis e teve outros comportamentos do net speak para deixar a conversa mais dinâmica, informal e semelhante à linguagem oral. Considerando que, dificilmente, o sentimento envolvido na fala é também representado na escrita, por que não usar um emoji? A linguagem da internet é uma alternativa inteligente e eficiente de comunicação social, diminuindo a distância e a impessoalidade que as telas podem ocasionar.
Mas e aí? A net speak atrapalha o aprendizado do seu pequeno?
Embora o internetês seja uma linguagem coloquial que imita a oralidade, os seus adeptos sabem onde e quando deve-se ou não utilizá-la. Existem estudos da Universidade Federal de Juiz de Fora que mostram que adolescentes e pré-adolescentes não usam o net speak na escola, ou em outros ambientes onde a norma culta é exigida. Isso chama-se adequação linguística. Ou seja: usar adequadamente em cada contexto as variantes de registros da Língua Portuguesa, que é tão rica.
Além disso, mesmo com abreviações e acrônimos, a estrutura gramatical das frases e textos é mantida. Caso contrário, se não fossem, seria impossível de interpretar, seja por omissão de palavras ou por realocação/inversão delas. Ou seja, para se fazer entender, mesmo que de forma despercebida, o internauta continua respeitando as estruturas gramaticais que aprendeu na escola.
Tanto é que ficou comprovado que, mesmo para a geração mais impactada com a linguagem da internet, não houve prejuízo do conhecimento da norma culta, nem do discernimento de adequação ao contexto. Pelo contrário, essa primeira geração crescida de net speakers passou a ler e escrever mais, pela facilidade e agilidade em se comunicar. Afinal, quando você manda uma mensagem em uma rede social e recebe uma resposta, está exercitando a leitura e a escrita. Sendo assim, essa comunicação, mesmo que informal, é, também, uma forma de expressar ideias e exercitar a escrita de um bom texto.
O internetês daqui pra frente
Considerando que a Língua Portuguesa é viva e passível de alterações, diferentemente do Latim que não é mais falado, portanto não sofre nenhuma modificação, será que o internetês pode impactar o português? A resposta é sim.
Vamos pensar na palavra “você”. Há muitos anos, era “vossa mercê”, depois “vossemecê”, e “vosmecê”, até hoje se tornar “você”. Que, aliás, na linguagem oral já foi reduzido para “ocê” e “cê”, enquanto na linguagem da internet pode ser “vc” ou “c”. Isso significa que a língua formal e falada, como a conhecemos hoje, já sofreu diversas alterações. Ou seja, ela se adapta à realidade da sua época, e a internet já faz parte dela.
Não existe forma – e nem vale a pena buscá-las – de censurar a linguagem da internet, ela é viva. Na verdade, o que devemos buscar são formas de usá-la positivamente. E, nesse aspecto, as possibilidades são infinitas, é só usar a criatividade. Mas, fundamental mesmo é o papel do educador de preparar aqueles a quem educa para utilizar de forma crítica e adequada as diversas variações linguísticas que o português possui.
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