Qual documento orientou a construção de políticas educacionais inclusivas no Brasil?

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Pol�ticas inclusivas: as orienta��es e documentos internacionais

    A Educa��o F�sica, enquanto �rea acad�mica presente nas institui��es de Educa��o Infantil, tem se empenhado no fomento de pesquisas, estudos e interven��es que visam contribuir para a constitui��o de modelos de educa��o infantil voltados para a forma��o de crian�as cidad�s. As pesquisas e estudos enfocam prioritariamente quest�es relacionadas � tem�ticas corporalidade sendo que v�rios autores, entre eles, Say�o (2002), Nunes Pinto (2003) e Debortoli (2002), tem demonstrado a import�ncia de se discutir, com mais intensidade e profundidade, as problem�ticas e quest�es da educa��o corporal de crian�as atendidas em creches e pr�-escolas.

    Entretanto, um dos temas ainda pouco pesquisados se refere a inclus�o de crian�as deficientes nesses espa�os, direito assegurado pela LDB 9.394/96 e por todo um conjunto de leis, diretrizes e orienta��es oficiais que comp�em a reforma da educa��o no Pa�s. De fato, as leis brasileiras seguem um movimento internacional em prol da inclus�o dos marginalizados - no qual assumem destaque a inclus�o de crian�as com defici�ncia em contextos de ensino regular. Uma leitura cr�tica desse movimento, entretanto, revela que a educa��o inclusiva tem servido a interesses pol�ticos e econ�micos nem sempre condizentes com os interesses e necessidades das crian�as deficientes e de suas fam�lias (CORAGGIO, 1999).

    Neste sentido, este artigo prop�e-se suscitar a reflex�o sobre as possibilidades da inclus�o de crian�as com necessidades especiais na Educa��o Infantil a partir da dire��o assumida pelas atuais pol�ticas p�blicas educacionais no Brasil.Tal reflex�o s� pode ser feita a partir da compreens�o do que quer dizer o que � anunciado como novo no contexto da promessa de educa��o para todos, raz�o porque tomamos como objeto de an�lise os Documentos Internacionais que tem orientado a ado��o de pol�ticas p�blicas inclusivas no Brasil.

    Uma s�rie de documentos internacionais, a saber - Programa de A��o Mundial para as Pessoas Deficientes (1982), Declara��o Mundial sobre Educa��o para Todos (Jotiem, 1990) e Declara��o de Salamanca (1994), em especial - tem orientado a ado��o de pol�ticas p�blicas inclusivas no Brasil. Tais documentos apresentam-se como estrat�gias para a concretiza��o de pol�ticas compensat�rias aos custos sociais causados pelo ajuste econ�mico ocorrido nos pa�ses perif�ricos, nos anos 1980. O paradigma do Desenvolvimento Humano (DH) � o eixo que sustenta as propostas, programas e planos de a��o internacionais, sendo que no campo social, onde o educacional est� inserido, o DH tem promovido a cria��o e implementa��o de pol�ticas sociais que garantam apenas o b�sico para as pessoas e grupos afastados da participa��o pol�tica e do acesso aos bens culturais (CORAGGIO, 1999).

    Este movimento tem sido articulado, mundialmente, a partir de uma s�rie de congressos, confer�ncias e similares, organizados pela (ONU) Organiza��es das Na��es Unidas atrav�s de �rg�os como (UNESCO) Organiza��o das Na��es Unidas para Educa��o, Ci�ncia e Cultura (UNICEF) Fundo das Na��es Unidas para Inf�ncia, (PNUD) Programa das Na��es Unidas Para o Desenvolvimento, entre outras, sobre o patroc�nio do Banco Mundial, Fundo Monet�rio Internacional, entre outros. Nesses eventos s�o produzidos documentos que, sob a forma de declara��o, orienta��o, programas e planos de a��o mundial, servem como vetores de orienta��o para a defini��o de pol�ticas educacionais, inclusive e principalmente, nos pa�ses do chamado Terceiro Mundo.

    A Educa��o para Todos (EPT) como pol�tica educacional planet�ria e como implementa��o da proposta de Desenvolvimento Humano � objetivo maior a ser alcan�ado e para o qual convergem as propostas e orienta��es. A Educa��o Para Todos j� est� desenhada no Programa de A��o Mundial (1982), por�m, nos anos 1990, ganha for�a a proposta original do Banco Mundial de dar �nfase � escola prim�ria, centrada na satisfa��o das necessidades b�sicas de aprendizagem (NEBAs) que � definida, em seu n�vel mais geral, como os "conhecimentos, capacidades, atitudes e valores necess�rios para que as pessoas sobrevivam, melhorem sua qualidade de vida e continuem aprendendo" (DECLARA��O MUNDIAL DE EPT APUD CORAGGIO, 1998: 86).

    Como desdobramento da Confer�ncia Mundial sobre Educa��o Para Todos, foi realizada em Salamanca (Espanha), em 1994, a Confer�ncia Mundial de Educa��o Especial, quando foi constru�do e assinado pelos signat�rios a Declara��o de Salamanca sobre Princ�pios, Pol�tica e Pr�tica em Educa��o Especial, que se insere no contexto da dissemina��o das orienta��es neoliberais a serem efetivadas sob a forma de pol�ticas p�blicas. A Declara��o de Salamanca (1994) apresenta uma estrutura de a��o em Educa��o Especial que define as linhas de a��o a serem desenvolvidas com uma evidente �nfase � import�ncia da Educa��o Infantil no processo de inclus�o.

    A Declara��o ressalta que o sucesso da escola inclusiva relaciona-se com a identifica��o precoce, avalia��o e estimula��o de pr�-escolares deficientes, devendo os programas de Educa��o Infantil respaldar-se na combina��o de atividades da pr�-escola e atividades de sa�de infantil. Por�m, ao enfatizar a quest�o da import�ncia da exist�ncia de um sistema de creches e pr�-escolas, a referida Declara��o enfatiza que os programas de Educa��o Infantil possuem um grande valor econ�mico para o indiv�duo, a fam�lia e a sociedade na preven��o do agravamento de condi��es que inabilitam a crian�a, delegando �s institui��es de Educa��o Infantil a responsabilidade de promover o desenvolvimento infantil e preparar a crian�a para a escolariza��o.

    A vis�o da crian�a deficiente como um ser que deve ser preparado para a assun��o de fun��es na estrutura capitalista est� presente, ressaltando a utilidade econ�mica da educa��o e os benef�cios econ�micos para a crian�a e seu ambiente social. O paradigma que est� evidente, ao contr�rio do anunciado, parece ser o desenvolvimento econ�mico e n�o o humano uma vez que n�o s�o apontadas as possibilidades da educa��o para a amplia��o das linguagens da crian�a e para a viv�ncia plena da inf�ncia. No Brasil, a legisla��o relativa aos direitos de atendimento a crian�a s�o consolidadas, especialmente, na Lei de Diretrizes e Bases da Educa��o (LDB) 93.94/1996 e no Estatuto da Crian�a e do Adolescente (ECA) 1990 e que prop�em a incorpora��o, ao sistema educacional brasileiro, da Educa��o Infantil como primeira etapa da educa��o b�sica, destacando-se, j� nesse n�vel educacional, a proposta de inclus�o de crian�as deficientes aos contextos da educa��o regular.

    A efetiva��o dessa pol�tica p�blica, no caso brasileiro, tem-se revelado perversa j� que os recursos financeiros para a educa��o t�m sido direcionados para o n�vel ensino fundamental atrav�s de programas como o Fundo de Desenvolvimento e Manuten��o do Ensino Fundamental e Valoriza��o do Magist�rio (FUNDEF). Avalia��es do FUNDEF demonstram que tem havido o desmonte de sistemas de Educa��o Infantil em v�rios munic�pios onde um certo padr�o de qualidade estava sendo alcan�ado (ARELARO, 1998).

    A Declara��o de Salamanca (1994) tamb�m se explicita um compromisso com a inclus�o social de crian�as, jovens e adultos deficientes, por�m, a leitura da mesma revela uma clara �nfase na crian�a como alvo priorit�rio deste compromisso. No art. 2 (1994:02) afirma-se o direito de toda crian�a � educa��o e ao alcance e manuten��o de um n�vel adequado de aprendizagem bem como � reconhecida a singularidade de caracter�sticas, interesses, habilidades e necessidades de aprendizagem infantis. No intuito de atendimento a essas necessidades � recomendada a ado��o de uma pedagogia centrada na crian�a.

    Uma pedagogia centrada na crian�a tamb�m � concebida como uma maneira de reduzir as taxas de insucesso na escolariza��o, garantindo, simultaneamente, �ndices mais elevados de rendimento escolar e impedindo o desperd�cio de recursos. A partir deste ponto de vista, podemos compreender melhor a defini��o da Educa��o Infantil como �rea priorit�ria de a��o respons�vel tanto pelo desenvolvimento infantil como pela prepara��o para a escolariza��o. A educa��o escolar e pr�-escolar deve assumir a perspectiva de "base de treino para uma sociedade baseada no povo, que respeita tanto as diferen�as quanto � dignidade de todos os seres humanos" (Declara��o de Salamanca, 1994: 05).

    Aqui se explicita uma fun��o social para a Educa��o Infantil que est� presente na hist�ria da educa��o brasileira e diz respeito � vis�o de que o investimento educacional na crian�a pr�-escolar, atrav�s de uma educa��o compensat�ria, pode resolver a quest�o da evas�o e da repet�ncia. Na Declara��o Mundial de EPT (Jomtiem, 1990) pode-se perceber o mesmo esp�rito quando da afirma��o de que a educa��o de todos vai resolver os grandes problemas mundiais. A respeito, Saviani (1999: 44) afirma que considerar a pr�-escola (discutida aqui enquanto Educa��o Infantil) como l�cus de compensa��o de supostas car�ncias infantis e v�-la como "mecanismo de solu��o do problema do fracasso escolar das crian�as das camadas trabalhadoras no ensino de primeiro grau acaba por configurar-se em forma de contornar a problem�tica em quest�o e n�o em ataca-la de frente".

    Torres (1995: 55) afirma ainda que a proposta de Educa��o para Todos, conforme definida pela Confer�ncia de Jotiem pode ser questionada por �ngulos diversos como:

O pouco de novo da "nova vis�o", a educa��o como a "chave dourada" do bem estar individual e social, o abafamento da situa��o real e dos contextos de partida - pobreza, endividamento, injusti�a social -, o "nivelamento por baixo" que poderia supor a centraliza��o dos esfor�os na educa��o b�sica, a proemin�ncia do ponto de vista do norte em rela��o do sul, o simplismo do diagn�stico e da proposta pedag�gica, etc. (grifos da autora).

    Outro aspecto que consideramos de extrema centralidade na discuss�o sobre a inclus�o das crian�as deficientes diz respeito � quest�o do atendimento �s necessidades especiais destas crian�as no contexto das Necessidades B�sicas de Aprendizagem (NEBA) que designam os "conhecimento, capacidades, atitudes e valores necess�rios para que as pessoas sobrevivam, melhorem sua qualidade de vida e continuem aprendendo" (Declara��o de Jotiem, 1990, Gloss�rio). Ora, as quest�es ainda em aberto s�o: Como podemos pensar a quest�o das necessidades b�sicas de pessoas com defici�ncia? Necessidades b�sicas e necessidades especiais s�o a mesma coisa? � poss�vel diferenci�-las? Nos Documentos Internacionais, as necessidades b�sicas parecem indicar os conte�dos (conhecimentos, capacidades, valores e atitudes) a serem apreendidos, por cada um enquanto as necessidades especiais dizem respeito � procura de formas, meios e modos de otimizar a aprendizagem para as crian�as deficientes.

    A proposi��o de uma pedagogia centrada na crian�a, por sua vez, poderia ser um elemento novo neste processo, por�m, o Documento esquiva-se � defini��o das caracter�sticas desta pedagogia. Seria a perspectiva escolanovista? Ou aquela que tem recebido a caracteriza��o de construtivista? Tais elementos permitem reconhecer a ambig�idade da proposta de atendimento �s necessidades tanto b�sicas quanto especiais de qualquer crian�a e n�o somente daquelas que tem defici�ncia.

    Apesar de seus aspectos problem�ticos, os documentos e orienta��es internacionais aqui discutidos incorporam a voz e luta de movimentos organizados da sociedade civil que, a partir de 1950, efetivaram uma intensa busca de reconhecimento social e de garantia dos direitos humanos. A respeito, Bianchetti (1996) nos lembra que os avan�os sociais s�o sempre resultado das media��es dos interesses e embates entre for�as sociais que conseguem poder de voz e decis�o junto ao Estado e � m�quina de governo. � neste sentido que cresce a necessidade de incorporar a participa��o das pessoas deficientes aos processos de discuss�o, reflex�o e proposi��o de modelos educacionais inclusivos.


As Pol�ticas P�blicas para a Educa��o Infantil: entre o dito, o escrito e o feito

    Intensas discuss�es t�m sido travadas pelos educadores infantis acerca da perspectiva apontada pela nova legisla��o educacional na perspectiva de definir a especificidade da educa��o infantil na qual se encontra presente o cuidado e a educa��o de forma indissoci�vel, em complementariedade � a��o da fam�lia. Neste sentido, busca-se consolidar um ambiente did�tico-pedag�gico estimulador da aprendizagem e do desenvolvimento infantil que supere os modelos educacionais - disciplinadores, autorit�rios e alienantes - que v�em subsidiando o atendimento � crian�a de zero a seis anos no Brasil.

    Uma das quest�es mais recorrentes diz respeito �s profissionais (grande maioria de mulheres) que atuam neste �mbito e � sua forma��o. Historicamente, o cuidado e a educa��o da primeira inf�ncia aparece como responsabilidade da fam�lia com destaque para a m�e, por�m, com as mudan�as no mundo do trabalho - em especial, pela inser��o da mulher no mercado de trabalho - a educa��o das crian�as foi, pouco a pouco, assumida por institui��es n�o familiares como a creche e a pr�-escola tornando-se uma das principais demandas e necessidades das mulheres e fam�lias trabalhadoras. Vista sob esta �tica, a inser��o da Educa��o Infantil no sistema educacional brasileiro pode ser considerada um avan�o, principalmente, para as mulheres e fam�lias trabalhadoras.

    Por�m, ao mesmo tempo em que a educa��o institucional da crian�a pequena se legitima um n�vel educacional delineando-se programas e curr�culos - como o Referencial Curricular Nacional para a Educa��o Infnatil (RCNEI) - bem como orienta��es para o processo de forma��o profissional - como as Diretrizes Curriculares para a forma��o de professores de Educa��o Infantil e S�ries Iniciais -, o financiamento da educa��o trilha o caminho inverso. Contraditoriamente, o governo brasileiro estabelece metas de escolariza��o b�sica para todos, elaborando o discurso da qualidade de ensino nos primeiros n�veis de educa��o, injetando verbas para equipara��o de escolas no ensino fundamental (principalmente recursos audiovisuais), ao mesmo tempo n�o define percentuais e fontes de financiamento que permitam aos munic�pios melhorar/ampliar a rede/sistema de creches e pr�-escolas.

    Aqui se pode notar uma das artimanhas do modelo neoliberal: h� uma concentra��o na esfera do governo federal de determinadas problem�ticas como a forma��o de professores (Diretrizes Curriculares) e a formula��o de propostas curriculares (RCNEI), aspectos especialmente relacionados � regula��o e controle social e, por outro lado, uma descentraliza��o do financiamento da educa��o infantil, responsabilidade que � transferida para o n�vel dos munic�pios (municipaliza��o da educa��o), os quais n�o conseguem manter a rede de creches e pr�-escolas e acabam estimulando a comunitariza��o do atendimento. Segundo Arelaro (1999: 31), o

[...] atendimento, ao ser quase totalmente municipalizado, n�o vem recebendo recursos proporcionais aos que eram consignados para este fim, tanto pelo governo federal quanto pelos estaduais, impedindo por parte do munic�pio qualquer expans�o. [...] Se h� redu��o ou extin��o do atendimento [...] a alternativa que vem sendo proposta pelos governos federal e estaduais para a solu��o deste problema � a privatiza��o ou a "comunitariza��o" das creches, onde a popula��o (pobre) interessada deve buscar alternativas (baratas) para dar conta desse atendimento. A cobran�a de mensalidades (sempre de acordo com "as possibilidades de cada um"), o uso de profissionais n�o especializados e de locais n�o apropriados j� � um cen�rio para muitos munic�pios que, nos �ltimos anos pr�-Fundef, se orgulhavam de ter conseguido organizar suas creches assumindo uma concep��o socieducacional de qualidade.(grifos da autora)

    A este panorama junta-se o desmonte das Universidades P�blicas, fator que interfere decisivamente na qualidade da forma��o de professores para a Educa��o Infantil. Compreendemos que as atuais pol�ticas educacionais para a forma��o de professores n�o podem ser pensadas isoladamente, divorciadas de outros n�veis de ensino, uma vez que s�o as Universidades que formam os profissionais para a atua��o tamb�m na Educa��o Infantil e se tais ag�ncias formadoras s�o desmanteladas/sucateadas o discurso da qualidade para a educa��o brasileira pode revelar-se t�o somente enquanto discurso vazio, sem conex�es com a realidade social concreta.

    No caso da Educa��o Infantil, o grande desafio para pesquisadores e professores � a supera��o dos modelos autorit�rios e alienantes que tem sido a marca hist�rica do atendimento � crian�a pequena, em particular a crian�a emprobrecida. Deste modo vale a pena destacar aqui Say�o (2002: 58)

No caso da educa��o infantil e da educa��o f�sica cabe tamb�m aprofundar os estudos relacionados � forma��o das profissionais que atuam com crian�as de zero a seis anos. Isto implica questionar profundamente a concep��o racionalista que, historicamente permeia tanto as pr�ticas educacionais quanto a forma��o docente, pois a produ��o dos sujeitos humanos tem sido um constante inculcamento da disciplinariza��o dos pr�prios corpos.

    Remetendo-nos, novamente, � problem�tica da educa��o inclusiva e acrescentando a dificuldade em estabelecer uma a��o pedag�gica de qualidade, coerente com o momento vivido pela crian�a, a situa��o apresenta-se quase dram�tica e merecedora de questionamentos. � importante salientar nossa aten��o para o tratamento dado � crian�a com necessidades especiais no ensino regular ressaltando a l�gica excludente que t�m imperado no nosso sistema de ensino regular.

    Desse ponto de vista, os profissionais da educa��o infantil t�m, de fato, poucas condi��es de assumir a inclus�o da diversidade humana em ambientes como creches e pr�-escolas. Desta forma, vale a pena refletir sobre qual deve ser a base formativa que permita uma interven��o profissional que, realmente, favore�a as crian�as envolvidas.

    Parece ser este um grande desafio j� que coloca em evid�ncia uma certa vis�o de mundo, homem e sociedade como tamb�m a fragilidade te�rico-metodol�gica dos profissionais, de um modo geral, e de professores de Educa��o F�sica, em particular, diante de grupos de alunos extremamente heterog�neos quanto �s suas capacidades e potencialidades motoras, cognitivas, afetivas, sociais e culturais. Tal desafio remete � necessidade de encontrar formas de entender a diferen�a entre as crian�as de um modo bem menos excludente, onde uma rela��o de respeito e toler�ncia �s limita��es e potencialidades de todos seja estabelecida.

    Reconhecidamente importante na constitui��o e desenvolvimento do sujeito humano, na moderna sociedade ocidental, a educa��o inclusiva para crian�as com necessidades especiais pode fundamentar o desenvolvimento da inf�ncia de forma aut�noma e criativa, apesar de diferente. Segundo Ferreira e Rodrigues (1996), o trabalho educativo com a pessoa deficiente, deve dar-se desde a mais tenra idade fazendo com que as crian�as se reconhe�am melhor, saibam dos seus limites e possibilidades e compreendam ainda os limites e as possibilidades do outro. � importante tamb�m que recebam est�mulos adequados para garantir a constru��o de sua autoconfian�a e auto-estima, possibilitando �s crian�as estarem seguras para dar conta de suas necessidades especiais ou n�o, e as quest�es inerentes do seu pr�prio desenvolvimento. De acordo com Say�o (2002: 65)

Na pedagogia da educa��o infantil, as crian�as e as intera��es que estabelecem entre si e com os adultos s�o o ponto de partida para a constru��o e reconstru��o de uma cultura que esta viva, � din�mica, na qual o "corpo e o movimento", seus sentidos e significados s�o vistos e vividos como caracter�sticas especificamente humanas.

    Neste sentido, os estudos e pesquisas em Educa��o Infnatil tem apontado para a necessidade de tornar claras as diferen�as entre a Educa��o Infantil e os outros momentos da escolariza��o, ou seja, explicitar a especificidade da Educa��o Infantil sendo que, at� o momento, pode considerar v�lida a argumenta��o de Rocha (1999: 62), segundo a qual

[...] enquanto a escola se coloca como espa�o privilegiado para o dom�nio dos conhecimentos b�sicos, as institui��es de educa��o infantil se p�em, sobretudo, com fins de complementariedade � educa��o da fam�lia. [...] enquanto a escola tem como sujeito o aluno e como objeto fundamental o ensino nas diferentes �reas atrav�s da aula; a creche e a pr�-escola t�m como objeto as rela��es educativas travadas no espa�o de conv�vio coletivo que tem como sujeito a crian�a de 0 a 6 anos de idade [...].

    A explicita��o da especificidade da Educa��o Infantil permite que possamos concluir este texto apontando para o significado da inser��o do sujeito humano em espa�os de conv�vio coletivo, nos quais deve ser garantida a riqueza nas rela��es entre sujeitos singulares e, portanto, �nicos e diferentes. Lembre-se aqui que a aceita��o da diversidade humana traz muitas possibilidades de transgress�o da ordem estabelecida e deve ser - n�o somente estimulada - mas arduamente constru�da por todos aqueles que se prop�em a tarefa de educar.


Refer�ncias bibliogr�ficas

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  • BIANCHETTI, L A Modelo Neoliberal e pol�ticas educacionais. S�o Paulo/SP: Cortez, 1996

  • BRASIL. Declara��o Mundial de Educa��o Para Todos e Plano de A��o Mundial para satisfazer as Necessidades B�sicas de Aprendizagem. Bras�lia/DF: UNICEF, 1991

  • _______. Declara��o de Salamanca e Linha de A��o sobre Necessidades Educativas Especiais. Bras�lia/DF: CORDE, 1994

  • _______. Estatuto da Crian�a e do Adolescente. Bras�lia/DF: 1990

  • _______. Lei de Diretrizes e Bases da Educa��o Nacional. Bras�lia/DF: 1996

  • _______. Referencial Curricular Nacional para a Educa��o Infantil. MEC: Bras�lia/DF, 1998

  • CEDIPOD. Programa de A��o Mundial para pessoas deficientes. Dispon�vel em: regra.com.br/educa��o, 1992.

  • CORAGGIO, J. L.. Propostas do banco mundial para a educa��o: sentido oculto ou problemas de concep��o? In: O Banco Mundial e as Pol�ticas Educacionais. S�o Paulo/SP: Cortez, 1998, pp. 71-121

  • DEBORTOLI, J. A Inf�ncia e conhecimento escolar: princ�pios para uma educa��o f�sica "para" e "com" as crian�as. In: Revista Pensar a Pr�tica, vol.05, Goi�nia/GO: FEF/UFG, 2001/2002, pp. 92-105.

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  • SAVIANI, DEMERVAL. Escola e Democracia. Campinas/SP: Autores Associados, 1999, 32a. ed

  • SAY�O, D. T. Corpo e Movimento: Notas para problematizar algumas quest�es relacionadas � educa��o infantil e � educa��o f�sica. In Revista Brasileira de Ci�ncias do Esporte, vol.23, no 2, Campinas/SP, 2002, p. 55-67.

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Qual documento que norteia a educação inclusiva?

Portanto para que a educação inclusiva e especial aconteça temos os seguintes documentos que norteia a educação inclusiva no Brasil que são Lei n° 13.146, de 6 de julho de 2015 (LBI), Constituição Federal de 1988; Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de1996, Plano Nacional de Educação (2014).

Qual foi o marco da educação inclusiva no Brasil?

Convenção da ONU sobre os direitos das pessoas com deficiência. Política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Plano nacional de educação (PNE) Lei brasileira de inclusão (LBI)

Quais documentos internacionais influenciaram para a formulação das políticas públicas da educação inclusiva no Brasi?

Também nessa década, documentos como a Declaração Mundial de Educação para Todos (1990) e a Declaração de Salamanca (1994) passam a influenciar a formulação das políticas públicas da educação inclusiva.

O que é a Declaração de Salamanca?

A Declaração de Salamanca (1994) traz a educação inclusiva como a possibilidade de “reforçar” a ideia de “educação para todos”, como se, até então, alunos com deficiência e/ou com outras necessidades educacionais especiais não frequentassem a escola.

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