Quais são as principais etnias do continente europeu?

Cantora Mari Boine discute discriminação e ódio e revela os caminhos xamânicos de uma Europa indígena.

Quais são as principais etnias do continente europeu?
Mari Boine (foto: Carina Musk Andersen / divulgação)

Por Felipe Viveiros*

Cultura indígena. Caso você não seja um antropólogo, é muito provável que sua mente remeta aos povos originários da América. Enquanto pensa sobre sioux e navajos, astecas e incas, ou até mesmo nossos tupis, guaranis, xavantes e yanomamis, as associações com a cultura nativa não o levam para a Europa. Por que? Velados preconceitos impedem que povos indígenas habitem o charmoso frio dos países desenvolvidos. Do outro lado do Atlântico, perto dos fiordes e longe do clima tropical, um povo milenar canta sua rica história em perfeito equilíbrio com a natureza.

Está na hora de romper estereótipos e, finalmente, (re)conhecer que há indígenas na Europa: o povo Sámi da Lapônia.

Os sámis se estabeleceram na Escandinávia, como um grupo étnico distinto, há mais de 2.000 anos. Embora milenares, ainda lutam por reconhecimento e têm uma história de colonização e discriminação nas quatro nações que habitam: Noruega, Suécia, Finlândia e Rússia. A Lapônia, sua região cultural, se divide entre esses territórios. A partir da Idade Média, foram empurrados para o norte devido à migração para as áreas que habitavam, o que levou à progressiva perda de terras, bem como limitou acesso aos seus ricos recursos naturais. Únicos indígenas reconhecidos no continente europeu, os sámi, como diversas etnias que lutam e resistem, raramente ocupam as manchetes internacionais. Mas deveriam. E a razão chega pela voz da cantora Mari Boine.

Um dos grandes pilares da cena musical indígena europeia, Mari Boine tem feito o continente arrepiar, assim como os cortantes ventos das tundras de sua região. Nascida na vila de Gámehisnjárga, às margens do rio Anarjohka, extremo norte da Noruega, a artista cresceu acolhida pelos espíritos ancestrais da natureza, mas rejeitada pelo rigoroso movimento cristão que promoveu discriminação contra seu povo. A cantora nasceu em 1956 e cresceu em uma Lapônia governada por um Deus cristão, e sob uma política de assimilação cultural por parte do Estado norueguês. Quando criança, a escola que frequentava refletia um mundo bem diferente de sua família. A língua nativa, pertencente à família das urálicas relacionadas ao finlandês, estoniano e húngaro, era proibida. O canto tradicional de seu povo, conhecido como joik era considerado “música do diabo” pela sua origem xamânica.

Por muito tempo, os cristãos escandinavos – e alguns deles até hoje – não entendiam a natureza espiritual do povo indígena europeu. Joik não era apenas música, era parte fundamental da religião tradicional sámi, executado por um xamã que batucava o tambor para acompanhar os encantamentos da Escandinávia pré-cristã. O canto dos lapônios foi, por séculos, parte dos métodos cerimoniais e de cura. Como aconteceu com os indígenas dos diversos continentes do mundo, tentativas foram feitas para converter os sámis ao cristianismo e suas atividades culturais foram suprimidas. Com justa indignação, a cantora canalizou sua revolta na música, e a transformou na reconstrução de tradições e de identidades perdidas, reposicionou os símbolos e as práticas estigmatizadas. Ole Henrik Magga, o primeiro presidente do chamado Parlamento Sámi, criado na Noruega em 1989, afirmou sobre o papel dela: “Fez muito mais pelo avanço do poder político do que nossas centenas de resoluções”.

A música de Boine suavizou a resistência contra o xamanismo e contribuiu para o estabelecimento de nova versão da herança cultural do povo indígena europeu. A ativista musical, assim como os seus ancestrais, fez do som o canal ideal para a cura. A “música do diabo” conciliava, e ensinava os cristãos, o que é fazer parte de uma minoria quando o medo da maioria demoniza seus “exóticos” costumes e tradições. No joik não há regras de entonação ou escalas, e o estilo segue exatamente a visão sámi de mundo: não há começo, não há fim. Reza a lenda que os sámi aprenderam o canto com as fadas e os elfos das terras árticas. Escutar a voz dos sámi é viajar pela verdadeira e mágica fantasia, uma ferramenta vital para receber e transmitir conhecimento. Os nativos não fazem joik sobre algo, eles fazem joik sobre a essência de algo ou alguém. Som misterioso e hipnotizante, o cântico expressa a alma de uma pessoa, árvore, rena, lago. Um improviso do espírito, e como tal único, cria redemoinhos nas luzes da aurora boreal mesclando os ventos nos planaltos das montanhas da Lapônia. Linguagem da alma.

O místico canto das fadas e dos elfos tem um passado sombrio na história norueguesa. Durante a cristianização dos sámi, a partir do século 17, o joik foi considerado pecaminoso e autoridades classificaram o povo como “atrasado”, “primitivo”, carente de ser “civilizado”. Sob a política de norueguização o canto e a língua sámi foram proibidos e desencorajados. Sua língua, história e música estão essencialmente interligadas. Juntas formam uma tríade inseparável, na qual cada elemento precisa que os demais permaneçam vivos para que sejam transmitidos às gerações futuras. As línguas Sámi e os cânticos Sámi foram ilegais na Noruega de 1773 até 1958. Por séculos, o espírito da natureza fechava os olhos, as imagens sonoras da aurora desbotavam, a alma dos elfos deixava de brilhar. Era a voz sámi que dava vida à paisagem na Lapônia e os noruegueses sufocavam mil anos de conexão ancestral.

As fadas e os elfos foram calados pelo amargo frio da discriminação. Cantavam em silêncio.

O joik quase desapareceu em meados do século 20, mas um renascimento cultural teve início no final dos anos 1970. Artistas indígenas contemporâneos encontraram maneiras de refletir valores e práticas culturais milenares no estúdio de gravação. Mari Boine, como ninguém, trouxe nova vida para uma das tradições mais antigas da Europa: conectou o tradicional cântico com a sagacidade do rock e as técnicas do jazz. Uma viagem de swing xamânico entre o sono e o despertar. “Coisa de índio”, como diriam os conservadores.

Boine tem, desde então, sido um dos pilares da cena musical sámi nas últimas décadas. Alcançou fama nos anos 1990, após o lançamento de seu primeiro álbum Gula Gula (1989) e canalizou toda sua frustração pessoal e política em canções fortemente enraizadas na experiência de pertencer à minoria desprezada. A faixa Oppskrift for Herrefolk – ironicamente interpretada em norueguês e não em sámi – discute discriminação e ódio, e recomenda formas de oprimir: “Use a bíblia e a baioneta”, “Use artigos da constituição contra os direitos ancestrais”. O livreto que acompanha o álbum Leahkastin (1994) tem ilustrações provocantes com legendas racistas, como: “Típica Mulher Lapônica” e “Uma Lapônica Bem Nutrida”. A cantora tem sido figura-chave na liderança da luta contra o preconceito enfrentado por seu povo. Embora nós enxerguemos os escandinavos de maneira homogênea, o racismo existe no norte da Europa e é severo com os indígenas que apresentam características mongólicas ou asiáticas.

Como artista e ativista, ela tem inspirando novas gerações a se orgulharem de suas raízes únicas e foi reconhecida com o Prêmio de Música do Conselho Nórdico. A honraria deu destaque às suas conquistas artísticas, bem como à sua capacidade de conectar a causa com um público global, cantando joik ao ritmo de rock e jazz, mantendo sua integridade sámi. Sua voz influenciada pela cultura xamã, antes oprimida pelos cristãos noruegueses, é hoje reverenciada. Em 2018, ela recebeu o prêmio honorário Spellemannprisen, equivalente norueguês ao Grammy, por suas conquistas ao longo da vida. A cantora é também membro influente na Academia Real de Música da Suécia.

O povo sámi sobreviveu a séculos de preconceito, discriminação e abuso. Em tempos nos quais a maioria dos cantores segue padrões pasteurizados em busca da fama, Mari Boine atrai a atenção do mundo ao descrever a dor da opressão e a luta para recuperar o auto-respeito de seu povo. A artista é uma líder, embaixadora da cultura sámi em constante evolução, que resiste e conquista o público internacional. Banido por quase 200 anos, o canto xamânico joik agora se renova ganhando independência significativa após séculos de desrespeito. Mari Boine sabe quem ela é, de onde veio e o que representa. Para entender o poder deste povo milenar, basta considerar os esforços dos grupos dominantes para tentar destrui-lo. Os indígenas europeus fazem do canto proibido, eterna permissão para manter sua identidade étnica e cultural.

Ouça a música de Mari Boine clicando aqui ou na imagem abaixo:

Quais são as principais etnias do continente europeu?

*Felipe Viveiros, graduado em Relações Internacionais pela PUC-SP, tem extensão universitária em Comunicação Empresarial pela Universidade da Colúmbia Britânica (Canadá) e é mestre em Relações Internacionais e Organização Internacional pela Universidade de Groningen (Holanda).

Fonte: Cultura do Resto do Mundo
Publicação Ambiente Legal, 10/02/2021
Edição: Ana A. Alencar
As publicações não expressam necessariamente a opinião da revista, mas servem para informação e reflexão.

Quais são os principais etnias da Europa?

O maior grupo étnico da Europa é provavelmente formado pelos russos com cerca de 90 milhões estabelecidos na parte europeia da Rússia. Em seguida vêm os alemães (76 milhões), italianos (58 milhões), franceses (49 milhões), ingleses (45 milhões), espanhóis (42 milhões), ucranianos (40 milhões) e poloneses (40 milhões).

Quais os três principais grupos étnicos da Europa?

O Brasil é um país com grande diversidade étnica, sua população é composta essencialmente por três principais grupos étnicos: o indígena, o branco e o negro.

Qual a origem étnica dos povos europeus?

Mais de 80% dos homens europeus são descendentes de grupos paleolíticos que chegaram ao continente vindos da Ásia Central e do Oriente Médio e viveram entre 25 mil e 40 mil anos atrás.

Quais são os grupos étnicos?

De um modo geral, podemos dizer que a composição étnica brasileira é basicamente oriunda de três grandes e principais grupos étnicos: os indígenas, os africanos e os europeus. Os índios formam os agrupamentos descendentes daqueles que aqui habitavam antes do período do descobrimento efetuado pelos portugueses.