Quais as transformações por que passaram os Estados Unidos no século XIX?

As transformações da América Latina sempre estiveram profundamente ligadas às lutas contra a dominação. Desde a entrada no mapa da história europeia e a luta contra a colonização espanhola e portuguesa até os últimos decênios do século XX , quando as mudanças drásticas nas configurações do poder consequentes dos resultados da Segunda Grande Guerra – independências de ex-colônias, Revolução Russa e disputa pelo domínio mundial entre URSS e Estados Unidos – espalharam pelo mundo uma onda de movimentos revolucionários.

Na América Central e do Sul diversos movimentos originários do campesinato e do proletariado urbano buscaram transgredir a realidade autoritária e dependente do imperialismo estadunidense e instaurar novas realidades políticas para os países latinos americanos. A Revolução Mexicana (1910 – 1920), cuja morte de um de seus maiores líderes, Emiliano Zapata, completa  100 anos e a Revolução  Cubana, que completou 60 anos em 2019, são apenas alguns exemplos.

Para além das questões políticas, houve importantes transformações nos campos cultural e social, reflexos de uma luta dada no campo subjetivo, em que a emancipação intelectual e a valorização de uma identidade latina que levasse em conta os aspectos diversos da formação populacional destes territórios tivessem lugar nos campos de legitimação sócio cultural e político.

Dessa forma, o campo de transgressões latino-americanas não se restringe apenas ao espaço das irrupções políticas, mas apresenta-se no campo místico, na religiosidade sincrética latino americana; no campo literário, das escritas transgressivas – com participação efetiva ou não nos processos revolucionários – dos autores sulamericanos; na música, nas artes visuais etc.

Assim, o Centro de Pesquisa e Formação do Sesc propõe, nos meses de março e abril, uma reflexão sobre diferentes aspectos históricos, culturais e políticos da América ao longo do século XX e início do século XXI.

Retomar o século passado e seu legado histórico - para compreender como se deram as reivindicações populares, os movimentos de efervescência cultural e as transformações nos costumes -  é primordial para entendermos os desafios contemporâneos que se colocam para toda a região.

Confira a programação completa clicando aqui.

(Ilustração: Diego Rivera - Mural apresentando Emiliano Zapata. Wikimedia Commons.)

Se o mundo estava em ebulição durante o século XIX, você verá como os EUA não ficaram para trás nesse século de transformações. Venha conosco em mais uma aula de História do Curso Enem Gratuito!

Os Estados Unidos começaram o século XIX como um jovem Estado cuja identidade enquanto nação ainda não estava solidificada. Sua independência unia as treze ex-colônias inglesas em torno da luta pela emancipação em relação à Inglaterra.

Apesar disso, os industrializados estados do norte eram muito distintos daqueles do sul, onde vigoravam as plantations e o trabalho escravo. Para além do episódio da independência, não havia uma identidade que unisse os norte-americanos daquela região – que hoje corresponde a um terço do território do seu país.

Destino Manifesto e Marcha para Oeste

Você já deve ter ouvido falar que boa parte do atual território dos Estados Unidos pertencia ao México, certo? Isso é verdade em partes, pois diversas outras regiões daquele país estavam sob domínio também de franceses e diferentes grupos indígenas. Podemos verificar todas estas influências nos nomes de muitos estados que formam o país: Seattle, Massachusetts (origem indígena), Louisiana (origem francesa) e Nevada (origem espanhola).

Assista a este vídeo do canal Nerdologia sobre a história da Califórnia, um território de colonização inicialmente espanhola e que depois foi anexada aos EUA:

A própria ilha de Manhattan, em Nova Iorque, foi retirada dos indígenas pelos holandeses. Inicialmente, ela foi chamada de Nova Amsterdã, e só depois foi vendida para os ingleses. Mesmo após a independência dos Estados Unidos, a expansão territorial continuou acontecendo nestes termos: entre guerras e tratados. Porém, as motivações para esta expansão eram justificadas de maneira distinta da lógica mercantilista europeia.

Era popular entre os estadunidenses, principalmente nos estados do norte, a fé no Destino Manifesto. Esta era uma crença puritana que afirmava que os norte-americanos eram o povo escolhido por Deus para libertar outros povos da barbárie e conquistar novas terras.

A crença no Destino Manifesto está profundamente ligada com a moral puritana (dos calvinistas ingleses), na qual o sucesso econômico através do trabalho e da poupança é interpretado como uma recompensa divina. Desta forma, ela justificava a ambição por novas terras e recursos a serem conquistados no oeste norte-americano.

Quais as transformações por que passaram os Estados Unidos no século XIX?
“O Progresso Americano”, de John Gast, representando a marcha para oeste sobre o interior da América do Norte. Fonte: http://twixar.me/Hnsn

Em meados do século XIX, os estadunidenses conseguiram chegar até a costa oeste do continente, onde hoje estão situados os estados da Califórnia, Oregon e Washington. Essa foi uma grande conquista para a nação, pois eles podiam manter comércio direto com duas partes distintas do globo.

Guerra da Secessão

Porém, até então, os norte-americanos viviam em um país dual: enquanto no sul defendia-se a manutenção e ampliação da agricultura para exportação, no norte se defendia a industrialização como horizonte econômico. Com a conquista dos novos territórios, os dois projetos de nação chocaram-se, culminando numa guerra civil que ficou conhecida como Guerra da Secessão (separação).

Para além das disputas entre projetos políticos para o país, os Estados Unidos do século XIX ficaram marcados pela “corrida do ouro”. A descoberta de jazidas de metais preciosos no território que havia sido de controle mexicano movimentou intensamente o interior do país.

Mas a realidade não era fácil. Por trás das histórias de cowboys e xerifes, inúmeros indígenas perderam suas terras, foram violentados e mortos. Além disso, muitos animais da região, como os búfalos, desapareceram e o meio ambiente foi profundamente afetado pela atividade extrativista.

Quais as transformações por que passaram os Estados Unidos no século XIX?
Mapa mostrando aquisições territoriais pelos EUA. Fonte: http://twixar.me/f8Mn

Doutrina Monroe e Big Stick

Ainda na primeira metade do século XIX, o presidente estadunidense James Monroe instituiu uma política externa protecionista sobre os EUA e as demais nações americanas. Esta política, chamada Doutrina Monroe, ficou conhecida pelo lema “América para os americanos”.

Ela se caracterizava por ameaçar as nações europeias que se atrevessem a recuperar territórios no continente. Contudo, mais do que procurar preservar a sua independência e a dos demais países do continente, a Doutrina Monroe acabou por possibilitar que os EUA monopolizassem a influência sobre outras nações.

Tal pretensão hegemônica foi solidificada com a política do Big Stick (grande porrete), já no inicio do século XX, pelo presidente Theodor Roosevelt. Ele entrou para a história ao afirmar que deveria se negociar falando com calma, mas com um “grande porrete na mão”. Em outras palavras, ou as demais nações americanas aceitavam os termos estadunidenses ou deveriam preparar-se para a guerra. O lema “América para os americanos” continuava válido, desde que se entendesse “americanos” como sinônimo de “estadunidenses”.

Intervenção na América Latina

É possível verificar esta disposição dos Estados Unidos no século XIX em exercer sua influência sobre as demais nações latinas com os casos da Emenda Platt e a construção do canal do Panamá. A primeira situação diz respeito a uma emenda na Constituição norte-americana que sua intervenção na ilha de Cuba. Na prática, a ilha caribenha passou a servir aos interesses norte-americanos, e por muito tempo sua economia ficou restrita à produção canavieira.

Já com o canal do Panamá, a intervenção norte-americana foi movida com um evidente interesse comercial. O território do Panamá pertencia à Colômbia até o século XX, que resistia ao domínio estadunidense sobre a passagem que ligaria o Oceano Atlântico ao Pacífico. Para superar esta situação, os norte-americanos promoveram uma revolta separatista na Colômbia, que culminou com a criação do Panamá, fazendo com que os Estados Unidos pudessem circular livremente naquela região.

Videoaula

Assista este vídeo do Felipe Figueiredo, desta vez no canal Xadrez Verbal, sobre a construção do canal do Panamá

Exercícios

Sobre o(a) autor(a):

Os textos acima foram preparados pelo professor Angelo Antônio de Aguiar. Angelo é graduado em história pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestrando em ensino de história na mesma instituição e dá aulas de história na Grande Florianópolis desde 2016.

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Quais as transformações porque passaram os EUA no século XIX?

Durante o século XIX, os Estados Unidos passaram por uma série de transformações, como a marcha para o oeste e a Guerra Civil Americana ou Guerra de Secessão.

Como era os Estados Unidos no século XIX?

Durante todo o século XIX, os Estados Unidos passaram por um processo de expansão territorial que fez com que a nação surgida a partir de uma pequena faixa de terra no leste da América do Norte – conhecida como treze colônias – ocupasse de maneira intensa e agressiva as regiões das planícies centrais e alcançasse a ...

Como ocorreu a expansão dos Estados Unidos no século XIX?

Durante o século XIX, aconteceu nos Estados Unidos o que ficou conhecido como “marcha para o oeste”. Esse processo consistiu, basicamente, na expansão territorial da nação, originalmente surgida das treze colônias, em direção ao oeste.

Quais as consequências da expansão territorial norte americana no século XIX?

1 - Compra de territórios - foi por este formato de expansão territorial que se deu os primeiros importantes avanços na linha fronteiriça norte-americana, com a compra da Luisiana à França de Napoleão Bonaparte em 1804 e a compra da Flórida em 1819 aos espanhóis.