Quais as diferença entre escravidão a servidão e o trabalho assalariado?

Ao falar sobre a situação do servo medieval, observamos que muitos alunos fazem uma pequena confusão com o significado dessa figura no mundo feudal. Conhecendo as várias obrigações e tributos que estava sujeito, é comum chegar à conclusão que o servo era a mesma coisa de um escravo. Apesar de lógica, essa equiparação de conceitos está bem distante do significado que um escravo e um servo possuíam.

Para resolver este dilema sugerimos ao professor de História o trabalho com duas fontes documentais que podem resolver tal embaraço. Inicialmente, selecionamos a exposição de uma interessante reflexão que o filósofo Aristóteles fez sobre a condição do escravo na Grécia Antiga. Segundo os seus dizeres:

“Os instrumentos são de vários tipos; alguns são vivos, outros inanimados; (...) Assim, qualquer parte da propriedade pode ser considerada um instrumento destinado a tornar o homem capaz de viver; e sua propriedade é a reunião desse tipo de instrumentos, incluindo os escravos; e um escravo, sendo uma criatura viva (...) é uma ferramenta equivalente às outras. Ele é em si uma ferramenta para manejar ferramentas.”

Nesse primeiro trecho é possível notar que o filósofo grego equipara o escravo a um instrumento, uma mercadoria necessária à sobrevivência do indivíduo. Por meio dessa noção, vemos que os escravos eram rebaixados à condição de objeto necessário à vida. Da mesma forma que hoje precisamos de um veículo ou de uma casa para viver, os gregos acreditavam que os escravos eram somente mais uma dessas “coisas” necessárias à existência.

Após apontar esse primeiro valor, o professor se desloca para os tempos medievais através das palavras do bispo Eadmer de Canterbury. Por volta do século XI, esse membro da Igreja fez a seguinte consideração sobre a sociedade de sua época:

“[Deus] fez ordens, que instituiu em vista das diversas missões a realizar neste mundo. Instituiu uns os clérigos e monges para que rezassem pelos outros (...). Instituiu os camponeses para que eles (...) com o seu trabalho, assegurassem a sua própria subsistência e a dos outros. A outros, por fim, os guerreiros, instituiu-os para que (...) defendessem dos inimigos, (...) os que oram e os que cultivam a terra.”

Nesse segundo trecho, observamos que os servos medievais são considerados aqui como partes integrantes de um complexo organismo social. Mesmo sendo submetidos a uma dura rotina de trabalho, não podem ser simplesmente equiparados aos escravos por não serem vistos ou tratados como uma simples mercadoria. Com isso, fica clara a distinção existente sobre o lugar socialmente ocupado por essas duas figuras que povoaram os mundos antigo e medieval.

De fato, ao expor esses documentos os alunos têm oportunidade de resolver esse pequeno “nó conceitual” muito comum nas salas de aula. Ao mesmo tempo, também devemos salientar que o passado é revisitado pela voz de seus participantes e interpretado através de um rico exercício comparativo. Toda vez que isso acontece, vemos que a História se afasta daquela velha aversão que os estudantes têm do passado.

Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola

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Quais as diferença entre escravidão a servidão e o trabalho assalariado?

Uma mulher trabalhando em fábrica dos EUA em 1940

Trabalho assalariado (também referido como emprego remunerado) refere-se à relação Socioeconômica entre um trabalhador e um empregador no qual o trabalhador vende sua força de trabalho sob um contrato de trabalho formal ou informal.[1] Essas negociações geralmente ocorrem em um mercado de trabalho onde os salários são determinados pelo mercado.[2]

Difere-se das demais relações de trabalho por prescindir de relações de dependência extra-econômicas (na escravidão, por exemplo, o trabalhador é propriedade do senhor de escravos, enquanto na servidão o trabalhador está ligado à terra e é dependente do senhor de terra).

História[editar | editar código-fonte]

Pré-História[editar | editar código-fonte]

No chamado Período Paleolítico, os seres humanos viviam em pequenos grupos nômades, cuja organização é pouco hierarquizada.

O sistema de salário nesta época não existia nem tão pouco o dinheiro. No interior da tribo não havia trocas mercantis, mas o escambo era praticado nas relações entre diferentes grupos nômades.

Com o sedentarismo, ocorreu uma crescente hierarquização das sociedades, um sistema de castas (sacerdotes, guerreiros, artesãos e camponeses) se formou com base no trabalho escravo. Ainda há um amplo debate entre os estudiosos sobre o que causou essa hierarquização.

Idade Antiga[editar | editar código-fonte]

A Idade antiga surge com base no trabalho escravo, pois assim surgiram as primeiras civilizações. Dessa forma, os escravos eram grande parte da sociedade, porém, o trabalho assalariado passou então a ser comum nas relações de pequeno porte, como a contratação de alguém por um artesão, ou por um político. Por mais que estes últimos contratassem trabalhadores assalariados, eles raramente tinham chances de enriquecer-se apenas através deles, pois a riqueza era medida, sobretudo, pela posse de terra e de escravos.

Idade Média[editar | editar código-fonte]

Quais as diferença entre escravidão a servidão e o trabalho assalariado?

Sistema Trabalhista Assalariado na Idade Média

Na Idade Média (feudalismo), a sociedade é totalmente transformada, e a servidão substitui em grande parte a escravidão, mas pode-se dizer que o trabalho assalariado continue o mesmo: acordos entre pequenos empresários com pessoas comuns; riqueza medida pela posse da terra; e dificuldade de mobilidade social.

As camponesas trabalhavam muito: cuidavam das crianças, fiavam a lã, teciam e ajudavam a cultivar as terras. As mulheres com um nível social mais alto tinham uma rotina igualmente atribulada, pois administravam a gleba familiar quando seus maridos estavam fora, em luta contra os vizinhos ou em cruzadas à Terra Santa. Atendimento aos doentes, educação as crianças também eram tarefas femininas.

Idade Moderna[editar | editar código-fonte]

No início da Idade Moderna, o capitalismo comercial se desenvolveu em escala mundial com as descobertas marítimas e o trabalho escravo tornou-se novamente comum, principalmente nas colônias, no entanto pelos países europeus, cada vez é mais difícil encontrar escravos trabalhando nas cidades, embora no campo a servidão ainda predomine. Nas cidades europeias predomina o serviço livre e algumas vezes o assalariado. Movimentos filosóficos como Renascentismo e Iluminismo, apoiavam a facilidade de mobilidade social e tendiam a abominar a escravidão.

Idade Contemporânea[editar | editar código-fonte]

Quais as diferença entre escravidão a servidão e o trabalho assalariado?

Italianos no Brasil: esperança de um trabalho assalariado digno.

Neste Período, basicamente dois fatores finalizarão a escravidão e a servidão e tornarão o trabalho assalariado o protagonista das relações de produção:

  1. Revolução Industrial: com base na mão de obra livre decorrente do cercamento dos campos ingleses e a acumulação de capital nas mãos da nascente burguesia daquele país, criou a chamada classe operária (ou proletariado) e aumentou a produção. Expandiu-se no século XIX a outros países e fez com que países industrializados, como a Inglaterra, incentivassem a abolição da escravidão para a ampliação dos mercados consumidores e de mão de obra;
  2. Revoluções burguesas: revoluções como a Americana e a Francesa foram impulsionadas pelo iluminismo, que era contrário à escravidão.

Ver também[editar | editar código-fonte]

  • Proletariado
  • Salário
  • Capitalismo
  • Trabalho produtivo e improdutivo

Referências

  1. Steinfeld, Robert (1 de janeiro de 2009). «Coercion/Consent in Labour». COMPAS. Consultado em 5 de setembro de 2022
  2. Deakin, S. F. (2005). The law of the labour market : industrialization, employment, and legal evolution. Frank Wilkinson. Oxford: Oxford University Press. OCLC 57202096

Quais as diferença entre escravidão a servidão e o trabalho assalariado?

A principal diferença entre o servo e o escravo é justamente a questão da propriedade. Enquanto os escravos eram de seus senhores — e podiam, portanto, ser trocados ou vendidos em transações comerciais —, os servos não pertenciam a ninguém. A relação estabelecida, nesse caso, era a de dependência, não de propriedade.

Qual a diferença entre o trabalho servil e o trabalho assalariado?

Enquanto o servo de um senhor feudal trabalhava a terra de forma a produzir diretamente o seu sustento, cedendo parte da produção ao senhor como forma de tributo, o trabalhador assalariado trabalha em função de uma moeda, para só então poder ter contato com seu sustento.

Qual a diferença entre trabalho escravo e trabalho?

Nesse sentido, é possível observar que o trabalho forçado atual já se difere em alguns aspectos do trabalho escravo no Brasil Colônia, tendo em vista que a prestação de serviços inicialmente foi ajustada livremente entre o patrão e o trabalhador, enquanto no trabalho escravo no Brasil Colônia, os afrodescendentes eram ...

Que diferença existem entre a escravidão e o trabalho análogo ao escravo?

Formalmente, o trabalho escravo está abolido no Brasil desde 1888. Modelo adotado durante o período colonial e monárquico, a escravidão era permitida e apoiada pelo Estado. O termo correto a se usar é “análogo ao escravo”, exploração da mão de obra que ainda acontece em áreas rurais e urbanas do país.