CONTEXTUALIZAÇÃO: A chegada do Grande Projeto Minerador no Trombetas, impactou principalmente as comunidades que viviam ao seu entorno. Comunidades Quilombolas habitadas por negros descendentes de escravos vindos da África, que encontraram naqueles lugares refúgios para darem continuidade às suas ancestralidades. A Comunidade Quilombola Boa Vista localizado à margem direita do Rio Trombetas, sofreu com os impactos da instalação do “Imperador” no seu quintal em 1979. Os quilombos na história do Brasil representam um enfrentamento a uma situação adversa que foi dada aos negros escravizados e aos seus descendentes. No entanto, resistiram e cravaram suas raízes em um lugar, formando grupos familiares com vínculo de parentesco entre si. Ali edificaram cercas reais ou imaginárias, que protegem seus saberes, seus santos, seus lamentos, seus tambores, suas expressões, seus modos de criar, de fazer e de viver. Na adversidade, construíram um saber que é transmitido de geração a geração (SOUSA, 2018). O processo de titulação da Comunidade Quilombola Boa Vista se deu sobre muita luta e resistência, e em 1995 sendo a primeira Comunidade Quilombola a ser titulada no Brasil, Boa Vista estava assegurada como dona daquele território, no entanto, suas lutas estavam longe de acabar, a Mineração Rio do Norte usou de seus conhecimentos para adentrar na floresta e explorar todo seu minério. A terra é vista em seu mais amplo sentido, é de onde tiram seus alimentos, onde suas histórias estão enraizadas, seus sonhos e anseios, terra de gente sofrida, terra de negro que lutou e luta até hoje contra toda forma de desculturalização. DESCRIÇÃO: Este trabalho apresenta um relato de experiência desenvolvido por duas alunas do curso Bacharelado Interdisciplinar em Saúde da Universidade Federal do Oeste do Pará. Foi constituído através das reflexões das mesmas, acerca das vivências contadas pelos seus familiares e descrição desses indivíduos quanto a doenças, alimentação e cultura da comunidade. PERÍODO DE REALIZAÇÃO: Os relatos foram coletados durante as férias no período de 15 a 30 de dezembro de 2018 na Comunidade Quilombola Boa Vista. OBJETIVO: Relatar através de reflexões a influência da Mineração Rio do Norte no estilo de vida de quilombolas da Comunidade Boa Vista. RESULTADOS: Após sua instalação, passamos a ter nossos recursos naturais imobilizados e acompanhamos a biodiversidade escassear lentamente. Os nossos costumes foram mudados, antes tudo era tirado da natureza, mas com a chegada da MRN em parceria com o IBAMA tudo ficou mais difícil, nos proibiram de adentrar na floresta de onde tirávamos todo nosso sustento, com isso começamos a ter vínculo empregatício com a Mineração e passamos a adquirir novos hábitos, deixando de pescar, caçar e produzir roças para começarmos a comprar os alimentos comercializados na feira. Houve uma influência de forma continua na alimentação, onde foi apresentado um mercado e a oferta ao consumo de alimentos que podem ter contribuído para possíveis casos de doenças dentro da comunidade. Essa introdução de uma nova alimentação acredita-se ter trazido consequências para o nosso povo, o consumo de frango, carne e alimentos industrializados, com os passar dos anos acarretaram o surgimento de doenças como; o colesterol, diabetes, pressão alta, que nos tempos de nossos avós não existiam e se existiam ninguém sabia, pois eles falam que não se queixavam dessas doenças e hoje os próprios são afetados por elas. E eles até relatam que no tempo em que a alimentação era com caça do mato, as pessoas se sentiam mais saudáveis. No que tange a cultura, é evidente a perda das tradições e costumes do povo. Em conversa com os mais velhos sempre é lembrado com muita saudade das suas tradições que fora se perdendo ao longo do tempo, pois percebem que os mais novos já não as praticam. A nova geração não nasceu mais no tempo do roçado pois eles já foram diretamente criado estudando na mineração, eles não querem fazer roçado e os antigos cansaram, ficaram velho e hoje em dia no Boa Vista ninguém mais faz farinha, é muito difícil, não fazem porque acham que é muito trabalho e eles não querem se dar esse trabalho. As danças, rituais, ladainhas e até mesmo os saberes tradicionais foram deixados de lado, e se adaptaram a uma nova cultura. APRENDIZADOS E ANÁLISE CRÍTICA: A Comunidade Quilombola Boa Vista deveria ser um marco na história da luta negra pela terra, mas é uma comunidade muito largada pelo poder público e principalmente pela MRN que está ao nosso entorno a 40 anos explorando minério e levando essa riqueza daqui. É feito muito pouco em vista ao que poderia ser ajudado, há falta de vontade, pois riqueza existe. A empresa tem como slogan: RESPEITO AO HOMEM E A NATUREZA, mas não respeita o homem nem a natureza, alterou a cultura de um povo que já estava aqui quando eles chegaram pra se instalar. REFERÊNCIAS: SOUSA, M. S. R. Territorialidade quilombola e trabalho: relação não dicotômica cultura e natureza. Piauí: 2018.
Quais as consequências da mineração para os povos quilombolas de Oriximiná?
Para garantir sua alimentação e a geração de renda, os quilombolas dependem em muito de suas florestas, onde caçam e coletam uma infinidade de produtos, como a castanha, o açaí, a bacaba, o cipó-titica, a palha e o breu.
Além disso, este impacto na flora e nas reservas d'água pode acelerar a desertificação da região, já que, associada ao desmatamento, a diminuição da vegetação pode ocasionar a desagregação do solo e a perda da cobertura orgânica da superfície, permitindo o avanço do solo de predominância arenosa.
Uma das questões mais atuais da resistência dessas comunidades é a luta pelo território. No Brasil, o número de quilombos titulados é baixo. Quilombolas enfrentam ameaças do agronegócio, da especulação imobiliária e do próprio poder público.
Os efeitos do Projeto Trombetas, promovido pela empresa Mineração Rio Norte (MRN), fizeram-se sentir sobre as comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas. A extração gera a perda da fauna, da flora, de espécies endêmicas e a contaminação de recursos hídricos.