Show
As alterações climáticas têm sido um tema recorrente na agenda internacional: com a crise climática ficando cada vez mais intensa e iminente, representantes de Estados se reúnem com frequência para discutir como podemos atenuar e desacelerar essas mudanças, que colocam populações, diversas espécies e ecossistemas em risco em diversas partes do mundo. Uma dessas plataformas que reúnem os chefes e representantes dos Estados é a Organização das Nações Unidas (ONU), mais especificamente as Conferências das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Tais Conferências são realizadas anualmente, desde 1995, sob o âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (UNFCCC). Neste texto do Politize!, abordaremos qual o contexto em que estas Conferências foram estabelecidas, quando são realizadas e os seus principais objetivos. Também falaremos sobre a COP 26, que acontece em Glasgow, no Reino Unido, em outubro de 2021. Se você se interessa por estes temas e gostaria de aprender mais sobre as Conferências, é só continuar lendo! A Eco-92A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida também como Rio-92, Eco-92 ou Earth Summit, deu início ao debate sobre temas globais relacionados ao meio-ambiente após o fim da Guerra Fria. A Conferência aconteceu em junho de 1992 no Rio de Janeiro, sendo um dos maiores eventos diplomáticos sediados no Brasil. Na Rio-92, representantes de organizações não governamentais (ONGs), Estados, agências especializadas e organizações intergovernamentais de 187 países participaram das conferências. A Eco-92 também foi de extrema importância para o começo da ação brasileira sobre as questões climáticas no plano internacional. Afinal, o fato de o Brasil sediar o evento constituiu uma forma de obter uma posição mais ativa em relação aos temas ambientais que estavam sendo discutidos no plano internacional, em especial sobre a questão do desenvolvimento sustentável. Também foi na Eco-92 que as ONGs passaram a ser assíduas nos debates das Nações Unidas, especialmente em conferências com temas de interesse global, demonstrando que as discussões sobre o meio-ambiente também deveriam ser levadas para a sociedade civil. Como resultado da Eco-92, temos cinco principais produtos: a Agenda 21, a Declaração dos Princípios sobre Florestas, as Convenções sobre a Diversidade Biológica, a Declaração do Rio e a Convenção sobre a Mudança do Clima. Vale destacar que a Convenção sobre a Mudança do Clima foi criada com o objetivo central de estabilizar e chamar a atenção paraconcentração dos gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera terrestre que agravam o aquecimento global. O que são as Conferências das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas?As Conferências das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas são realizadas no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (UNFCCC), que existe desde 1994. A UNFCCC é um acordo internacional que já foi ratificado por 197 países, chamados Partes da Convenção, e tem como principal objetivo a estabilização das concentrações de gases de efeito estufa (GEE) causadas por ação humana na atmosfera.
O artigo 3 da Convenção afirma que todos os países possuem as suas obrigações com a temática, mesmo que de formas diferentes. Assim, por exemplo, países mais industrializados possuem uma responsabilidade maior em reduzir as emissões de GEE por questões históricas; ainda, o artigo manifesta que devem “ser levadas em plena consideração as necessidades específicas e circunstâncias especiais das Partes países em desenvolvimento, em especial aqueles particularmente mais vulneráveis aos efeitos negativos da mudança do clima”. O acordo também lista os países mais industrializados no Anexo I, com objetivos e obrigações diferenciadas, no sentido de que eles devem reduzir as suas emissões causadas por ação humana para os níveis de 1990. Contudo, o acordo não estabelece um prazo para que isto seja cumprido e nem designa obrigações específicas para os países em desenvolvimento. Quem participa das COPs?A Conferência das Partes (COP) é o organismo supremo de decisão da UNFCCC, dessa forma todos os países estão representados nela. As COPs acontecem anualmente desde 1995, elas servem para avaliar o progresso das medidas tomadas pelos Estados-parte para que se alinhem com os objetivos da Convenção. A UNFCCC divide os países em três principais categorias:
Além dos Estados-parte da Convenção, podem participar das Conferências membros da mídia e da imprensa, bem como representantes de ONGs e outros atores internacionais. Entre eles, por exemplo, temos a Greenpeace, a Fundação SOS Mata Atlântica, a FUNBIO – Fundo Brasileiro para a Biodiversidade, o Banco de Investimento Europeu, a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), e outros. As COPs ao longo dos anosCOP 1 – Berlim, Alemanha (1995)Com representantes de 117 países, foi acordado que os objetivos iniciais da UNFCCC já não eram suficientes. Assim, foi estabelecido o Mandato de Berlim que trouxe diferentes obrigações para os grupos de países. Os países que não fazem parte do Anexo I ficaram isentos de obrigações extras. COP 2 – Genebra, Suíça (1996)Com mais de 1500 participantes entre Estados-parte, organizações intergovernamentais e ONGs internacionais, a Declaração de Genebra reiterou a importância de acordos vinculativos que reforcem as responsabilidades dos Estados-parte na diminuição de concentração de GEE. Contudo, nenhum acordo do gênero foi criado. Também foi a primeira vez que os Estados Unidos apoiaram a criação de mecanismos vinculativos para fortalecer o Mandato de Berlim. COP 3 – Kyoto, Japão (1997)O principal objetivo da COP 3 era estabelecer um acordo vinculativo entre os países industrializados para a redução da emissão de GEE. O principal resultado da Conferência foi o Protocolo de Kyoto, que entrou em vigor em 2005 e foi ratificado por 192 países. No momento, também foram estabelecidos três mecanismos para atingir o resultado esperado:
COP 4 – Buenos Aires, Argentina (1998)Com mais de 5000 participantes, a COP 4 adotou o Plano de Ação de Buenos Aires, por meio dele os Estados-parte se prepararam para a implementação do Protocolo de Kyoto. Na ocasião, foram discutidos também mecanismos do Protocolo e questões de financiamento, desenvolvimento e transferência de tecnologia, entre outros. COP 5 – Bonn, Alemanha (1999)Na COP5, além de discutirem o Plano de Ação de Buenos Aires e o Protocolo de Kyoto, os Estados-parte também discutiram sobre as alterações do uso humano nas terras e nas florestas (LULUCF 14). COP 6 – Haia, Holanda (2000)Com a primeira parte em Haia, Holanda, e a segunda parte em Bonn, Alemanha, os Estados-parte concordaram na aplicação dos três mecanismos do Protocolo de Kyoto, com exceção dos Estados Unidos, que se manteve como Estado observador. COP 7 – Marrakech, Marrocos (2001)O Acordo de Marrakech estabeleceu as regras operacionais do LULUCF, os mecanismos do Protocolo de Kyoto e como ocorreriam os financiamentos para a implementação dos projetos. Assim, foi criado o Fundo Especial para a Mudança do Clima (SCCF), de modo a financiar projetos relacionados à transferência de tecnologia, energia, transporte, indústria, agricultura e gestão de resíduos, entre outros. COP 8 – Deli, Índia (2002)No momento, o setor privado e as ONGs desenvolveram várias estratégias para a implementação do Protocolo de Kyoto. Além disso, foram apresentados diversos projetos para o CDM, focando no compartilhamento de tecnologias entre países industrializados e países em desenvolvimento. COP 9 – Milão, Itália (2003)Em Milão, foram definidos como os projetos de reflorestamento deveriam ser conduzidos. Além disso, na ocasião, o Fundo Especial para a Mudança do Clima (SCCF) e o Fundo para Países Menos Desenvolvidos (LDCF) foram fortalecidos. COP 10 – Buenos Aires, Argentina (2004)Em 2004, a pauta e discussão foi sobre o segundo período do Protocolo de Kyoto – de 2013 em diante. COP 11 – Montreal, Canadá (2005)Foi a primeira COP após o Protocolo de Kyoto ter entrado em vigor. Na ocasião, os Estados-parte discutiram sobre quais seriam os próximos passos após o fim do primeiro período do Protocolo e, pela primeira vez, foi colocado em pauta o impacto do desmatamento nas emissões de GEE. Também aconteceu a primeira reunião das Partes do Protocolo de Kyoto, onde os Estados que ainda não haviam ratificado o acordo puderam assistir às discussões como observadores. COP 12 – Nairóbi, Quênia (2006)Por meio da COP 12, foi criada o projeto de Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação, uma proposta do governo brasileiro para promover a redução de emissões em países em desenvolvimento. COP 13 – Bali, Indonésia (2007)Nessa COP, deu-se início às negociações para o segundo período do Protocolo de Kyoto. A Austrália ratificou o Protocolo e o Plano de Ação de Bali foi aceito pelos Estados Unidos. COP 14 – Poznan, Polônia (2008)Na COP 14, os países focaram as negociações no auxílio aos países menos desenvolvidos. Ainda, os países emergentes como Brasil, China, Índia e México demonstraram-se abertos para assumirem responsabilidades de redução nas emissões de GEE, embora não tenham se comprometido com metas específicas. COP 15 – Copenhagen, Dinamarca (2009)Na COP 15, os países industrializados se comprometeram a providenciar um auxílio de USD$ 10 bilhões ao ano, de 2010 a 2020, e com USD$ 100 bilhões ao ano a partir de 2020, para os países mais vulneráveis mitigarem os efeitos das alterações climáticas. O Brasil também se comprometeu a reduzir de 36,1% a 38,9% a emissão de gases de efeito estufa até 2020. Também foi estabelecida a meta de elevação de até 2°C na temperatura média do planeta de modo que as consequências do aquecimento global não sejam tão intensas. COP 16 – Cancún, México (2010)Com o primeiro termo do Protocolo de Kyoto chegando ao fim, houve a discussão entre os Estados-parte de se manter os objetivos do Protocolo ou estabelecer um novo acordo. No momento, México, Brasil e Reino Unido desempenharam um papel fundamental na negociação do segundo termo do Protocolo de Kyoto. COP 17 – Durban, África do Sul (2011)Os Estados-parte começaram as discussões para um novo acordo vinculativo proposto pela União Europeia, que tinha como principal objetivo a redução de emissões de GEE e não seria só aplicável aos países industrializados, mas também ao Brasil, China e África do Sul. Rússia, Japão e Canadá anunciaram que não se comprometeriam com metas específicas. COP 18 – Doha, Qatar (2012)Em 2012, ficou decidido que de fato o Protocolo de Kyoto se manteria até Dezembro de 2020. Ainda, foi mantida a promessa de auxílio financeiro de USD $10 bilhões por ano até 2020, definidas na COP 15. COP 19 – Warsaw, Polônia (2013)Em 2013, com mais de 8300 participantes, as negociações se prolongaram por conta de conflitos entre países mais desenvolvidos e países em desenvolvimento sobre as metas de emissões de GEE. China e Índia, por exemplo, defenderam o direito ao desenvolvimento, atribuindo aos países industrializados a responsabilidade pelos problemas climáticos que vivemos. COP 20 – Lima, Peru (2014)O Chamado de Lima para a Ação Climática, aprovado na COP 20, serviria de base para o Acordo de Paris. De acordo com ele, os Estados-parte devem apresentar os seus objetivos a nível nacional para manter o aumento das temperaturas menores que 2°C. COP 21 – Paris, França (2015)Em 2015, o principal resultado da Conferência foi o Acordo de Paris, que reconheceu as diferentes conjunturas de países desenvolvidos e em desenvolvimento e estabeleceu como principal meta o aumento de até 2 °C da temperatura do planeta acima dos níveis pré-industriais. Na época, durante o mandato do presidente estadunidense Donald Trump, os Estados Unidos, um dos principais emissores de GEE, retiraram-se do Acordo. Vale lembrar que logo no início da administração Biden, em 2021, o país regressou oficialmente ao Acordo. COP 22 – Marrakech, Marrocos (2016)A primeira COP após o Acordo de Paris teve diversas iniciativas anunciadas, entre elas: o Climate Vulnerable Forum, constituído por um grupo de países mais vulneráveis que reiteraram a importância de manter o aquecimento global em até 1.5°C; o Marrakech Vision, sobre medidas como o uso de 100% de energias renováveis entre 2030 e 2050; e também os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) foram reforçados. COP 23 – Bonn, Alemanha (2017)Uma das inovações da Conferência foi a Powering Past Coal Alliance, com o objetivo principal da eliminação do carvão como combustível fóssil. De acordo com o grupo, o objetivo deve ser atingido até 2050. COP 24 – Katowice, Polônia (2018)Em 2018, o discurso da ativista Greta Thunberg, de apenas 15 anos, apelou à ação coletiva urgente no combate às alterações climáticas, reafirmando a importância de uma transição energética que não seja mais a base de combustíveis fósseis, mas sim de energias renováveis. O discurso de Greta teve grande impacto, especialmente, no público jovem. Na época, não ficou acordado entre os Estados-parte quais seriam as metas de combate às mudanças climáticas até o fim de 2020 e nem quais seriam os mecanismos de financiamento para os países em desenvolvimento e mais vulneráveis ao aquecimento global. COP 25 – Madrid, Espanha (2019)A COP 25 foi realizada em Madrid sob a presidência do Chile. Nela, ficou decidido pelos Estados-parte que as medidas tomadas anteriormente eram insuficientes e, por isso, seria necessário maior ambição na definição de metas da próxima COP. COP 26 – Glasgow, Reino Unido (2021)Em parceria com a Itália, a COP 26 ocorre entre os dias 31 de outubro e 12 de novembro de 2021, sendo a primeira Conferência desde o início da pandemia de Covid-19. O mais recente relatório do IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas, elaborado por cientistas ao redor do mundo, trouxe diversas informações alarmantes a respeito do assunto. De acordo com o presidente da COP-26, Alok Sharm, é a “advertência mais séria já feita” sobre a influência das ações humanas nas alterações climáticas. Assim, os principais objetivos a serem alcançados nessa COP são: garantir a emissão líquida zero no mundo até o meio do século XXI e manter o aumento médio de temperatura global em até 1.5ºC; proteger as comunidades e ecossistemas locais; e
aprimorar os mecanismos de financiamento com países desenvolvidos e instituições financeiras. É possível ver todas as propostas para esta COP aqui. Referências bibliográficasAdmitted IGOs – UNFCCC ・ Admitted NGOs – UNFCCC ・ Conference of the Parties (COP) – UNFCCC ・Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92) – FGV ・Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) – 1992 ・COP 26 explicada – UNFCCC ・COP13 / MOP3 – Bali, Indonésia (dezembro de 2007) – PROCLIMA ・COP17 / MOP7 – Durban, África do Sul (novembro/dezembro de 2011) – PROCLIMA ・COP19 / CMP9 – Varsóvia, Polônia (Novembro de 2013) – PROCLIMA ・COP20 / CMP10 – Lima, Peru (Dezembro de 2014) – PROCLIMA ・COP23: Principais resultados das negociações climáticas da ONU em Bonn – WWF ・COP24: O “pacote climático de Katowice”・Dez pontos principais do documento final da COP25 – DW ・Entenda a COP: perguntas e respostas sobre a Conferência do Clima – UOL ・Global warming and public policy – Britannica ・Kyoto Protocol: History, Provisions, & Facts – Britannica ・Paris Agreement – Britannica ・Report of the United Nations Conference on Environment and Development – 1992 ・Timeline of Major UN Climate Negotiations – EESI ・United Nations Conference on Environment & Development – 1992 ・United Nations Conference on Environment and Development – History & Facts – Britannica ・What are Parties & non-Party stakeholders? – UFCCC ・ What is the United Nations Framework Convention on Climate Change? – UNFCCC O que diz o Protocolo de Quioto?Acordo ambiental fechado durante a 3ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, realizada em Kyoto, Japão, em 1997. Foi o primeiro tratado internacional para controle da emissão de gases de efeito estufa na atmosfera.
Qual o principal objetivo do Protocolo de Kyoto quanto ao ambiente?Assinado na cidade japonesa de Kyoto, o Protocolo é um acordo internacional com o objetivo de reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa, assim como do aquecimento global. Ele foi redigido e assinado em 1997 por países integrantes da Organização das Nações Unidas (ONU) em uma reunião ocorrida no Japão.
O que foi o Protocolo de Kyoto e quais as suas principais definições para proteção ambiental?O Protocolo de Kyoto é um acordo internacional entre os países integrantes da Organização das Nações Unidas (ONU), firmado com o objetivo de se reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa e o consequente aquecimento global.
|