O estudo “Gerenciamento de Riscos: os principais fatores de risco divulgados pelas empresas abertas brasileiras”, produzido pelo ACI Institute em parceria com o Board Leadership Center da KPMG no Brasil, analisou dados públicos divulgados nos formulários de referência (FR) de 241 empresas abertas do País para traçar um panorama dos fatores de risco mais reportados por essas organizações na sessão 4.1 do FR.
Em sua 6ª edição, a publicação elenca os 25 fatores de risco mais citados, destacando os impactos da pandemia do novo coronavírus na divulgação e no cenário de riscos corporativos, bem como o crescimento da preocupação com questões ESG. Para a classificação dos riscos reportados foram consideradas 54 categorias, incluindo uma inédita: “Covid-19, pandemias e saúde pública” – que figurou entre as mais citadas pelas empresas, tendo sido reportada por 57% delas. O estudo traz, ainda, os 10 principais fatores de risco mencionados pelas empresas em cada setor de negócios.
Agenda ESG ganha força
As questões ambientais, sociais e de governança foram mencionadas por 66% das organizações analisadas pelo estudo. Na edição anterior, divulgada em 2020, esse percentual era de 56%. Os fatores de riscos relacionados à governança estão, pela primeira vez, entre os 25 mais citados pelas companhias, fazendo-se presente em quase 50% das divulgações.
Saiba quais são os 15 principais fatores de risco reportados pelas empresas abertas brasileiras:
- Riscos regulatórios: 95%;
- Condições econômicas e de mercado: 92%;
- Riscos aos acionistas: 91%;
- Riscos operacionais: 87%;
- Riscos financeiros e de caixa: 86%;
- Riscos jurídicos: 85%;
- Concorrência: 85%;
- Riscos associados à execução da estratégia de negócios e/ou plano de investimentos: 83%;
- Riscos associados à atuação do acionista controlador: 75%;
- Risco de mudança nas políticas governamentais sobre o setor: 68%;
- Riscos da Tecnologia da Informação: 67%;
- Risco de inadimplência: 66%;
- Riscos socioambientais: 66%;
- Risco de insuficiência do valor e/ou cobertura dos seguros contratados: 66%;
- Riscos tributários: 64%.
Confira o estudo Gerenciamento de Riscos: os principais fatores de risco divulgados pelas empresas abertas brasileirasna íntegra.
Em geral a noção de risco costuma ser associada a algum perigo. No entanto, o risco é caracterizado pela vulnerabilidade, enquanto o perigo está associado à possibilidade de um prejuízo ou de um dano. O risco pode ser algo positivo ou negativo em se tratando de negócios. As empresas, para atuarem, precisam se expor a riscos, caso contrário, ficariam estagnadas, sem cumprir sua proposta de existência. O risco pode ser entendido como um conjunto de probabilidades de diversos
eventos ou condições que podem afetar os negócios. O primeiro passo para o gerenciamento desses riscos é a identificação de fatores que os promovem. Isso auxilia a empresa a se prevenir de infortúnios, bem como se oportunizar diante de cenários que invariavelmente estão repletos de riscos. Os riscos de negócio são determinados por inúmeros fatores, aqui listamos alguns:
- Variabilidade da demanda – quanto mais estável é a demanda pelos produtos da empresa, menor o risco do negócio. A sazonalidade implica em uma variação da demanda de determinados produtos dependendo da época do ano. Cabe ao gestor analisar as condições e traçar estratégias em épocas de maior e menor lucratividade.
- Volatilidade de mercado e preços de venda – quando a empresa atua em um mercado em que os produtos que são vendidos têm preços que variam demasiadamente em resposta ao meio de atuação, o risco é aumentado e requer gerenciamento constante.
- Volatilidade de mercado e custo dos insumos – empresas que tenham seus custos de entrada altamente incertos tem o risco aumentado.
- Fornecedor com exclusividade para o fornecimento de insumos – a dependência de fornecimento de insumos, condição em que é mais difícil a diversificação da carteira de fornecedores, aumenta o risco empresarial.
- Capacidade de ajustar os preços de venda quando houver alguma alteração nos custos dos insumos – quanto menor a capacidade de adaptação dos preços de venda em resposta às oscilações nos custos dos insumos, maior o risco empresarial.
- Exposição ao risco estrangeiro – empresas que geram receitas condicionadas às flutuações de moeda estrangeira estão sujeitas aos riscos cambiais.
- Capacidade no desenvolvimento de novos produtos e em tempo oportuno – a capacidade ou não de adaptação ao mercado, considerando novas tendências ou tecnologias, expõem a empresa a riscos.
- Representatividade dos custos fixos em relação ao total dos custos – se uma grande porcentagem dos custos operacionais é fixa, significa dizer que a empresa tem alto grau de alavancagem operacional. Essa condição oferece um nível de lucro potencialmente maior, por outro lado, o risco também é aumentado, pois se houver decréscimo no volume de vendas, o prejuízo é maior. O grau de alavancagem operacional funciona como uma alavanca de lucros, para cima ou para baixo. Há uma potencialização dos resultados se o grau de alavancagem operacional for alto.
Cada um dos fatores de risco é determinado pelas características de cada empresa. O primeiro passo, como mencionado, é a identificação dos fatores aos quais seu negócio está exposto. Os fatores de risco podem, até certo ponto, serem controlados pelo gestor do empreendimento por meio de sua atuação. O segundo passo, então, é o gerenciamento desses riscos. No próximo artigo semanal trataremos do gerenciamento dos riscos do negócio (ferramentas de gestão, plano de ação, monitoramento).
Ester Marlene Kurtz é Mestre em Contabilidade pela UFPR, professora na Estácio Curitiba.