Boa parte das gestantes que estão em uma idade gestacional mais avançada, começam a sentir desconfortos ou algum tipo de incômodo na hora de dormir. Isso acontece, porque quanto mais o bebê cresce, mais pesada a barriga fica e, consequentemente, mais difícil fica encontrar uma posição confortável para dormir bem. Esse texto propõe abordar, principalmente, sobre as posições maternas mais adequadas na hora de dormir e alguns estudos que observaram repercussões materno-fetais sobre determinadas posições.
Primeiro trimestre:
No primeiro trimestre, a gestante não sente tanta diferença na hora de dormir, uma vez que o feto ainda é pequeno e não tem um peso tão significativo, o qual impactaria na qualidade do sono. Nessa fase, a gestante consegue dormir em todas as posições e, além disso, essa é a fase em que a mulher consegue manter várias horas de sono contínuas.
Segundo trimestre
Nesse trimestre a barriga já obteve um maior crescimento, e boa parte das mulheres, prefere dormir de lado. No final desse trimestre, é quando a mulher começa a perceber uma maior dificuldade para dormir, por conta do crescimento e peso do bebê.
Terceiro trimestre
Esse é o trimestre mais desafiador para a gestante no quesito sono. O útero já está com um crescimento significativo e com um peso muito maior, e isso pode repercutir durante o sono, na compressão da veia cava inferior, a qual é uma das principais veias que fazem o retorno venoso para o coração.
Então, qual é a posição ideal para a gestante dormir a partir do terceiro trimestre?
A posição ideal para a grávida dormir é sempre de lado, tanto faz se for do direito ou do esquerdo. Existem muitos debates sobre a posição adequada. Dormir para o lado esquerdo, realmente é o ideal para a gestante. Porém, quando chega o final da gestação, ela está com a barriga tão grande que o desconforto para dormir costuma ser maior também, por isso, não devemos limitar em exclusivamente dormir do lado esquerdo. Muitas vezes, o próprio bebê fica mais agitado e, com isso, é melhor mudar para o lado direito e respeitar a necessidade do bebê nesse momento, pois ele pode não estar confortável do lado esquerdo. Não se recomenda dormir nem de barriga pra baixo e nem de barriga pra cima. Muitas mulheres relatam que se dormem de barriga para cima podem passar mal depois de algum tempo, justamente pela compressão que o útero faz sobre os vasos, principalmente, na veia cava que é o principal vaso que traz o sangue de volta dos membros inferiores e do abdome para o coração.
Um ponto importante é que o jeito de dormir da gestante está muito associado aos desconfortos físicos (dores osteomusculares, como na lombar) que podem ser desenvolvidos durante a gestação e, principalmente, no terceiro trimestre. Dessa forma, o ideal é que a grávida deite da forma mais reta possível com um apoio no meio das pernas e também nos braços (com um travesseiro), uma vez que a tendência do nosso corpo é relaxar totalmente quando deitamos. Uma alternativa para utilizar é colocar dois travesseiros na cabeça para ficar um pouco mais elevada. Além disso, sempre é recomendado utilizar vários travesseiros ao longo do corpo (abaixo da barriga é muito importante, entre as pernas) ou travesseiros mais compridos, pois fornece mais suporte, e tende a deixar o bebê mais acomodado. O fundamento disso é para manter a coluna o mais reta possível evitando que durante a noite a gestante fique em uma posição torcida, o que pode repercutir em uma dor no dia seguinte. Além disso, é importante atentar-se para o seu colchão, uma vez que este possui validade e que pode gerar algum desconforto quando for muito velho.
Segundo um
ensaio piloto randomizado de Kember J. A et al as mulheres observadas nesse estudo se acomodaram preferencialmente para dormir do lado esquerdo em 73% das noites e à direita em 20% das noites. A gestante que dorme em decúbito dorsal (de barriga para cima) deve ser identificada pela anamnese e estratificada para educação ou intervenção direcionada de obstetras e/ou enfermeiras, as quais devem estar cientes de que, apesar do conhecimento do sono adequado ser de lado e das altas taxas de
posição lateral para dormir, a maioria das mulheres grávidas continuam a dormir por uma quantidade significativa
de tempo em decúbito dorsal durante o sono no final da gravidez de acordo com esse estudo e estudos anteriores.
Já o estudo MiNESS verificou que aposição supina materna está associada à compressão da veia cava inferior e redução do retorno venoso, diminuindo assim o débito cardíaco materno. Uma redução no débito cardíaco é consistente com uma redução no fluxo sanguíneo arterial uterino em decúbito dorsal em comparação com a posição lateral esquerda. Essas mudanças estão associadas a mudanças na oxigenação fetal, medida pela resistência reduzida na artéria cerebral média anteparto e saturação de oxigênio avaliada no trabalho de parto. As diretrizes do National Institute for Health and Care Excellence recomendam que a posição supina seja evitada e uma mudança na posição materna seja usada como parte do tratamento inicial métodos para abordar questões com o rastreamento da frequência cardíaca fetal.
Outro estudo intitulado “efeitos da posição do sono materno nos padrões de frequência cardíaca fetal e materna” fala que a posição do sono e a hora da noite influenciaram fortemente os padrões de frequência cardíaca materna, mas não fetal, no ambiente doméstico. As influências interativas da posição do sono materno, ritmos noturnos e estado comportamental fetal justificam investigações adicionais e podem contribuir para a compreensão dos mecanismos subjacentes ao bem-estar fetal e risco de natimorto.
Fica evidente, portando, que a posição materna ao dormir tem uma influência muito importante não só para o bebê mas para si mesma. Isso quer dizer que se a posição e o sono forem adequados e adaptados para as necessidades da mãe e do bebê, melhor serão as chances de se obter um boa noite de sono, além de atentar-se para as posições que não são as melhores durante a gestação: de barriga para cima ou de barriga para baixo.
Por tudo isso posto, destacamos aqui para finalizar, dez dicas para dormir melhor no período gestacional:
1- Durma virada para o lado esquerdo, se possível, pois essa posição facilita a circulação do sangue entre mãe e feto, possibilitando uma maior oxigenação para o bebê;
2- Deite-se com a barriga voltada para fora da cama. Na hora de levantar, coloque primeiro as pernas para fora do leito, para evitar esforço desnecessário nas costas e lombar;
3- Utilize um travesseiro sob a barriga para manter as costas alinhadas e evitar torções na coluna;
4- No começo da noite, diminua o ritmo das atividades e tente dormir por, pelo menos, 8 horas;
5- Invista em exercícios físicos leves. Eles liberam substâncias que contribuem para o relaxamento na hora de dormir;
6- Descanse 30 minutos após o almoço. Se não for possível, se estique em um sofá e relaxe para recuperar as energias. Isso ajuda a ter um sono mais confortante à noite;
7- Caso tenha insônia, levante-se. Não fique rolando na cama mais de meia hora. Tome um banho morno, leia ou escute uma música suave. Quando ficar sonolenta, deite novamente;
8- Peça para alguém fazer uma massagem no sentido dos pés ao quadril, utilizando cremes ou óleo para facilitar os movimentos. Isso também ajuda a relaxar;
9- Cerca de 2h antes de dormir, evite tomar líquidos para não precisar levantar muitas vezes para ir ao banheiro;
10- Para não sentir náuseas, evite comer e deitar em seguida. Grávidas que sofrem com refluxo gástrico devem ter cuidado redobrado.
Referências:
1. PUBMED. Modifying maternal sleep position in the third trimester of pregnancy with positional therapy: a randomised pilot trial. Disponível em: //pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30158217/. Acesso em: 1 mai. 2021.
2. PUBMED. Effects of maternal sleep position on fetal and maternal heart rate patterns using overnight home fetal ECG recordings. Disponível em: //pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31912893/. Acesso em: 1 mai. 2021.
3. PUBMED. Sleepiness and sleep-disordered breathing during pregnancy. Disponível em: //pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27085867/. Acesso em: 1 mai. 2021.
4. PUBMED. Association between maternal sleep practices and late stillbirth- findings from a stillbirth case-control study. Disponível em: //www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5765411/. Acesso em 1 mai. 2021.
5. PUBMED. Prospective Evaluation of Maternal Sleep Position Through 30 weeks of Gestation and Adverse Pregnancy Outcomes. Disponível em: //www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6768734/. Acesso em: 1 mai. 2021.
6. PUBMED. The Impact of Health Messages on Maternal Decisions about Infant Sleep Position: A Randomized Controlled Trial. Disponível em: //www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6119496/. Acesso em: 1 mai. 2021.