Onde está meu coração série

Uma jovem médica, de classe alta, vê a vida desmoronar ao se viciar em crack. A premissa de Onde Está Meu Coração, nova série do Globoplay, por si só já poderia causar impacto, mas a verdade é que a história demora a engrenar. Como um carro velho que insiste em não dar partida, a série é um verdadeiro teste de paciência para quem se dispõe a acompanhá-la.

O primeiro problema de Onde Está Meu Coração é que o público leva muito tempo para se conectar ao drama de Amanda (Leticia Colin), e a emoção tão necessária à história parece ofuscada pela estética da direção. Episódio após episódio, a protagonista se revela frágil, assim como as relações familiares que a cercam, mas falta uma fagulha para que a série pegue fogo.

A plasticidade da fotografia traça um retrato sem cor da jovem, e o excesso de imagens desfocadas, somadas aos diálogos pouco construídos, ajuda a compor uma metáfora para a desintegração de uma família já marcada pela desestruturação. Isso tudo, porém, falha no principal: ligar o público afetivamente às personagens.

reprodução/globoplay

Onde está meu coração série

Amanda (Leticia Colin) tem recaída

Os cinco primeiros episódios são arrastados, e a história só deslancha --a duras penas, vale ressaltar-- quando Amanda passa a ter recaídas. E são nos momentos em que a protagonista é posta à prova que ela cresce e a interpretação de Leticia Colin ganha força. A angústia da médica viciada, a fissura causada pela abstinência e o esfacelamento emocional de todos ao seu redor ajudam a concretizar o drama.

Já nas cenas menos técnicas visualmente, Onde Está Meu Coração toma corpo, uma vez que as relações humanas ganham mais peso. As brigas com a irmã Julia (Manu Morelli) são um ponto alto da história, pois potencializam ainda mais a carga dramática da protagonista e expõem sua decadência física e moral.

Aliás, Manu Morelli é um dos destaques do elenco, que chama a atenção para um problema recorrente na Globo, evidenciado após as reprises que a emissora colocou no ar: a repetição de nomes. Em Onde Está Meu Coração, há vários rostos que se repetiram em Amor de Mãe (2019), a exemplo de Camila Márdila, Ana Flavia Cavalcanti, Magali Biff e Antonio Benicio.

Por outro lado, é notória a entrega de Leticia Colin, mas seria exagero afirmar que Amanda é o grande papel de sua carreira. Aqui, a direção peca mais uma vez, ao deixar de valorizar a expressão não só da estrela, mas dos atores de um modo geral.

São várias as cenas em que personagens dialogam de costas para câmera, através de frestas nos cenários ou em planos distantes. Tudo isso tem lá seu valor artístico, mas o trabalho dos intérpretes fica em segundo plano.

reprodução/globoplay

Onde está meu coração série

David (Fabio Assunção) e Sofia (Mariana Lima)

A ideia de trazer o conflito da dependência química para o seio de uma família rica é interessante, já que mostra que o crack atinge a todos, independentemente de classe social. Ainda assim, faltou um toque "Gilberto Braga" à história para retratar os dilemas da alta classe que vão além das drogas, como as traições familiares e o alcoolismo de David (Fabio Assunção).

Onde Está Meu Coração é um drama potente, só que, diferentemente da protagonista, o público dificilmente consegue se viciar.


Este texto é argumentativo e não expressa necessariamente a opinião do Notícias da TV.

Onde está meu coração série
Letícia Colin como a médica e dependente química Amanda, na minissérie 'Onde Está Meu Coração', disponível no globoplay Globoplay/Divulgação

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A proposta é boa: uma jovem médica de classe alta se envolve com drogas e vê a vida virar de ponta cabeça por causa do vício. O enredo de Onde Está Meu Coração, minissérie que chegou ao Globoplay no início do mês, é terreno fértil para as séries médicas, e não à toa: segundo um estudo feito em 2013 pelo Journal of Addiction Medicine, 69% da classe já abusou de substâncias prescritas para “aliviar o stress de dores físicas e emocionais”. O grande vilão é o opioide, substância presente em remédios como a Oxicodona, vício da neurocirurgiã Amelia Shepherd, em Grey’s Anatomy, e do Dr. Evandro, na brasileira Sob Pressão, e o Vicodin, narcótico usado por House em Dr. House.

Na trama protagonizada por Letícia Colin, em uma interpretação primorosa e de rara intensidade, o veneno que a leva ao fundo do poço é outro: Amanda, sua personagem, é introduzida ao crack pelo namorado Miguel (Daniel de Oliveira), que optou por experimentar a substância. O arquiteto não fica viciado, mas a namorada, que tem histórico de dependência na família, não teve a mesma sorte. Logo no primeiro episódio, transmitido pela Globo na TV aberta, a jovem revela os terrores da recaída, levando seus pais e o marido a optarem por interná-la compulsoriamente. Com bons atores e uma fotografia que transmitia de forma poética as dores da família, a minissérie se mostrou ali bastante promissora — pena que acabou, como muitas minisséries da Globo, enveredando para os clichês folhetinescos e perdendo assim sua aparente originalidade.

Nas tramas secundárias da minissérie estão elementos típicos do DNA do horário nobre, como a dualidade entre a irmã certinha e a problemática, o apego do brasileiro pela religiosidade e promessas, muito presente na recém finalizada Amor de Mãe, na figura de Dona Lourdes (Regina Casé), e a obsessão de uma mulher poderosa por um homem apaixonado por outra — relação que se repete exaustivamente em vários títulos globais.

Em um país em que as novelas são campeãs absolutas de audiência, não há demérito algum na comparação, não fosse o fato de que a minissérie escorrega no formato para soar superficial. Ao contrário das tramas televisivas, que passam meses, e até anos no ar, com espaço de tela suficiente para o desenvolvimento de vários núcleos, uma produção de dez episódios tem suas limitações. O principal desafio é contar a história de personagens secundários de maneira aprofundada, ao mesmo tempo em que se dá o devido foco à protagonista — e é justamente aí que a produção falha: Amanda se torna apenas mais uma peça em um mar de excessos melodramáticos.

Vivian (Camila Márdila), por exemplo, é apresentada como uma mulher poderosa e independente, mas logo se mostra obcecada por Miguel, e é resumida ao papel de pivô de conflitos no relacionamento do arquiteto com Amanda, para complicar ainda mais a vida da protagonista. A morte de Davizinho, o caçula da família, também entra nesse limbo: o menino faleceu ainda criança em um acidente doméstico que Júlia (Manu Morelli), a irmã do meio, diz ser culpa de Amanda. O que realmente aconteceu fica no ar, diluído entre flashbacks que pouco acrescentam na construção psicológica da protagonista e alfinetadas da irmã nada cativante, que tem a sua própria narrativa também escanteada: depois da morte da criança, ela pediu a Deus que curasse sua família e, em troca, se casaria virgem. A relação com a religião se restringe ao conflito entre quebrar ou não a promessa, que em nada acrescenta na relação das irmãs, muito menos conquista por si só.

Onde está meu coração série
Sofia (Mariana Lima), Amanda (Letícia Colin) e David (Fábio Assunção) em Onde Está Meu Coração, minissérie de 10 episódios disponível no Globoplay Globoplay/Divulgação

A falta de foco do roteiro, porém (e ainda bem), não consegue ofuscar o talento e versatilidade de Letícia Colin, capaz de entregar desde o drama de alguém que luta contra um vício até o humor da trama de Cine Holliúdy, outra minissérie de sucesso que conta com a atriz entre os protagonistas. A relação de Amanda com a mãe Sofia (Mariana Lima) é outro ponto alto, capaz de despertar empatia pelo sofrimento materno — mais até do que o aguardado desempenho de Fábio Assunção, ele mesmo um dependente em recuperação, no papel de David, o pai da moça. Talvez o próprio e o desenvolvimento de seu personagem tenham sido prejudicados pelo espaço gasto com coadjuvantes desnecessários. Fica então o alerta: às vezes uma única (e boa) história é mais que o suficiente para uma boa série.

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Onde Está Meu Coração está na Netflix?

Falando rapidamente, a RESPOSTA É NÃO. Assim como a Netflix possui diversas séries originais, Onde está meu coração também é uma série original. No entanto, o responsável pela produção da série é o Globoplay.

Quantos episódios tem a série Onde Está Meu Coração?

10Onde Está Meu Coração / Número de episódiosnull

Onde Está Meu Coração David morre?

A morte de Davizinho, o caçula da família, também entra nesse limbo: o menino faleceu ainda criança em um acidente doméstico que Júlia (Manu Morelli), a irmã do meio, diz ser culpa de Amanda.

Quantas temporadas tem a série Onde Está Meu Coração?

Onde Está Meu Coração
Where My Heart Is (EN) Donde Está Mi Corazón (ES)
Transmissão original
4 de maio de 2021
Temporadas
1
Episódios
10
Onde Está Meu Coração – Wikipédia, a enciclopédia livrept.wikipedia.org › wiki › Onde_Está_Meu_Coraçãonull