O que estamos sugerindo Quando falamos em socialização dos indivíduos?

O que estamos sugerindo Quando falamos em socialização dos indivíduos?

        ISSN: 1516-4888

VOLUME 2 - N�MERO 1 - JUN./2000

IDENTIDADE: QUEST�ES CONCEITUAIS E CONTEXTUAIS

Carolina Laurenti* & Mari Nilza Ferrari de Barros**

A discuss�o de processos identit�rios abordando aspectos conceituais e contextuais implica, primeiramente, na concep��o da identidade, enquanto categoria de an�lise, como uma constru��o social, marcada por polissemias que devem ser entendidas circunscritas ao contexto que lhe conferem sentido. Neste artigo, procurou-se abordar a identidade associada � multiplicidade de sentidos e terminologias que atravessam a configura��o do termo ao longo da hist�ria e num mesmo per�odo hist�rico, expresso pela diversidade de �reas de conhecimento que se dedicam ao estudo do tema em quest�o. A partir disso, faz-se necess�rio um exerc�cio de re-significa��o da identidade, sendo �til para tal empreendimento considerar os princ�pios da dial�tica, apresentados n�o segundo Marx em Para Cr�tica da Economia Pol�tica (1978b) em seu m�todo de exposi��o, mas na forma de �leis�, como delineadas por Gadotti (1983), pois permite caracterizar a identidade enquanto uma processualidade hist�rica vinculada ao conjunto das rela��es que permeiam a vida cotidiana. As v�rias configura��es de identidade habitam reflex�es dos te�ricos da modernidade, como Giddens (1991) ou da p�s-modernidade como Santos (1999) e exigem a circunscri��o deste homem ao momento atual do mundo globalizado, marcado por um capitalismo desorganizado, a fim de explicitar as novas bases sobre as quais se articula o pessoal e o social na contemporaneidade.

O termo identidade sempre desperta interesse, tanto das pessoas comuns, representantes do universo consensual, quanto de cientistas sociais.

 In�meras quest�es est�o associadas � identidade. Historicamente, o termo empregado para significar o que hoje se entende por identidade foi personalidade, privilegiando n�o s� a perspectiva individualista, mas tamb�m uma vis�o em que os princ�pios da ci�ncia m�dica sustentavam toda proposta de compreens�o. Nesse contexto, os debates versavam sobre o �normal� e o �patol�gico�, o �natural� e o �inerente�.

A prioriza��o do ser biol�gico e individual sustentados por uma estrutura ps�quica,  invariante enquanto processo normativo, institui uma dicotomia entre o indiv�duo e o grupo, entre o homem e sociedade. O conceito de personalidade oferecia um conjunto de princ�pios que previamente classificavam os indiv�duos em categorias, confirmando uma concep��o de sujeito em que pese a diversidade dos ambientes sociais. Os comportamentos expressos pelos indiv�duos invariavelmente serviam para justificar as interpreta��es denominadas �cient�ficas�, restando pouco ou quase nada a fazer por parte daqueles que manifestavam tais condutas. Baseados no princ�pio de �normalidade� e estrutura ps�quica invariante, aplicado a todos indistintamente, os psic�logos mostravam-se despreocupados em investigar o comportamento dos homens. O comportamento, em si, configurava-se como recurso para alimentar os princ�pios constitutivos da personalidade normal ou patol�gica. A hist�ria social e singular do indiv�duo participava apenas como pano de fundo para a express�o dos comportamentos �sabidamente� conhecidos.

Dissonante dessa perspectiva, e preocupados em considerar o homem enquanto sujeito social, inserido num contexto s�cio-hist�rico, os psic�logos sociais adotaram o termo identidade.

De acordo com Ciampa (1984), � comum, em nosso cotidiano, a  seguinte pergunta: quem � voc� ? Tal questionamento invariavelmente remete � identidade.

 O emprego popular de tal termo apresenta-se marcado por uma intensa diversidade conceptual, sugerindo que a ostenta��o de um nome t�o definitivo, continua sujeito a in�meras varia��es (Jacques, 1998, p.159).

Essa imprecis�o conceptual n�o se restringe ao universo da vida cotidiana, mas reflete a dificuldade nos mais variados campos do conhecimento que t�m se dedicado a essa tem�tica, como a Antropologia, Filosofia, Sociologia e Psicologia.

�A import�ncia conferida ao estudo da identidade foi vari�vel ao longo da trajet�ria do conhecimento humano, acompanhando a relev�ncia atribu�da � individualidade e �s express�es do eu nos diferentes per�odos hist�ricos� (Jacques, 1998, p.159). H� momentos na hist�ria em que se verifica um maior interesse sobre a quest�o da identidade, como registrado na antig�idade cl�ssica, em que predominava uma valoriza��o da vida individual e do mundo interno. Em contrapartida, constata-se um decl�nio acentuado no feudalismo devido � influ�ncia da concep��o crist� de homem e do corporativismo feudal, fazendo com que historiadores  remetam  o aparecimento da individualidade aos s�culos XI, XII e XIII. Foi na �poca do movimento rom�ntico  que o egocentrismo e a introspec��o atingiram o seu apogeu, fornecendo condi��es para que se propagassem as produ��es te�ricas sobre a identidade, inclusive no �mbito psicol�gico.

Na vis�o psicol�gica, os estudos sobre identidade s�o tratados geralmente pela Psicologia Anal�tica do Eu e pela Psicologia Cognitiva (Jacques,1998), que em comum compartilham a no��o de desenvolvimento, marcado por est�gios crescentes de autonomia, entendendo a identidade como produto da socializa��o e garantida pela individualiza��o. Ainda segundo aquele autor, a quest�o da identidade em Psicologia Social ocupou lugar central nos estudos de William James , enquanto que, na tradi��o do Interacionismo Simb�lico, as refer�ncias concentram-se nos trabalhos de George Mead.

As dificuldades apontadas nesse percurso, que respondiam por uma excessiva �nfase, ora no individual, ora no social, s�o tamb�m encontradas na atualidade sob formas diferentes, embora na �ess�ncia� ainda carreguem o problema de origem, referente � demarca��o do territ�rio lim�trofe do social e do individual. Tal afirma��o pode ser ilustrada pelo uso de predicativos diversos para qualificar os diferentes sistemas identificat�rios que constituem a identidade:

Jurandir Freire Costa emprega a qualifica��o "identidade psicol�gica" para se referir a um predicado universal e gen�rico definidor por excel�ncia do humano em contraposi��o a apenas um atributo do eu ou de algum eu como � a identidade social,  �tnica ou religiosa, por exemplo. Habermas (1990) refere-se a �identidade do eu � que se constitui com base na  "identidade natural" e na "identidade de papel" a partir da integra��o dessas atrav�s da igualdade com os outros e da diferen�a em rela��o aos outros. Com base no pressuposto inter-relacional entre as inst�ncias individual e social, a express�o "identidade social" vem sendo empregada. (Neto,1985) buscando dar conta dessa articula��o. (Jacques, 1998, p.161).

Instala-se, ent�o, uma dicotomia em que �a identidade passa a ser qualificada como identidade pessoal (atributos espec�ficos do indiv�duo) e/ou identidade social (atributos que assinalam a perten�a a grupos ou categorias).� (Jacques,1998, p. 161).

Diante dessa diversidade de qualifica��es e predicativos atribu�dos � identidade, destaca-se o termo identidade social, uma vez que os elementos que o comp�em  parecem apontar, de forma mais evidente, as duas inst�ncias - individual e social - em jogo na discuss�o da problem�tica conceptual, que trata da origem individual ou coletiva da identidade. Com isso � poss�vel fazer algumas reflex�es sobre a concep��o de homem subjacente � interpreta��o do termo, a fim de superar a falsa dicotomia (individual e social), bem como mostrar que � na articula��o destas que � tecida a identidade.

Os termos identidade e social sugerem, respectivamente, um conceito que "explique por exemplo o sentimento pessoal e a consci�ncia da posse de um eu..." (Brand�o, 1990 p.37)  privilegiando, de um lado,o indiv�duo, e de outro lado, a coletividade, resultando numa configura��o na qual se capta o homem inserido na sociedade, bem como � din�mica das rela��es sociais. A import�ncia dessa rela��o pode ser melhor compreendida nessa cita��o de Marx (1978a, p.9) � A sociedade �,  pois, a plena unidade essencial do homem com a natureza, a verdadeira ressurrei��o da natureza, o naturalismo acabado do homem e o humanismo acabado da natureza�.

A cis�o encontrada nos textos de diferentes autores pode levar a um entendimento do homem como sendo dois; coexistindo independentemente e/ou  separadamente um "eu" e um homem que se relaciona com outros homens.

Pode-se dizer que a concep��o de homem que norteia tal rompimento vincula-se � id�ia de natureza humana, cujos pressupostos pregam que todas as potencialidades do indiv�duo j� nascem com ele, sendo  fun��o do ambiente social  promover condi��es para a manifesta��o dessas habilidades j�  pr�-determinadas. O contexto social ocupa, assim, um papel secund�rio, configurando-se apenas como o contato com outros homens. Isso se reflete, de acordo com Bock (1997) nas perspectivas naturalista, essencialista e maturacionista que colocam no indiv�duo a origem das fun��es ps�quicas encontradas no substrato biol�gico.

� necess�rio compreender qual vis�o de homem orienta o estudo dessa categoria de an�lise - a identidade social, por constituir-se numa lente que reger� todo o processo de pensamento e constru��o do conhecimento desse fen�meno psicol�gico.

A identidade � considerada uma categoria de an�lise, ou seja, constitui-se em um elemento que � utilizado como referencial para submeter um objeto a uma an�lise; um recurso te�rico que vai subsidiar a compreens�o de um dado fen�meno; media��o para a compreens�o de um determinado objeto.

Desprovidos da id�ia de natureza humana, e assumindo uma concep��o de homem como ser s�cio-hist�rico, as condi��es biol�gicas recebem um outro enfoque. De acordo com Bock (1997) estas condi��es s�o a sustenta��o de um desenvolvimento s�cio-hist�rico, o que � endossado nas palavras de S�ve:

Assim o homem se constitui, a partir de um suporte biol�gico que lhe d� condi��es gerais de possibilidades (pr�prias da esp�cie Homo Sapiens Sapiens) e condi��es particulares de realidade (pr�prias de sua carga gen�tica). No entanto, as caracter�sticas humanas historicamente desenvolvidas se encontram objetivadas na forma de rela��es sociais que cada indiv�duo encontra como dado existente, como formas hist�ricas de individualidade, e que s�o apropriadas no desenrolar de sua exist�ncia atrav�s da media��o do outro.(S�ve, apud Jacques, 1998,  p. 162)

Logo, a identidade n�o � inata e pode ser entendida como uma forma s�cio-hist�rica de individualidade. O contexto social fornece as condi��es para os mais variados modos e alternativas de identidade. O termo identidade pode, ent�o, ser utilizado para expressar, de certa forma, uma singularidade constru�da na rela��o com outros homens.

Os acontecimentos da vida de cada pessoa geram sobre ela a forma��o de uma lenta imagem de si mesma, uma viva imagem que aos poucos se constr�i ao longo de experi�ncias de trocas com outros: a m�e, os pais, a fam�lia, a parentela, os amigos de inf�ncia e as sucessivas amplia��es de outros c�rculos de outros: outros sujeitos investidos de seus sentimentos, outras pessoas investidas de seus nomes, posi��es e regras sociais de atua��o (Brand�o, 1990, p. 37).

� importante, segundo Jacques (1998),  n�o limitar o conceito de identidade ao de autoconsci�ncia ou auto-imagem. A identidade � o ponto de refer�ncia, a partir do qual surge o conceito de si e a imagem de si, de car�ter mais restrito. Seria mais sensato dizer que essa singularidade, o reconhecimento pessoal dessa exclusividade, n�o � constru�da, mas vai sendo constru�da, a fim de abandonar a no��o de imutabilidade. A identidade n�o se apresenta sob a forma de uma entidade que rege o comportamento das pessoas, mas � o pr�prio comportamento, � a��o, � verbo.

A identidade constitui-se de uma multiplicidade de pap�is. Na execu��o de um papel social, como o de pai, por exemplo, est� "introjetado" neste pai a dimens�o social em sua totalidade, desde a forma��o da palavra pai e sua suposta fun��o, bem como a dimens�o individual, que por sua vez se constitui no social.

N�o h� uma separa��o, mas sim uma articula��o, em que os limites, se � que realmente existem, entre o social e o individual se confundem. Para existir um, s�o necess�rios dois, n�o apenas do ponto de vista da concep��o, da gen�tica, da sobreviv�ncia, mas sobretudo em se tratando do homem ser reconhecido como tal; o homem s� se v� como homem se os outros assim o reconhecerem. Sob essa perspectiva, � poss�vel conceber a identidade pessoal como, e ao mesmo tempo, social, superando a falsa dicotomia entre essas duas inst�ncias.

Para que a quest�o da identidade seja melhor esclarecida, torna-se necess�rio partir da an�lise de algumas especificidades que a constituem. Ciampa (1984)  h� muito tem se dedicado ao estudo da identidade, norteado por uma concep��o s�cio-hist�rica de homem. Para ele, a compreens�o da identidade exige que se tome como ponto de partida a representa��o de identidade como um produto, para ent�o analisar seu pr�prio processo de constru��o. Por exemplo, a resposta � pergunta �quem sou eu ?� seria insatisfat�ria para a configura��o de uma concep��o sobre identidade, uma vez que capta somente o aspecto representacional da no��o de identidade (enquanto produto), deixando de lado seus aspectos constitutivos de produ��o.

Contrapondo-se � id�ia de natureza humana, Marx (1978b) em �Para a Cr�tica da Economia Pol�tica� busca compreender os �indiv�duos produzindo em sociedade, portanto a produ��o dos indiv�duos determinada socialmente, � por certo o ponto de partida� (p.103). Todo esfor�o em compreender o homem, recorrendo � Hist�ria, s� tende a confirmar a depend�ncia deste ao conjunto das rela��es nas quais est� envolvido. Por isso, a afirma��o de Marx (1978b) �O homem � no sentido mais literal, um zoon politikon, n�o s� animal social, mas animal que s� pode isolar-se em sociedade�. (p.104).

A totalidade da realidade social � um princ�pio fundamental para captar o movimento do homem no mundo. Assim, quando se fala de produ��o humana deve-se situ�-la como �[...] apropria��o da natureza pelo indiv�duo, no interior e por meio de uma determinada sociedade� (Marx, 1978b, p.106).Uma totalidade, portanto, que se materializa num tempo hist�rico social, totalidade concreta.Quando trata do processo de produ��o, Marx demonstra como o princ�pio da totalidade se expressa:

O consumo cria o impulso da produ��o; cria tamb�m o objeto que atua na produ��o como determinante da finalidade...o consumo p�e idealmente o objeto da produ��o, como imagem interior, como necessidade, como impulso e como fim. Sem necessidade n�o h� produ��o. Mas o consumo reproduz a necessidade� (Marx, 1978b, p. 110).

Momentos diferentes de um �nico processo, as etapas que configuram o modo de produ��o � que �n�o � que a produ��o, a distribui��o, o interc�mbio, o consumo s�o id�nticos, mas que todos s�o elementos de uma totalidade, diferen�as dentro de uma unidade� (Marx, 1978b, p. 115).

O significado de uma totalidade concreta � buscado pelo m�todo cient�fico, em que �o concreto � concreto porque � a s�ntese de muitas determina��es, isto �, unidade do diverso� (Marx,1978b, p. 116).

Essa diversidade para ser captada e compreendida necessita percorrer um trajeto, cujo in�cio est� na concep��o de hist�ria.

A transforma��o � resultado da a��o do homem e do mundo natural sobre os objetos. Ao produzir, o homem consome parte de suas for�as vitais, bem como consome os meios empregados para a produ��o de um determinado produto.

O homem, no entanto, n�o � apenas ser natural, mas ser natural humano, isto � , um ser que � para si pr�prio e, por isso, ser gen�rico, que enquanto tal deve atuar e conformar-se tanto em seu ser como em seu saber... nem objetiva nem subjetivamente est� a natureza imediatamente presente ao ser humano de modo adequado. E como tudo o que � natural deve nascer, assim tamb�m o homem possui seu ato de nascimento: a hist�ria, que, no entanto, � para ele uma hist�ria consciente, e que, portanto, como ato de nascimento acompanhado de consci�ncia � ato de nascimento que se  supera. A hist�ria � a verdadeira hist�ria natural do homem . (Marx, 1978a, p.41 - grifos do autor)

Embora o m�todo dial�tico, na concep��o de Marx (1978b), n�o apresente leis, tais como as expostas por Gadotti (1983), e procure enfatizar a diferen�a entre m�todo de exposi��o e m�todo de pesquisa, � importante assinalar que sua exposi��o persegue a lei da transforma��o, buscando �[... o nascimento, a exist�ncia, o desenvolvimento, a morte de determinado organismo social, e sua substitui��o por outro de mais alto n�vel]�.(p.16).

Para melhor compreender a identidade enquanto processo, cujo movimento � o aspecto central, recorrer-se-� �s �leis� da dial�tica apresentadas por Gadotti (1983). Isso consiste mais num esfor�o did�tico que auxilia na compreens�o da subjetividade enquanto totalidade que expressa a diversidade, s�ntese de m�ltiplas determina��es.

O processo de constru��o da identidade, bem como seus elementos constituintes, tem um car�ter dial�tico, e dentro dessa perspectiva � interessante destacar os princ�pios ou �leis� da dial�tica, para um melhor entendimento da no��o de identidade, n�o s� em seu aspecto representacional mas tamb�m operativo.

De acordo com Gadotti (1983), as quatro "leis" da dial�tica compreendem:

1)   tudo se relaciona;

2)    tudo se transforma;

3)    mudan�a qualitativa;

4)    unidade e luta dos contr�rios.

1) Tudo se relaciona (princ�pio da totalidade)

Segundo a dial�tica,  a natureza � um todo coerente constitu�do por objetos e fen�menos,  que est�o ligados entre si, relacionando-se de forma rec�proca.

A compreens�o dial�tica da totalidade significa n�o s� que as partes se encontram em rela��o de interna intera��o e conex�o entre si e com o todo, mas tamb�m que o todo n�o pode ser petrificado na abstra��o situada por cima das partes, visto que o todo se cria a si mesmo na intera��o das partes. �A parte materializa o todo mas o todo n�o � a soma das partes, nem � a parte o todo. Busca-se entender os fen�menos e os objetos dentro de uma totalidade concreta pois �Nada � isolado. Isolar um fato, fen�meno e depois conserv�-lo pelo entendimento neste isolamento, � priv�-lo de sentido, de explica��o, de conte�do. � imobiliz�-lo artificialmente, mat�-lo. � transformar a natureza � atrav�s do entendimento metaf�sico � num ac�mulo de objetos exteriores uns aos outros, num caos de fen�menos. (Henri Lef�bvre, apud Gadotti, 1983, p. 25) .

A identidade � totalidade, e uma de suas caracter�sticas � a multiplicidade. Os pap�is sociais s�o impostos ao indiv�duo, desde o seu nascimento e assumidos pelo mesmo na medida em que se comporta de acordo com a expectativa da sociedade. Por exemplo: na presen�a do filho, o homem se relaciona como pai; na presen�a de seu pai, comporta-se como filho. Se for tamb�m professor do filho, o pai ser� pai/professor e aquele ser� filho/aluno. O papel de pai, bem como o de filho, materializa a identidade como totalidade/parcialidade, pois sendo express�o de uma parte, n�o revela a identidade por inteiro. A cada personagem materializado, a identidade tem assegurada sua manifesta��o enquanto totalidade, mas uma totalidade que n�o se esgota nem tampouco se resume a concretiza��o de personagens. As personagens s�o partes constitutivas da identidade e, ao mesmo tempo, configura-se como um todo que se cria a si mesmo, enquanto fen�meno de uma totalidade concreta. A identidade � ainda um universo de personagens  j� existentes e de outros ainda poss�veis.

Desta forma, na rela��o com outros homens, o indiv�duo n�o comparece apenas como portador de um �nico papel, pois diversas combina��es configuram uma identidade como totalidade. Uma totalidade contradit�ria, m�ltipla e mut�vel, no entanto una. Ao se apresentar frente a uma determinada pessoa,  comporta-se de uma dada maneira, neste momento as �outras identidades� pressupostas est�o ocultadas.

A identidade � vista como totalidade n�o apenas no sentido da multiplicidade dos personagens, mas tamb�m no que se refere ao conjunto de elementos biol�gicos, psicol�gicos e sociais que a constitui .

N�o podemos isolar de um lado todo um conjunto de elementos � biol�gicos, psicol�gicos, sociais, etc. � que podem caracterizar um indiv�duo, identificando-o, e de outro lado a representa��o desse indiv�duo como uma duplica��o mental ou simb�lica, que expressaria a sua identidade. Isso porque h� como uma interpenetra��o desses dois aspectos, de tal forma que a individualidade dada j� pressup�e um processo anterior de representa��o que faz parte da constitui��o do indiv�duo representado. (Ciampa, 1984, p. 65).

 2) Tudo se transforma  (princ�pio do movimento)

Para a dial�tica o movimento � uma caracter�stica inerente a todas as coisas e estas necessitam ser consideradas em seu devir. A natureza e a sociedade n�o s�o vistas como algo pronto e acabado, mas como elementos que est�o em constante transforma��o. E a causa dessa transforma��o � a luta interna, a luta entre os elementos contradit�rios que coexistem numa totalidade estruturada. � a lei da nega��o da nega��o, como aponta  Konder (apud Gadotti, 1983, p. 25).  Essa �lei�

...d� conta do fato de que o movimento geral da realidade faz sentido, quer dizer, n�o � absurdo, n�o se esgota em contradi��es irracionais, inintelig�veis, nem sempre se perde na eterna repeti��o do conflito entre teses e ant�teses, entre afirma��es e nega��es. A afirma��o engendra necessariamente a sua nega��o, por�m, a nega��o n�o prevalece como tal: tanto a afirma��o como a nega��o s�o superadas e o que acaba por prevalecer � uma s�ntese, � a nega��o da nega��o.

Assim como foi dito que o movimento � uma caracter�stica inerente a todas as coisas, a identidade a� se inclui. �Identidade � movimento, � desenvolvimento do concreto... � metamorfose.� (Ciampa, 1987 p. 74). Logo, ao inv�s de se perguntar como a identidade � constru�da, seria mais sensato questionar como vai sendo constru�da.  Seria mais correto abord�-la enquanto processo de identifica��o, e n�o apenas enquanto produto.

O autor citado parte do princ�pio de que o ser humano � mat�ria, e como mat�ria est� em constante transforma��o. � essa materialidade que permite ao homem expressar a condi��o da plasticidade, entendida como capacidade de projetar mundos, ou seja, o devir da identidade na forma de personagens poss�veis (sonhos, projetos, esperan�as). Em fun��o dessa plasticidade, o homem pode negar o seu passado no futuro mediante condi��es objetivamente dadas. O indiv�duo pode negar aquilo que lhe negam (lei da nega��o da nega��o), criando condi��es objetivas para  se transformar. Isso se d� mediante exerc�cio de reflex�o, � como diz  Lane:

Apenas quando confrontamos as nossas representa��es sociais com as nossas experi�ncias e a��es, e com as de outros do nosso grupo social, � que seremos capazes de perceber o que � ideol�gico em nossas representa��es e a��es conseq�entes, ou seja, pensar a realidade e os significados atribu�dos a ela, questionando-os de forma a desenvolver a��es diferenciadas, isto �, novas formas de agir, que por sua vez ser�o objeto do nosso pensar, � que nos permitir� desenvolver a consci�ncia de n�s mesmos, de nosso grupo social e de nossa classe como produtos hist�ricos de nossa sociedade, e tamb�m cabendo a n�s � agentes de nossa hist�ria pessoal e social � decidir se mantemos ou transformamos a nossa sociedade (Lane, 1983, p. 36-37).

� no nascimento que a plasticidade, ou possibilidades, apresentam-se em sua plenitude, pois ao nascer, a crian�a encontra um mundo j� constitu�do e sobre ela lan�am-se as expectativas da sociedade. O homem, enquanto ser ativo, apropria-se da realidade social, atribuindo um sentido pessoal �s significa��es sociais. Dadas as condi��es objetivas, as expectativas da sociedade, bem como as expectativas internalizadas pelo pr�prio homem, a identidade vai sendo constru�da num constante processo de vir a ser. Um pequeno trecho da obra de Ciampa (1987), em que o autor utiliza-se da hist�ria de Severino - personagem ficcional do poema de Jo�o Cabral de Mello Neto � �Morte e Vida Severina� � destacada a cena de um nascimento:

Ser� este rec�m-nascido t�o diferente dos Severinos homog�neos e hom�nimos que vimos encerrados na sua mesmice? Na verdade, � um ser do mesmo g�nero que, inclusive, tamb�m pode vir a ser mais um Severino, como possibilidade � n�o como necessidade. O que caracteriza � a plasticidade; define-se pelo vir-a-ser�. Isso revela a vida ... � o humano � vir-a-ser humano � identidade humana � vida! (Ciampa, 1987, p.36).

Neste fragmento fica caracterizado o mundo simb�lico, marca do homem. � essa subjetividade constitu�da por um universo de significados que transforma o "ser" em humano. O homem n�o cria apenas o mundo; cria sentido para o mundo em que vive. Tra�a caminhos,  muda sua rota, altera sua "pr�-destina��o" pelas a��es que realiza junto com outros homens. Por isso, deve ser visto como "se fazendo" e n�o "feito" e "acabado".

3) Mudan�a qualitativa (princ�pio da mudan�a qualitativa)

Esse princ�pio revela que a �transforma��o das coisas n�o se realiza num processo circular de eterna repeti��o, uma repeti��o do velho. Como � gerado o novo ? Esta mudan�a qualitativa se d� pelo ac�mulo de elementos quantitativos que num dado momento produzem qualitativamente o novo.� (Gadotti, 1983 p. 26).

Como j� salientado anteriormente, n�o basta apenas o aspecto representacional, mas  deve-se considerar tamb�m o aspecto operativo da identidade. �O nascituro, uma vez nascido, constituir-se-� como filho na medida em que as rela��es nas quais esteja envolvido concretamente confirmem essa representa��o atrav�s de comportamentos que reforcem sua conduta como filho e assim por diante� (Ciampa, 1984, p. 66). Logo, n�o � suficiente  uma representa��o pr�via, essa identidade pressuposta, para ser mantida tem que ser "re-posta" a cada momento, mostrando seu car�ter din�mico. Contudo, a identidade sendo metamorfose aparece como n�o metamorfose, pelo trabalho de "re-posi��o".

Esse processo de re-posi��o muitas vezes confunde a quest�o do �movimento� da identidade. A re-posi��o � vista como algo dado e n�o como um se dando, num cont�nuo processo de identifica��o, devido ao fato de que as diferen�as, a cada re-posi��o muitas vezes s�o pouco percept�veis. A personagem pode ser a mesma: aluno, mas n�o o mesmo aluno. Como a sucess�o � r�pida, �s vezes as mudan�as n�o s�o reconhecidas. Mudan�as pequenas d�o a impress�o de n�o-movimento, necessitam de um ac�mulo de quantidade para que a percep��o capte as transforma��es ocorridas. A cada dia, novos acontecimentos e significados s�o acrescidos � vida cotidiana, tornando o homem e o mundo "qualitativamente" diferentes. Quando a mudan�a � mais vis�vel, diz-se que esta ocorreu �de repente�, mas na verdade n�o existe �de repente�,  e sim um ac�mulo de elementos at� o momento em que algo se torna  distinto na forma como era percebido. A identidade � uma sucess�o temporal com mudan�as muito pequenas. Na rela��o do indiv�duo com outros homens �as identidades� v�o sendo re-postas e cada re-posi��o n�o � a mesma, as condi��es objetivas s�o outras, outros significados v�o sendo dados e internalizados mesmo que impercept�veis, pois como mat�ria estamos em constante transforma��o. Esta plasticidade permite ao homem a constru��o da sua singularidade, da sua identidade e de seu vir-a-ser.

4) Unidade e luta dos contr�rios  (princ�pio da contradi��o)

Essa �lei� prop�e que o movimento das coisas e suas transforma��es se d�o porque no interior destas coexistem for�as opostas  que tendem simultaneamente � unidade e � oposi��o. Essa contradi��o,  de car�ter universal, � inerente a todas as coisas materiais e espirituais.

A identidade � constru�da por elementos opostos, ela � diferen�a e igualdade; objetividade e subjetividade, oculta��o e revela��o, humaniza��o e desumaniza��o, mesmice e mesmidade, e, para compreend�-la, � necess�rio articular essas dimens�es aparentemente contradit�rias a fim de superar a dicotomia individual/social que constitui a problem�tica da identidade desde a origem do termo.

Identidade � ao mesmo tempo diferen�a e igualdade . De acordo com Jacques (1998), a palavra identidade evoca tanto a qualidade do que � id�ntico, igual, como a no��o de um conjunto de caracteres que fazem reconhecer um indiv�duo como diferente dos demais. Assim, a identidade implica tanto no reconhecimento de que um indiv�duo � o pr�prio de quem se trata, como tamb�m pertence a um todo, confundindo-se com outros, seus iguais. Para subsidiar tal afirma��o, � interessante retomar a hist�ria de Severino, este personagem que na busca de sua singularidade (diferen�a), acentuava cada vez mais sua igualdade. Severino, tentando dizer quem �, recorre a um substantivo (palavra que nomeia o ser) para indicar sua identidade, por�m n�o � suficiente para que a sua identidade seja reconhecida. Em uma segunda tentativa, recorre a outros substantivos pr�prios como nome da m�e, do pai, definindo com isso a sua posi��o social � fam�lia determinada; procura ent�o uma regi�o geogr�fica, depois, acrescenta a descri��o de seu corpo f�sico, mas nada o singularizava, at� a morte e a vida eram iguais... na busca da diferen�a encontrava igualdade.

Para muitos, a identidade se confunde com o nome e, nele est�o a diferen�a (pr�-nome) e igualdade (sobrenome). O processo de identifica��o come�a no grupo social. O primeiro grupo social � a fam�lia na qual as duas dimens�es da identidade come�am a se constituir � igualdade (sobrenome) e diferen�a (pr�-nome).

O nome n�o � a identidade; enquanto substantivo n�o revela a identidade, mas apenas parte dela. O substantivo � algo que nomeia o ser, e para isso � necess�rio uma atividade: o nomear. Logo, a identidade n�o � substantivo, � verbo;  identidade � atividade (Ciampa, 1984).

A igualdade � expressa na hist�ria social compartilhada pela fam�lia, grupo social, localiza��o geogr�fica, condi��es econ�micas, culturais.... A diferen�a pode ser entendida como a constitui��o da singularidade, a transforma��o da significa��o social em sentido pessoal; e isso se d� pela atividade, atrav�s da concretiza��o de personagens. � nesse processo de externaliza��o (atividade humana) que a sociedade chega a se constituir como produto humano.

A singularidade (diferen�a) est� na nega��o da nega��o, ou a nega��o de algo que nos � negado. A identidade singular � tecida na identidade social. Um momento da nega��o se expressa quando um indiv�duo conquista seu reconhecimento, passando do indefinido e gen�rico, para o definido e singular. Distingue-se dos demais com quem compartilha o mundo social. As  caracter�sticas peculiares, que dizem respeito � maneira de cada um se relacionar com os outros, foram aprendidas nas rela��es grupais. A hist�ria de vida do indiv�duo � determinada pelas condi��es hist�ricas do grupo social no qual est� inserido. Os pap�is sociais que o homem  aprende a desempenhar foram definidos pela sociedade, e de acordo com Lane (1983), foram engendrados visando garantir a manuten��o das rela��es sociais, para que as rela��es de produ��o da vida se reproduzam sem grandes altera��es na sociedade em que o homem vive. H� casos em que a identidade singular est� t�o colada � identidade social que se confunde com aquela. H� uma reprodu��o da ideologia dominante do  conjunto de seus significados ao n�vel individual. Por�m, ao refletir sobre as contradi��es entre as representa��es e suas atividades desempenhadas na produ��o da vida material, o homem faz com que as a��es subsequentes resultem num avan�o no processo de conscientiza��o. Para Lane (1983), apenas quando o ser humano for capaz de encontrar as raz�es hist�ricas da sociedade e do grupo social, que explicam porque o homem age desta forma e como o faz, � que ele estar� desenvolvendo a consci�ncia de si mesmo. A diferen�a � essencial para a tomada de consci�ncia de si e � inerente � pr�pria condi��o da vida social, pois a diferen�a s� aparece tomando como refer�ncia o outro. �N�o � a consci�ncia dos homens que determina o seu ser, mas o contr�rio, � o seu ser social que determina sua consci�ncia.� (Marx & Engels ,1979 p.37).

Lane (1983) ressalta ainda que a consci�ncia de si poder� alterar a identidade social, na medida em que dentro dos grupos que definem o homem, este questione os pap�is quanto as suas  fun��es hist�ricas, ao mesmo tempo em que os membros se identifiquem entre si quanto a esta determina��o e constatem as rela��es de domina��o que reproduzem uns sobre os outros. Somente desta maneira � que o grupo poder� se tornar agente de mudan�as sociais. Segundo Berger (1971), enquanto esse questionamento, por assim dizer, se limitar � consci�ncia individual e n�o for admitido por outros, ao menos como possibilidade emp�rica, ter� apenas uma exist�ncia �fantasmag�rica�.

O fen�meno da consci�ncia �, ao mesmo tempo, extremamente subjetivo, porque est� muito carregado pela presen�a efetiva do eu individual, e extremamente objetivo, porque se esfor�a por considerar objetivamente n�o s� o ambiente exterior (o mundo), mas tamb�m o eu subjectivo.(...) o eu  considera-se simultaneamente como sujeito e como objecto de conhecimento e considera o ambiente objectivo implicando neste a sua pr�pria exist�ncia subjectiva�. (Morin, 1973, p.132).

Neste processo de externaliza��o, o homem constr�i seu mundo e ao mesmo tempo constr�i a si mesmo e essa atividade construtora de mundos dos homens � o trabalho, trabalho enquanto atividade consciente do homem.

A atividade sempre est� vinculada � consci�ncia. E � mediante esse exerc�cio de reflex�o que o homem pode criar condi��es objetivas e superar as situa��es do cotidiano, concretizando outras personagens. Nessa concretiza��o, a atividade � que configura a singularidade. O homem na sua atividade se distingue das outras esp�cies animais, j� que sua atividade � consciente e sua produ��o n�o � determinada unicamente por suas necessidades imediatas.

(...) � certo afirmar que tamb�m o animal produz (...) Por�m produz unicamente o que necessita de imediato para si ou para sua prole; produz unilateralmente, enquanto que o homem produz universalmente. O animal produz unicamente por mandato da necessidade f�sica imediata, enquanto que o homem produz inclusive livre da  necessidade f�sica e s� produz realmente liberado dela; o animal produz apenas a si mesmo, enquanto que o homem reproduz a natureza inteira; o produto do animal pertence imediatamente com seu corpo f�sico, enquanto que o homem se defronta livremente com seu produto. O animal produz unicamente segundo a necessidade e a medida da esp�cie a que pertence, enquanto que o homem sabe produzir segundo a medida de qualquer esp�cie e sempre sabe impor ao objeto a medida que lhe � inerente, por isso o homem cria segundo as leis da beleza . (Marx, 1983, p.112).

De acordo com Marx (1978a), a base da sociedade, assim como a caracter�stica fundamental do homem est� no trabalho, atividade pela qual o homem domina as for�as naturais, humaniza a natureza, e ao mesmo tempo cria a si mesmo. A respeito da rela��o homem-natureza, Marx afirma que o homem faz parte da natureza mas n�o se confunde com ela. O homem � um ser natural, no sentido de que foi criado pela pr�pria natureza, submete-se �s leis que s�o naturais e depende desta natureza para sobreviver. Mas ao mesmo tempo, o homem n�o se confunde com a natureza, pois a transforma de modo consciente segundo suas necessidades e, nesse processo, se faz homem. � nesta rela��o que o homem se constr�i e transforma a si mesmo e a pr�pria natureza. Marx ressalta ainda que o homem s� � capaz de transformar a natureza e a si mesmo porque se reconhece e reconhece o outro nesse processo. A natureza humanizada n�o �, portanto, constru�da atrav�s de id�ias ou resultado de uma abstra��o, mas atividade pr�tica e consciente: a natureza humanizada � trabalho.

O que o indiv�duo concretiza, vive, aquilo que tem sido e vivido corresponde � objetividade da identidade. A subjetividade da identidade est� no "vir-a-ser" na forma de personagens poss�veis, est� na plasticidade. O homem pode projetar um "vir-a-ser" baseado nas experi�ncias passadas, se de alguma forma, o sentido dessas pretende preservar,  e nesse processo procura criar condi��es objetivas que garantam a possibilidade de recriar no futuro, essas experi�ncias; caso contr�rio pode criar novas condi��es para sua nega��o, conquistando assim, a supera��o. A supera��o pressup�e a concretiza��o, isto �, s� se pode superar aquilo que j� foi concretizado, externalizado e, como foi dito, isso se d� pela atividade mediante  o exerc�cio de reflex�o.

A identidade tamb�m � oculta��o e revela��o. A revela��o � condi��o para a oculta��o. Perante determinadas condi��es objetivas � revelada a uma dada pessoa uma personagem e ocultadas outras.

A identidade � tamb�m desumaniza��o no sentido da impossibilidade de novas concretiza��es. O indiv�duo desenvolve atividades que o negam como ser humano ou � for�ado a repor personagens reproduzindo as condi��es que o desumaniza. Nesse movimento, o homem n�o se reconhece no produto de sua atividade, e isto se d�, segundo Marx (1983), pois o homem se relaciona com o produto de seu trabalho como um objeto alienado, �[...] a apropria��o do objeto aparece como aliena��o a tal ponto que quanto mais objetos o trabalhador produz tanto menos pode possuir e tanto mais fica dominado pelo seu produto, o capital� (Marx, 1983, p. 91). O homem ao transformar a natureza transforma a si mesmo e nesta rela��o, produz-se como homem alienado, produzindo as condi��es de sua pr�pria escraviza��o:

Quanto mais o trabalhador produz, tanto menos tem pra consumir; quanto mais valor ele cria, tanto menos valioso se torna; quanto mais aperfei�oado o seu produto, tanto mais grosseiro e informe o trabalhador; quanto mais civilizado o produto, t�o mais b�rbaro o trabalhador; quanto mais poderoso o trabalho, t�o mais fr�gil o trabalhador; quanto mais intelig�ncia revela o trabalho, tanto mais o trabalhador decai em intelig�ncia e se torna um escravo da natureza. (Marx, 1983, p. 92).

Neste sentido, o indiv�duo reproduz a ideologia dominante, mantendo as condi��es sociais, ou seja, n�o transforma nem as rela��es sociais, nem a ele mesmo. Enquanto humaniza��o, o homem  insere-se e define-se no conjunto de suas rela��es sociais, desempenhando atividades transformadoras destas rela��es, o trabalho apresenta-se como �[...] atividade vital, vida produtiva� (Marx,1983  p. 95) e n�o �...apenas como meios para a satisfa��o de uma necessidade, a de manter sua exist�ncia f�sica� (Marx,1983, p. 95).

Nessa articula��o entre atividade e consci�ncia define-se a mesmidade (Ciampa, 1987). Este elemento caracteriza tamb�m a identidade enquanto movimento e  plasticidade, pois  se d� pelo ato de refletir o que temos sido e podemos ser. Trata-se de uma postura do homem em dispor-se a saber mais, de refletir o conhecimento, recusando-se a reconhec�-lo como realidade absoluta. Em contrapartida, se d� a mesmice  que pode ser descrita como simples re-posi��o de pap�is, sem a media��o da reflex�o.

Dentro dessa perspectiva � conveniente ressaltar que a identidade � um fen�meno social, logo n�o � poss�vel dissociar o estudo da identidade singular, do estudo da sociedade. � do contexto hist�rico e social em que o homem vive que decorrem suas determina��es e, consequentemente, emergem as possibilidades ou impossibilidades, os modos e as alternativas de identidade.

�Somos personagens de uma hist�ria que n�s mesmos criamos, fazendo-nos autores e personagens ao mesmo tempo�. Esta frase de Ciampa (1987) pode ser comparada a citada por Berger (1971): o homem � produto da sociedade, a sociedade � produto do homem.

A personagem se refere � identidade emp�rica que � a forma pela qual a identidade se expressa no mundo. Implica sempre na presen�a de um ator desempenhando um papel social. A personagem ao mesmo tempo se confunde e se diferencia do papel, isto porque o homem n�o �absorve� passivamente o mundo social (com suas institui��es, pap�is, e identidades apropriadas), mas apropria-se dele de maneira ativa � somos tamb�m autores da nossa hist�ria ; a sociedade � produto do homem. O mundo objetivo � apreendido com plena significa��o subjetiva, atribuindo-lhes sentidos � realidade objetiva. � no desenvolvimento de atividades que o homem vai construindo sua hist�ria. A personagem est� sempre relacionada a um papel social, e este representa uma identidade coletiva, abstrata e gen�rica; associada, constru�da e mediada pelas rela��es sociais. Nesse sentido, os homens s�o ao mesmo tempo  autores e co-autores, pois precisam do outro para  se concretizar. A reposi��o de personagens s� � poss�vel porque o outro oferece condi��es para isso. O outro � condi��o fundamental de express�o da  identidade enquanto singularidade. � diante do outro que o homem pode negar aquilo que lhe negam. O homem tem que reconhecer a si mesmo e o outro no processo de constru��o da identidade, �[...] quando o homem se defronta consigo mesmo, tamb�m est� se defrontando com outros homens� (Marx, 1983,  p. 97 � grifo do autor).

A quest�o da identidade � complexa, uma vez que � m�ltipla, din�mica, num constante devir. � uma intrincada rede de representa��es, em que cada personagem  reflete tantos outros, todos constitutivos da identidade, ou melhor dizendo, instituintes de um processo identit�rio, desaparecendo, assim,  qualquer possibilidade de se estabelecer um fundamento origin�rio para cada uma delas. O mesmo ocorre com a quest�o da rela��o homem-sociedade cuja complexidade � expressa por Allport (apud Ciampa, 1993, p.3) no seguinte questionamento:

Como pode sua natureza (do indiv�duo) depender indubitavelmente da pr�via exist�ncia de padr�es culturais e de seus pap�is numa estrutura social pr�-determinada, enquanto que ao mesmo tempo ele � claramente uma pessoa �nica, selecionando e rejeitando influ�ncias de seu meio cultural e, por outro lado, criando novas formas culturais para orientar as futuras gera��es ? E ainda mesmo enquanto essa intera��o entre o individual e o social est� em evolu��o, o homem tamb�m �, certamente, um ser biol�gico, sujeito �s leis de sua esp�cie .

A exposi��o feita at� aqui pretendeu demarcar o espa�o e as m�ltiplas facetas que envolvem a tem�tica de identidade, al�m de explicitar a import�ncia do adjetivo social que segue o substantivo identidade.

QUEST�ES CONTEXTUAIS

A complexidade desse tema tem sido respons�vel por discuss�es extensas e muitas vezes est�reis em raz�o de princ�pios e conceitos divergentes envolvidos. A fase denominada de capitalismo desorganizado (Santos, 1999), para circunscrever o momento atual do mundo globalizado, responde por novas configura��es do homem, expondo perspectivas que devem ser objeto de investiga��o dos cientistas sociais. In�meras s�o as quest�es que se colocam hoje. Marcado por press�es de um mundo cada vez mais complexo e desorganizado, a natureza dos problemas humanos se redimensiona, obrigando  todos a um investimento pessoal, por vezes demasiado pesado. Perdido e premido por exig�ncias do mundo, onde a divis�o entre p�blico e privado manifesta-se com doses generosas de ambig�idade, a identidade do homem transforma-se rapidamente, sem que a ci�ncia e o universo consensual possam dar conta dessas mudan�as. O conhecimento cient�fico retrata uma provisoriedade sem precedentes, em que pese todas as revolu��es cient�ficas e tecnol�gicas desse final de mil�nio.

A pergunta que se coloca agora �: Quem � o homem da contemporaneidade? O que faz esse homem? Como dar conta desse fen�meno psicol�gico? Qualquer tentativa de esgotar esses temas seria pretensiosa e fr�gil, posto que teria que lidar com uma plasticidade ainda n�o totalmente conhecida. A impessoalidade tal como discute Sennett (1988), transformou-se num risco que poucos est�o dispostos a correr. A apologia da intimidade cristaliza os mundos p�blico e privado, tornando-os imperme�veis.

Identificar-se com pessoas que n�o se conhece, pessoas estranhas, mas que podemos compartilhar dos interesses �tnicos, dos problemas familiares, ou da religi�o, tornou-se algo penoso... Quanto mais local a imagina��o, maior se torna o n�mero de interesses e problemas sociais, para os quais a l�gica psicol�gica �: n�o nos deixaremos envolver; n�o permitiremos que isso nos violente. N�o se trata de indiferen�a: � uma recusa, uma constri��o volunt�ria de experi�ncias que o eu comum pode se permitir. (Sennett, 1988, p. 378).

Sennett (1988) denuncia uma realidade ao revelar a preocupa��o com situa��es que circunscrevem a vida cotidiana. Censura o comportamento dos homens preocupados em investir em si mesmos, estabelecendo v�nculos transit�rios e fr�geis com aqueles com quem compartilham a vida social.

Da mesma maneira, Santos (1999) entende que no mundo globalizado observa-se um capitalismo desorganizado, no qual o homem est� obcecado pela diferen�a procurando por distin��o. Na modernidade, entende que h� duas linhas de constru��o da subjetividade que merecem destaque especial: a tens�o entre subjetividade individual e coletiva de um lado, e a subjetividade contextual e universal de outro. �Na tens�o entre subjetividade individual e subjetividade coletiva, a prioridade � dada � subjetividade individual, na tens�o entre subjetividade contextual e subjetividade abstrata, a prioridade � dada � subjetividade abstrata� (Santos, 1999, p.137).

A complexidade origin�ria do mundo capitalista trouxe, como conseq��ncia, problemas para a identidade. A busca por uma hegemonia proposta e controlada pelo Estado, estimula uma identidade reduzida porquanto gen�rica e abstrata. � de Santos a afirma��o: �concluo assim que, sob a igualdade do capitalismo, a modernidade deixou que as m�ltiplas identidades e os respectivos contextos intersubjetivos que a habitavam fossem reduzidos � lealdade terminal ao Estado, uma lealdade omn�vora das poss�veis lealdades alternativas� (Santos, 1999, p. 142). Essas amarras assinaladas por Santos configuram a subjetividade do homem moderno.

Santos prop�e uma an�lise cr�tica em que estejam relacionados tr�s marcos da hist�ria da modernidade, a saber: subjetividade, cidadania e emancipa��o. Para isso, percorre um trajeto em que, de um lado, est� a regula��o e, de outro, a emancipa��o e analisa como esses limites  relacionam-se com a subjetividade.

O projeto de modernidade, para Santos, � caracterizado por um equil�brio entre regula��o e emancipa��o, sendo o primeiro sustentado pelos princ�pios de Estado (Hobbes), de mercado (Locke) e comunidade (Rousseau), enquanto o pilar do segundo - emancipa��o - se d� pela articula��o entre tr�s dimens�es de racionaliza��o e seculariza��o da vida coletiva: a racionalidade cognitivo-experimental da ci�ncia e t�cnicas modernas, a racionalidade est�tico-expressiva e a racionalidade moral-pr�tica do direito moderno. Na verdade, o autor entende que o equil�brio pretendido nunca foi alcan�ado, oscilando ora a favor de um (regula��o), ora a favor de outro (emancipa��o).

Para demonstrar melhor estas oscila��es, Santos prop�e uma rela��o entre subjetividade e cidadania, entendendo que esta �ltima � mais restrita e, exemplifica essa distin��o por meio da teoria liberal, na qual a sociedade - enquanto sociedade civil - n�o exerce a cidadania pela impossibilidade de participa��o pol�tica. Introduz, assim, uma nova quest�o: a rela��o entre democracia e participa��o.

A sociedade liberal � caracterizada por uma tens�o entre a subjectividade dos agentes na sociedade civil e a subjectividade monumental do Estado. O mecanismo regulador dessa tens�o � o princ�pio de cidadania que, por um lado, limita os poderes do Estado e, por outro, universaliza e igualiza as particularidades dos sujeitos, de modo a facilitar o controle social de suas atividades e, consequentemente, a regula��o social. (Santos, 1999, p.240).

O resultado dessas tens�es parece estar sempre a favor do Estado e/ou sociedade, reduzindo as possibilidades de express�o da subjetividade naquilo que, em ess�ncia, � sua caracter�stica: a singularidade. Outra rela��o de tens�o e, ainda mais complexa, � a rela��o entre cidadania e subjetividade. Poder-se-ia argumentar que a subjetividade se amplia e se enriquece quando a ela se lhe acrescenta o princ�pio de cidadania, onde direitos e deveres s�o elementos constitutivos. Mas, a cr�tica de Santos � a de que essa mesma subjetividade fica reduzida porque os deveres e direitos se apresentam de forma abstrata e universal, tornando imposs�vel articular igualdade (cidadania) e diferen�a (subjetividade).�A igualdade da cidadania colide, assim, com a diferen�a da subjectividade�. (Santos, 1999, p.240). Esse dilema est� presente em todo o percurso da modernidade. A supera��o dessa tens�o s� ocorrer�, se a rela��o entre cidadania e subjetividade for sustentada pela emancipa��o (Santos), representando uma conquista do indiv�duo e de sua subjetividade.

 A aspira��o de autonomia,criatividade e reflexividade � transmutada em privatismo, dessocializa��o e narcisismo, os quais, acoplados � vertigem produtivista, servem para integrar, como nunca, os indiv�duos na compuls�o consumista.  ...(fazendo com que a) (...) personaliza��o dos objetos transforme estes em caracter�sticas de personalidade de quem os usa e, nessa medida, os objetos transitam da esfera do ter a esfera do ser. (Santos, 1999, p.255-256)

Nesse processo, o cotidiano, meio no qual a intersubjetividade se desenvolve e tem express�o, configura-se numa nova rela��o entre subjetividade e cidadania, instituindo uma luta por um mundo e vida melhor, onde os excessos de regula��o e as opress�es vivenciadas s�o os motivos das a��es e rea��es do homem.

A conquista por novos espa�os de express�o e reconhecimento social, em que a rela��o entre cidadania e subjetividade esteja assente na id�ia de emancipa��o, deve tomar como fundamento o princ�pio de comunidade de Rousseau que, segundo Santos, articulava as id�ias de obriga��o pol�tica horizontal entre cidad�os e a id�ia de participa��o e solidariedade concreta, emergindo da� uma nova cultura pol�tica e, �[...] em �ltima inst�ncia, uma nova qualidade de vida pessoal e coletiva assentes na autonomia e no auto-governo..�. (Santos, 1999, p.263).

Para ampliar o debate, far-se-�  uma incurs�o nos textos de Giddens (1991) e Morin (1973). Para Giddens (1991), a comunidade sofreu uma destrui��o, no que se refere �s marcas deixadas pelo homem na constitui��o da vida social. Embora os �lugares�, enquanto espa�os apare�am cada vez mais integrados, revelam-se  territorialmente fragmentados, gen�ricos e iguais. H� como que um �estranhamento�, onde o homem n�o se reconhece como constituinte desse processo.

Na modernidade, outras transforma��es s�o observadas no �mbito das rela��es interpessoais: �as rotinas que s�o estruturadas por sistemas abstratos t�m um car�ter vazio, amoralizado � isto vale tamb�m para a id�ia de que o impessoal submerge cada vez mais o pessoal�. (Giddens, 1991 p. 122). A preocupa��o de Giddens � a de mostrar n�o uma ruptura entre o pessoal e o social institucionalizado, mas explicitar novas bases sobre as quais se desenvolve essa rela��o, onde situa��es t�o diferentes e localizadas est�o diretamente interligadas. Nesse sentido, poder-se-ia dizer que a intimidade e a impessoalidade adquirem um lugar de express�o comum, e espa�o �nico, indiferenciando-se enquanto especificidades.

Surge da� um questionamento: a busca da auto-identifica��o  seria uma forma de narcisismo ou uma maneira do homem resistir �s press�es das institui��es modernas ?

Talvez, esse dilema possa ser melhor compreendido por meio da exposi��o de Giddens sobre a fenomenologia da modernidade, que caracteriza em

... quatro estruturas de viv�ncia dialeticamente relacionadas: deslocamento e reencaixe: intersec��o de estranhamento e familiaridade. Intimidade e impessoalidade: intersec��o de confian�a pessoal e la�os impessoais. Per�cia e reapropria��o: a intersec��o de sintomas abstratos e cognoscibilidade cotidiana. Privatismo e engajamento: a intersec��o entre aceita��o pragm�tica e ativismo. (Giddens, 1991, p. 140).

Esse � o movimento que caracteriza a vida cotidiana., onde as oscila��es  e o direcionamento e redirecionamento respondem  pela apreens�o dos fen�menos psicossociais, ao mesmo tempo em que a ambig�idade se mostra como elemento constante.

[...] � o mundo que se transforma gradativamente da familiaridade do lar e da vizinhan�a local para um tempo � espa�o indefinido � n�o � de modo algum um mundo puramente impessoal... Vivemos num mundo povoado, n�o meramente um mundo de rostos an�nimos, vazios, e a interpola��o de sistemas abstratos em nossas atividades � intr�nseco � sua realiza��o. (Giddens, 1991 p.144)

Buscando diferenciar sua posi��o da de outros estudiosos, Giddens denomina de modernidade radicalizada (MR) sua concep��o, em oposi��o � p�s-modernidade (PM) e, sintetiza suas id�ias afirmando sua convic��o no poder do homem em se apropriar da vida cotidiana, apesar das perdas que sofre. Acredita, ainda, em processos ativos de auto-identifica��o, onde a  ambig�idade � uma constante, expressa nas rela��es de integra��o e dispers�o, engajamento e pragmatismo, estranhamento e familiaridade. Sugere tamb�m que a solid�o e distanciamento do homem, como apontado por outros estudiosos � resultado de uma percep��o fatalista e desesperan�osa do mundo moderno, onde n�o se percebe que as transforma��es ocorridas oferecem novas oportunidades combinadas, � claro, com limites e imposi��es.

Do ponto de vista psicol�gico, � melhor compartilhar da vis�o de Giddens, pois vislumbra possibilidades no horizonte do mundo humano.

Neste momento, vale lembrar a percep��o de Morin (1973 p.108) acerca do homem: O homem hist�rico

 �� um ser de uma afetividade intensa e inst�vel, que sorri, chora, um ser ansioso e angustiado, um ser gozador, �brio, ext�tico, violento, furioso, amante, um ser invadido pelo imagin�rio, um ser que conhece a morte, mas que n�o pode acreditar nela, um ser que segrega o mito e a magia, um ser possu�do pelos esp�ritos e pelos deuses, um ser que se alimenta de ilus�es e de quimeras, um ser subjectivo cujas rela��es com o mundo objectivo s�o sempre incertas, um ser sujeito ao �rro e � vagabundagem , um ser �brico que produz desordem. (Morin, 1973, p.108).

Esse homem multifacetado e amb�guo, cuja flexibilidade � respons�vel pela capacidade de reorganiza��o da vida cotidiana, � dono de uma plasticidade que sugere sempre novas expectativas, novos dom�nios, novos �vir-a-ser�.

O ceticismo de Santos (1999), deve ser visto como uma preocupa��o do homem moderno e n�o como constata��o de imposi��o e amarras apenas. Desconsiderar as quest�es que apresenta do mundo globalizado seria assumir uma ignor�ncia intencional, uma recusa pr�via em perceber a realidade como complexa e contradit�ria. Quando afirma a preval�ncia da subjetividade individual e abstrata, o faz fundamentado nas situa��es da realidade social que configuram o homem na p�s-modernidade. Mas, faz tamb�m uma proposi��o, denunciando os dilemas que deve ser objeto de preocupa��o de todos. A supera��o desse dilema, exige:

[...]  uma nova teoria da democracia que permita reconstruir o conceito de cidadania, uma nova teoria da subjectividade que permita reconstruir o conceito de sujeito e uma nova teoria da emancipa��o que n�o seja mais que o efeito te�rico das duas primeiras teorias na transforma��o da pr�tica social levada a cabo pelo campo social da emancipa��o. (Santos, 1999, p. 270).

Assim, ao se tratar da subjetividade, deve-se ter em conta que a express�o do homem na vida em sociedade requer uma an�lise e um projeto pol�tico, de forma que a pessoa alcance proje��o, garantindo seu espa�o e reconhecimento social, entendendo essa proje��o como direito e privil�gio de todos os seres humanos. N�o � poss�vel compreender a subjetividade a n�o ser pela articula��o entre sistema pol�tico (participa��o e representa��o), autonomia (conhecimento e reflex�o cr�tica) e cidadania (igualdade de direitos e solidariedade).

Notas

* - Discente do 4� ano do curso de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina-Pr. End. Rua Paes Leme, 64, apto. 101, Londrina - PR - Email: .

**- Docente do Departamento de Psicologia Social e Institucional da Universidade Estadual de Londrina- Pr. End. Rua Governador Valadares, 500 - CEP 86061-100 - Londrina - PR. Email:

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O que estamos sugerindo Quando falamos em socialização dos indivíduos?

Quando falamos em socialização dos indivíduos Estamos sugerindo que?

Quando falamos em socialização dos indivíduos, estamos sugerindo que aquilo que nós somos é o resultado de um processo que aprendemos na convivência com outros seres humanos, com base em valores, ideias, atitudes e fazeres comuns.

Por que é importante a socialização entre os indivíduos?

A socialização (efeito de ser tornar social) está relacionada com a assimilação de hábitos culturais, bem como ao aprendizado social dos sujeitos. Isso porque é por meio dela que os indivíduos aprendem e interiorizam as regras e valores de determinada sociedade.

O que o indivíduo desenvolve através da socialização?

Através da socialização o indivíduo desenvolve o sentimento coletivo da solidariedade social e do espírito de cooperação, adquirindo os hábitos que o capacitam para viver numa sociedade.

É correto afirmar que a socialização dos indivíduos?

A socialização é o processo pelo qual os indivíduos são preparados para viver em sociedade, internalizando normas, valores, hábitos e costumes. É correto afirmar que: a) os indivíduos, em geral, não possuem consciência da socialização de que participam.