O que Djavan quis dizer com eu te devoro?

Se qualquer outra pessoa cantasse os versos e as notas das treze faixas do disco Vesúvio, de Djavan, ainda daria para reconhecer a mão do cantor e compositor alagoano naquelas canções. Afinal, é Djavan puro. Ritmo cadenciado, letras que se apresentam sempre imprevisíveis e uma poesia muito própria, muito particular. Só que dessa vez, nesse 24º disco de estúdio, há uma aproximação curiosa de temas políticos, antes tão raros em sua obra, que passa a se misturar com a costumeira poesia, o amor, exaltação da natureza e do belo. Um álbum diferente, mas igual ao Djavan já conhecido.

A música que abre os trabalhos é, justamente, a que dá nome ao disco. Vesúvio, com um violão bem marcado e um ritmo que lembra o flamenco, parece pronta para se tornar mais um marco na carreira do cantor. Tem todos elementos que Oceano, Sina e Eu Te Devoro, por exemplo, apresentaram em outros tempos. Além disso, é uma boa introdução ao que vem pela frente: uma mistura bem pensada e dosada do drama e da comédia, da tristeza e da alegria. Como a maioria das músicas de Djavan. Como a próprio vulcão Vesúvio, que redesenhou a Europa após erupção. Drama e beleza juntos.

Algumas canções, porém, falham em perpetuar esse sentimento ao longo do álbum e, muito menos, produzir um clima "pop", como o próprio compositor disse que queria.

A terceira faixa, Dores Gris, é a que mais remete ao "Djavan raiz" e, ainda por cima, faz um interessante antagonismo com "amores gris", verso da canção Nem Um Dia. Há uma volta de Djavan ao samba em Orquídea, sexta faixa, mas a letra é deveras complexa para conseguir extrapolar do próprio álbum. Falta o apelo pop que o cantor disse que se desafiou a fazer. Djavaneou, como diria a outra canção. O mesmo vale para Madressilva, que se torna melodiosa demais e parece não conseguir deslanchar nos objetivos gerais do álbum. A força do Vesúvio se perde, ainda que não seja ruim ou decepcionante.

A força do álbum, então, fica concentrada principalmente na faixa-título e em outras duas canções excepcionais: Solitude, que tem um balanceado que fica na cabeça e que possui um tom político curioso; e na deliciosa Entres Outras Mil. Esta última tem uma das melodias mais ricas e interessantes do trabalho recente do artista, trazendo uma delicada brincadeira com notas. A letra, que remete à força da natureza, causa um impacto estranho e inesperado, causado pela já citada imprevisibilidade das rimas e brincadeiras gramáticas. É gostosa, sutil e quase uma complexa canção de ninar.

Vale destacar também um aspecto dançante do disco de Djavan, presente na surpreendente Um Quase Amor, com elementos sonoros inesperados, e que dá a deixa para a faixa bônus Esplendor, em parceria com Jorge Drexler. É a versão espanhola de Meu Romance, uma mistura de balada com bolero que traz alguns bons elementos da química musical de Djavan, mas que falta em intensidade. Mãos Dadas e Viver é Dever também trazem aspectos pops almejados por Djavan, mas que não tomam conta da canção como um todo. Sobre Viver é Dever, aliás, vale ressaltar a força de alguns de seus versos, que parecem como uma lição de Djavan para si mesmo. É interessante.

Vesúvio não é um álbum completamente coeso do músico alagoano. Há uma clara percepção de que Djavan quis falar sobre tudo e nada ao mesmo tempo: amor, política, natureza. E de todos os jeitos possíveis, indo do samba ao dance, do pop ao lírico. Não é uma falha, obviamente, dada a complexidade musical da obra do cantor e compositor. Mas, daqui, saem apenas algumas grandes canções e que, de alguma forma, devem se perpetuar em sua discografia, como Vesúvio, Solitude e Entre Outras Mil. De resto, fica mais uma boa incursão para dentro da mente criativa desse artista ímpar da MPB.

Ele é reconhecido por ser um dos maiores cantores da música nacional. E não é para menos: com mais de 20 anos de carreira, suas músicas conquistam admiradores de todas as idades, ano após ano. É claro que estamos falando do Djavan!

Créditos: Divulgação

As suas composições são um caso à parte. Com letras complexas e enigmáticas, que deixam muita gente se perguntando qual é a real mensagem por trás de tantas metáforas, certamente você já se pegou pensando: o que pode ser mais fácil que aprender japonês em braile? 🤔

Se essa dúvida já passou pela sua cabeça em algum momento ao ouvir Se, um grande sucesso do cantor, chegou a hora de desvendar o significado dessa música. Continue lendo a seguir para descobrir tudo sobre ela! 

Descubra o significado de Se, do Djavan

Para quem é fã do Djavan e adora ouvir as músicas dele, descobrir o significado por trás de uma de suas composições é quase uma meta de vida! São tantas figuras de linguagem e versos complexos em Seque a gente acaba se perdendo mesmo

Mas, calma! Chegou a hora de ler uma análise estrofe a estrofe dessa canção e entender tudo o que diz a letra. 

Você disse que não sabe se não
Mas também não tem certeza que sim
Quer saber?
Quando é assim, deixa vir do coração

Logo na primeira estrofe, sabemos que o eu lírico está conversando com alguém, provavelmente a pessoa amada. Temos essa suspeita por causa do último verso, deixa vir do coração.

O teor do diálogo é de dúvida e inquietação. O próprio título já expressa essa incerteza através do advérbio que expressa condição, “se”. Na voz do Djavan, o locutor tenta convencê-la de que ele realmente a ama e quer que ela também se entregue à paixão. 

No entanto, há quem diga que, na verdade, o cantor não estava se referindo a uma relação amorosa, mas sexual. Então, o convencimento seria no sentido de ter uma noite de prazer com esse alguém, que não sabe muito bem o que quer. 

Por isso mesmo, há algumas pessoas que interpretam essa canção como a súplica de um homem que, vivendo um relacionamento com uma mulher mais recatada, insiste que ela se entregue a ele.  

Você sabe que eu só penso em você
Você diz que vive pensando em mim
Pode ser, se é assim
Você tem que largar a mão do não
Soltar essa louca, arder de paixão

Não há como doer pra decidir
Só dizer sim ou não
Mas você adora um se

Na segunda estrofe, mais uma vez, o eu lírico continua em sua estratégia de convencimento: você sabe que eu só penso em você. Ele pressiona e pede para que a outra pessoa diga sim ou não, mas ela continua insistindo no “se”

Quem nunca passou por uma situação de indecisão como essa, não é mesmo? Esse trecho só mostra o quanto as músicas do cantor são bem vida real! O que mais incomoda não é a negativa, mas a falta de definição

E, se levarmos em consideração a teoria de que Se é sobre uma relação sexual prestes a acontecer, alguns trechos nos dão boas pistas sobre essa interpretação, como no verso: soltar essa louca, arder de paixão. 

Eu levo a sério, mas você disfarça
Você me diz à beça e eu nessa de horror
E me remete ao frio que vem lá do sul
Insiste em zero a zero e eu quero um a um

E, por falar em situações típicas de quem está apaixonado, algo muito comum entre os casais são os clássicos joguinhos amorosos. Sabe quando a pessoa fica se fazendo de difícil, não fala nem que gosta, nem que não gosta? 

Pois é, temos aqui o exemplo perfeito em que um lado está levando a sério e o outro finge que não está nem ligando! Não sabe se vai ou se fica…

E aí, ninguém sai ganhando e o casal acaba ficando no zero a zero. Essa é uma expressão muito comum, inclusive, quando queremos nos referir ao sexo. 

Por fim, sem o calor da pessoa amada, o eu lírico até se lembra do frio que vem lá do sul. 

Sei lá o que te dá, não quer meu calor
São Jorge, por favor, me empresta o dragão
Mais fácil aprender japonês em braile
Do que você decidir se dá ou não

A frieza da pessoa amada é tão grande que o apaixonado precisa pedir emprestado o dragão de São Jorge. Só esse animal mítico mesmo para esquentar e reviver a chama da paixão! 😅

E aí vem a tão famosa parte do japonês e do método braile. Essa metáfora é muito elaborada e até mesmo inusitada — fruto da mente criativa de Djavan.

O que ele quis dizer foi: é mais fácil fazer algo que a maioria das pessoas julga impossível do que o locutor decidir se quer ou se não quer, se dá ou se não dá.

Aí, para o verbo “dar”, você pode interpretar de forma literal ou encontrar outros significados… a escolha é sua! 🤔  

Saiba mais sobre a canção

Se foi lançada em 1992, no álbum Coisa de Acender. De acordo com os especialistas da música, esse é um dos CDs mais diversificados e irreverentes de Djavan, com grandes influências de estilos mais animados, como o soul, o jazz, o blues e o funk norte-americano.

Capa do álbum Coisa de Acender / Créditos: Divulgação

Nesse mesmo disco, estão outras faixas de grande sucesso do cantor, como Linha do Equador, Boa Noite, Alívio, Outono e A Rota do Indivíduo. Em todas elas, uma fusão de ritmos e estilos pode ser observada, além da complexidade das letras.

Foi um verdadeiro divisor de águas na carreira do artista, que antes era conhecido por compor canções mais calmas e tranquilas, com muito romantismo. Em Se, podemos perceber o quanto a sua musicalidade evoluiu, tanto na melodia, quanto na temática erótica da letra. 

Ouça as melhores músicas de Djavan

É inegável que Se está na lista das músicas mais ouvidas do cantor. Afinal, apesar de ter um significado de difícil compreensão, ela é um dos seus maiores sucessos

Agora, que tal conhecer as outras canções do artista que não param de tocar? Relembre as melhores músicas do Djavan agora mesmo!  

Saiba mais sobre o significado dessas músicas enigmáticas

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O que Djavan quis dizer com te devoro?

Lançada no disco Bicho Solto (1998), a canção "Eu te devoro", de Djavan, apresenta um sujeito que lista os motivos (os impulsos) que o levam a devorar o receptor. Noutro plano, há nesta canção a devoração de vários matizes sonoros: gesto típico na obra de Djavan.

De quem é a música Eu te devoro?

Djavan

O que quer dizer a música Sina?

É a continuação de um festejo, a extensão do momento de prazer indefinidamente e estendido também a todos, como um réveillon utópico que não fosse apenas um instante. Uma trégua duradoura entre desejo e sina, se não alcançável, ao menos passível de ser vislumbrado numa canção. Este é o desejo de Sina.

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