Folha de sao paulo marilia mendonça

Folha de sao paulo marilia mendonça

Foto: Reprodução: Instagram/Gossipdodia

Não à toa, em cada canto do país alguém cantarolava suas músicas. Ela falava de amores perdidos, algo que ficou conhecido como sofrência e que tinha um tom pejorativo. Os grandes clássicos da música nacional ou internacional sempre falaram de corações partidos. Mas, as músicas populares eram desdenhadas pela indústria cultural. A exaltação de baladas clássicas de Edith Piaf a Michael Bublé, teve que se curvar a fenômenos como Marilia. Não por causa de um refrão chiclete, que não é exclusividade das músicas populares. Mas porque a canção que entoava com um voz rouca e potente conseguia expressar em poucas palavras dramas profundos como a traição e competição entre mulheres, o drama da amante, a violência doméstica e a prostituição.

Em um artigo da Folha, o colunista Gustavo Alonso faz uma análise rasa de um fenômeno como Marília. Além de desqualificá-la como cantora, algo bastante discutível para aquela chamada de Adele brasileira, há um certo desdém com o estilo musical. Embora a própria cantora tenha refletido sobre o trabalho de compositora que exigia uma produção em massa de hits, algo que a indústria cultural se encarregou de cobrar de qualquer artista, suas letras não eram simplesmente um choro desolado de uma mulher traída. Elas também expressaram em algum sentido o que foi a primavera feminista que varreu o mundo. As grandes marchas de mulheres, o grito de nenhuma a menos (Ni una menos), o Me too, representavam o grito contido por séculos de opressão. E Marilia, com suas contradições, foi parte de expressar esse grito Brasil afora.

E nadava contra a corrente num meio extremamente machista e conservador do agronegócio e da música sertaneja, que se apoia na negação da discussão política, especialmente entre as mulheres, como se o sofrimento cotidiano não se ligasse à política de avanços e retrocessos em relação às mulheres. Quando em 2018 Marilia aderiu ao #EleNão foi atacada por seu público e amigos do meio sertanejo. Se desculpou por trazer a política para a vida artística. No entanto, fez música contra a violência doméstica depois do escandaloso caso do DJ Ivis que espancou sua esposa. Fez música sobre a realidade de prostitutas e toda situação de exploração e opressão que vivem.

Alonso afirma que seu visual não era atraente. Marilia não era gordinha (o diminutivo trata como um defeito uma questão estética). Ela era gorda, o que não a impediu de marcar sua presença com imponência nos palcos sem esconder o corpo. O famoso cropped que vestiu foi um foda-se, nas suas palavras, aos críticos do seu corpo. Depois ela fez cirurgia e emagreceu, o que não é um problema, ainda que possa ter feito fruto da pressão estética da nossa sociedade que estabelece padrões inalcançáveis de beleza. Contradições da qual as mulheres não estão imunes, mas a briga não é com a balança, é com o sistema que nos mede por centímetros de cintura, quilos de gordura e data de validade.

Marilia tinha suas contradições, algumas das quais admitiu e buscou entender, como o comentário transfóbico que fez em um espetáculo. Também se calou quando um amigo pessoal e colega de profissão foi racista e homofóbico em rede nacional no reality show do BBB 21. Essas contradições demonstram uma artista conectada com seu tempo, pressionada pela indústria cultural, mas que com suas canções conquistou o coração de muitas mulheres reafirmando a necessidade de sororidade entre as mulheres e a superação de uma vida de opressão.

Sua voz rouca e potente deixa saudades.

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Texto do jornal afirmou que a cantora Marília Mendonça, vítima de uma acidente aéreo, "era gordinha e brigava com a balança". Também disse que ela "nunca foi uma excelente cantora". Internautas reagiram. "Bando de arrombado", afirmou uma delas. Confira mais reações

247 - Internautas foram ao Twitter repudiar o texto intitulado "Marília Mendonça, rainha da sofrência, não conheceu o fracasso", publicado pelo jornalista Gustavo Alonso na jornal Folha de S.Paulo. 

Um trecho da publicação diz: "Nunca foi uma excelente cantora. Seu visual também não era dos mais atraentes para o mercado da música sertaneja, então habituado com pouquíssimas mulheres de sucesso: Paula Fernandes, Cecília (da dupla com Rodolfo), Roberta Miranda, Irmãs Galvão, Inhana (da dupla com Cascatinha)".

Outro parte do texto afirma: "Marília era gordinha e brigava com a balança. Mais recentemente, durante a quarentena, vinha fazendo um regime radical que tinha surpreendido a muitos. Tornava-se também bela para o mercado. Mas definitivamente não foi isso que o Brasil viu nela".

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Internautas não perdoaram. "Se alguém tem dúvida genuína de como opera o patriarcado, basta ler o obituário à Marília Mendonça na @folha", escreveu uma delas. "O fenômeno da música brasileira foi reduzido a meias palavras de um crítico que se preocupava com seu corpo e a balança. O patriarcado não descansa nem com a mulher morta", complementou. 

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Outra pessoas criticou o que chamou de "bando de arrombado". "Esse bando de colunista formado em rede social que se acham donos da palavra pq escutam meia dúzia de disco velho. Odeio vocês e odeio esse jornal", disse.

Se alguém tem dúvida genuína de como opera o patriarcado, basta ler o obituário à Marília Mendonça na @folha. O fenômeno da música brasileira foi reduzido a meias palavras de um crítico que se preocupava com seu corpo e a balança. O patriarcado não descansa nem com a mulher morta

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— Debora Diniz (@Debora_D_Diniz) November 6, 2021

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É UMA VERGONHA ESSA COLUNA!

É isso que dá colocar esse bando de arrombado pra falar sobre uma artista mulher. Esse bando de colunista formado em rede social que se acham donos da palavra pq escutam meia dúzia de disco velho. Odeio vocês e odeio esse jornal.

— Ana Thaís (@anathaismatos) November 6, 2021

Um homem que vai para um jornal como a @folha escrever sobre o corpo e o peso de uma mulher que morreu num infeliz acidente. Tá entendendo o quanto isso é execrável e machista? Tá entendendo como não temos “paz” nem depois de mortas ????

— andreza (@andrezadelgado) November 6, 2021

Insensível, machista, gordofóbico e não entende m nenhuma ao dizer q Marília nunca foi uma excelente cantora. Q lixo de matéria é essa?

— Teresa Cristina (@TeresaCristina) November 6, 2021

Esse aqui é o resultado de um meio de comunicação que tem o patriarcado como pilar. Impossível que uma pessoa, um homem, escreva uma coisa dessas sem saber o quanto está sendo cruel. Impossível que a @folha ache natural publicar algo assim. Lamentável. pic.twitter.com/jC9bvSfkc8

— Flavio Serafini (@serafinipsol) November 6, 2021

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O que a Folha de São Paulo falou da Marília?

Paulo apanha na internet após texto sobre Marília Mendonça: 'patriarcado não descansa nem com a mulher morta' 247 - Internautas foram ao Twitter repudiar o texto intitulado "Marília Mendonça, rainha da sofrência, não conheceu o fracasso", publicado pelo jornalista Gustavo Alonso na jornal Folha de S. Paulo.

Quem fala mal de Marília Mendonça?

'Eu acredito que ela ainda está aqui', disse a cantora Sem desconfiar de toda a polêmica que está rolando aqui fora com a música, Naiara Azevedo mal entrou no BBB22 , reality show da TV Globo que estreou nesta segunda-feira (17/01) e já falou sobre Marília Mendonça (1995-2021) para os brothers.

Quantos quilos tinha Marília Mendonça quando morreu?

A cantora – que posou de biquíni e exibiu a silhueta mais fina – revelou a marca e contou que a contagem começou no final do ano passado. "Mais de 6 meses de processo e manutenção, [perdi] 21kg, graças a Deus", contou a sertaneja.

Como Marília Mendonça conheceu Henrique?

Saiba como Henrique e Juliano conheceram Marília Mendonça Segundo Henrique, a dupla conheceu Marília há cerca de dez anos, quando assinou com a mesma gravadora. "Quando assinamos nosso contrato, ela fazia parte do mesmo escritório, compondo e mostrando as músicas.