Afinal, o que é a Dor do Crescimento?
A Dor do Crescimento, também conhecida em na língua inglesa como “Growing Pains”, é um quadro comum de dor que acomete crianças da faixa etária escolar (entre 3 e 10 anos de idade). Geralmente, as dores são localizadas nas pernas e acontecem de noite.
É importante dizer que ainda não sabemos a causa exata deste quadro. Algumas teorias como a relação com baixo fluxo sanguíneo nas pernas, relação com atividades físicas, baixa massa óssea e fatores psicológicos já foram aventadas. Apesar disso, nenhuma delas foi confirmada.
Quais são as suas características?
Basicamente, a Dor do Crescimento tem as seguintes qualidades:
- Acontece no período noturno: em geral, a dor se inicia no fim da tarde ou noite, podendo acontecer inclusive de madrugada. Portanto, a criança pode acordar de noite chorando e dizendo que a dor está muito forte.
- A dor acontece nas pernas: o local mais comum em que a Dor do Crescimento aparece é próxima dos joelhos. Aliás, as crianças tendem a apontar a dor das coxas até as canelas, na parte da frente da perna.
- A dor varia de localização: é comum a dor aparecer uma hora em uma perna, uma hora em outra perna, as vezes nas duas juntas, as vezes somente em uma perna… ou seja, a dor é mal localizada.
- A dor não atrapalha a criança a fazer nada: no outro dia, o seu filho ou filha acorda e parece que nada aconteceu na noite anterior. O paciente não manca e não deve perder nenhuma atividade por incapacidade.
- A dor melhora com qualquer coisa: massagem, analgésicos, carinho, chá… Mesmo depois de reclamar bastante, qualquer medida empregada pelos pais faz a criança dormir bem.
E o que não está associado à Dor do Crescimento?
- Não existe inchaço ou vermelhidão nas pernas: para ser Dor do Crescimento, não pode haver nada nas pernas que conseguimos enxergar ou palpar, como calor, vermelhidão e inchaço.
- Apesar de muito discutido, não existe relação clara entre o excesso de atividades físicas e brincadeiras com o quadro. Dessa forma, mesmo crianças que ficaram em casa sem correr ou brincar durante o dia podem apresentar a dor.
- Não existe relação com o quadro de “pernas tortas”, ou seja, genu valgo e genu varo.
- Não existe relação com pé plano e “sentar em w”.
Imagem de um paciente que “senta em W”. É importante lembrar que essa postura não faz mal ao quadril e tampouco é relacionada com a Dor do Crescimento.
Qual é o tratamento da Dor do Crescimento?
Por ser uma síndrome benigna, não é necessário nenhum tipo de tratamento. Entretanto, algumas intervenções já foram estudadas, como o uso de vitamina D, palmilhas e alongamentos. Mesmo assim, nenhuma delas foi comprovada como realmente eficaz para prevenir que as dores voltem a acontecer novamente.
Para controlar a dor quando ela aparece, nós recomendamos a realização de massagem, ou uso de analgésicos comuns. Com frequência essas medidas fazem a criança ficar confortável em poucos minutos. Banhos quentes, compressas mornas e bebidas mornas também podem acalmar a criança e aliviar a dor.
Então, quando devemos nos preocupar?
Todo caso de dor nas crianças deve ser avaliado por um médico, que pode ser o próprio pediatra, ou um ortopedista pediátrico. Mas devemos nos preocupar mais quando o quadro do paciente tem características diferentes das mencionadas anteriormente.
Outra dica importante é avaliar se a dor é sempre na mesma articulação. Por exemplo, eventualmente nos deparamos com casos de pacientes que sentem dor apenas em um quadril e são diagnosticados no pronto-socorro com Dor do Crescimento. Entretanto, este não é o raciocínio correto, e muitos destes casos podem ser, na verdade, doenças mais graves como a Osteonecrose Secundária da Cabeça do Fêmur, a Doença de Legg-Calvé-Perthes ou a Epifisiolistese.
Imagem radiográfica de um paciente de 6 anos que sentia dor apenas na coxa direita há 8 meses, além de mancar. Foi diagnosticado com Dor do Crescimento no pronto-atendimento de um hospital, porém apresentava a Doença de Legg-Calvé-Perthes no quadril direito.
Dores que aparecem de manhã, que fazem o paciente mancar ou perder atividades recreativas devem ser prontamente avaliadas. O diagnóstico de Dor do Crescimento sempre deve ser feito por um médico, a partir de uma avaliação clínica criteriosa.
Por fim, costumo dizer aos pais dos meus pacientes:
“O problema da Dor do Crescimento não é a Dor do Crescimento. Pois ela é benigna, e vai melhorar. O problema é confundir a Dor do Crescimento com outra doença que precise de tratamento.”
Fontes:
Lehman PJ, Carl RL. Growing Pains : When to Be Concerned. 2017. DOI:10.1177/1941738117692533.
FAQ
1. Meu filho/filha está mancando. Isso é Dor do Crescimento?
Não! Uma criança que tem Dor do Crescimento nunca deve mancar. Nos casos de claudicação (termo médico para “mancar”) deve-se procurar imediatamente um ortopedista pediátrico para avaliação.
2. O uso de palmilhas ajuda no tratamento da Dor do Crescimento?
Não! Apesar de alguns estudos sugerirem uma associação da falta de vitamina D com a Dor do Crescimento, ainda não há nenhum tratamento preventivo para esta condição.
3. A frequência da dor está alta (mais de 2 vezes por semana) e meu filho/filha acorda chorando de madrugada. Devo me preocupar?
Nestes casos, o paciente deve ser levado a uma avaliação com o ortopedista pediátrico. Se o diagnóstico de Dor do Crescimento for confirmado, não há motivos para preocupação. A intensidade da dor que faz o paciente chorar não é um sinal de alarme nos casos de Dor do Crescimento. Os principais sinais de alarme são a claudicação (mancar) e o prejuízo na realização das atividades de vida diária.