Como tratar ressecamento vaginal em casa?

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Como tratar ressecamento vaginal em casa?

As mulheres vivenciam a menopausa de maneira diferente, mas algumas queixas costumam ser constantes.  “A primeira e mais frequente são as ondas de calor. Depois, começam as dificuldades na lubrificação vaginal”, fala Elsa Gay de Pereyra, coordenadora do Setor de Medicina Sexual na Divisão de Clinica Ginecológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.  “O ressecamento da vagina pode atingir até 90% das mulheres na pós-menopausa -- por isso, é tão importante falarmos sobre ele”, reforça Mariana Halla, médica especialista em ginecologia endócrina, de São Paulo.

A lubrificação está relacionada aos pensamentos, às fantasias sexuais e aos estímulos do parceiro, da parceira, de nós mesmas. “Se esses fatores estão presentes e a lubrificação não acontece, a falta do estrogênio, nosso principal hormônio sexual, é a causa mais provável”, afirma Elsa Gay. A baixa do estrogênio provoca a atrofia vaginal -- diminuição da espessura, elasticidade e lubrificação da vagina, com consequências como dor na relação sexual, sangramento, ardência ao caminhar e maior risco de infecção. “Há piora de libido, excitação e orgasmo, porque a mulher sabe que vai sentir dor”, diz Mariana Halla. De acordo com as especialistas, é importante que as mulheres não encarem essa situação como inevitável e busque tratamentos -- e não apenas aquelas que têm vida sexual ativa.

Se a causa é a queda do estrógeno, a reposição hormonal seria a solução mais óbvia. De fato, ela ajuda na solução do problema -- e de vários outros relacionados à menopausa, do brilho da pele ao humor --, mas a questão é que nem todas as mulheres podem recorrer ao método. “A terapia não pode ser feita em pacientes que têm ou tiveram câncer estrógeno dependentes, ou seja, que se desenvolvem devido o aumento do hormônio feminino na corrente sanguínea, como os de mama, útero e endométrio. E também quando há doenças hepáticas, cardiovasculares e trombose”, explica Ana Paula Junqueira Santiago, ginecologista e especialista em sexualidade de São Paulo.

Casos de câncer relacionados ao estrogênio na família ou estilos de vida mais naturais também afastam a reposição. “Algumas mulheres não querem utilizar o hormônio, pois ele atuaria com um xenobiótico, ou seja, traria compostos químicos estranhos ao organismo, desencadeando efeitos adversos aos receptores hormonais”, explica Ana Carolina Lúcio Pereira, ginecologista de São Paulo. Ela reforça, entretanto, que esse temor ainda não comprovado pela literatura médica.

Pelo sim, pelo não, cresce a procura pelos tratamentos a laser -- e aqui não estamos falando de estética, mas da funcionalidade do órgão sexual feminino.  “Com o laser CO2 conseguimos reequilibrar as estruturas da vagina e da vulva, que são extremamente complexas”, afirma Débora Manor, ginecologista do Espaço Dome, de São Paulo. Ela explica como o laser funciona: “A ponteira do aparelho é introduzida na vagina e emite uma energia que estimula o colágeno, responsável pelo tônus e volume das paredes internas, e os vasos sanguíneos, aumentando a vascularização e, consequentemente, a lubrificação -- já que as substâncias responsáveis por ela são fabricadas pelos vasos”. 

Segundo Débora, a aplicação interna do laser é indolor, mas pode haver um incômodo na entrada da vagina, contornada com a aplicação de uma pomada anestésica -- o processo leva 30 minutos e costuma incluir também uma ponteira externa, para tratar a vulva. A aplicação é feita no consultório, dá para trabalhar na sequência, mas relações sexuais devem ser evitadas por três ou quatro dias. São indicadas três sessões, com intervalo de um mês entre elas, e uma manutenção anual.

Também bastante utilizados são os tratamentos tópicos, à base de hormônios ou livre deles, na forma de óvulos gelatinosos, cremes com aplicadores e comprimido vaginal. A indicação leve em conta o histórico e a preferência da paciente. “O estrogênio presente no produto se liga aos receptores da vagina, estimulando a produção do colágeno e dos vasos sanguíneos, o que aumenta o tônus e a lubrificação”, explica Elsa Gay. A dose do hormônio é baixa, o que diminui o risco de efeitos colaterais, segundo Fernanda Pepicelli, ginecologista de São Paulo. “Ainda assim, mulheres com histórico de câncer de mama não podem usar o produto, pois não há segurança em relação à quantidade do estrogênio absorvida pelo organismo”, diz ela.

Outra opção é a aplicação tópica do DHEA, um hormônio esteroide anabólico que tem função de evitar o envelhecimento celular. “Parte do DHEA é convertida em estradiol, que aumenta a lubrificação e a espessura dos tecidos, e parte em testosterona, que atua na libido”, fala Mariana Halla. No Brasil, a substância está disponível apenas para a manipulação e é contraindicada quando há risco de câncer relacionado ao estrogênio.

Já os hidratantes vaginais, livres de hormônio, formam uma camada de lubrificação na mucosa, mas não tratam. Entre esses produtos, Fernanda Pepicelli destaca os hidratantes à base de ácido hialurônico: “O ativo, uma substancia mais natural e próxima do que o corpo produz, melhora turgência local e com isso a elasticidade do tecido”. Com ou sem hormônios, os tratamentos tópicos exigem disciplina, porque precisam ser aplicados de duas a três vezes por semana, antes de dormir.

Seja qual for o método, ele deve ser indicado pelo ginecologista que levará em conta o perfil, questões de saúde e preferências de cada mulher -- o médico pode propor também uma combinação deles para potencializar os resultados. Melhor ainda se o tratamento for acompanhado pela estimulação natural. “Vários estudos confirmam a importância do estímulo local, seja na relação a dois, no uso de brinquedos sexuais ou na masturbação, que leve ao orgasmo, favorecendo o fluxo sanguíneo local”, afirma Mariana Halla.

Dá para apostar também nos alimentos que favorecem a saúde vaginal. “A maçã tem um fitoestrogênio que melhora a libido e a lubrificação; o abacate é rico em vitamina B6 e potássio, que fortalecem as paredes da vagina; e o óleo de coco contém ácido caprilico, que protege a flora vaginal”, diz Mariana Halla, que é pós-graduada em nutrição. Aliás, segundo ela, o óleo de coco, o queridinho do momento, pode ser usado como um lubrificante local, substituindo o da farmácia. “Tem que ser o virgem prensado a frio e, de preferência, em flaconete, por ser mais higiênico”, ensina.