Como os familiares professores coordenadores gestores podem auxiliar no processo de transição da educação infantil para o ensino fundamental?

Novas configurações na classe, novos professores, conteúdos mais complexos, mais autonomia nos estudos e mais exigência nas avaliações. A transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental I é um período repleto de mudanças para os alunos e para os seus pais.

Não raro, as novidades geram empolgação, pois evidenciam crescimento, aprendizado e desenvolvimento. No entanto, há também uma enorme carga de insegurança e ansiedade. O medo do desconhecido e do novo faz com que as crianças iniciem o Ensino Fundamental I temendo atividades avaliativas, bem como o aumento da autonomia em sala de aula e nos intervalos. Os temores, em muitos casos, se estendem aos pais.

Diante disso, como possibilitar que o começo de uma etapa tão importante da vida escolar ocorra de maneira mais tranquila? Em primeiro lugar, cabe lembrar que não existe um padrão. Cada criança, em sua individualidade apresenta uma reação diversa. Há alunos que se adaptam rapidamente, mas existem também os que resistem, choram, rejeitam. Sendo a insegurança parte inerente do processo, é importante não negar esse sentimento. Expressar diferentes emoções diante do desconhecido faz parte do início do ano letivo.

A parceria selada entre família, escola e aluno faz toda a diferença para que essa reação seja controlada com o tempo. Cabe ao professor adotar uma postura acolhedora, transmitindo ao educando a segurança necessária para que ele consiga lidar de forma saudável com essa nova etapa.

A família também tem papel fundamental ao participar ativamente da transição, transmitindo estabilidade e firmeza à criança, para que se sinta protegida e propensa a encarar as mudanças que se apresentam. É necessário ainda proporcionar autonomia ao aluno, para que ele entenda que os pais estarão ao seu lado, mas que, neste momento ele precisa fazer um esforço para se adaptar à rotina escolar e superar esse desafio.

O tempo dessa adaptação varia de criança para criança, e a escola respeita a individualidade de cada aluno, embora a expectativa seja que o processo esteja concluído até o final do primeiro trimestre. A ansiedade, como ressaltamos, é normal e não precisa (nem deve) ser rechaçada. No entanto, caso a insegurança se torne permanente, passa a não ser mais uma reação saudável. Isso demanda intervenções para auxiliar o aluno a vencer suas dificuldades.

No Liceu Coração de Jesus, a transição se inicia de forma gradual, a partir do terceiro trimestre da Educação Infantil III. Neste momento, as crianças participam de atividades típicas do Ensino Fundamental, e tem também a oportunidade de interagir com os alunos desse ciclo. Procuramos transformar a passagem em um momento de alegria, mostrando para os alunos que haverá sim grandes desafios, mas também conquistas e aprendizado. Ressaltamos sempre o quanto cada aluno é capaz, fazendo-o compreender que uma nova etapa é sempre uma oportunidade de evoluir, de ir mais adiante.

O colégio, por sua vez, baseia-se na tríade do Sistema Preventivo de Dom Bosco, na qual um dos pilares é a amorevolezza. Segundo o santo fundador da congregação, amorevolezza significa educar com carinho, ternura e afetuosidade. Em consonância com esse princípio, a escola se dispõe - nesse período e em todos os outros - a caminhar lado a lado com o aluno em todos os momentos. Assim, caso a criança se sinta insegura, saberá que tem toda a equipe que atua na escola para ajudá-la e apoiá-la com muito carinho e dedicação.

*Pedagoga, pós-graduada em psicopedagogia clínica e institucional. Professora do 1º ano do Ensino Fundamental no colégio Liceu Coração de Jesus.

** Pedagoga, pós-graduada em neurociência e psicologia aplicada. Professora do 2º ano do Ensino Fundamental no colégio Liceu Coração de Jesus

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Como os familiares professores coordenadores gestores podem auxiliar no processo de transição da educação infantil para o ensino fundamental?
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Como os familiares professores coordenadores gestores podem auxiliar no processo de transição da educação infantil para o ensino fundamental?
Crédito: Getty Images

“Nada é permanente, exceto a mudança”, sustentava o filósofo grego Heráclito. Mas aceitar que na vida tudo muda não significa fazer tábula rasa do passado. Quando encaramos o início de uma nova etapa, o desconhecido pode ser menos assustador quando algo de familiar se preserva.

Para um aluno, a passagem entre etapas de ensino não virá sem dificuldades. Mudam o espaço, os horários, os colegas e os professores. No início da vida escolar, impõe-se uma dura separação da criança com sua família. Nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, as brincadeiras em sala de aula começam a dar lugar a atividades mais intensas e cobranças. Nos Anos Finais, surgem os professores especialistas, as provas cada vez mais exigentes e o desabrochar da adolescência uma transição por si só difícil.

Garantir a adaptação dos alunos é uma tarefa complexa, mas que se torna mais fácil quando se procura entender o contexto de onde eles vieram, seja de casa ou de uma outra etapa de ensino.  A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que passa a vigorar obrigatoriamente nas escolas brasileiras em 2020, traz sugestões para uma transição mais amena da Educação Infantil para o Ensino Fundamental, mas não há orientações sobre a passagem dos Anos Iniciais para os Anos Finais, nem para o Ensino Médio.

Tendo em vista esse tipo de gargalo, é importante conhecer a experiência de outros professores para acolher a turma nessa fase de mudanças. Saiba o que você pode fazer nos primeiros dias de aula para garantir a adaptação de seus alunos nessa transição de etapas.

Da casa para o berçário e a creche

A primeira vez na escola – seja na creche ou na pré-escola não é fácil. Quando atuava como professora de Educação Infantil, Selene Coletti, formadora na Secretaria de Educação de Itatiba (SP) e colunista de NOVA ESCOLA, sempre lidava com o incômodo de crianças que deixavam o conforto da família. Um dos pequenos, recorda, chorava sem parar nos primeiros dias. Reclamava de uma dor de barriga que não passava e pedia para ir embora.

Selene combinou com a mãe uma estratégia simples: criou um "remédio" para a suposta cólica que consistia num copo de água e uma gotinha de chá. Prometeu à criança que se a fórmula mágica não fizesse efeito, ela poderia voltar para casa com a mãe. No dia seguinte, o pequeno continuava a chorar, mas porque queria tomar novamente o tal remédio. A "enfermidade" era algo muito comum: a insegurança.

"Sempre tinha um ou dois que choravam, mas principalmente por causa da insegurança. Isso vai melhorando conforme a criança vai desmistificando seu medo", garante Selene.

Nessa etapa da Educação, o mais importante é construir uma boa relação com os responsáveis pelos pequenos. Antes do início das aulas, é interessante que a escola faça uma entrevista para consolidar uma ficha com informações detalhadas sobre cada criança. Questionar sobre brincadeiras preferidas, medos, rotina e cuidados de saúde e alimentação é essencial.

A dificuldade de transição da casa para a creche não é restrita às crianças. Os pais também sofrem com essa mudança. A despedida é fundamental para a adaptação, e estratégias como esperar a distração dos filhos para ir embora podem levar a um sentimento de abandono ainda mais acentuado. Normal que o responsável tente evitar esse momento doloroso, mas encará-lo é importante para a transição de todos.

No berçário, os familiares estão presentes ao longo de todo o processo de adaptação. Num segundo momento, é importante que a criança tenha objetos de apego ao alcance para diminuir o desconforto de estar longe dos responsáveis.  E é bom lembrar: falta de choro não é certeza de adaptação bem-sucedida. Pode significar apenas que a criança está retraída. 

Para saber mais sobre a adaptação dos pequenos

- Na creche, o que fazer na hora do choro? 
- Choro e birra podem ser resolvidos com conversa e habilidades socioemocionais 
- 10 dúvidas sobre adaptação na Educação Infantil 

- Curso NOVA ESCOLA “Relação Família-Escola na Educação Infantil” 
- Curso NOVA ESCOLA “Rotina das crianças: momentos de higiene e alimentação”
- 6 planos de atividade sobre adaptação dos bebês

Da Educação Infantil para o Ensino Fundamental

Além de ter trabalhado com Educação Infantil, Selene também tem ampla experiência como professora dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Sua atuação nas duas etapas favorece a compreensão de cada realidade e o que é necessário para garantir uma boa transição.

No primeiro dia de aula, ela sugere deixar de lado as carteiras enfileiradas. Para uma boa transição, é importante repetir na sala de 1º ano a disposição do espaço que os alunos encontravam na pré-escola. Mesinhas com cadeiras, espaço para fazer uma roda e prateleiras com brinquedos ao alcance das crianças são boas formas de favorecer a continuidade entre as etapas. 

A carga horária também pode merecer a atenção dos docentes. Na Educação Infantil, as crianças que frequentavam a pré-escola em tempo parcial cumpriam uma jornada de quatro horas. Em algumas redes de ensino do Ensino Fundamental, o período mínimo de permanência na escola sobe para cinco horas. Nos primeiros dias, uma possibilidade é combinar com os pais a liberação das crianças mais cedo, para que não sintam tanto o aumento da carga horária. 

Acima de tudo, a presença da família, assim como na Educação Infantil, é fundamental para fazer essa transição da melhor forma possível. "Uma coisa que eu sempre fiz e sempre deu certo é fazer uma reunião com os responsáveis e alunos no primeiro dia de aula", sugere Selene. "Trago todo mundo para a classe, faço uma roda grande, converso com os pais e crianças. Me apresento, apresento a sala, descrevo de forma resumida como serão as rotinas e faço alguma dinâmica em conjunto". Ao ambientá-los, a tendência é que se sintam mais confiantes e seguros para este novo desafio na trajetória escolar e de desenvolvimento das crianças.

Considerando a vivência que tiveram na Educação Infantil, é importante não deixar as brincadeiras de lado. Elas contribuem para que o estranhamento das crianças seja o menor possível. "O lúdico deve permanecer. O professor precisa ter essa intenção, como a própria Base propõem, de preservar o brincar por mais tempo. Ele não pode ser deixado para trás", explica Selene. Passear pela escola também é uma boa dica, enquanto se aproveita a caminhada para apresentar funcionários e outros professores para os alunos.

A BNCC também pode apoiar a transição: o documento oferece um norte para realizar a passagem entre a pré-escola e o 1º ano. Além de orientar para que professores aproveitem relatórios e portfólios produzidos na Educação Infantil, sugere-se a possibilidade de conversas e troca de materiais entre os educadores das duas etapas – algo nem sempre fácil de se colocar em prática, dada as dificuldades da rotina e a interação limitada entre os profissionais.

Outro ponto importante é analisar a síntese de cada campo de experiência que foi trabalhado na pré-escola. Mesmo que a escola anterior da criança ainda não trabalhasse o novo currículo alinhado à BNCC, é possível identificar as habilidades relacionadas aos campos nas atividades do portfólio ou nas conversas com a professora anterior. “Se pensarmos que a Base deve ser colocada realmente em prática, e não ficar apenas na teoria, ela vai ajudar muito com o processo de adaptação para a criança continuar seu desenvolvimento ao longo desse novo percurso”, garante Selene.

Como os familiares professores coordenadores gestores podem auxiliar no processo de transição da educação infantil para o ensino fundamental?

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Dos Anos Iniciais para os Finais

A mudança do 5º para o 6º ano é certamente a mais complexa do Ensino Fundamental. Os alunos são colocados diante de uma realidade completamente nova. O contato com diversos professores, cada um formado em sua própria disciplina, não só exige um novo comportamento dos estudantes, como eles também perdem os laços de afetividade e proximidade com um educador polivalente, que é referência da turma no dia a dia.

Tanto em sua experiência profissional como na sua produção acadêmica, a diretora e pesquisadora Renata Borges buscou compreender a difícil transição para o 6º ano. Ela concluiu seu mestrado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e atualmente concentra-se em um doutorado sobre o tema na mesma universidade.

Segundo ela, a maior complexidade de se fazer uma adaptação satisfatória de alunos que iniciam o Ensino Fundamental 2 pode ser medida pela duração da transição. Renata estima que a transição de um aluno do 6º ano leve cerca de 6 meses, enquanto uma criança que começa a cursar os Anos Iniciais precise de apenas um mês para se sentir à vontade no ambiente escolar.

“As crianças da Educação Infantil para os Anos Iniciais têm uma expectativa muito grande. Eles falam que é a escola dos grandes, eles já têm culturalmente esse discurso. Mas as crianças dos Anos Iniciais vão para os Anos Finais com muito medo”, analisa Renata. Ela, assim como Selene, possui experiência escolar em duas etapas: após trabalhar com alunos do Ensino Fundamental 2, atualmente, Renata é diretora da EE Izac Silvério, na zona norte de São Paulo, que atende exclusivamente alunos dos Anos Iniciais.

Segundo a diretora e pesquisadora, os medos dos estudantes ocorrem tanto pela falta de autonomia no Ensino Fundamental 1 – dada a tendência de superproteção nessa etapa –, como também pela dificuldade do professor especialista de compreender a realidade de seus novos alunos.

“Para amenizar essa transição, o professor de Anos Finais tem que ter dedicação para trabalhar com 6º e 7º anos”, diz Renata. É muito comum, diz a pesquisadora, ver professores assumindo essas turmas na época de atribuição porque “foi o que sobrou”. Além disso, muitos trazem uma didática própria do Ensino Médio. “O professor que dá aula para o 3º ano do Ensino Médio e para o 6º ano do Ensino Fundamental não pode ter a mesma visão para esses dois grupos”. A linguagem e a dinâmica da sala de aula, por exemplo, são diferenciais na hora de interagir com os alunos e desenvolver a aprendizagem.

Os dados de acesso, permanência e qualidade nos Anos Finais revelam a dificuldade de se fazer uma transição satisfatória, como mostra a pesquisa "Panorama de Projetos Relativos aos Anos Finais do Ensino Fundamental", de Gisela Lobo Tartuce e Patrícia Albieri de Almeida. O levantamento indica que, dos Anos Iniciais para os Finais, a taxa de reprovação sobe de 5,2% para 10,1%. Já o índice de abandono mais que triplica: vai de 0,8% para 2,7%.

A falta de um capítulo específico da BNCC sobre o tema, como ocorre entre a Educação Infantil e o Ensino Fundamental, reflete esse gargalo. “Percebemos que é um dificultador para todo mundo. Quando sou chamada por alguma escola para falar para um grupo de professores [sobre transição], todo mundo se espanta”, diz Renata.

Diante de tantas dificuldades, o que fazer para realizar uma boa transição nessa etapa? “A primeira coisa que diria para esses professores é para eles terem clareza de estarem trabalhando com crianças, embora elas estejam chegando no 6º ano”, diz Renata, que alerta também para a intensa mudança física, comportamental e emocional neste momento da vida. Por isso mesmo, a figura do professor, mesmo especialista, é fundamental, e a paciência é determinante para o sucesso da adaptação em uma nova etapa de ensino.

Dúvidas sobre se o aluno deve usar lápis ou caneta em atividades ou mesmo sobre como se comportar com o sinal da escola (que marcam o início e término das atividades) devem ser compreendidas como naturais para quem sempre foi dependente de um professor polivalente. O principal conselho de Renata aos professores dessa etapa é não focar apenas em como ensinar, mas em como preparar o aluno para aprender. “Essa transição é pequena, porque as crianças são adaptáveis. A lacuna na adaptação surge muitas vezes porque os professores não dão conta da situação. Mas se o acolhimento for feito num período de um semestre, já se consegue dar continuidade no trabalho com sucesso. ”

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Como os familiares professores coordenadores e gestores podem auxiliar no processo de transição?

O professor e o coordenador podem contribuir para que todas essas novidades se encaminhem de um jeito natural e bem-sucedido, não apenas com os alunos, mas também com as famílias. No 1º ano, a criança começa a ter uma rotina de alfabetização e a ser avaliada constantemente.

Como fazer a transição da educação infantil para o ensino fundamental de maneira mais tranquila?

Outra dica importante para a escola é a construção de um currículo com mudanças gradativas. No primeiro ano, por exemplo, pode ser interessante manter algumas brincadeiras e propostas de interação. Na medida em que as crianças vão se adaptando à nova rotina, pode-se inserir mais conteúdo e atividades de avaliação.

Como se dá a transição entre educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental?

Conversar com seu filho é essencial Durante a fase de transição da educação infantil para o ensino fundamental, é crucial que os pais descrevam bem quais serão as mudanças e como elas acontecerão ao longo do primeiro ano. Vá devagar, pois muita informação de uma única vez pode deixar os pequeninos ainda mais ansiosos.

Como os familiares professores e gestores podem auxiliar no processo de transição da educação infantil para o ensino fundamental?

A transição para o Ensino Fundamental em sala de aula Com o passar do tempo, isso vai sendo adaptado à nova realidade. A disposição das carteiras, os espaços para brinquedos e a adaptação da jornada de horas na escola também são boas formas de fazer com que o pequeno se acostume com a rotina de maneira espontânea.