Como John Cage criou o piano preparado?

No final da década de 1930, Cage criou o “piano preparado”, silenciando as cordas do seu instrumento com objectos comuns (parafusos, garfos, moedas, pedaços de borracha e plástico, etc.) e elaborou um mapa detalhado com todas as precisas instruções. Ao fazer isso, criou sons percussivos no piano, que não seriam considerados musicais no sentido tradicional, mesmo que as próprias sonatas sejam distintamente de estrutura musical e até assustadoramente melódicas. A ampla gama de sons criados pelo piano faz desta uma obra musical muito agradável e variada.

Com os objetos, as cordas criam sons semelhantes a uma marimba com oitavas inferiores. Noutros lugares, os objectos cancelam qualquer sugestão de tom, permitindo que o piano seja usado como instrumento de percussão enquanto as melodias abstractas são formadas usando os tons “menos” preparados. Com qualidades de música ambiental e ainda completamente envolvente, misterioso e bonito, o disco original apresenta uma performance surpreendente de Maro Ajemian.

Esta obra consiste em 16 sonatas, 13 numa composição em forma binária e três em ternária, e quatro interlúdios com uma mais livre estrutura. O objectivo das peças é expressar as oito emoções permanentes da tradição indiana “rasa”. Em “Sonatas and Interludes”, Cage elevou a sua técnica de proporções rítmicas para um novo nível de complexidade. Em cada sonata, uma curta sequência de números e frações naturais define a estrutura da peça e as suas partes, formando estruturas tão localizadas quanto linhas melodias individuais. Cage refere-se ao seus trabalhos como “sonatas“, pois são peças que podem ser classificadas no formato das primeiras sonatas clássicas, como as de Domenico Scarlatti, que tinham um padrão AABB.

Como John Cage criou o piano preparado?
John Cage a preparar o piano

As únicas exceções são as sonatas IX a XI, que apresentam três secções: prelúdio, interlúdio e poslúdio. As sonatas XIV e XV seguem o padrão, mas têm uma forma binária e recebem o título de Gemini, obra de Richard Lippold, em referência a uma escultura deste artista. Os interlúdios, por outro lado, não possuem uma estrutura única. Os dois primeiros são movimentos sem forma definida, enquanto o terceiro e o quarto apresentam um esquema de quatro secções que é repetido para cada passagem.

Em suma, “Sonatas and Interludes for Prepared Piano” de John Cage é uma das obras de vanguarda mais importantes e influentes. Um dos aspetos mais agradáveis deste trabalho é quando os ritmos e as melodias erguem a cabeça no meio desta jornada atonal através da imaginação do artista. Sobre a música de Cage, esta na maioria das vezes é tão ideológica e filosoficamente sonora que quase não importa como soa. No entanto, neste trabalho específico os resultados são agradáveis por si próprios. Pouco importa que Cage tenha encontrado uma ligação entre ruídos, percussão e belas melodias ambientais, ou como ele consegue alcançar isso, ou o quão incrivelmente inteligente é. Estas sonatas e interlúdios são simplesmente agradáveis de ouvir.

João Filipe

Uma bailarina e um pianista em palco. Ele tem o "piano preparado" - com parafusos ou borrachas -, tal como John Cage (1912-1992) o inventou quando precisou de fazer daquele instrumento uma orquestra de percussão. Rolf Hind, pianista britânico, toca as Sonatas e Interlúdios do compositor americano que, em 2012, teria feito cem anos.

Foi nessa altura que a Casa da Música convidou o coreógrafo Rui Horta a criar uma obra a partir daquela peça de Cage. Então nasceu Danza Preparata, onde se assiste ao "corpo preparado" da bailarina italiana Sílvia Bertoncelli. Depois de uma digressão internacional e de um interregno, a peça retorna este sábado a Lisboa, no Teatro Camões. O DN conversou com o coreógrafo Rui Horta a propósito desta sua criação.

A bailarina é nesta peça um "corpo preparado" no sentido em que está condicionado?

Na realidade, o que faço é usar uma espécie de mesmo recurso que o músico tem no piano. Condiciono aquele corpo. Crio uma série de contingências de espaço, de corpo...

Como dançar sem usar um dos braços ou uma das pernas...

Sim ou ter de utilizar o palco com outros objetos. Aquele corpo está sempre a reagir a desafios que são muitas vezes também [desafios] de composição: um espaço muito reduzido, ter de repetir sempre o mesmo movimento.

E são vários excertos musicais diferentes.

No final, aquilo são 22 pequenos excertos, as Sonatas e Interlúdios de Cage, todos diferentes e cada um tem um desafio completamente diferente. Obedece a várias emoções e temperamentos. Em 1948, o Cage vinha da Índia, cheio de cores na sua vida, estava muito apaixonado, pela primeira vez torna pública a sua relação com o [coreógrafo, com quem também muito trabalhou] Merce Cunningham. Isto na América do final dos anos 1940 não era uma pera doce. Acho que esta é uma peça muito cromática, é uma paleta, uma espécie de grande arco-íris musical.

Apesar de condicionado, o movimento do corpo nunca parece estranho, parece sempre bastante limpo. É propositado?

"Depuração" é a palavra certa. É o movimento e apenas o movimento, a música e apenas a música. Não nos esqueçamos que o Cage inventa o piano preparado porque a certa altura queria reproduzir uma orquestra de percussão e não tinha dinheiro para o fazer, então transformou o piano numa orquestra. Ele implode as possibilidades do piano, e esse é o meu desafio. Implodir as possibilidades de um corpo. O instrumento musical e o corpo como instrumento levados ao limite. Quando acabei a peça dizia na brincadeira: "Olha, melhor do que isto não sei fazer." Passei três meses de volta desta mulher, com este corpo, a trabalhar. E no final foi uma espécie de homenagem ao Cage. E à dança contemporânea.

Há também uma homenagem a Merce Cunningham?

Sim. O que aconteceu nesta relação entre os dois [Cunningham e Cage] mudou completamente a dança. Todos nós somos de algum modo herdeiros dessa estética.

De que forma o Rolf prepara o piano?

A versão dele, a maneira como o Rolf prepara o piano, que é um trabalho de engenharia, demora quase duas horas em todos os espetáculos, e depois a maneira como ele executa é de uma enorme poética. Acho que a preparação do Rolf é muito sui generis. Acho que ele segue, obviamente, o score de preparação do Cage. [Mas] daquilo que eu vejo, ele prepara-o de uma forma muito pessoal. O tipo de parafusos, de borrachas, mesmo de apagar, da escola... Ele é completamente obsessivo na escolha de cada coisa. Quando está a preparar o piano ele já está a tocar a música. Toca-a sem score, já não lê a peça. Eu fui-lhe pedindo para olhar cada vez mais para a Sílvia. Um dia ele disse-me: "Vou aprender a peça de cor." [Agora] ele não tira os olhos dela. Eles não tiram os olhos um do outro, estão sempre em relação.

Danza Preparata está este sábado em cena no Teatro Camões, em Lisboa, às 21.00. Bilhetes entre 5 e 30 euros.

Como surgiu o piano criado por John Cage?

O piano preparado surgiu em 1940. A situação era a seguinte: Cage estava trabalhando com vários dançarinos - era uma pessoa muito requisitada -, e estava com uma encomenda pra tocar uma peça de caráter africano para uma dançarina de Seattle.

Como John Cage prepara seu piano antes das apresentações?

Cage foi o criador do piano preparado, que consiste em colocar alguns objetos sobre as cordas de um piano de calda, como moedas, parafusos, carimbos, colheres. Isso faz com que se altere os sons das cordas quando essas são tocadas pelas teclas.

Quem criou a técnica do piano preparado?

1) Piano preparado – um instrumento novo, que surge por invenção de John Cage na década de 1940.

Como John Cage preparava suas performances musicais?

Cage foi um pioneiro da música aleatória, da música eletroacústica, do uso de instrumentos não convencionais, bem como do uso não convencional de instrumentos convencionais, sendo considerado uma das figuras chave nas vanguardas artísticas do pós-guerra.