Como é o ritual dos Jogos Olímpicos?

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Como é o ritual dos Jogos Olímpicos?

As 5 aberturas de Jogos Olímpicos mais marcantes da história (Foto: Bryan Turner/Unsplash)

No dia 6 de abril de 1896, as ruas de Atenas pareciam mais animadas do que o normal. Prédios públicos estavam enfeitados com bandeirolas, e as fachadas das casas foram decoradas com guirlandas. Cerca de 80 mil pessoas compareceram ao Estádio Panatenaico e ouviram o hino elaborado pelo poeta Kostis Palamas e pelo compositor Spiridon Samaras.

Diante do grande entusiasmo dos espectadores e do rei grego, a canção foi performada duas vezes. O destaque do evento, porém, não foi esse, e sim a entrada dos atletas (todos homens) que participariam dos primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna.

Um pouco parecido com as cerimônias que vemos hoje pela televisão, certo? Porém mais simples. “Bem no princípio, o que a gente tinha de semelhante era a apresentação dos atletas”, comenta Katia Rubio, professora associada da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do Grupo de Estudos Olímpicos da mesma instituição. “Mas é importante lembrar que, em 1896, as representações olímpicas eram individuais”, complementa.

O que mudou esse cenário — e ajudou a moldar as cerimônias de abertura como conhecemos atualmente — foi a organização do movimento olímpico em estados nacionais. A partir desse momento, surgiu a “tradição inventada”, como Rubio define, dos grandes espetáculos das cerimônias de abertura das Olimpíadas. “Nós vemos uma manifestação de poder do Comitê Olímpico Internacional (COI), que tem mais representações nacionais do que a própria Organização das Nações Unidas (ONU), mostrando essa pujança de colaboradores", observa.

Com o objetivo de apresentar a história do país-sede e exaltar seus marcos culturais, atualmente as cerimônias seguem um protocolo elaborado pelo COI. “A abertura e o encerramento são os momentos dos Jogos em que se alcançam as maiores audiências, e o esmero na produção tende a aumentar cada vez mais, porque é o cartão de visita da edição olímpica”, diz a professora.

De uma cerimônia simples no século 19 para eventos de quatro horas com programações artísticas para lá de sofisticadas, confira abaixo cinco aberturas de Jogos Olímpicos que contribuíram para moldar o evento que conhecemos hoje:

1. Antuérpia, 1920

Como é o ritual dos Jogos Olímpicos?

Hasteamento da bandeira olímpica ocorreu na edição de 1920, com sede na Antuérpia  (Foto: Wikimedia Commons)

Muitos dos elementos que vemos nas aberturas foram inaugurados nas Olimpíadas com sede na Antuérpia, na Bélgica, em 1920, como o hasteamento da bandeira olímpica, cujos cinco anéis representam a universalidade dos Jogos e a união dos continentes. O design foi apresentado pelo francês Pierre de Coubertin, fundador dos Jogos Olímpicos Modernos, em 1914, e seria utilizado na edição de 1916 — que foi cancelada em decorrência da Primeira Guerra Mundial.

Além disso, foi na Antuérpia que um atleta realizou o juramento olímpico em nome de todos os competidores pela primeira vez: o esgrimista belgo Victor Boin leu o texto escrito por Coubertin, que, com o tempo, sofreu alterações para se adaptar às mudanças da competição esportiva.

A cerimônia de abertura na Antuérpia contou ainda com a soltura de pombas para representar a paz. As aves já haviam participado do evento em Atenas, em 1896, mas somente durante a cerimônia da vitória e com as cores nacionais da Grécia. A partir de 1920, passaram a remeter ao movimento pacífico. A prática passou a ser meramente simbólica depois que, na abertura de 1988 em Seul, na Coreia do Sul, os animais morreram queimados pela pira olímpica.

2. Los Angeles, 1932

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Cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 1932 ocorreu no Estádio Olímpico Coliseu (Foto: Wikimedia Commons)

A abertura de Los Angeles, nos Estados Unidos, em 1932, é uma das importantes referências para entendermos as cerimônias atuais. “Os Jogos aconteceram em Los Angeles no auge da indústria cinematográfica, então toda a expertise dos produtores hollywoodianos foi utilizada para conceber uma narrativa que apresentasse a história do país e seus marcos culturais”, explica a professora Katia Rubio.

Com capacidade para mais de 100 mil espectadores, o Estádio Olímpico Coliseu — que foi reformado especialmente para a ocasião — recebeu mais de 3 mil músicos para performar os hinos das Olimpíadas e dos Estados Unidos. Além disso, o placar mecânico exibiu uma citação atribuída a Coubertin: “O importante nos Jogos Olímpicos não é ganhar, mas participar. O essencial não é conquistar, mas lutar bem.”

Ao final, centenas de pombas foram soltas no céu. Mesmo enfrentando os impactos da crise econômica de 1929, os Estados Unidos impressionaram os espectadores. “De lá para cá, cada país que sedia os Jogos se esmera em apresentar uma cerimônia cada vez mais representativa do próprio país, porque é uma espécie de soft power”, analisa Rubio.

3. Berlim, 1936

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O atleta Fritz Schilgen carregou a tocha olímpica na abertura de 1936, em Berlim (Foto: Wikimedia Commons)

Foi em 1936, quando as Olimpíadas ocorreram em Berlim, na Alemanha, que o revezamento da tocha olímpica teve início. Inventado por Carl Diem, secretário geral do comitê organizador das Olimpíadas, o ritual foi inspirado pela cultura grega do passado, para a qual o fogo era sagrado. “Carl Diem era apaixonado pelos Jogos da Antiguidade, mas não se pode esquecer que ele fez isso a serviço do nazismo”, pontua Rubio. Diante do regime ditatorial de Adolf Hitler, o Comitê Olímpico Internacional tentou impedir que a Alemanha fosse a sede do evento, mas não conseguiu.

O primeiro revezamento durou 12 dias e passou por sete países: Grécia, Bulgária, Iugoslávia, Hungria, Áustria, Tchecoslováquia e Alemanha, totalizando 3.075 quilômetros percorridos. O atleta escolhido para segurar a tocha na abertura foi o alemão Fritz Schilgen, que tinha um estilo de corrida considerado atrativo.

Saindo de Olímpia, na Grécia, e indo até o país-sede, a tocha olímpica tem a intenção de conectar os atletas e as nações durante o revezamento. “O resgate desse símbolo foi tão impactante que ele permanece até hoje e faz com que a chama Olímpica dê uma volta quase planetária”, afirma Rubio.

4. Tóquio, 1964

Os Jogos Olímpicos de 1964, sediados em Tóquio, no Japão, foram os primeiros a serem televisionados em tempo real e com imagens coloridas para a Europa e a América do Norte via satélite. “Isso transforma radicalmente a estética do espetáculo olímpico, porque as aberturas acompanham a ampliação da importância das transmissões televisivas”, diz Katia Rubio.

Essa também foi a primeira vez que as Olimpíadas aconteceram na Ásia e, de forma inédita, foram utilizados aviões e danças na cerimônia de abertura. Além disso, o país procurou mostrar sua história para o mundo. O responsável por acender a pira olímpica foi Yoshinori Sakai, que nasceu no dia em que Hiroshima foi bombardeada pelos Estados Unidos. Ao final do evento, aviões a jato formaram os cinco anéis olímpicos no céu acima do estádio.

5. Sydney, 2000

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Cerimônia de abertura de Sydney valorizou o oceano e a vida marinha (Foto: Wikimedia Commons)


Com o tempo, as cerimônias dos Jogos Olímpicos deixaram de focar apenas na história do país-sede e passaram a contemplar pautas ambientais. É a partir de 2000, em Sydney, na Austrália, que a sustentabilidade começa a aparecer nos eventos. “Na época, existiu a preocupação da despoluição da Baía de Homebush e a edição ficou conhecida como Jogos Verdes”, relembra Katia Rubio.

O espetáculo de abertura, que apostou na valorização do oceano e em performances com artistas suspensos, refletiu as práticas ecológicas adotadas na competição. A Baía de Homebush, antes considerada um grande esgoto em decorrência da poluição química causada por indústrias, passou por uma limpeza intensa e, em seus arredores, foi instalado o parque olímpico.

Além disso, a Vila Olímpica foi construída com materiais menos prejudiciais ao meio ambiente. A edição de 2000 marca ainda a primeira vez que os Jogos Olímpicos contaram com o envolvimento do Greenpeace — responsável por acompanhar e avaliar a sustentabilidade da organização do evento.

*Com supervisão de Luiza Monteiro

Quais os ritos tradicionais das Olimpíadas?

As Olimpíadas são carregadas de ritos tradicionais como o translado da tocha, o acendimento da pira olímpica, a entrega das medalhas, as cerimônias de abertura e de encerramento, entre outros.

Como ocorre o ritual de acender a chama olímpica?

A tocha olímpica é acesa em uma cerimônia nas ruínas de Olímpia na Grécia. Raios de sol refletidos por um espelho dão origem à chama. Mulheres vestindo túnicas no estilo grego antigo conduzem todo o ritual e passam a tocha ao primeiro corredor. A tradição é mantida desde os Jogos de 1952 em Helsinque.

Quais são as cerimônias dos Jogos Olímpicos?

Você sabia que os Jogos Olímpicos têm três tipos de cerimônias? A abertura, a entrega de medalhas e o encerramento! Esses eventos são cheios de momentos especiais, como o desfile dos atletas, o acendimento da pira Olímpica e shows incríveis com fogos de artifício.

Porque a tocha olímpica não pode ser apagada?

A ideia do "fogo eterno" tem um fundo simbólico: a chama é acesa no santuário de Olímpia, na Grécia. Mas não vai só para a tocha. A chama também é passada para um lampião, que tem combustível para queimar por 15 horas. Quando o gás está acabando, uma lanterna igual é acesa com a mesma chama.