Como as ideias iluministas contribuíram para a Revolução Francesa?

Os principais ideais da Revolução Francesa fazem referência ao lema “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”, adotado ainda nas primeiras fases da Revolução. Para melhor compreender esse mote, é necessário pensar em algumas características do movimento que foi propulsionou a Revolução: o Iluminismo.

Tendo suas raízes ainda no século XVII, a escola ilustrada de início defendia o uso da razão para a abordagem científica, principalmente em relação aos filósofos, matemáticos e físicos. Com o passar do tempo, porém, ela começou a ser vista como sendo politicamente benéfica para a sociedade como um todo. Para os iluministas, uma busca lógica pela verdade poderia ser politicamente conveniente ao levar a uma sociedade mais progressista e justa, que permitiria liberdade e felicidade para todos. Partindo disso, pode-se ver o motivo pelo qual os ilustrados eram contrários aos dogmas políticos e religiosos, e por consequência direta aos governos absolutistas em geral, o que em breve permitiria que as ideias iluministas em muito se tornassem influentes na burguesia. O pensamento iluminista via tais governos autocráticos como simples tiranias, e seus monarcas como usurpadores das prerrogativas do povo.

Pensamentos como estes são nítidos na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Documento composto por 17 artigos, ele foi aprovado em 26 de agosto de 1789 pela Assembleia Nacional Constituinte, e tinha como base a defesa do que considera os direitos naturais, inalienáveis e não negociáveis do homem. Para isso, um requisito fundamental era que todos fossem livres e iguais em direitos, como definido logo no primeiro artigo da Declaração. É também expresso como a liberdade de um homem só tem como limite o direito de outros (artigo quatro), como a lei apenas proíbe as ações nocivas à sociedade por expressão da vontade da mesma (artigos cinco e seis), como ninguém pode ser molestado por suas opiniões (artigo dez) e como a livre comunicação de ideias é um dos mais importantes direitos do homem (artigo 11). Vemos, assim, a aplicação prática do lema “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”.

Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

Apesar de ser tão característico da Revolução Francesa, porém, o lema demorou a ser adotado oficialmente. Em 1790, o líder da corrente radical dos jacobinos, Maximilien Robespierre, tentaria colocar o mote nos uniformes da guarda nacional e na bandeira, mas não teria sucesso. Variações do lema seriam muito utilizados pelos franceses durante o período da Convenção Nacional, mas a ascensão do Império Napoleônico fez com que tais palavras fossem abolidas, assim como outros símbolos revolucionários. Após a Revolução de 1848, que derrubou a Casa de Orléans do poder, o lema “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” foi consagrado pela nova Constituição, tornando-se um princípio da República. Após um novo período de obscuridade durante o Segundo Império, o lema retornou definitivamente após a deposição de Napoleão III em 1870, sendo inscrito nas Constituições francesas de 1946 e 1958. Além disso, os ideais da Revolução Francesa em geral exerceram influência sobre as Cartas Magnas de vários países, incluindo o Brasil.

A Revolução Francesa foi um dos acontecimentos mais importantes da história contemporânea do Ocidente. Ela marcou o fim da Idade Moderna e o início da Idade Contemporânea, de acordo com o que foi estipulado por historiadores europeus. O motivo para isso foram as influências da Revolução Francesa no mundo.

A Revolução Francesa marcou a ascensão da burguesia como classe social dominante, superando a aristocracia proprietária de terras, bem como a criação de novas instituições e novas formas de organizar a vida econômica, política e social que iriam se expandir para todo o planeta.

Com a Revolução Francesa, o capitalismo rompeu os obstáculos políticos feudais que ainda vigoravam na Europa Ocidental, juntando-se às transformações econômicas desencadeadas com a Revolução Industrial.

Essas mudanças vinham sendo preparadas desde os séculos XVII e XVIII, com o desenvolvimento do pensamento racional Iluminista. Para os iluministas, a razão poderia auxiliar todos os homens na explicação dos fenômenos da natureza e da forma de organização da sociedade.

Não que os iluministas fossem essencialmente revolucionários. Mas as ideias iluministas serviram, junto à utilização da razão para interpretar o mundo, para os revolucionários franceses questionaram o caráter sagrado do poder, defendido pelos reis, pela aristocracia e pela Igreja.

Todos os homens poderiam exercer o poder. Mas para isso era necessário criar instituições que garantissem esse exercício. Nesse sentido, a República foi a principal dessas instituições. Ela representava o fim dos privilégios da aristocracia e a libertação dos camponeses dos laços de servidão que os prendiam à nobreza e ao clero. Nas cidades, tinham fim as corporações feudais que limitavam os negócios da burguesia.

Mas mesmo antes da Revolução Francesa, os ideais iluministas já haviam possibilitado que na América do Norte os colonos ingleses realizassem a Independência dos EUA e construíssem também uma República. Mas o impulso maior foi mesmo dado pela Revolução Francesa, graças ao poderio do Estado francês.

A Revolução Francesa influenciou ainda outros processos de independência no continente americano. Em 1794, os africanos escravizados que trabalhavam nas lavouras de cana-de-açúcar do Haiti conseguiram o fim da escravidão após uma sanguinária guerra de independência. Era o primeiro país do continente a por fim à escravidão. No Brasil, a Conjuração Baiana (ou Revolta dos Alfaiates) de 1798 também foi fortemente influenciada pelos acontecimentos da Revolução Francesa.

O historiador Eric. J. Hobsbawm afirma ainda que os revolucionários franceses influenciaram simbolicamente as nações emergentes da Europa do século XIX com as bandeiras tricolores.

O conceito e o vocabulário do nacionalismo, desenvolvido com educação universal, e o recrutamento de cidadãos de todas as classes para o exército foram mais umas das influências da Revolução Francesa.

O modelo de organização técnica e científica, além do sistema métrico de medidas (metro, centímetro, decímetro etc.), foi outra contribuição desenvolvida nesse período.

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