A gente mete o louco mesmo

Caricatura- Onézio Cruz

Gabriela Vallim

Gabriela Vallim

Jornalista| Educomunicadora| Estrategista

Published May 28, 2020

Algumas vezes postergamos viver experiências desafiadoras, porém incríveis, pois acreditamos não estarmos preparados. A jornada é a melhor metodologia de aprendizagem. Na maioria das vezes nunca estaremos 100% prontos, mas desafiar-se e permitir-se viver e construir novas possibilidades, seja uma mudança de carreira, cidade ou casa pode ser transformador. Meus amigos me chamam de nômade, pois aproveito as oportunidades que aparecem (algumas estrategicamente construídas). Muitas pessoas acham legal o resultado, mas não estariam dispostas a fazer o percurso para colher o resultado. Isso diferencia os sonhadores práticos dos só sonhadores. 

Se assim como eu, você decidiu construir uma nova realidade e mudar o curso da sua vida, mesmo inicialmente sem saber exatamente o caminho, nem tendo acesso a referências próximas, quero te dizer- você não está sozinho e mais do que isso, tem alguém precisando ouvir de você. A sensação de muitas vezes não pertencer, como minha mentora Alexandra Loras brilhantemente fala em uma de suas palestras sobre a "Síndrome do impostor", especialmente para nós mulheres negras pela necessidade de provar que somos capazes de OCUPAR e PERMANECER em diversos lugares, esforço o qual não negros nas mesmas posições não precisam desprender. Esse esforço cotidiano e continuo nos faz involuntariamente duvidar da nossa capacidade e até mesmo que nossa história importa, o que é a maior vitória da desigualdade de gênero e racismo, primeiro nos faz duvidar de nós mesmos e da nossa capacidade rejeitando tudo o que produzimos, mesmo que para posteriormente essa mesma ideia que quando saiu da nossa boca era ruim, ser designada para outra pessoa executar e por isso passar a ser brilhante, ou seja "o problema sempre esteve conosco, incapazes". Essas mensagens mentirosas e veladas, constroem falsos paradigmas na nossa mente e nos impedem de alcançar nosso pleno potencial. Mas, minha mensagem principal nesse artigo não é o foco na escassez, já sabemos que o Brasil é um país racista e desigual, Mas e o que podemos fazer com isso?

Se você sabe quem você é, você não vai se tornar o que eles querem que você seja. Você pode fazer todas as coisas. Eles não são mais do que você, apenas pensam diferente. Não se conforme com essa situação, mas transforme a sua realidade a partir da transformação da sua mente. Tudo começa por ela, traga a sua memória aquilo que te dá esperança. Quem você realmente é, não importa onde você está. 

A imagem ilustrativa do texto é minha caricatura, exposta no último encontro de Educomunicação em São Paulo, organizado pela Secretaria Municipal de Educação. Foi feita pelo artista Onézio Cruz. Na ocasião fui convidada para mediar a mesa: empoderamento feminino nas escolas públicas e o papel do educador. Eu amo voltar a espaços como esse e compartilhar um pouco de como a educomunicação me ajudou a mudar de vida. Se eu não tivesse metendo o louco dia após dia, estaria sobrevivendo numa realidade que não deveria ser a vida de ninguém. Agora eu vivo, os desafios continuam, mas minha mente está cada dia mais livre para voar e meu passaporte esperando próximos carimbos. Vamos juntos?

Me conta qual foi a coisa mais doida que você se permitiu fazer e mesmo tendo tudo para dar errado deu certo? Qual foi seu maior aprendizado? O meu foi “Quem não mete o louco não vive, sobrevive”! É possível sair de escola pública, periferia, sem inglês fluente e se tornar executiva de comunicação, viajar o Brasil e o mundo. Não é fácil, é doloroso, solitário, desafiador, cansativo, mas possível. Permita que sua história inspire alguém hoje!

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