A diferença de para e pra

Esta resposta baseia-se na minha experiência de falante de português europeu, em que há uma diferença marcada entre ir a e ir para. Vários comentários nesta página sugerem que esta diferença é pouco marcada ou inexistente no Brasil.

Guia rápido

Ir a — ir, estar e voltar:

  • Em dezembro vou ao Brasil, passar duas semanas de férias.

  • Logo à noite vou à festa da Joana.

Ir para — estar ou pôr-se a caminho de:

  • No sábado vou para o Brasil.
  • Vou para a festa. Vens agora, ou vais mais tarde?

Explicação longa

Tradicionalmente diz-se, tal como na resposta do Bruno, que se usa a para estadas relativamente curtas no destino, e para para estadas relativamente longas ou permanentes. Grosso modo isto é verdade; mas é insuficiente, como mostra o exemplo seguinte:

(a) Ana: — Vou passar um mês ao Brasil, sabias? Parto já amanhã.
Telefona o Pedro a convidar a Ana para ir à praia no dia seguinte.
(b) Ana: — Não posso. Vou amanhã para o Brasil.

A viagem é a mesma, mas num caso usa-se a, noutro usa-se para. A figura abaixo ilustra a diferença. Com a a Ana contempla a ida, a estada completa, e o regresso (ou continuação da viagem para outro lugar); com para, contempla a ida, mas não a estada completa nem o regresso.

A diferença de para e pra

Por isso vou amanhã ao Brasil é impossível neste contexto, porque implicaria ir e voltar no mesmo dia. Em (a), passar um mês destaca a estada completa, daí usar-se a. Não direi que vou passar um mês para o Brasil seja impossível, mas soaria muito estranho. O Google search confirma a minha estranheza: 24 vou passar um mês/dois meses/uns meses seguido de ao/à/a contra apenas 1 seguido de para o/para a/para; se for uma semana, é setenta contra zero (excluí falsos positivos).

Podemos generalizar a figura do ir para. As razões de não se contemplar a estada completa e regresso podem ser várias: a estada pode ser curta, mas o locutor quer focar apenas a ida; ou a estada pode ser permanente ou de duração indeterminada. A frase (b) presta-se em princípio a várias interpretações: ir passar o resto da vida no Brasil, ir por alguns anos, um mês ou só uns dias. O Pedro, sem perguntar mais nada, só poderia saber qual destas opções é verdadeira se tivesse conhecimento suficiente da vida da Ana.

O exemplo da pergunta é do mesmo tipo.

Irei à casa dos meus pais amanhã,

é em Portugal interpretado como ir e voltar amanhã (ou ir e continuar no mesmo dia para outro lugar); enquanto

irei para casa dos meus pais amanhã

implica que amanhã a estada ainda não estará completa e que se fica lá pelo menos até depois de amanhã.

No nosso exemplo nós forçamos a escolha entre a e para com o amanhã e o passar um mês. No exemplo seguinte os indicadores do momento de partida e duração da estada estão apenas implícitos, mas forçam igualmente a escolha entre a e para:

(c) Bela: — Vou para a reunião. Vens?
João: — Não, quero acabar uma coisa.
(d) Bela: — Não vens à reunião?!
(e) João: — Vou à reunião, mas não vou já. Ainda faltam dez minutos; já lá vou ter.

Em (c) a Bela usa para para focar a ida; é como se dissesse, vou agora pôr-me a caminho da reunião. Em (d) e (e), foca-se a estada completa na reunião, como se se dissesse, participarei na reunião. Em (c), vou à reunião faria sentido se estivesse em dúvida se a Bela iria ou não à reunião, e ela quisesse então anunciar que sim, que iria (e a reunião não teria que ser naquele momento; poderia ser até noutro dia).

Na verdade, com eventos, como reunião, aula, festa, jantar, manif, cinema, concerto, etc., ir ao evento significa intenção de participar no evento ou assistir ao evento (ou o verbo que for mais apropriado); ir para o evento significa estar a caminho do evento:

(f) Hoje não vou à escola porque estou doente.

(g) David: — Aonde vais com tanta pressa? Laura: — Vou para a escola; já estou atrasada.

Mesmo estando a caminho de um evento, o locutor pode preferir focar a participação no evento em vez da deslocação até ao local. Suponhamos que a Laura está a caminho de um concerto, e o David pergunta aonde vais com tanta pressa? A resposta mais natural é a que dá a informação mais relevante, e isso depende de o David já saber ou não que a Laura ia a um concerto. Se (a Laura penar que) o David não sabe, o mais natural é responder, vou a um concerto, focando a participação no evento; se ele já sabe, o mais natural é vou para o concerto, focando o que ela está a fazer no momento.

Nalguns contextos não faz grande diferença usar-se a ou para. Suponhamos que o Tiago vem procurar a Carla, mas encontra a mãe dela, que lhe explica que a Carla não está. As opções (h), (i) e (j) poderiam ser usadas para o efeito; só a (k) não faria sentido:

(h) A Carla foi para a praia.
(i) A Carla foi à praia.
(j) A Carla foi para a praia.
(k) *A Carla foi à praia.

As opções (h) e (i) dão a mesma informação. Toda a gente sabe que quando se vai à praia, se fica lá umas horas. Portanto foque-se (h) a deslocação para a praia ou (i) a ida, estada e regresso, dá no mesmo: a Carla está ou a caminho da praia ou está na praia, e só volta mais tarde (a opção (i) é compatível com a Carla já ter regressado, mas o contexto permite concluir que não é assim). A opção (j) dá a mesma informação, mas pressupõe que o Tiago já sabia que a Carla ia à praia nesse dia. Já (k) tem um significado diferente: a Carla já fez uma sessão de praia (nessa estação balnear), possivelmente dias ou semanas antes; o a indica estada completa e regresso, e o já com o verbo no pretérito perfeito indica que tudo isso já aconteceu. Já foi para indica apenas que ela já saiu de casa em direção à praia.

Muitos verbos funcionam só com para. Uns, como emigrar, pressupõem uma estada indefinidamente longa no destino. Outros põem o foco no momento da partida, como partir e * abalar*; contraste-se com ir a/para:

(l) O primeiro-ministro partiu para Madrid para conversações como o seu homólogo espanhol.

(m) O primeiro-ministro foi a/para Madrid para conversações como o seu homólogo espanhol.

Como em (i), a em (m) é compatível com ele já ter regressado de Madrid; para não é.

Finalmente, contrariamente a muitas explicações que encontrei, ir a é compatível com estadas longas:

A mão de Zola não lhe tremeu ao escrever o J’accuse e por o ter escrito contra o poder no poder foi passar uns anos a Inglaterra. Blog Portugal dos Pequeninos

João Pitta de Ortigueira […] Passou depois a viver na cidade de Tanger onde casou e deixou descendência. Parece que depois de viúvo, já velho foi passar uns anos a Caminha sendo em 1504 juiz ordinário nessa vila Geneall: Pitta de Castro

Mas eu consigo imaginar vir a com uma estada de trinta e tal anos:

Deus filho fez-se homem e veio à Terra iluminar o caminho dos homens.

Qual a diferença de para e para?

As formas prá e p'ra devem ser evitadas. Para é a forma mais correta de escrita da preposição, estando o seu uso sempre adequado. Deverá ser usada na linguagem escrita e na linguagem formal.

Qual a classificação de Pra?

4) Para, na fala popular, apresenta a forma sincopada pra. Por exemplo: Bianca, alcance aqueles livros pra mim. 5) Até pode ser palavra denotativa de inclusão.

É correto falar pro?

Pro é na língua portuguesa a contração da preposição “para” e do artigo definido masculino “o”. No entanto, também pode ser interpretado como um prefixo a ser utilizado em diferentes contextos.